E talvez essa fosse a última vez que olharia para Draco Malfoy. Ele estava lá do lado o qual sempre pertencera e aquilo dilacerava Hermione, pois uma parte dela tinha esperança que pudesse fazer algo para que ele fosse diferente, para que quisesse ser diferente. Era engraçado que seu coração e mente, inocentemente, achassem que ele abriria mão de sua tradicional família ou seu milenar nome por ela e pelo amor que sentia por ele.

Tinha quase certeza que o sentimento não era recíproco e isso a destruía de uma forma que ela nunca achara que fosse possível. O sonserino só havia se permitido aproximar dela por interesses que tinha, e mais tarde suas suspeitas foram confirmadas quando ele soltara, naquela noite, que ela havia sido uma peça no jogo dele e de seu nojento mestre. O resto, ela ponderou ter ocorrido por desejo que Draco, sabe-se Deus porque, se permitira sentir pela sangue-ruim. Sabia que não era feia e chamava atenção em demasiado, não que se importasse com isso ou fizesse esforço para que ocorresse, era assim e pronto. Mas a coisa saíra do controle e fizera com que ela se entregasse a ele. Por que isso ocorrera? Era uma pergunta extremamente difícil na qual Hermione nunca se dava ao luxo de ficar pensando. Sempre fora uma garota esperta demais para cair na lábia de mulherengo de Draco e sempre achara ser apaixonadíssima por Ronald Weasley, mas o coração tem dessas coisas de enganar a nos mesmos e Malfoy sempre lhe parecera um enorme enigma, como aqueles que a professora de Runas passava somente para ela resolver e era totalmente fascinada por eles. Como era agora por Draco.

A castanha se sentiu a pior pessoa do universo por estar pensando no garoto loiro quando há poucos segundos seu melhor amigo e irmão tinha sido dado como morto, causando uma onda de medo e resignação naqueles que lutavam por sua causa. Aquele fato a dilacerava sim, mas agora não podia pensar somente em si, mas no filho que carregava consigo e que descobrira há poucos dias. Suspirou deixando as lágrimas que a muito segurava caírem e abaixou seu rosto. Porém, foi tirada de seu estado de torpor quando gritos encheram seus ouvidos. Harry estava vivo! Aquilo a encheu de esperança e seus olhos rapidamente procuraram Hagrid que tinha os braços vazios.

A luta recomeçara não prolongando por muito tempo com Harry começando seu longo discurso a Voldemort ou Tom Riddle como ele gostara de ressaltar. Procurou Draco pelos limites do salão se odiando no mesmo minuto por isso. Sabia que como o bom covarde que sempre fora, ele e sua família se afastariam do conflito para sair ilesa. O sonserino odiava esse adjetivo e se enfurecia além do que ela já vira quando jogava isso na cara dele, mas esses eram tempos distantes onde eles se permitiam serem amigos e serem sinceros um com outro. Ela achava que sim, ao menos ela fora sincera com ele. Quando focalizara novamente no conflito que ocorria no meio do salão percebeu que Voldemort estava caído morto. Ela respirou fundo, como se um peso enorme houvesse saído de suas costas e que por agora seu bebê estava a salvo de perseguições por ser filho de quem era.

Não procuraria Harry e nem tão pouco Draco. O sono e cansaço que ela carregava há dias, por estar à caça das horcruxes em lugares inóspitos, se apoderaram dela. Achava que a gravidez tinha boa parte da culpa e sem olhar para trás caminhou até onde sabia ser o dormitório da grifinória e despencou na primeira cama que vira ao subir as escadas. Não demorou mais que segundos para que fosse tragada para o mundo dos sonhos e por lá ficasse.

Hermione fora acordada pelo balanço forte de alguém. Demorou alguns segundos para que seus olhos abrissem e dessem de cara com Gina a olhando. Percebeu que os olhos da ruiva estavam vermelhos e com grandes olheiras embaixo deles. Sentiu-se ridícula por seu drama por Draco antes de ir dormir, enquanto Gina perdera o irmão e toda sua família estava, com certeza, em uma tristeza enorme.

–Graças a Deus que acordou, achei que tinha sido enfeitiçada. – A voz de Gina saíra em um sussurro baixo e cansado.

–Sinto muito, meu sono tem estado mais pesado que o normal ultimamente. Quanto tempo eu dormi? – Hermione completara, se sentando na cama e tentando prender seu volumoso cabelo em um coque.

– Não sei bem Herms. Só te achei aqui no dormitório hoje de manhã quando mamãe insistiu para que eu descansasse um pouco. Estava tudo uma bagunça lá em baixo com todas aquelas mortes – a voz da ruiva saiu esganiçada,falhada e seus olhos encheram de água, mas ela continuou – Já está na hora do jantar e como vão servir uma ceia para todos que ainda estão aqui no castelo, resolvi te chamar para comer. Deve estar faminta...

–Eu realmente estou Gina, obrigada. Mas onde estão Harry e Rony? – Hermione perguntara rápida enquanto levantava da cama que dormira provavelmente um dia inteiro. Ela estava realmente morta de fome e agradecia a Gina por ter vindo chama-la, já não se lembrava quando fora a última vez que tivera uma refeição descente.

