Capítulo 1 – Começos
Era uma bela tarde de outono. As folhas das árvores, alaranjadas, amarelas e vermelhas, flutuavam com graciosidade rumo ao chão.
Uma bela jovem, a qual não aparentava mais de dezenove anos, estava sentada embaixo de um grande carvalho, brincando com uma cosmos. Uma suave brisa passou por ali, agitando os galhos das árvores, fazendo mais folhas caírem, e balançando os longos cabelos dourados da jovem, os quais desciam em uma cascata dourada até depois de sua cintura.
Ela levantou os olhos violetas com faíscas douradas para o céu da tarde, aproveitando aquele magnífico espetáculo proporcionado pela natureza, com um gracioso sorriso adornando seus lábios cor de nácar.
De repente, a jovem ouviu uma voz ao longe chamando pelo seu nome e vindo em sua direção com uma velocidade considerável.
- Mitsuki-sama! Mitsuki-sama! – chamava a sua dama de companhia, Yukino.
Um ou dois minutos depois, Yukino já aparecia ao pé da colina onde Mitsuki estava, arfando de correr apressadamente com seus kimonos.
- Aí está a senhorita! Por favor, Mitsuki-sama, estive procurando por todo o lugar pela senhorita. Sabes que não deves desaparecer desse jeito. – Yukino subia a colina mais devagar agora. – Vamos, senhorita, por favor, ainda temos que nos aprontar para darmos as boas-vindas ao clã Taisho. Sabes quanto essa aliança é importante para vosso pai e para o vosso clã.
- Ora. – Mitsuki respondeu com a voz melodiosa, na verdade, tão melodiosa que sempre que falava parecia um anjo cantando das esferas mais elevadas. – Sim, vejo qual a importância desta aliança, mas não vejo por que, por causa dela, eu não possa aproveitar este belo dia de outono. Não concordas, Yukino-san?
- Sim, senhorita. – Yukino disse com olhos quase suplicantes. – Mas a comitiva já está se aproximando e ainda necessito aprontar a senhorita. Afinal, vais fazer parte das festividades. Por favor, Mitsuki-sama, não nos demoremos mais.
- Muito bem. – A jovem concordou. – Mas saiba que faço isso mais por ti do que por esta aliança. Não quero que se meta em problemas por minha causa.
Mitsuki apoiou uma mão no tronco da árvore a fim de poder levantar-se. O peso das sete camadas de kimonos de seda cor de lavanda, os quais iam escurecendo de dentro para fora com a camada mais inferior de um branco alvíssimo, era muito, mas ela já estava acostumada com aquilo, afinal havia vestindo-se assim a vida inteira.
Yukino ajudou a sua senhora a pôr-se de pé e depois a descer a colina, indo pelos campos em direção ao grande castelo que despontava no horizonte.
Hoje era um dia de festividades. O dia em que o clã youkai Fujiwara confirmava sua aliança com o clã youkai Taisho, depois de um período prolongado de guerras entre eles. Guerras estas que ninguém se lembrava o porquê de terem começado. Ambos os clãs eram de youkais cachorros e era com muita alegria que se celebrava a nova aliança entre eles. A comitiva do clã Taisho deveria chegar a qualquer momento próximo ao pôr-do-sol para dois dias e duas noites de festas.
Mitsuki, como filha mais velha do patriarca do clã Fujiwara, deveria comparecer às festividades, querendo ela ou não. A garota contava atualmente com duzentos anos, considerada uma idade jovem para os youkais, como uma rosa que apenas começara a desabrochar, mas era extremamente bela. Na verdade, era considerada uma das donzelas mais belas de toda aquela região e era quase impossível conseguir a sua mão.
Yukino deslizou a shogi que dava para os quartos de sua senhora com graciosidade, permitindo a sua entrada. Então ela e mais meia dúzia de damas de companhia resumiram-se a aprontar Mitsuki para receber a comitiva. Já estavam ficando sem tempo.
