Ela arqueou a sobrancelha, escondida pelos enormes óculos Ray-Ban, e olhou cética para o primo, aquela deveria ser a 82ª vez que ele tentava fazer a manobra, obviamente, falhando miseravelmente. No entanto, até onde ela conhecia do primo, sabia que Gérard era mais teimoso que uma mula empacada.Isso se devia a natureza francesa da família, conjunto ao fato do sobrenome Le Vasseur não ser conhecido por desistência.
O que pouco importava para Charlotte. Ela resmungou imprecações contra o primo, pensando seriamente em jogar uma pedra na cabeça dele e fingir que foi acidental. Estava odiando o posto de gandula, ela queria mesmo era voar, até mesmo porque, a vassoura era delae ela não tinha culpa se Gérard havia sido um burro e houvesse esquecido a dele na França.
Não que ela estivesse adorando a estadia na Inglaterra, fazia muito calor ali e sua pele branca tão delicada ao sol queimava e ficava irritada com tanto calor. O que também acontecia a Gérard, embora ele não admitisse.
Ela piscou e olhou rapidamente para a mansão da tia Emily, apertando os olhos ao enxergar a movimentação repentina e vozes alteradas, pela janela, uma risada escapou por seu nariz, sua peça tinha sido bem sucedida. Obviamente, seu dom aprimorado e sensível para artes havia sido bem trabalhado. Foi apenas quando leu:Onde ela esta?Nos lábios de uma das primas anãs e chatas que ela deu-se conta que havia sido descoberta. Logo agora que havia bolado um plano para culpar o cachorro. Correu então os olhos pelo campo e ignorando habilmente Gérard, escondeu-se atrás de uma grande moita, retirando uma lixa do bolso traseiro dos shorts, começou a lixar as unhas bem cuidadas.
Ela se livraria das acusações, como sempre fazia, era boa atuando e, exceto por Gérard, todo mundo acreditava nela.
–Lotte! Você viu isso? Eu chamo de Pancada de Finbourgh invertida! – ouviu a voz do primo, chamando-a, ignorou por um momento. Ele realmente precisava de umas boas doses de semancol e humildade. Ela considerou chutar o primo por um instante. –Cadê você? Não acredito que não viu! Charlotte Le Vaseur! Lotte... Me responda, sua gandula miserável! – ela revirou os olhos, ele acabaria atraindo os primos.
–Aqui! – resmungou um pouco alto, empertigando-se e piscou quando o primo entrou em seu campo de visão.
–Você escutou? Você perdeu a manobra do século hoje! Eu peguei bastante velocidade e rebati a goles no lugar certo dessa vez. Movimento perfeito. Se demorasse mais um segun...– olhou entediada para ele –Qual o seu problema? O que diabos você tá fazendo ai? – perguntou curioso. Ela revirou os olhos, irritada.
–Shh. – levou o indicador a boca, pedindo silêncio. –Acho que estão procurando a gente. – abriu um sorriso enorme.
–E...? – ele esticou os lábios em um bico, fazendo a loira revirar os olhos.
–E daí que para estarem procurando a gente é porque já notaram o estrago que eu fiz na louça. E sim, eu ouvi, manezão. Também, depois de oitenta e duas tentativas, se não conseguisse eu ia falar pro Tio Gaspard que você é um frutinha.– sorriu zombateira. Gérard, por sua vez riu sarcástico e estendeu a mão para os óculos Ray-Ban pendurado na camisa dela.
–Difícil dar crédito a isso quando o comentário vem de uma macaca escondida na relva. Se bem que macacos costumam entender bastante de frutinhas. O importante é que eu seria uma frutinha bastante saborosa e suculenta. Irresistível, como toda a certeza. E foram setenta e seis, na verdade.– ele informou e ela revirou os olhos, impaciente.
No entanto, um grito estridente, quase como um animal morrendo, correu pelos terrenos antes que ela pudesse responder, encarou o primo, sobressaltada.
–CRIANÇAAAASSSS! – Charlotte blasfemou em voz alta. Inúmeras coisas passando por sua mente, ela encarou Gérard, seus olhos ecoando os pensamentos dela.
–Puts... A Anne ta parindo! – contorceu o rosto, vendo o primo fazer o mesmo.
–Óh, céus! Isso significa que... Não. Minhas mãos gentis e sedosas não vão fazer parte de uma nojeira dessas. Não estou pronto para ser uma parideira ainda. Te encontro no portão!– ele informou, e ela revirou os olhos, segurando-o pelo colarinho da camisa.
–Seu filhote de acromântula com um diabrete... Eu não vou... – a mesma voz os chamou novamente, desta vez ainda mais alta.
–Mer-da... Deixo claro aqui que se ela estiver realmente parindo, Lotte, é você quem vai tirar o menino de lá. Prometo dar apoio moral e fazer "respiração cachorrinho" nos momentos certos.– ela revirou os olhos ignorando-o e o arrastando até a casa.

