Disclaimer: Os personagens não me pertencem, apenas a fanfiction. Deixo os créditos para S. Meyer, excluindo os meus OCs.



Chapter 1 – I Know You

A escuridão do grande salão não era percebida pelos olhos incrivelmente potentes de Marcus. Seu corpo estava o mais próximo de um estado relaxado, enquanto revia alguns pequenos papeis. Todo seu conteúdo, ele observou descontente, já estava gravado em seu cérebro. Inconsciente do que fazia, levou sua mão de uma palidez imensa até em um local onde a caneta havia permanecido por tempo demais. Era exatamente naquela palavra que mais odiava, na que significava que ela havia partido. O pequeno "adeus", em uma caligrafia que havia aprendido a esquecer a quem pertencia, estava mais fundo – quase rasgava o papel em que fora escrito – e saliente.

Sua atenção continuou ali, mesmo quando os passos quase imperceptíveis de Felix mostraram sua presença. Ao seu lado, Marcus notou assim que finalmente ergueu sua cabeça, uma mulher de cabelo cor de nanquim, o mesmo tom que insistia em permanecer nos fios do seu próprio, e corpo esguio como de uma bailarina estava presa ao poder de Alec, que também se postava ali, alguns poucos metros atrás.

Era uma típica cena do seu cotidiano. Sempre traziam aqueles seres dignos de pena para que fossem julgados. Mas o que aquela mulher havia feito, indagou consigo. Não conseguiu sentir nenhum laço de ódio emanando dela para seus carcereiros. Interessante, ele concluiu.

"A encontramos tentando forçar uma das entradas. Não quis responder nenhuma de nossas perguntas e o cheiro dela não é nada que eu já provei," falou Felix, feliz por saber que logo seria mandado matar aquela pobre humana. Mas Marcus conhecia aquele cheiro, não era como de um ser humano normal; era banhado por um repugnante almíscar, e ao mesmo tempo, com um cheiro que lhe lembrava do salgado mar. Uma Filha da Noite.

Marcus abandonou a cadeira que havia estado durante a tarde toda daquele dia, e mesmo contra a vontade, deixou que o papel em sua mão estende-se sob a mesa de tampo de mármore negro. Deixou que seus passos flutuantes levassem-no até aquele pequeno grupo.

"Deixe-na," ele falou, as palavras correndo de sua boca como se não fossem as suas. Não se irritava mais com essa observação, depois de séculos preso a aquela horrível sensação de prisão, ele mal se deixava abater. Sua atenção se voltou a um pingente pequeno que quase perdia-se entre os seios fartos da mulher. Era um coração figurado – daqueles, lembrou-se, que os humanos procuravam imaginar como o símbolo do amor. Amor. – e com uma pequena palavra escrita. Congelou ao lê-la.

Felix estava pronto para discutir, mas Alec pousou sua mão de criança no ombro do companheiro. Sem qualquer vestígio de vontade de abandonar aquele lugar sem a mulher, Felix seguiu Alec para fora da grande sala, fechando a porta atrás de si. Adorava matar, e sentia-se horrivelmente incapacitado quando sua função era impedida. Mesmo que por um dos três reis.

Enquanto isso, Marcus ajoelhou-se ao lado do corpo inerte da mulher, que havia escorregado até que permanecesse em uma posição estranha no chão frio. O peito dela subia e descia em uma seqüência frenética. Ele também podia escutar seu coração bater forte contra as costelas. Seus olhos não tardaram a abrir, e Marcus viu-se analisando aqueles olhos cor de chocolate – de um tom próximo que um dia ele havia possuído – que não estavam assustados. Estavam aliviados.

"Que bom que cheguei a você," sua voz brincou no ar até que encontrassem os ouvidos de Marcus. Ela deixou um sorriso gentil delinear seus lábios finos, ao mesmo tempo em que seus olhos quase desapareciam. Um laço estranho formou-se entre os dois, era algo que beirava a camaradagem de velhos amigos. "Espero que me perdoe pela minha demora."

Uma das sobrancelhas grossas de Marcus ergueu-se sem seu consentimento. Seu corpo já trabalhava sem que mandasse, cumprindo seus gostos a seu bel prazer. Isso o irritou profundamente.

"Quem é você?" perguntou, empurrando sua raiva para longe de seu cérebro. Focou-se em escutar o coração da estranha bater cada vez em um ritmo mais lento.

"Ela me mandou." Ela apontou com o dedo o colar com o pingente de ouro, suas mãos tiveram grande dificuldade em cumprir seu desejo. Marcus viu-se indagando há quantos dias ela não se alimentava. Afastou aquele pensamento, e entendeu a quem ela se referia. Mas por quê? "Vocês Volturi são quase impossíveis de se encontrar, sabe. Tive de matar três de vocês até que o quarto decidisse cooperar."

A mulher apoiou suas mãos no chão, elevando seu tronco para que pudesse encarar o rosto de Marcus mais facilmente. Mais uma vez sorriu e seguiu falando: "Sou Maia, costumava morar em Praga até que, bom, eu fosse mordida." Ela respirou fundo, indicando uma cicatriz que marcava grande parte de sua clavícula, desaparecendo por debaixo de sua blusinha com manga cumprida da cor da terra. Era uma grande mordida. "Foi um acidente há trinta anos, vocês mataram grande parte dos infectados, mas eu consegui fugir. Uma conhecida minha pediu para que eu terminasse uma coisa por ela, e morreu em seguida."

