Capítulo 1

Saint Seiya é criação de Masami Kurumada
Fanfiction escrito por Mario de Carvalho
N/A: Esta Fanfiction não tem ligação alguma com o Next Dimension, é baseada somente na Saga de Hades (e anteriores) provenientes do Anime e dos filmes O Santo Guerreiro e Prólogo do Céu.
Quaisquer coisas que possam parecer incoerência para vocês, não se preocupe, tudo tem uma explicação lógica para a história que vão se desenrolando em outros capítulos.


-=Campos Elísios=-

O vento sopra calmamente acariciando as flores dos campos eternos de Elísios. O céu azul intenso cobre todo o céu e o sol ilumina sem nunca fazer a noite no paraíso. O silêncio é calmo como se fosse o colo de uma mãe que acalenta o seu filho, a harmonia da beleza do lugar é como se fosse dado de presente pela própria Deusa Afrodite. Em meio a beleza colorida das flores jaziam os corpos de Hypnos e Thanatos e suas Súplices despedaças, tirando a harmonia e a beleza da paisagem.

A passos lentos um homem tão alto quanto os gêmeos derrotados se aproxima calmamente envolto em um manto branco que brilhava tão forte quanto a própria luz do sol em uma tonalidade dourada, conforme o mesmo caminhava deixava um leve rastro igualmente dourado para trás, este que desaparecia não muito tempo depois. O homem parou perto dos corpos, olhou para cima e sentiu a brisa acariciar seu rosto. Ajoelhou-se e tocou com a ponta dos dedos o corpo dos irmãos.

- Somos todos um e um é todos nós.

Uma luz forte e branca se fez das pontas dos dedos deste homem fazendo com que Hypnos e Thanatos desaparecessem em um pó brilhante. O vento faz com que o pó subisse para o infinito do céu que cobre os campos Elísios. O mesmo homem se levanta e continua a sua caminhada para um palácio branco onde uma vez havia uma enorme torre. Este palácio, ele sabia bem, era um mausoléu para guardar o corpo do que um dia foi o de um Deus. Seu olhar dourado então tornou-se triste e sua expressão mais grave ao chegar mais perto. Da mesma forma que tinha feito com os irmãos, fez com o homem que jazia ali nas escadas que davam para o mausoléu. Ajoelhou-se, mas ainda assim se demorou algum tempo antes de tocar em seu ferido corpo.

- Amado. Deixou-se levar para a existência que governa. Esqueceu-se da grandeza do que é em maravilha de desejos mortais. Mas só nós, amado, sabemos o que é a verdadeira maravilha e mostramos à aqueles que criamos um pedaço do que chamam de verdade, e esta, amado, é a verdadeira maravilha. Olhei-te tanto, por todos os tempos, por todas as eras, assim como olhei a todos os outros, fui a voz de todos os seus atos e ainda assim não pude ser a minha própria voz para que pudesse impedi-lo. – Uma lágrima dourada desce pelo o seu rosto tocando um leve sorriso que tinha. – Somos todos um e um é todos nós. – E assim tocou-lhe com a ponta dos dedos e uma outra luz branca e forte se fez. O corpo de Hades se desfez em pós brilhante e voou para o infinito do céu do Elísios.

O homem se levantou e olhou em volta e por último em direção ao sol, e sorriu mais uma vez.

- Tudo o que criaste, meu Senhor, é tão belo. Inclusive aqueles que por sua graça puderam por os pés aqui nos Elísios. Grandioso Zeus, Senhor dos Deuses e pai de todos os homens, eu, Hermes, serei sempre a tua voz e a de todos os outros amados Deuses do Olimpo, mesmo que nossos filhos nos abandonem. Agora voltarei a ti, meu Senhor, com as notícias que trago em minha voz para que te conte o que seus olhos não puderam ver e seus ouvidos não puderam ouvir.

E em uma luz dourada Hermes desapareceu.

-=O Olimpo=-

Em alguma outra parte de uma existência que vai além de todas as dimensões imagináveis para qualquer ser humano, havia uma enorme estrutura grega, com pilares enorme que se os homens olhassem julgariam impossível de que isso fosse construído por qualquer tipo de ser vivente em qualquer parte do universo. Em volta dessa inimaginável estrutura brilhava uma leve e calma luz azul. Uma escadaria enorme do que os mortais chamariam de mármore branco tal qual o resto da matéria prima de que era feito do que podemos chamar de palácio, era ornamentada por várias estátuas de todos os Deuses e Deusas do Olimpo. O palácio parecia flutuar no que haveria como definição; a fronteira do infinito. Deuses menores como Dionísio, por exemplo, por mais vangloriado em festas humanas, dando-lhe até certo poder, duvidavam da existência de tal lugar e só vieram acreditar após o chamado do próprio Zeus.

