Beckett dirigia em direção a sua casa, em um misto de emoções. Estava cansada, apesar de isso não ser muito novidade, com raiva, ansiosa e arrependida. Não estava sendo fácil ter que ver Castle agir daquela fora com ela. Bem, nunca era. Como sua amiga Lanie havia dito mais cedo, a relação dos deles era estranha. Complicada. E por isso ele escolheu aquela "flight-atttendant"

- É ela parecia ser bem fácil mesmo – bufou Beckett, ao estacionar o carro em frente ao seu prédio.

Meia hora depois ela encarava seu guarda-roupas, sentada na beirada da cama enrolada apenas com uma toalha, com o dedo indicador na boca roendo a unha. Ela tinha esse pequeno vício quando se sentia despreparada para algo. Ainda não sabia ao certo se queria ou mesmo deveria ir a esse encontro. Fechou os olhos e suspirou.

"Ela é divertida..." – a voz de Castle ecoou em sua mente.

- Vou mostrar a ele que também sei me divertir. – disse ela pra si mesma em quanto pegava um vestido tomara que caia vermelho colado ao seu corpo como uma segunda pele

Do outro lado da cidade, detetive Colin Hunt degustava tranquilamente no bar quando foi interrompido pela estonteante mulher de curvas vermelhas que adentrava o recinto, passeando seus olhos nervosamente por todo o local. Ele fez um breve sinal com as mãos, e logo ela o reconheceu, seguindo na direção dele com um sorriso que iluminava ainda mais o seu rosto emoldado pelos cabelos amarrados para cima, com alguns fios soltos descendo para brincar discretamente em sua face e pescoço.

Ter passado o dia todo ao lado daquela jovem detetive de New York, escondida em suas roupas masculinas de trabalho, tornava ainda mais sexy o esbanjar de sensualidade daquele ser divinamente lindo. Ele não estaria mentindo se dissesse que Kate era, de longe, a mulher mais linda daquele recinto.

Cumprimentaram-se e logo ele pediu o mesmo drink para ela, que se sentava apoiando os braços sobre o balcão. O lugar estava animado, lotado e a policial já começava a se distrair quando foi surpreendida por aquela voz familiar por detrás dela.

- Duas doses de tequilas.

- Não... – falou entre os dentes, desejando que aquilo não fosse verdade. - Não pode ser ele. – enrijeceu o corpo quando sentiu o tom amadeirado da fragrância que só ele possuía.

- Adoro essa bebida, - disse ele animado, olhando para o outro lado do salão a procura de alguém. – Isso me rendeu boas cenas em meu livro – disse ele para a garçonete que lhe atendeu.

Os olhos de Beckett se arregalaram quando ela finalmente assimilou a voz à pessoa, sim era ele. Droga. Antes que pudesse evitar seu rosto virou-se, infelizmente a tempo de contemplar o seu escritor sendo puxado pela gola da camisa em direção a boca de uma mulher loira de sorriso fácil que acabara de chegar próximo a ele.

Kate teria saído dali sem falar absolutamente nada se na pressa não tivesse derrubado sua taça quebrando o vidro e fazendo barulho e uma enorme sujeira sobre o balcão. Enquanto se desculpava com seu acompanhante e tentava ajudar o bartender a limpar o local, aquela mesma voz que havia a feito ficar toda descompassada, agora fazia com que todos os seu músculos se contraíssem deixando-a ainda mais tensa.

- Ora, ora, ora. Veja quem está aqui, Olá Beckett!

Fechou os seus olhos desejando que aquilo realmente não estivesse acontecendo, mas o perfume daquele homem a fazia ter mais certeza do que nunca de que ele realmente estava ali. Respirou fundo e lentamente virou-se de frente para ele, com um sorriso perfeito em sua boca. Não queria e nunca transpassaria para Castle a quão mexida ela estava, principalmente por ele estar acompanhado. Afinal ela também estava.

- Castle... – disse ela com um sorriso engessado no rosto.

Antes mesmo que pudesse haver alguma resposta a voz estridente daquela loira foi ouvida, quebrando momentaneamente o clima tenso entre eles, ou o tornando ainda mais denso. Houve alguma apresentação entre seus respectivos acompanhantes e quando tudo parecia não poder ficar pior, Castle resolveu falar alguma coisa.

- Hey... Beckett, lembra-se de quando nos conhecemos?

Ela instantaneamente fechou os olhos. Como ela poderia esquecer? Ela se lembrava de cada detalhe e até mesmo do perfume que ele utilizava naquela época, o que fez sua mente girar e seu estômago ferver com as milhares de borboletas que insistiam em migrar para regiões extremas do seu corpo, fazendo-a degustar os próprios lábios enquanto passava sua língua por eles.