Marcus sabia o tempo que geralmente os verdadeiros lobisomens viviam. Não eram imortais como os metamorfos vizinhos ao clã de Carlisle, mas tinham um prazo de vida superior em muitas vezes a dos reles humanos. O mais velho que já havia encontrado, lembrou-se, fora um idoso com mais de quinhentos anos. Naquela ocasião, perdera cerca de dez guardas até que pudessem matá-lo. O poder deles crescia a cada ano que viviam, incluindo a força sobre-humana.

Mas eles tinham apenas uma época que podiam ficar na forma que os humanos contavam em suas lendas. Nessas datas, apenas os mais velhos conseguem manter a sanidade. Então como aquela não-humana havia matado, como bem dizia, aqueles outros vampiros? Pegou-se imaginando o quanto aqueles repugnantes lobisomens haviam evoluído.

Maia piscou duas vezes antes que prosseguisse.

"Quero lhe dizer que o motivo por Aro ter-nos aniquilado ao longo das décadas não é o que talvez você ou Caius pensem. Aro desejava matar aquela conhecida que mencionei, mas depois de séculos, ele chegou à conclusão de que nada mais poderia interferir em seu regime de tirania que vem aplicando ao longo de sua vida. Ninguém poderia mais lhe contar a verdade," ela disse em um fluxo constante que obrigou Marcus a se concentrar ainda mais para distingui-las. Se não fosse o vampiro que era, teria perdido grande parte da narrativa da lobisomem.

Uma dor estranha acumulou-se na região que um dia havia batido seu coração. Uma sensação de quentura fez sua garganta queimar, mas não de sede. Era uma raiva desconhecida de motivo, uma raiva que era como uma bomba relógio prestes a estourar.

"Marcus, eu sei a verdade. Como ela morreu e o que houve com ela, mas antes que eu continue," ela começou, retirando com delicadeza o colar de seu pescoço. Ao final, ela estendeu para que Marcus o pegasse, e com um gesto rápido, o pequeno enfeite que ele mesmo havia mandado fazer para sua amada há milhares de anos passados, acomodou-se em sua mão de mármore. "Isso pertence a você, apenas a você."


13 dias depois...

A horrível tempestade que banhava Londres pareceu piorar assim que Annabelle decidiu sair daquele maldito prédio. Seus olhos arderam com o vento frio que cortou sua face assim que abandonou a portaria e procurou abrigo debaixo do toldo cor de beterraba. Seu coração parecia prestes a estourar em milhares de pedaços minúsculos, enquanto um sopro de raiva começava a ser criado em seu mais profundo íntimo.

Como ele fizera aquilo? Como possuíra a droga da coragem de dormir com a melhor de suas amigas e ainda nem ao menos se importar em contar? Annabelle gritava para si internamente, procurando por suas respostas.

"Onde diabos está aquele guarda-chuva?" sua voz saiu trêmula. Quando terminava de vasculhar sua bolsa a procura do objeto que necessitava, escutou um carro cruzar a rua a sua frente, e um grande esguicho d'água lavar seu rosto e encharcar suas roupas grossas. "Ótimo, era tudo o que eu mais precisava!"

Após alguns minutos onde sua mente concentrou-se em encontrar novos palavrões adequados que diria ao dono daquele desgraçado carro, ela puxou um celular (Graças a Deus estava seco!) pequeno e discou uma série de números. Sua mãe poderia pegá-la e tudo estaria bem. Tudo estaria muitíssimo bem.

Depois de quase quatros toques, a voz cálida de sua mãe um pouco afetada perguntou quem era do outro lado da linha. "Mamãe? Aconteceram uns imprevistos e... Bom, a senhora pode vir me buscar? Estou na frente do prédio do Rich."

"Oh, querida, eu- Sinto muito, mas Ben está aqui, e acho que eu não poderia. Me desculpe."

Ótimo, ótimo, ótimo!

Annabelle deu um curto tchau. Agora até sua própria mãe estava contra ela?

O mundo era tão injusto!

Agora teria que andar vários quilômetros até a estação de metro para poder pegar algum que ainda estivesse trabalhando naquele feriado e rezar para que conseguisse chegar até a estação que queria. Nos últimos dias a chuva havia levado há vários blecautes, e não seria surpreendente se isso acontecesse enquanto ela estivesse dentro do trem. Afinal das contas, relembrou, ela era a pessoa mais azarada do mundo.

Um imã para confusões.

Tomou coragem e deixou que seu corpo fosse ainda mais encharcado pela água gelada que descia do céu sem qualquer escrúpulo. Seus dedos estavam dormentes pelo frio e seu queixo já começava a tremer assim que chegou a esquina. Pensou em como estaria até que chegasse ao seu destino.

Sua visão era dificultada pelas gotas d'água que insistiam em chocar-se com seu rosto, mas mesma assim ela conseguiu identificar o vulto ao longe. Um vulto negro, que aos poucos se tornou cada vez mais visível. E se aproximava rapidamente, mais um pouco, mais um pouco. Quando deu por si, o vulto era agora reconhecível; um homem alto e cabelo escuro que chegava aos ombros.

Mas não fora isso que assustara Annabelle. Os olhos daquele homem, fora aquilo que lhe causara o maior medo de sua vida. O vermelho profundo que a encarava. Os olhos de um assassino.