Hermes era o único que tinha acesso à todas as existências e ele subia calmamente a escadaria nunca deixando de se maravilhar com as imagens dos outros Deuses, toda vez, era como se fosse a primeira vez que os via. Finalmente chegou no final da escadaria e encontrou no final de um enorme salão uma enorme luz que emanava fortemente, mil vezes mais forte que a luz de mil sóis, porém Hermes conseguia ver claramente que havia alguém sentado em um trono azul. Novamente um sorriso se fez em Hermes. Lá estava o próprio Zeus, sentado e este também tinha um leve e satisfeito sorriso no seu rosto. Se qualquer ser humano pudesse descrever o rosto de Zeus, diria que eram todos os rostos dos homens, mulheres, Deuses e Deusas em um só, que ao piscar dos olhos você poderia ver um rosto diferente, inclusive o seu próprio. O que não tiraria a veracidade dos rostos impressos em estátuas da Terra.

Hermes ajoelhou-se diante de Zeus e botou a mão com o punho fechado em seu peito. Seus cabelos dourados caíram por cima do ombro e seus olhos dourados fixaram-se no Deus dos Deuses.

- Vim dar-lhe a voz dos acontecimentos, meu Senhor.

- Amado, dê-me então a visão que não tive e as palavras que não ouvi. – disse Zeus em uma voz serena.

- Amado Senhor, você sabe que nossos filhos estão acordando para uma nova existência desde que deu-lhes Atena como guardiã. Homens santos estão abrindo os olhos conforme o senhor predisse quando a amada Gaia separou os andróginos. Mas Hades em vários ciclos, o que para nossos filhos contam-se em, o que eles chamam de tempo, duzentos a duzentos anos, travou uma batalha com sua filha, a amada Atena. As provações que estes santos passam são tão infinitas quanto às suas graças, meu Senhor. Seu irmão, Hades perdeu-se em glória quando quis tomar o mundo que não lhe pertencia. Deixou-se levar por desejos humanos de conquista. E por vários ciclos ele desafiou sua filha, porém finalmente o Deus Hades deixou-se em forma e tornou-se origem de cosmo.

- Como Caos. – Disse Zeus.

- Não em tamanha soberania. Mas sim em origem de sua existência. Mas não só eles. A amada Éris, Artemis, Hypnos e Thanatos também. Nossos irmãos e irmãs, vários voltaram em origem. O senhor deve senti-los, não é?

- Sim, Hermes. Nossos filhos não entendem que a nossa existência não cessa. Nós somos o que somos. Nós somos o começo do que é eterno e até mesmo o fim do que é infinito. Somos o nunca e o sempre. Meu irmão, Hades está em mim e farei dele novamente o que ele é. Dei a ele o mundo que os nossos filhos quando o ar da vida os deixa se movem e assim será para todo o sempre.

- E que assim vossa vontade seja feita, meu Senhor. – Disse Hermes.

Antes que Hermes pudesse se levantar, passos ecoaram pelas paredes da sala onde os dois Deuses estavam. O caminhar era lento e seguro. Hermes se virou e contemplou a quem se aproximava.

- Apolo! – Hermes não se demorou e foi em sua direção para dar-lhe um abraço que foi correspondido. – Amado Apolo! Há quantos ciclos não o vejo.

- Fico feliz em revê-lo, amado. – Apolo sorriu para Hermes.

Apolo então continuou caminhando em direção ao trono de Zeus que continuava a emanar sua luz intensa e poderosa. Os cabelos vermelhos de Apolo ficavam mais intensos com a luz que vinha do Senhor de todos os Deuses, seus olhos ficavam mais azuis que todos os oceanos do mundo. Seu corpo se movia como se flutuasse, seu manto enorme e branco cobria o seu corpo inteiro. Chegou ao trono de Zeus e ajoelhou-se.

- Levante-se Apolo, tu és o meu igual. Somos todos um.

- E um é todos nós. Porém, amado, vivo sob suas ordens. – Apolo respondeu.

- Assim como também, eu, meu Senhor. – Complementou Hermes.

Zeus então pela primeira vez se colocou de pé.

- Pois levantem-se os dois. São parte de mim e eu faço parte de vocês, se estou de pé, hão de levantarem-se também.

Hermes e Apolo assim o fazem. Zeus com os seus olhos de várias cores que mudavam de tempos em tempos os contemplou e deu-lhes um sorriso acolhedor.

- Acredito que queira saber o motivo pelo qual eu o trouxe aqui, Apolo.

- Sim, amado. Eu estive de frente com Atena e com um dos santos que tu havia predito nos eventos com Gaia. Ela preocupa-me. Ela parece que quer perder a divindade. Assim como...

- Hércules, quando ele negou querer se tornar um Deus como nós. – Completou Zeus.

- Sim, mas meu senhor, Atena é uma de nós.

- E nós somos Atena. – Disse Zeus colocando a mão no ombro de Apolo.

- Pode um Deus virar um humano? – Hermes perguntou para Zeus.

- Sim. – Zeus disse em tom despreocupado.

- Por que haveria em um Deus a vontade de se tornar um humano? – Perguntou Apolo.

