Resposta ao XII Desafio do Fórum MRS

CCS não me pertence

A Bala

Reflexões acerca dos males causados por doces

Tomoyo esperava pacientemente no portão do colégio, sorrindo e inclinando a cabeça para cada colega que entrava. Os cabelos esvoaçavam gentilmente com a brisa que acariciava seu rosto. O sinal de entrada soou.

"Vamos, Sakura... Não se atrase..."

E eis que surge o objeto da sua espera, avoada e com os olhos brilhantes. Yukito com certeza lhe dera uma bala de presente, pois ela trazia o pequeno doce triunfalmente e um sorriso estampado no rosto. E então, o pequeno inferno mental da amiga de Sakura começa.

Tomoyo olhou de soslaio para o doce... Sentiu inveja daquela bala... Uma coisa tão minúscula que era tão querida e praticamente venerada por Sakura. O embrulho bem feito e reluzente era alvo de desejo, anseio, num misto de vontade de abrir e guardar a pequena bala. Isso estava escrito nos grandes olhos castanhos de Sakura. Coisa que Tomoyo conseguia ler, mesmo à distância. Ela lia os pensamentos de Sakura, os lábios, as vontades, os medos, os modos, os anseios, os desejos, os sentimentos, os afetos, os desafetos... Tudo isso e muito mais. E não pedia nada em troca. Nada... Nem um olhar (como o que ela dava à bala), nem um sorriso, nem um abraço, nem um beijo... Nunca pedira... E nunca pediria... Sakura estava acima de todos os seus sonhos... De todas as suas conquistas... Era algo impossível ter Sakura... Por isso invejava a bala... A bala a tinha... De uma forma concretamente abstrata. A bala prendia a atenção da Card Captor de uma forma que Tomoyo jamais faria. Sakura não a tomava nas mãos e a ficava admirando, extasiada como se ela – Tomoyo – fosse um presente divino, ou a cura para todos os males. E a bala era. Era o presente que curaria o amor de Sakura por Yukito, enquanto houvesse açúcar. E enquanto houvesse açúcar, Sakura amaria a bala. E Tomoyo odiou todo o açúcar da face da Terra... Mas se arrependeu depois... Sakura adorava doces... E Tomoyo adorava quando Sakura comia doces. A aura de Sakura resplandecia, iluminando todo o coração de Tomoyo. Vê-la sorrir fazia Tomoyo perdoar todo o açúcar. Mas a culpa era da bala... Daquela maldita bala que Sakura manejava de forma cuidadosa e obcecada. A Bala estava prendendo demais a atenção de Sakura... Então Tomoyo sentiu ciúmes da Bala, presa carinhosamente nas sedosas mãos de Sakura. A Bala chamava atenção demais... Era Tomoyo quem deveria ter essa atenção... Era Tomoyo quem ouvia Sakura suspirar, chorar, respirar, cantar, falar, resmungar, reclamar... Não a Bala. E Tomoyo odiou a Bala. A Bala não tinha feito nada para merecer todo aquele amor de Sakura. Era mais um confeito colorido artificialmente com aroma de alguma fruta desconhecida, fabricada sem amor em uma indústria que fabricava milhares iguais a ela. E Tomoyo não entendia por que Sakura amava tanto a Bala. Uma bala estúpida! Com tantas outras iguais! Com milhares iguais! Mas Tomoyo era única! Ela ouvia Sakura, a consolava, a ajudava, a arrumava, a amava... E a Bala não fazia nada. Era inerte. Estava inerte... Carregada por Sakura. Então Tomoyo sentiu desprezo pela Bala... Que não fazia nada por merecer... Era uma sanguessuga, aquela Bala... Tomoyo jurou não perdoar às balas, aquelas interesseiras...

"Bom dia, Tomoyo!"

"Bom dia, Sakura!"

"Olha o que o Yukito me deu!" – disse Sakura, mostrando a Bala.

"Oh! Uma bala! Que legal Sakura!" – Tomoyo teve muita vontade de jogar a Bala para bem longe...

"Sim!Sim! Ah... E eu te trouxe isto..." – Sakura retirou da mochila outra bala, idêntica à que tinha ganhado, e a entregou para a amiga.

Tomoyo paralisou, observando o pequeno doce embrulhado. E perdoou todas as balas... Como confeitos coloridos poderiam fazer mal a alguém? Então a guardou com muito carinho, observando Sakura correr alegremente com os patins nas mãos.

Afinal... As balas não tinham culpa de serem amadas...