Coisas Boas

Cap 1. Coisas ruins

(Hotch)

Parte deste trabalho, uma grande parte, é ter que ver coisas ruins muito de perto, ter que enfrentar o mal do mundo no dia a dia. Alguns casos parecem impossíveis, e os últimos tinham sido exatamente assim: encontros com o pior do ser humano. Impossível lidar com ele sem sentir que falta alguma coisa de bom em sua vida para equilibrar a balança.

Aquele caso na fronteira, aquelas pessoas machucadas, tudo fazia parte das coisas ruins que tinhamos que encontrar pelo caminho. Achar um intruso na minha casa também foi parte disto, ainda mais por ser Foyet. As nove punhaladas também fazem parte deste mal.

Coisas ruins demais para uma só pessoa, até mesmo para uma equipe inteira. Perdemos uma parte de nós cada vez que temos que partir para um novo caso. Na verdade, lidamos com coisas demais.

Mas, por outro lado, existe ela. Para compensar todas as coisas ruins, sempre existe ela. Nos momentos mais difíceis, para enfrentar os casos mais duros, ela está lá. Mesmo quando a situação ultrapassa os limites impostos pelo trabalho. Estava lá comigo, no hospital, depois das punhaladas de Foyet, e se manteve lá.

Sabia que ela tinha sentimentos por mim. Não se trata de uma questão de ego, mas ninguém se especializa em fazer perfis sem aprender a notar estes sinais. A verdadeira questão era: o que EU sentia por ela?

Tudo começou a se tornar mais claro depois do atentado. Tive bastante tempo para pensar enquanto estava no hospital e as punhaladas eram recentes, enquanto ela estava ali, sentada ao meu lado.

- Está bem? Precisa de algo? – Ela perguntou.

- Não, está tudo bem, apenas tudo confuso na realidade.

Disse sem olhá-la. Um estranho, e repentino, impulso me levou a aproximar minha mão da dela, parando a um centímetro antes de tocá-la. Foi estranho, um momento tenso em que nenhum dos dois se movia, nenhuma palavra era dita. Ela me olhou tão fixamente que senti que se instalava por completo em minha mente, somente então tomei sua mão e ela a apertou suavemente, aceitando a situação.

Não havia nada que pudéssemos dizer, então ficamos quietos, de mãos dadas e nos olhamos. Fomos interrompidos por uma ligação da equipe, informando que Hailey e Jack estavam bem. Era estranho pensar neles e me preocupar com sua segurança, sobretudo por estar com ela.

O tempo passou. Minha recuperação foi lenta, as horas tediosas sem ter como preenchê-las. Passei muitos momentos sozinho, talvez por isto voltar ao trabalho tenho sido um verdadeiro alivio. Talvez também por isto me senti maravilhado e surpreso quando ela foi me buscar no primeiro dia. O apoio, a companhia, tudo vinha dela, como se fosse natural, mas sem falar sobre aquele momento, sem falar sobre os minutos sozinhos no hospital. Trabalhamos no caso, eu sentia que estava enlouquecendo. Ela se preocupava e facilmente eu lhe contava tudo, inclusive foi ela que me acompanhou até minha casa, mas não falamos daquele momento.

E agora... O que está acontecendo agora? Delegar a chefia para Morgan por um tempo foi uma mudança importante, algo novo e estranho, algo com que a equipe ainda não se sentia segura, podia ver isto facilmente, principalmente no olhar dela.

Ela...

Ter menos trabalho quando não se é chefe funciona, não me deixa menos preocupado, mas funciona. Talvez seja um bom momento para que outras coisas funcionem. É tarde, mas ela ainda não se foi, ambos sabemos que algo está acontecendo. Sei o que sente por mim, mas e o que sinto por ela?

- Emily! Espere. – Disse quase sem pensar. – Também estou indo. – Ela parou e esperou.

Sim, o trabalho tem muitas coisas ruins, mas já é tempo de ter coisas novas. O que eu sinto? O mesmo que ela.