- Pelos mesmos motivos que um humano gostaria de virar um Deus. – Zeus respondeu. – Nós somos a essência de tudo, da vida em si. Nós somos os criadores, nós somos o conhecimento, nós somos as perguntas e as respostas dessas perguntas. Nós já sabemos, nós já somos. Existem Deuses que se cansam disso, querem ver as coisas como são criadas, querem ver pessoas como são criadas, querem ser criadas e recriadas, querem nascer e experimentar, tudo o que nós já sentimentos e somos, mas de forma plena. Existem Deuses que abrem mão dessa plenitude para verem o outro lado, para aprenderem, para perguntarem somente. Para não serem o caminho, mas para andarem por ele.

- Mas amado, já que a busca de nossos filhos é serem como nós, por que nos desafiam, vão muito contra nós, nos renegam, criam falsos Deuses sem face baseando-se no próprio homem.

- Não Apolo. Nenhum de nossos filhos vai contra nós. Nem aqueles que creem e nem aqueles que não creem em nós, vão contra nós.

- Não, amado? Mas e o ataque contra teu irmão e os outros Deuses? – Apolo olhava firmemente para Zeus que sorriu mais uma vez.

- Acha mesmo que isso é ir contra nós? Veja, Apolo, que o que eles almejam, independente do que façam é com apenas um único objetivo. Serem plenos. Serem um todo, Apolo, serem tudo.

Apolo olhou para Zeus e fez que sim com a cabeça.

- Não devia ter enfrentado um dos santos, Apolo, por isso tirei-te de perto deles. Atena e os santos virão até nós. Não se preocupe. Atena atenderá ao meu chamado, pois eu sou seu pai e minha existência corre nela, assim como corre no sangue de nossos filhos na terra.

-=O Santuário=-

Saori havia acabado de abrir os seus olhos em seus aposentos. Cinco anos haviam se passado desde a batalha contra Hades e seu encontro mortal com Artemis e Apolo. Ao se levantar sua feição era triste. O dia estava muito bonito, ela podia ouvir os pássaros cantarem lá fora. Ela caminhou em direção a uma janela enorme que ficava ao lado da usa cama. Podia ver vários homens trabalhando no término da restauração do Santuário, havia paz finalmente. Depois de tantas lutas que pareciam não ter fim, depois de tantas vidas sendo perdidas em seu nome, finalmente a paz voltou a tomar conta do mundo. Saori nunca mais havia tido sonhos premonitórios ou qualquer sensação de perigo. Ela ainda não entendia muita coisa do que havia acontecido desde quando havia encontrado Apolo, mesmo após todos aqueles anos ela não conseguia se lembrar direito o que havia acontecido. E será que importava? Será mesmo que ela tinha motivos para se sentir tão preocupada com tudo? Por que era tão difícil para ela colocar na cabeça que estava tudo bem?

Seus pensamentos foram interrompidos quando uma mulher entra calmamente em seu quarto.
- Bom dia, Atena. – A moça vestida em roupas brancas no estilo grego se ajoelha olhando para baixo.

"Atena" Aí estava um nome que ela mesmo só se lembrava quando as suas criadas do santuário a chamavam assim. Um sorriso se fez em seu rosto, era até engraçado, pois estava se acostumando a ser novamente Saori Kido, neta de Mitsumasa Kido. Estava se acostumando a ser uma pessoa comum novamente, uma pessoa que para ela... Era real. Essa definição de real deixava que a sua mente começasse a dar um nó, pois não havia dúvidas de que ela era a Deusa Atena reencarnada. Saori se virou e olhou para a criada.

- Está na hora do seu banho, Senhora.

- Lena. Levante-se. – Disse Saori.

Lena sem demora levantou-se, porém continuou olhando para baixo.

- Lena, pode me responder uma pergunta?

- Sim, senhora.

- Quem sou eu?

- A senhora é a Deusa Atena, senhora. – Sua voz era baixa e calma.

- Olhe para mim, Lena. – Saori pediu e Lena o fez. – Agora me responda mais uma vez, quem sou eu?

- A senhora é Atena, minha senhora. – Lena franziu a testa enquanto respondia, sem entender muita coisa.

- É isso o que você realmente vê? É isso o que realmente está diante de você? A Deusa Atena? Ou uma mulher igual a você?

- O que os meus olhos me mostram, minha senhora, é que você é tão humana quanto eu, mas você carrega dentro de si a essência e a alma de Atena.

- A alma de Atena... – Saori diz para si mesma.

- Por isso eu sirvo à você, minha Senhora. Você é Atena, protetora desta terra e de todos nós. Você e seus cavaleiros lutaram por nós e é meu dever servir a você, minha Deusa, pode não ser muito, mas é o que eu posso fazer.

Saori então caminha para Lena e toca o rosto da moça e dá-lhe um beijo na testa.

- Eu não quero mais que você ou qualquer uma das outras moças se ajoelhem para mim. Não quero mais que se sintam inferiores a mim. Os nossos olhos mostram o que realmente devemos ver. Eu sei que o você vê diante você é apenas uma mulher. Somos iguais Lena.

O rosto de Lena ficou corado e logo ela disse:

- Eu fico muito grata pela sua imensa bondade, senhora, mas não poderia nunca te tratar como uma igual, a senhora é uma Deusa e...