Duas horas depois, Hikaru e Sayuri, pais de Mitsuki, já estavam à frente das portas do castelo, no topo da escadaria, esperando para recepcionarem a comitiva do clã Taisho, que há pouco havia cruzado os portões da fortaleza.
À frente da comitiva vinha Inu-no-Taisho, escoltado por seis guardas de elite e tendo ao seu lado seu primogênito, Sesshomaru. Ambos montavam os cavalos baios com extrema elegância e majestade, demonstrando o sangue real que possuíam. Atrás dos dois vinha uma rica liteira puxada por dois cavalos, onde a mãe de Sesshomaru, Megumi, encontrava-se.
Apesar da imensa comitiva, o que mais se destacava nela era Sesshomaru. O rapaz contava com um porte majestoso, digno de um príncipe, e não aparentava ter mais de vinte e três anos. Tinha um metro e oitenta de altura e percebia-se que, por baixo dos kimonos escarlates com o haori e hakama brancos, seu corpo era o de um atleta. Sua testa era adornada por uma lua crescente azul, marca esta de nascença, e seus cabelos eram brancos e longos, chegando à altura da cintura. Por alguma razão desconhecida, seu semblante era excessivamente sério, sendo difícil arrancar-lhe um sorriso.
- Sayuri, onde está Mitsuki? – Hikaru sussurrou para a esposa de modo que outras pessoas não os ouvissem.
- Dez minutos atrás ela estava terminando de se arrumar, não sei por que demora tanto. – Sayuri sussurrou de volta por trás do leque.
- É bom ela aparecer dentro de dez segundos ou não me responsabilizo por mim.
Assim que Inu-no-Taisho e Sesshomaru apearam dos cavalos, Sesshomaru foi ajudar sua mãe a descer da liteira e acompanhá-la para as escadarias. Hikaru rapidamente foi ao encontro dos três e, depois de cumprimentá-los com toda a cortesia, conduziu-os escada acima.
- É uma honra para mim e minha família tê-los em nossa humilde casa. – Hikaru vinha dizendo para a família youkai. – Esta é minha esposa Sayuri e...
- Desculpem o atraso! Eles já chegaram? Estavam todos comen... – Mitsuki cortou o pai sem querer quando veio correndo de dentro do palácio a toda velocidade apesar do peso dos kimonos.
A garota não estava prestando muita, ou melhor, nenhuma atenção à sua frente enquanto corria e acaba por dar um encontrão em Sesshomaru e derrubá-lo, caindo por cima dele.
- Me... me perdoe, senhor. – Mitsuki fala, gaguejando um pouco, enquanto levantava-se rapidamente e estende a mão para Sesshomaru levantar também.
Ele não aceita a mão que ela lhe oferecia e levanta-se por conta própria, espanando o pó das roupas, embora não houvesse nenhum.
- Sugiro, senhorita, que da próxima vez tome cuidado por onde anda. – Sesshomaru responde com frieza, embora mantivesse o tom educado.
Mitsuki abaixa a cabeça como que envergonhada pelo seu ato, mas o fez apenas porque assim mandava a etiqueta. No fundo, estava irritadíssima. Quem ele pensava que era para falar daquele jeito com ela? Afinal, ela também era uma princesa. Hikaru logo foi ao auxílio da filha:
- Peço desculpas pelo comportamento dela, senhores. É só a ansiedade por causa das festividades desta noite. Ela é a minha primogênita, Mitsuki. Não se preocupem, arranjarei para que isto não ocorra novamente.
Depois dos devidos cumprimentos, os seis e toda a corte entraram no palácio. Os soldados ficaram nos jardins, armando suas tendas e preparando-se para terem uma festinha própria junto com as pessoas comuns que iriam festejar aquele dia à sua própria maneira do lado de fora das paredes do castelo.
Para alguns, aquele dia seria o começo de uma coisa maior do que eles mesmos e a qual não poderiam evitar, mesmo se quisessem.
