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Sadie
arrumou o cabelo bagunçado pelo vento, juntando os fios claros
em um rabo no alto da cabeça. Andava olhando para os lados,
atenta às inúmeras placas coloridas e "piscantes"
da Las Vegas Strip. Apesar do vento leve que batia, o sol estava a
pino e esquentava o dia, o que impedia que as inúmeras pessoas
andando pela rua usassem qualquer coisa para proteger seus corpos do
vento. Subitamente, a garota parou, virando-se para o lado das
construções na calçada e observou, um pouco de
longe, a "monstruosidade" que se estendia à sua frente. O
Caesars
Palace
ocupava uma enorme extensão da calçada e fazia qualquer
pessoa se sentir intimidada ao simplesmente olhá-lo. Com Sadie
não poderia ter sido muito diferente, exceto que ela não
se deixaria intimidar demasiadamente pelo local. Viu uma família
de muitos integrantes sair do hotel, munidos de máquinas
fotográficas e chapéus. Resolveu entrar, por fim.
Parou
logo no hall do hotel, onde um enorme espelho estava fixado à
parede e olhou para seu reflexo. Os cabelos presos deixavam à
mostra seu rosto, e devido à temperatura agradável do
dia, seus olhos estavam mais azuis do que nunca. E mesmo com os quase
40°C que se faziam no ambiente de fora do hotel, Sadie usava uma
calça social e blusa regata pretas, finalizando o traje com
uma camisa branca com as mangas charmosamente dobradas até a
altura dos cotovelos. Fez um aceno de aprovação e se
dirigiu ao balcão da recepção.
- Bom dia, em que posso ajudá-la? - Uma atendente com um sorriso enorme perguntou.
- Ahn, eu estou procurando por Carter. Carter Johnson.
- E você seria a senhorita...?
- Diga-lhe que é Sadie Stein.
- Aguarde um minuto, por favor, senhorita Stein.
A atendente desapareceu por trás de alguma porta, e quando voltou estava acompanhada de um cara alto e magrelo usando o mesmo uniforme que ela.
- Sadie! Você chegou! - Ele contornou o balcão, saindo por uma portinhola baixa. Foi até Sadie e abraçou, mas não sem antes dar uma olhada de cima a baixo na loira. – Uau, você está incrível! Onde está a garotinha miúda e cabisbaixa que deixei do Texas?
- Mande-a pro espaço, CJ. E conheça a nova Sadie. – A garota deu uma voltinha na frente do amigo.
- Nova e melhorada, você quer dizer! Quando foi que você ganhou esse corpo? Menina, você está um arraso.
- Você também está ótimo, Carter, se é isso que quer que eu diga.
- Hey! Nada de ironias por aqui, garotinha. O hotel é bem conservador, e você tem que parecer sempre pronto para ajudar um cliente. – Ele pronunciou as últimas palavras com uma expressão entediada no rosto.
- Você faz parecer péssimo trabalhar aqui.
- Não que seja lá tão bom, preferiria mil vezes ser hóspede, mas tem suas vantagens. E o salário não é ruim, sabe. Basicamente, dá pro gasto.
Ela riu.
- Bom, mas o meu emprego, sai ou não?
- Uh, com essa aparência incrível, acho que sai. Você é louca, S, deveria ser modelo e não trabalhar num hotel. Apesar de que aqui há a chance de você ser descoberta. Sabe, você deveria ser uma Pussycat Doll com essa cintura.
- Carter, pare!
- Ok, ok. Bom, vamos arranjar a parada logo, certo? Vamos lá, me siga. E tente não se perder no meio das pessoas.
No início, Sadie pensou que Carter estava apenas brincando. Mas quanto mais adentrava os recintos do hotel, percebia que era muito fácil de se perder ali dentro. Apesar do tamanho enorme dos corredores, as pessoas te levavam com elas. Eram muitas e andavam em grandes grupos, provavelmente a maioria em período de férias. Ela seguiu Carter quando o mesmo entrou em um dos vários elevadores do corredor. Não estava muito cheio, eram em torno de dez pessoas, contando com eles dois e o operador do elevador. Depois de checar sua aparência no espelho mais uma vez, Sadie se virou para o outro lado e pôde então observar as pessoas que partilhavam o transporte com ela. Eram quatro garotos jovens, acompanhados de um homem mais velho e duas garotas com sorrisos enormes. Os homens pareciam cansados, todos encostados na parede, com os olhos fechados e caras de sono. Antes que ela pudesse olhar para cada um separadamente, Carter puxou-a pelo braço, murmurando um "Descemos aqui". Deixaram o elevador e viraram à esquerda em um longo corredor. Andaram até o final dele, até pararem em frente a uma porta branca com os dizeres "RECURSOS HUMANOS" escrito em letras douradas e fixado na parte superior da porta.
Carter bateu na porta duas vezes, e foi instantaneamente atendido por uma mulher com um coque e um conjunto vermelho.
- Senhor Johnson. Em que posso ajudá-lo?
- Na verdade, hoje não sou eu, Beth. Só vim trazer Sadie Stein para a entrevista de emprego com a Rogers.
A secretária olhou em seu relógio de pulso.
– Bem na hora. – Olhou para Sadie. – Senhorita Stein, queira entrar, fazendo o favor. Você pode voltar, Carter.
Antes de entrar, Sadie se virou para o amigo uma última vez, que murmurou um "Boa sorte" e virou os polegares para cima.
- Siga me, por favor, senhorita Stein.
Ela seguiu Beth, passando por uma sala clara e arejada com sofás brancos e uma mesa com um computador, que presumiu que era a mesa da secretária. A vista por fora da grande janela de vidro que fornecia a claridade para a sala era incrível, e Sadie podia ver pessoas se movendo como formigas na rua de fora do hotel. Voltou a olhar para frente e viu que Beth indicava uma porta aberta para que ela entrasse.
Passando pela porta, Sadie pôde ver outra grande janela com uma vista incrível. Em frente à mesma, havia uma mesa de madeira escura, acompanhando o resto da decoração da sala. Sentada na poltrona de couro atrás da mesa, estava uma mulher de cabelos curtos e óculos com aros de metal. Como essa não falasse nada, Sadie resolveu se pronunciar.
- Olá, eu sou Sadie Stein. – Ela disse, com um sorriso. A mulher pareceu acordar de um transe e sorria para ela de volta, estendendo sua mão por cima da mesa.
- Olá, senhorita Stein. Eu sou Emily Rogers. – Sadie apertou a mão da mulher, que ainda sorria. – Então, Sadie, posso chamá-la assim? Ótimo. Você quer um emprego no hotel. Devo avisá-la de que não são muitas as vagas liberadas, mas, por incrível que pareça, você chegou num momento de sorte! Uma de nossas camareiras acabou de ser demitida por mexer nas coisas de um cliente, imagine! E o Caesars não pode aturar esse tipo de comportamento, que, aliás, espero que a senhorita não apresente. Estivemos analisando o seu currículo e acreditamos que você tem potencial para o cargo. É claro que ficará sob a supervisão total da chefe das camareiras, especialmente nas primeiras semanas, para analisar se você realmente é capaz de realizar o serviço. E... Acho que só. – Ela sorriu novamente.
- Ah... – Sadie começou, indo mais para frente na poltrona na qual estava sentada. – E o salário?
- US$ 2000.00, com todos os benefícios de trabalho e convênios com empresas. A senhorita trabalhará do meio dia até as dez da noite, totalizando dez horas diárias de trabalho e terá um dia de folga a cada duas semanas. Mais alguma dúvida?
- Ah, não! Eu... aceito o trabalho.