- E antes de tudo eu sou uma mulher, com sentimentos, anseios e desejos como você.

- Mas... Senhora...

- Diga-me uma coisa, você é casada, não é Lena? – Saori a interrompe mais uma vez.

- Sim, senhora, ele está ajudando na restauração do Santuário.

- Entendo. – Saori se vira novamente para a janela. – Lena, eu tenho um favor para te pedir.

- Diga, minha senhora.

- Quero que reúna todos do Santuário e peça para que eles se reúnam na arena. Tenho algo a dizer. E não se preocupe, vou tomar meu banho sozinha, agora pode ir.

- Sim senhora. – Lena fez reverência e se retirou.

Não muito tempo depois, uma multidão estava reunida na arena de batalha do santuário. Um vento agradável soprava pelo lugar. O burburinho entro os homens e mulheres que lá estavam não cessava. Quando o silêncio tomou conta ao verem Saori chegar no alto da arena e sentar-se em um trono que havia para ela. Segurando o seu báculo ela olhou para todos os homens e mulheres que lá estavam. Todos se ajoelharam e olharam para baixo.

- Meus queridos homens e mulheres do santuário de Atena. Por séculos vocês se dedicam sem parar em nome da Deusa Atena, entregando-me suas vidas sem relutar. Em troca eu faço o melhor que eu posso em protege-los, eu faço o melhor que eu posso em assegurar a paz na terra. Porém, vejo que seus esforços nunca acabam, portanto eu estou livrando vocês de fazerem as coisas por minha causa. Vocês têm vidas que pertencem a vocês mesmos, vocês têm família, amigos, maridos, esposas e filhos – Saori olha para Lena. – Vocês têm de cuidar de si mesmos, se fazerem felizes. Ir em busca do próprio destino de vocês. O nosso santuário está quase terminado e está de volta ao que um dia foi. Está tão bonito graças a vocês, porém não quero mais que vocês fiquem aqui apenas por servirem à Atena. A vida que os Deuses deram para vocês é de vocês e mais ninguém. Então a partir de hoje, não quero mais servos à Atena, quero amigos que façam de suas vidas o que seus corações mandarem, não precisam mais ficar aqui. O mundo é um lugar muito grande para que fiquem confinados em um só lugar. A única coisa que espero de vocês, é que sejam felizes. Da felicidade de vocês se faz a minha felicidade.

O silêncio permaneceu, os homens e mulheres do santuário ficaram se olhando um tanto espantados com o que acabavam de ouvir, quando no meio deles um homem de cabelos castanhos claros se levantou e disse:

- Atena, eu não sei quanto aos outros, mas sei que eu, Jabu, fico muito feliz em ouvir as suas palavras, porém, se é para que eu siga o meu coração, o que eu farei se o meu coração está em você? Eu nasci para ser um cavaleiro de Atena, este é o meu destino. Minha vida está neste santuário e está ao seu lado. Então eu seguirei o meu coração e permanecerei aqui. Aqui é onde o meu coração e a minha alma descansam e moram.

- Eu também ficarei. – Um outro homem qualquer se levantou.

E assim vários outros aos poucos foram se levantando e repetindo a mesma coisa, dizendo que o lugar deles era ao lado da Deusa. Ao lado de Saori estava Lena.

- Lena, vá ficar com o seu marido. Ele precisa de você, mais do que eu.

- Senhora... – Os olhos de Lena haviam se enchido de lágrimas.

Lena abraça Atena.

- Muito obrigada, Lena. Agora, vá ser feliz.

- Sim, senhora! – E Lena correu as escadas para encontrar no meio da multidão o seu marido.

A multidão começa a se dispersar ainda comentando o discurso de Saori que olhava com felicidade alguns partirem e uns ficarem. Seus olhos se fixaram em Lena e seu marido que olharam de volta para ela, antes de partirem acenaram com um sorriso que foi correspondido por outro aceno de Saori e assim se foram. E assim ela deu as costas e foi caminhando de volta para os seus aposentos. No caminho ela olhava ao redor e ao fundo novamente via que boa parte dos homens haviam ficado e continuaram trabalhando para terminarem a reconstrução do Santuário, ela reparou que havia algo diferente em seus rostos, haviam sorrisos, uns deles trabalhavam rindo e contando piadas um para o outro. Eles estavam felizes lá.

- Saori! – Uma voz masculina a fez parar e olhar para trás.

- Jabu?

Ele ia se ajoelhar quando foi interrompido por ela.

- Fale de igual para igual, Jabu. Não quero mais que ninguém se ajoelhe diante de mim.

- Saori...

- Jabu... O que você vai fazer hoje?

- Vou treinar os meninos, por que?

- Hmmm, nada...

- Diga, Saori. O que houve? – Ele estava com uma feição preocupada, ele sentia que havia algo de errado com a Srta. Kido e não era de hoje.

- Quero esquecer, pelo menos por hoje que sou Atena, quero ser Saori Kido novamente. Por tantos e tantos anos não fui outra coisa senão a Deusa. – Seus olhos brilhavam em súplica enquanto falava com Jabu. – Jabu... me leva para passear?