- Eu me lembro... – disse ele em voz alta, a tequila já começando a falar por ele. – Você achava que eu queria te levar pra cama...e ... – ele olhou para ela de cima a baixo e então olhou para o homem que a acompanhava. – eu devia mesmo ter feito isso, mas acho que por hoje, você já tem companhia...Quem sabe amanhã? Me inclua em sua lista, detetive.

Beckett poderia respondido, poderia ter revidado, lhe dado um belo tapa na cara pela falta de respeito, mas o que Castle falou lhe doeu de tal forma que ela apenas se retirou sem lhe dizer nada. Colin iria segui-la da mesma forma, quando ouviu o escritor pronunciar algo com o tom elevado.

- Cuidado, amigo! Ela não se envolve com quem se importa com ela! Então, apenas, divirta-se!

Foi o suficiente. A próxima coisa que Castle sentiu foi um dos punhos do agente londrino atingindo-o em cheio sua face esquerda, lançando-o imediatamente ao chão entre pés e pernas da clientela do bar.

Beckett nem ao menos se virou para trás. Apenas fechou os olhos, sabendo exatamente o que havia acontecido. Se ele não fosse seu parceiro e estivesse sóbrio ela mesma o teria socado. Se ela não o amasse tanto acreditava que aquelas palavras teriam doído menos.

- Venha, Kate... Vamos sair daqui. – disse o detetive Colins tentando levá-la em direção à saída.

- Não precisa... Eu estou bem... – disse ela, passando uma das mãos pelos cabelos. – Vamose esquecer isso e aproveitar seus últimos momentos na cidade, ok? – afirmou dando um sorriso forçado.

Castle levantou-se de sua humilhação e momentaneamente sentiu que merecia isso. Kate era uma policial e, não só por isso, merecia mais respeito. Além disso, era sua amiga, sua musa, a mulher que ele amav... Sim, ele ainda a amava. E exatamente por isso, ele pensou melhor e achou que não merecia aquilo. Não depois de tudo o que ele fez por causa dela. Não depois de tudo que ele não fez por causa dela. Ele havia mudado, droga! E agora exatamente por causa dela ele havia voltado a ser o mesmo. Parecia que simplesmente a vida dele se resumia à Kate Beckett, sua vitória, sua derrota. E era.

Ele permaneceu ali no bar, com sua acompanhante, mas aquilo já havia terminado para ele. A única coisa que ele conseguia registrar era o modo como Beckett conversava com aquele estranho londrino, não poupando sorrisos e vez por outra trocando toques físicos. Ele poderia ter a certeza de que ela estaria fazendo aquilo apenas para deixá-lo com ciúmes.

Em um dado momento ela se levantou e inevitavelmente ele se levantou também, seguindo-a instintivamente, deixando a loira com sua voz irritante falando sozinha. Rick a aguardou na saída dos toaletes e quando ela apareceu, ele a puxou pelo braço para um lugar mais reservado.

- O que é isso, Castle? – reclamou ela assim que processou que era seu parceiro quem estava ali. – Me solte, você está me machucando.

Ela falou isso não só pela força excessiva com que ele a estava segurando, mas também pelo conjunto de atitudes dele até aqui. Castle a soltou e encarando aqueles olhos estarrecidos e magoados, suspirou apoiando as duas mãos contra a parede uma de cada lado dela.

- E o que você acha que está fazendo comigo, Kate?

Castle e Beckett se olharam profundamente. Ela ainda tentava fingir que não sabia do que ele estava falando, mas ele realmente estava cansado de ceder aos disfarces dela.

- Você não só tem me machucado, como também tem me deixado louco. – disse ele mantendo a posição.

- Não estou entendendo, Castle. O que você...

- Você se lembra! – disse ele interrompendo-a.

O mundo de Beckett parou e ela abriu mais os olhos em espanto.

- Quando você pretendia me contar? – disse ele dominado pela mágoa. - Quando você estivesse novamente à beira da morte e eu não tivesse outra escolha a não ser deixar você morrer? Achei que já havíamos passado dessa fase.

Kate poderia ter desviado os olhos dele se tivesse conseguido, mas aquela situação toda a deixava tão sem ação que a única coisa que ela podia fazer era manter os dois olhos firmes, para evitar que suas emoções, sejam elas quais fossem, assumissem o controle.

- Que fase? – ela conseguiu perguntar, apenas para tentar falar algo, como forma de defesa.