(...)

–E você chamou a gente naquele desespero todo pra... isso? – Gérard perguntou,suas palavras revoltadas num eco mudo das sobrancelhas arqueadas da prima.
–É. – Anne disse, sucinta, gesticulando para o francês abrir o envelope, Charlotte espiou por cima do ombro, o envelope de papel amarelado. –É de suma importância que vocês comprem essas coisas pra mim... –Gérard quebrou o lacre com desleixo e Charlotte rapidamente leu a lista, em tópicos.
–Hmmm... um quarteirão, um big tasty, dois big Mac, duas batatas grandes... ele leu em voz alta, olhando rapidamente para Anne ––Isso tudo é pra você? Que apetite hein, Anne... não é a toa que tá com essa barriguinha. – a francesa riu e jogou-se na poltrona, erguendo as pernas para pô-las sobre a mesinha de centro. –três refrigerantes, dois mclanche feliz e uma manga. Pera, uma manga? Por Melin! Quem na terra come fast food com manga? – o primo perguntou incrédulo, justo quando tia Emily apareceu.
–Charlotte, sente-se direito! Gérard! – recriminou a ambos enquanto batia nas pernas da garota.
–Que foi? Quem quer comer Big Mac Manga é ela, e você olha torto pra mim? – ele exclamou, indignado.
–Gérard, deixa de ser Mané, no mclanche feliz vem fruta de sobremesa. Posso ficar com o brinquedo, Anne? - piscou inocente, para a prima, que apenas revirou os olhos, fuzilando-a.
-Dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles, num pão com gergelim – e manga."– ele cantarolou, jogando-se no sofá e puxando uma das revistas, folheando-a. –Isso nem soa sonoro. Que tragédia, arruinaria com um tão bem sucedido jingle!
–Porque a maior preocupação deles é, sem duvida alguma, a música dos comerciais. Ela tá grávida, seu babaca. E a sua voz de gatos acasalando, por si só, já fez o favor de arruinar o jingle pra eles. – a francesa se pronunciou, Gérard não riu, porém, ao contrário, ela sabia que ele concordava sobre sua falta de habilidade vocal. Ele levou as mãos a boca, falsamente incrédulo e arremessou a revista na testa da garota. Charlotte apanhou-a no ar, como boa apanhadora que era.
–Agora estou ofendido. Charlotte Le Vasseur, sua porca panasqueira!– ele resmungou, ofendido e a garota riu.
–Calem a boca, vocês dois! A manga não é pra mim, é pra salada tropical que a tia Emily vai fazer no jantar. E... "panasqueira"? Sério? Onde vocês crianças encontram essas palavras?– Anne revirou os olhos para os primos, Charlotte deu de ombros, resmungando que Gérdin era um machista narcisista e egocêntrico.

(...)

Dizer que não achava os trouxas fascinantes seria mentira, no caso de Charlotte. Apesar de que ela odiava os estabelecimentos de fast food, cheios de gordura e crianças ramelentas que trombariam nela e a fariam cair, sendo obrigada a fazer Gérard de tapete. Ela se perguntava se os pais daquelas crianças não tinham ciência do absurdo e cruel destino que tracejavam as crianças, porque aquelas ali não seriam saudáveis nunca.
–McDonald's, McDonald's... o celeiro de trouxas alienados. Que porcaria. O cheiro até daqui já me enjoa. – Gérard resmungou tão logo aproximaram-se do estabelecimento.
–Isso porque você é um Francês fresco e gay. – a francesa riu e abriu as portas, tomando o máximo cuidado em não encostar-se a nada. Ambos buscaram uma mesa livre no salão. "Isso porque o problema não era a mesa, mas sim, enfrentar a fila maldita do balcão cheio de ramela". A garota revirou os olhos.
–Isso porque o nome é fast food. Imagina se não fosse... – a garota riu do loiro e colocou as mãos na cintura, batendo o pé, impaciente.
–Sinceramente, a Anne vai engordar e ter varizes, porque olha isso aqui é o inferno. – informou ao primo, enquanto observava o salão.