- Para passear? Você quer sair do Santuário?

- Jabu, eu estou com dezoito anos. Desde os treze não sei o que é ser uma adolescente, não sei o que é fazer as coisas que as moças da minha idade fazem ou deveriam fazer. E você sabe, Jabu, que você também sente falta, assim como os outros cavaleiros. Nunca parou para pensar que estava cansado de ser Jabu de Unicórnio?

- Bom... eu...

- Sim, você nunca teve tempo ou oportunidade de ser outra coisa, não é? Vamos, Jabu, por favor? Não é a Deusa que te pede, sou eu, Saori.

- Saori... eu... – Ele estava completamente confuso, mas não podia deixar de pensar que era verdade. Depois da batalha de Hades onde as coisas finalmente ficaram calmas, sempre esteve de guarda no Santuário, se preocupando, treinando novos cavaleiros para uma eventual nova batalha que poderia ser no mínimo sangrenta. Ele nunca teve a oportunidade de ter sido um jovem normal. – Está certo!

Os olhos de Saori brilharam e um sorriso radiante se fez em seu rosto. Então Jabu percebeu que algo mudara, não era mais a mulher destinada a ser Atena que estava diante dele. Mas sim uma jovem bonita e cheia de vida que almejava ver as coisas e o mundo inteiro pela primeira vez com olhos de uma humana normal.

- Então eu vou me trocar! – E ela saiu correndo para os seus aposentos.

- Ah... tá... – Jabu coçou a cabeça.

Ia para um encontro. Um encontro com uma das moças mais bonitas que já havia visto. Se fosse há alguns segundos atrás sua mente gritaria que estaria levando a própria Deusa para um encontro, mas o impacto da mudança de fisionomia em Saoria era tão grande que havia se esquecido praticamente de tudo, que inclusive era um cavaleiro de bronze.

Não muito longe dali, na vila que ficava dentro do Santuário uma mulher de cabelos verdes entra em sua modesta, mas bem aconchegante casa, ela sorri ao ver quem estava deitado dormindo tranquilamente em sua cama. Deixa uma sacola com as compras que havia feito pela manhã bem cedo. Deitou-se ao lado dele novamente e o abraçou acariciando os seus cabelos castanhos escuros que sempre eram desarrumados.

- Ei, seu preguiçoso, está na hora de levantar. – Ela disse baixinho no ouvido do homem.

- Só mais cinco minutinhos. – Ele disse ainda com sono.

Ela riu e continuou:

- Eu conheço muito bem os seus cinco minutinhos. Eles podem durar cinco horas a mais.

Ao abrir os seus olhos grandes e castanhos ele contemplou a mulher que o olhava com ternura e sorriu de volta esfregando um dos outros.

- Você sempre foi muito má comigo, Shina.

- Sim, eu sempre te maltratei não foi? – Ela sorriu e deu-lhe um beijo.

- Sim, terrivelmente má. – E ele devolveu o beijo.

- Eu sou mesmo uma sem coração. – E mais outro beijo.

- Terrível. – E ele deu um beijo intenso nela. – Eu sou uma vítima, completamente indefeso aos seus maus tratos da manhã. – Disse sorrindo acariciando os cabelos da mulher.

- Está vendo só? Eu consegui derrotar o cavaleiro que venceu até mesmo os Deuses.

- Eu me deixei vencer.

- Metido. – Ela o beija mais uma vez. – Vamos, levante-se, parece que há uma novidade no Santuário.

Shina se levanta da cama e vai guardar o que tinha comprado.

- Novidade? Que novidade? – Ele se sentou na cama.

- Saori apareceu esta manhã para dar um discurso para todos no Santuário.

- A Saori? E o que foi que ela disse?

- Pelo o que eu entendi, ela falou que não queria mais que as pessoas se vissem na obrigação de servirem à ela. Ela disse que queria que todos fossem livres de fazerem o que quiserem.

- É sério isso? Mas... por que?

- Eu não sei, Seiya. Mas o seu discurso foi muito bonito, eu mesma gostei. Fiquei pensando no caminho sobre isso. Ela deu a liberdade para todos nós, para que vivêssemos as nossas próprias vidas.

- Mas a Saori nunca quis que fôssemos escravos antes. Sempre fomos livres. – Seiya se levanta da cama e abraça Shina por trás.

- Eu sei disso, mas parece que muitos no Santuário não sabiam, poderiam estar fazendo por mera obrigação, por uma devoção que podia até mesmo deixar com que eles abdicassem de suas vidas por ela.

- Hmmm. – E Seiya pegou uma maçã que Shina havia comprado. – E o que você acha disso?