- A fase em que você faz as coisas do seu jeito e me exclui como se eu simplesmente não significasse nada para você. – ele a viu baixar o olhar. – Talvez eu não signifique nada mesmo não é, Beckett?

Talvez ele não devesse forçar uma reposta dela, ou uma reação, mas já haviam sido sete meses de espera e dúvidas, fora os quatro anos que ele levou para admitir que a amava desde o primeiro momento. Ele a forçaria sim. Nem que ela corresse, nem que ela o esbofeteasse ali mesmo. Pelo menos era alguma coisa, e ele poderia seguir em frente, podendo odiá-la, sabendo que ela mesma o odiaria. Toda aquela dança de dúvidas acabaria ali, naquela noite.

Kate abaixou o olhar tentando encarar os pés, querendo fugir outra vez, mas tudo o que conseguiu contemplar foi o corpo dele que estava praticamente colado ao dela. Ela respirou a essência dele, e podia ver que todo ele vibrava por ela, numa confusão louca de sentimento. Beckett esperava no meio de todos eles ainda existisse o amor.

- Responda, Katherine Beckett! – ele insistiu ainda sussurrando ao ouvido dela. - O que diabos eu sou para você?

- Castle...eu...eu... – Kate procurava as palavras, mas antes de encontrá-las corretamente sentiu os lábios de Castle esmagando os dela com fúria.

Ele a apertou contra o seu corpo grosseiramente não processando nada além do fato que ela estava entre os braços dele. Castle abraçava com força, possessivamente, como se no mínimo afrouxar de seu contato ela pudesse fugir para sempre. Foi então que ele sentiu os lábios dela se abrindo e a língua dela saindo para encontrar a sua, e isso o fez voltar a si. Kate o puxou pela nunca aprofundando o beijo enquanto as mãos do escritor percorriam o corpo dela de cima abaixo.

- Castle... – disse ela arfando. – Estamos em um lugar público.

- Então vamos sair daqui... – falou ele, não parando de beijá-la.

Ele temia que se parasse de tocá-la aquilo tudo acabaria e ela iria embora outra vez. Mesmo assim, precisavam de certo espaço ou nenhum dos dois se responsabilizaria pelo que poderiam fazer ali, naquele corredor entre os banheiros feminino e masculino.

- E o que acontece com sua comissária de bordo? – Kate perguntou curiosa.

- Ahh, ela terá que levantar voo. – disse ele em tom sarcástico.

Kate caminhou tentando arrumar o vestido, os cabelos e tentando desborrar o batom que ela havia acabado de retocar. Chegou até a mesa onde Colins estava sentado e estancou, tentando saber que desculpa daria para ele, para simplesmente deixá-lo ali.

- Aconteceu alguma coisa? – disse ele preocupado. – Você parece assustada.

- Er...Não..é que..Houve um chamado do distrito. – foi a melhor coisa que ela conseguiu pensar. - Eu preciso ir.

- Sim, eu entendo. – falou ele levantando-se para se despedir. – Mas tem certeza que está tudo bem? Você parece nervosa...

- Não se preocupe. É que o dia foi meio tumultuado hoje – falou tentando não demostrar a sua impaciência de estar ali ainda. – Mas estou bem... O tanto quanto se pode estar, mesmo sabendo que existem pessoas matando umas as outras por aí. – conseguiu disfarçar.

- Vamos então, eu acompanho você. – falou o loiro, educadamente.

- NÃO! – gritou ela sem perceber. – Não, precisa. Eu já chamei um táxi para me levar para casa, para trocar de roupa. Não posso aparecer numa cena de crime vestida assim.

- Não, claro que não. – sorriu o moço gentilmente. – Obrigada pela companhia, Kate.

- De nada, e sinto muito, por ter que sair assim. Aproveite o resto da noite!

- Eu vou... – disse ele, despedindo-se dela com um abraço. – Ele é um homem de sorte.

Ela o encarou surpreendendo-se. Como assim? Do que ele estava falando?

- Espero que ele se comporte melhor, a partir de agora. Caso contrário, terei que vir de Londres para socá-lo, outra vez. – disse ele.

- Eu...eu...devo ir. – disse ela, em modo automático, mas ainda sorrindo.

- Sim, você deve. – ele riu, dando mais um gole em sua bebida.

Chegando à portaria, Beckett sentiu um braço envolver sua cintura outra vez, levando-a em direção à uma Ferrari vermelha, e sorriu. Ela estava começando a se acostumar com aquele toque.

Continua...


Nota das autoras: a Fic vai ser longa, não tem números de capítulos definidos, então aproveitem.