–Estavam dormindo também, papai foi acorda-los.- A castanha assentiu seguindo Gina que já virara as costas indo, provavelmente, para onde serviriam o tal jantar. Ela realmente precisava encontrar os amigos havia algo que queria conversar com eles.

Rony estava com a boca cheia demais e comia muito rápido. Fora isso, parecia que tudo estava fora da normalidade e apático. O salão composto pelas quatro grandes mesas de sempre tinham grupos espalhados em vários pontos, todos em um silêncio mórbido e triste, mesmo as mesas fartas não conseguiam sobrepor a aura de desgraça que a recém-terminada guerra havia trago para eles. Hermione ponderou como o ser humano podia ser tão mesquinho a ponto de levar pessoas se destruírem em prol de um ideal tão fútil como a pureza de sangue, talvez aquilo não fosse tudo, pessoas também eram movidas por poder. Tirando aqueles pensamentos de sua cabeça sentou-se em frente a Harry e Rony dando um leve aceno de cabeça em comprimento e começando sua refeição silenciosamente, afinal a guerra podia ter tirado vidas que nunca mais fariam parte deles, mas precisavam continuar vivendo por mais doloroso que fosse.

Enquanto desfrutava da refeição Hermione pensava em como contaria aos amigos a sua frente sobre seus planos. Tinha que arranjar um jeito de convencê-los a não irem com ela completar aquilo que queria fazer e partir para bem longe dali. Não teria coragem e nem queria contar para Harry e Rony sobre seu bebê. Sabia que a reação deles não seria nada boa e provavelmente iriam excluir ela da vida deles até resolverem perdoa-la e sabia que não aguentaria nada disso, estava frágil demais.

– Mione você está bem? – Levantou os olhos de seu prato encontrando o olhar fraternal de Harry e aquilo a fez abrir um enorme sorriso e sentir pelo menos por um segundo que tudo ficaria bem. Queria poder ser sincera com ele e contar tudo sobre ela e Draco, mas não podia, tinha medo e se sentia tão menos grifinória por causa disso que tinha vergonha de si própria.

–Estou sim Harry. Nós vencemos não é! – ela disse forçando um meio sorriso– Nós podemos conversar depois do jantar a sós? – completou rápido e mais baixo na intenção que só ele e Rony ouvissem, os garotos assentiram confirmando. Já Gina a olhou curiosa provavelmente por ter escutado, porém conversaria com a amiga mais tarde, primeiro precisava convencer os dois a ficar e deixá-la ir.

Após o jantar não demorou a acharem um lugar privado para os três conversarem. Os garotos sentaram-se em frente à castanha e a olharam com expectativa. Ela não tinha intenção de enrolar e nem pedir permissão para eles, no entanto os amava demais para ir embora sem lhes avisar nada.

–Eu pretendo ir à busca dos meus pais e leva-los para o St. Maxine na França para reverter o feitiço que lancei neles. Lá existe a melhor área de desenvolvimento em medibruxaria na parte da memória e vocês sabem o quão arriscado é tentar reverter o feitiço por mim mesmo e algo dar errado. Poderia danificar a memória deles para sempre.

–Você faz ideia de onde eles possam estar? – Hermione fizera que não em um gesto com sua cabeça. Teria que procurá-los por todos os cantos e assim levá-los para reverter o feitiço.

–Nós iremos com você e a ajudaremos a encontra-los, não é Harry. – Rony olhara seu amigo com expectativa, sua voz saíra esganiçada e em desespero como se não quisesse ver seus amigos separados de novo. Harry assentiu olhando para Hermione como se isso não estivesse em discussão. Ali começaria a parte difícil, teria que convencê-los do contrário.

–Não quero que vocês venham comigo! Irei depois do enterro dos Heróis de gue... – Hermione foi impedida de terminar sua fala com a voz forte de Rony soando em protesto.

– É claro que nos vamos! Ganhamos essa guerra juntos porque não iriamos te ajudar a resolver um problema feito por causa dela?- Harry concordara com o ruivo na hora e Hermione mantivera sua pose firme e seus olhos fixos nos amigos, já havia tomado sua decisão e não iria voltar atrás com ela.

–Vocês não vão Ronald! Sua família acabou de sofrer perdas e não seria bom que se ausentasse em algo que eu preciso e quero resolver sozinha. E você Harry, a guerra e a profecia já tiraram tempo demais de você, não quero que algo fácil de ser resolvido tire mais tempo de você e tem a Gina! Não quero que vocês venham.

– Hermione se lembra de quando eu quis ir à busca das horcruxes sozinho e você e Rony não deixaram, por que eu agiria diferente com você? – Quis sorrir com aquela fala, Harry não a deixaria sozinha, mas ela realmente precisava de um tempo para pensar em seu filho e no que ela faria. Tinha dezessete anos e estava grávida e precisava dos pais com ela. Suspirou olhando para seus amigos.

–Vocês não vão! Sinto muito mais preciso fazer isso sozinha! Mandarei cartas e deixarei sempre a par de tudo que fizer e ponto. Partirei depois do funeral . - Levantou-se não querendo encarar os olhares confusos de seus amigos. Não parara para ouvir os protestos de Rony que chegaram ao seu ouvido enquanto caminhava de volta para o castelo, sabia que havia sido dura impondo sua decisão, contudo não queria ter que lidar com o horror deles quando descobrissem tudo, não agora.