- Eu não sei ao certo. Depois que cheguei na Grécia quando pequena, não soube mais o que é viver em outro lugar. Cresci aqui, Seiya, foram muito poucas as vezes que saí do Santuário para visitar até mesmo a Itália onde eu nasci. Como você, eu não sei quem são meus pais ou até mesmo se tenho irmãos. Não conheço outra realidade a não ser servir Atena como uma amazona. Mas acho muito bom ouvir da própria Atena que eu tenho o poder e o direito de escolher o rumo da minha vida. Assim como deixei minha máscara para trás quando eu pude mostrar para as pessoas o meu rosto e principalmente o meu amor por você, pude me sentir livre para ser alguém diferente de uma mulher feita para lutas. Me sinto agora dona de mim de verdade. E o melhor, eu não TENHO que servir a Atena, mas sim, eu POSSO servir a Atena, pois é da minha vontade. Eu posso escolher agora. Seiya, esse tipo de privilégio jamais havia passado pela minha cabeça. – Shina virou-se para encarar Seiya nos olhos, pegou sua maçã e mordeu. – E isso é muito bom.

- Inclusive comer a minha maçã! – Seiya riu.

- Sim, eu tenho o direito até de fazer isso! Bom, agora vá se preparar, temos que treinar hoje.

- Nossa, mas nem um dia de folga, Shina? Hoje eu estou com muita preguiça!

- Nem pensar, mocinho! – Shina caminha para a porta. – Você tem quinze minutos.

Shina pisca o olho e sai de casa. Seiya dá uma mordida na maçã e diz para si mesmo:

- Boa, Seiya, não bastava você ter uma namorada, ela tinha que virar a sua nova mestra. – Seiya riu, mas logo a sua feição ficou séria.

Seu olhar ficou distante por um tempo. Qual haveria de ser o motivo de Saori ter feito tal discurso? Por que ela deveria dizer para todos no Santuario que não eram obrigados à servirem como uma Deusa? Muitas vezes ele mesmo disse que ele tinha a obrigação de servir Saori Kido, porque este era o seu dever como um dos cavaleiros de Atena. Mas agora ele não tinha mais essa obrigação? E assim todas as batalhas que ele tinha enfrentado começaram a passar como se fossem um filme na cabeça do jovem cavaleiro de Pégaso. Ele estava feliz que a paz havia retornado ao mundo e que não havia tido entrado em mais nenhuma batalha. Havia vivido momentos que antigamente para ele eram uma realidade distante. Haviam cinco anos que sequer vestia a sua tão fiel armadura de bronze ou sequer cogitou em vestir a armadura de Sagitário, embora essa não estava sob o seu controle para ser usada e só aparecia para salvá-lo em momentos difíceis. Talvez ele tivesse que realmente se acostumar de vez em viver uma vida normal e tranquila. Será que era isso? Será que era isso o que Saori, a encarnação da Deusa Atena queria dizer? Que com o fim de Hades, todas as batalhas haviam acabado e que enfim haviam todos alcançado a paz no mundo? Mas isso também, só dava a ele mais perguntas do que respostas.

Finalmente Seiya se vira para sair de sua casa ainda comendo a maçã.

-=Os Cinco Picos Antigos=-

- Você mentiu para mim! Mentiu para todos nós! Como você pôde? Responda!

Shiryu acordou mais uma vez aos berros assustando Shunrei que dormia tranquilamente ao seu lado.

- Shiryu? – Ela diz ainda assustada tocando no peito arfante de seu amor.

Os olhos do cavaleiro de dragão olhavam rapidamente de um lado para o outro. Era mais outro pesadelo. Havia um tempo que ele vinha tendo o mesmo sonho ruim repetidas vezes. Após a vitória que obtivera na batalha contra Hades voltou para a China para tomar conta da propriedade que pertencia ao seu falecido mestre Dohko. Casou-se com Shunrei em uma enorme e feliz festa onde convidou a todos os seus amigos. Havia convidado também Saori, mas não esperava que ela fosse aparecer, porém para a sua surpresa ela veio, foi um dos momentos mais felizes da vida do casal. No fundo Shiryu poderia apostar que havia sido um dos momentos mais felizes na vida de todos, onde por um tempo esqueceram que eram cavaleiros, esqueceram das mortes e das tribulações que pareciam não ter fim e eram apenas amigos. Os anos se passaram e eles foram felizes, tinham tempo para cuidar da plantação de arroz. Shiryu sentava-se onde o seu antigo mestre se sentava para meditar. Como o corpo de Dohko havia se desintegrado no portão que ficava dentro da Gildeca, ele não teve um corpo a sepultar, mas mesmo assim colocou uma lápide perto de uma árvore, próxima a cachoeira de Rozan.

Shiryu disse que estava tudo bem e deu um sorriso para a sua esposa. Shunrei sabia que não era verdade. Eles tomaram um banho e logo em seguida ele se dirigiu para a cachoeira e se sentou, fechou os olhos e de repente os seus cabelos começaram a se movimentar com um vento calmo que ficava ao redor do seu corpo. O seu estado de meditação fizera com que seu cosmo queimasse de leve.

- Mestre. Se o senhor puder me ouvir, estou aqui mais uma vez. Os sonhos não param, mestre. Eu não sei o que eles significam. Na verdade não consigo me lembrar o que são, mas há uma grande sensação de angústia toda vez que eu acordo. Sinto-me feliz aqui, posso ser uma pessoa normal. Shunrei está cuidando bem de mim. Ainda assim há algo que falta, mestre. Eu... eu sinto muito a sua falta. Por todos estes cinco anos que se passaram não consigo mais olhar para essa cachoeira sem lembrar do senhor. É como se parte da vida que corria por essas águas tivessem morrido contigo. Daqui a dois dias será a celebração ao senhor e aos outros bravos cavaleiros de ouro que morreram durante a última guerra santa e eu vou mais uma vez em sua memória, mestre. Não só em sua memória, mas como também de Shura que também posso considerar meu mestre por me ensinar a usar sua tão poderosa Excalibur. Vou rezar por você mestre, junto com o Seiya e os outros em nome de vocês que foram os mais corajosos em lutarem pelo bem da humanidade e por Atena. Sinto falta de ouvir a sua voz, os seus conselhos, me sinto perdido, mestre... Estava tão acostumado em usar o meu corpo, os meus punhos para luta que hoje em dia arar a terra para plantação é esquisito para mim. Me pergunto se os outros também se sentem assim.

Shiryu finalmente abre os seus olhos e lentamente se levanta para olhar o cair da cachoeira de Rozan. Shiryu fica calado olhando apenas. Ele pisca o olho e de repente o vento fica revolto um enorme estrondo faz com que tudo estremeça e sem demora o fluxo da cachoeira muda e a água começa a seguir em direção contrária. Shiryu se mantém imóvel e sua expressão não muda. Ele fica observando a água que deveria cair, fazer o caminho contrário até mais forte do que antes. Shiryu olha para baixo e se pergunta.

- Será que eles também conseguiram?

Dá as costas e vai caminhando para ir embora dali. A água que ia subindo para no meio do caminho e volta a descer com toda a violência.

Shiryu chegando na sua casa encontra Shunrei preparando o almoço. Ela o olha com preocupação, ele responde o olhar com um sorriso e dá um beijo em seu rosto. Ela para o que estava fazendo e se vira para encará-lo.

- Você fez o fluxo da cachoeira mudar novamente, não foi? – Ela esperou que Shiryu respondesse, mas não obteve resposta. – Por que você está treinando, Shiryu? Você mesmo disse que não iria mais lutar. – Mais outro silêncio. – São aqueles sonhos, não são? Responde, Shiryu!

- Não é nada demais! – Ele tenta ir para a panela para dar uma cheirada na comida.

- Shiryu, estou falando sério! – Ela se põe mais uma vez na frente dele. – Você acorda todas as noites aos berros, mal tem conseguido dormir agora, você não estava assim até o ano passado, Shiryu. Ontem você passou o dia inteiro calado e... – Ela cora e olha para o lado.

- O que?

- Já faz uma semana que você não me procura...

- Shunrei... – Shyriu olha no fundo dos olhos da jovem e a segura pela cintura. Com apenas um movimento de seus braços ele faz com o que o fogo de seu fogão a lenha se apague e que as roupas de Shunrei caiam no chão. Olhando no fundo dos olhos brilhantes da moça ele a beija.

No céu que cobria toda a China, enquanto Shiryu e Shunrei se perdiam um no outro, um risco branco corta o céu. Algumas pessoas do vilarejo perto da cachoeira de Rozan estranharam ao ver tal coisa, estrelas cadentes normalmente eram vistas somente a noite.

-=Palácio de Apolo=-

Próximo ao verdadeiro Olímpo ficava um dos doze palácios referente aos doze deuses que governavam e regiam o mundo. Em seus aposentos ele anda de um lado para o outro, sua expressão é grave. Havia qualquer coisa de errada naquilo tudo. Ele não conseguia entender o motivo de que logo Zeus iria repreende-lo por tentar destruir ele mesmo a raça imunda dos humanos, por conta de uns poucos que ele chamava de "santos". Apolo sorriu em deboche ao lembrar do termo. Santos... como poderiam ser santos? Humanos imundos e sujos, mal podiam andar pelas próprias pernas, como poderiam ser sacros? Humanos eram burros demais para entenderem o que vinha a ser algo sagrado, puro e santo. Uma vez que os Deuses se reuniram para enviarem um humano puro para que lhes fosse dado poder de redenção, os mesmos o mataram. Não, alguma coisa não estava certa. Alguma coisa faltava.

Zeus havia pego para si as essências de Artemis, Hades, Éris, Hypnos e Thanatos, deuses que se tornaram disformes graças à aqueles "santos" que Zeus protegeu. Poseidon ainda estava preso na urna que a rebelde havia prendido. Apolo sentou-se em uma cadeira e pôs-se a pensar mais um pouco. Zeus havia dito que faria com que cada um deles voltasse a existir, mas com algumas restrições e que jamais haveriam de se fazerem presentes na Terra novamente, porém ainda poderiam tomar conta das coisas que aconteciam nela. Apolo entendeu então o motivo do mundo dos mortos não ter sido destruído quando Hades foi, como os humanos mesmos diziam, morto. Quando soube na notícia que meros seres vivos mortais haviam colocados os seus pés imundos nos Campos Elísios, sua ira tão ardente quanto o sol explodiu e sua revolta foi enorme quando soube que o próprio irmão de Zeus havia sido derrotado e este não fizera nada.

Apolo lembrou-se que no momento, ele mesmo foi para a Terra como se fosse um mero humano para destruir os tão conhecidos Cavaleiros de Atena. De imediato foi para a terra santa na Grécia, porém algo chamou sua atenção. Ele não sabia ao certo em quanto tempo foi que durou isso, mesmo porque para os Deuses era algo que quase não existia, já que dormiam nos berços da eternidade. Porém, ele pôde calcular que semanas depois do fim da guerra santa houve um pequeno alvoroço no mundo, onde começaram a terem relatos de que a morte não existia mais.

Sim, há cinco anos atrás, Apolo se lembrava, enquanto caminhava no meio dos imundos numa noite chuvosa, vestido apropriadamente como eles que parou em frente ao que eles chamavam de TV para ouvir um homem dizer que muito estranhamente pessoas haviam sido atacadas no cemitério por seres que eles julgavam serem misteriosos, pois nenhum rastro dos atacantes havia sido encontrado. Vários outros relatos haviam sido feitos em várias outras partes do mundo.

- Não é possível. – Apolo disse para si mesmo.

Olhando de um lado para o outro ele procurou algo, um prédio ou qualquer outra coisa que fosse dar-lhe a sua resposta. Pessoas passavam ao seu lado com seus guarda-chuvas em mãos correndo para que não se molhassem tanto. Parou uma mulher e perguntou:

- Onde fica o hospital mais próximo?

- Hmmm... – A mulher pensou um pouco e logo seus olhos se iluminaram em dar a resposta.

Mas Apolo então lembrou-se de algo muito importante. Algo que ele se ridicularizou por ter se esquecido por alguns segundos. Lembrou-se de que era um Deus e que tudo podia.

- Esqueça, não preciso de um hospital para descobrir o que eu quero. – E violentamente agarrou o braço da mulher.

- O que isso? – Ela disse assustada.

- Não vai doer, bom... pelo menos, não em mim. – E com um golpe ele cravou a mão peito à dentro da mulher e arrancou o coração que ainda deu três batidas do lado de fora e parou.

O grito da mulher foi horrível e todos que estavam na rua pararam para olhar de onde tinha vindo. Logo se alarmaram ao ver os dois e se horrorizaram quando perceberam a cena de um homem com as suas roupas todas sujas de sangue respingado e seu braço levantado com mais sangue escorrendo aos montes e na mão, não puderam acreditar, era um coração. Muitos outros gritos se seguiram.

- O... o que você fez? – A mulher disse quase sem voz. Ela tremia como se estivesse nua em uma geleira. Vagarosamente olhou para cima e viu algo que não deveria estar na mão do homem.

Apolo a empurrou e ela caiu sentada no chão. Os olhos arregalados da moça não podiam acreditar, ela depois olhou para o enorme buraco que vazava sangue do seu próprio peito, era surreal demais, não era possível uma coisa daquelas, ela novamente olhou para a mão do homem.

- Malditos humanos. Tiraram o equilíbrio da vida e da morte. – Apolo se vira para a mulher. Joga o coração dela que cai no colo da própria. – Tome, guarde em algum lugar, provavelmente você não precisa mais dele.

Deu as costas e saiu andando. Uns policiais apareceram e correram em sua direção gritando voz de prisão. A mulher continuava sendo banhada pela chuva e pela própria poça de sangue que se fazia embaixo dela. Aos poucos as pessoas ficavam ao seu redor, uma jovem adolescente vomitou ao ver o coração da mulher, vermelho e sangrento nas mãos da própria. A moça no chão ainda tremia, seus olhos duas vezes mais arregalados que antes, segurava o seu próprio coração, foi quando de repente ela explodiu em um grito horroroso, sem parar. Gritou desesperada como qualquer louco gritaria.

Os policiais ainda gritavam e agora apontavam armas para o Deus do Sol. Este que se virou e simplesmente os encarou apático.

- Bote as mãos na cabeça! AGORA! – Um dos policiais gritou apontando a arma.

Apolo não moveu um músculo sequer e os dois policiais simplesmente explodiram. Foi uma chuva vermelha misturada com carne, pele e roupas rasgadas por todos os lugares. Apolo novamente deu as costas quando ouviu um barulho diferente. Virou-se novamente e os pedaços estavam se juntando sozinhos. Em questão de segundos os dois policiais estavam de pé extremamente assustados, porém suas roupas e seus corpos estavam inteiros, como se nada houvesse acontecido com eles. Aquilo fez com que Apolo se assustasse mortalmente e medo era algo desconhecido para um Deus. Os dois policiais se apalpavam incrédulos. Apolo já não estava mais lá. Não se encontrava mais no mundo dos mortais, que agora pareciam deter a vida eterna.

Furioso ele irrompeu pelas portas do palácio de Ártemis. A bela Deusa estava sentada em seu trono com uma sobrancelha levantada em um sorriso de escárnio no rosto.

- Eu estava me perguntando, amado, se você demoraria muito para vir me ver.


Fim do primeiro capítulo.