Por Trás dos Olhos Azuis

Prólogo - Memórias

Ás vezes ele se perguntava quando tudo havia começado. Não podia afirmar com certeza, mas talvez fosse o dia do ataque no hospital. Ou então, as brigas com seu irmão. Ou ainda, algo que nem ele poderia identificar no tempo.

Mas ele não se importava com uma ocasião específica. Só sabia que naquela época, algo havia mudado.

E isso tudo, havia o levado até aquela cela suja e malcuidada, em algum canto escuro e escondido de alguma mansão de algum comensal da morte.

Se alguém pudesse ler esses pensamentos, acharia que ele era um auror capturado, ou um integrante do alto escalão do ministério, ou qualquer outra coisa, menos o que ele era, um comensal da morte desertor.

Por trás dos olhos azuis, meio vagos e perdidos naquele instante, outrora estivera o medo, sim, por que ele tivera medo na primeira vez que estivera entre os seguidores do lorde, e mais ainda, quando foi feito um deles.

E depois do medo, houvera a paixão. Sim, a flamejante chama de paixão ardendo através das íris azuladas. Ela despertara tudo aquilo nele, de modo envolvente e contagiante.

E veio a fase da confusão, onde qualquer emoção que aqueles orbes escondessem, se misturava a outras tantas que dominavam a mente de seu portador.

E quando a confusão passou, veio a coragem. Pra mudar, pra fazer a diferença. E ele fez uma escolha, uma única escolha que mudaria tudo. Que o conduziria até lá. Onde a morte o esperava, inexoravelmente.

Eram tantas lembranças, mas mesmo assim, todo o seu viver parecia tão efêmero.

A infância de riqueza e futilidade, onde tudo que queria tinha. O jeito esnobe e arrogante que adquirira durante aqueles anos. Se lhe fosse perguntado, ele diria que a sua personalidade havia sido moldada desde o berço.

Toda a ostentação a que havia sido acostumado, roupas caras e bem feitas, festas enormes e bem servidas em comida, pessoas o bajulando. Ele crescera no meio das mais puras famílias bruxas, onde lhe foram ensinados os valores sobre pureza de sangue, onde comentavam sobre alguém que limparia o mundo da escória. E como toda criança, fascinada pelo poder e pela riqueza, ele havia se tornado vazio.

E então viera a adolescência, ele foi para Hogwarts, onde tudo o que aprendera quando criança, foi posto em prática na casa a que pertenceu, a Sonserina.

Lá, ostentação era algo natural, sede de poder era comum a todos e riqueza era tão simples como as folhas que voavam com o vento.

E vieram as amizades, claro. Rosier, Nott, McNair, e claro, Malfoy. Essa última, conquistada com ajuda da prima Narcisa.

Havia as primas, claro. Que ele nunca esquecia. Tanta beleza, tanta maldade. Cada uma a seu estilo, Narcisa, loira, clara, fria, venenosa. A maldade pura, contida nas fofoquinhas e comentários maldosos.

E Bellatrix, negra como a escuridão, misteriosa como uma noite escura de breu. Impertinente, calculista, arrasadora. Não se podia negar, que a cada uma lhe cabia a maldade que combinasse a sua beleza.

Tinha Andrômeda também. Mas ela nunca fora muito importante pra ele, era mais velha e não era uma sonserina, tinha sido uma lufa-lufa, uma vergonha para a família. Mas ele havia superado isso, por que ele era o que o irmão não tinha sido. Ele era a honra do sangue dos Black.

Sim, por que o irmão, ah, o irmão. Ele podia ser bonito, podia ser o que todas as garotas queriam, mas ele era um mero grifinório, e para os Black, isso era pior que ser da Lufa-Lufa.

Ao menos, aos olhos dos pais, ele fora melhor que Sirius. Mas nesses últimos momentos em que recordava sua vida, ele via que tudo havia sido uma mera ilusão.

Ele havia se iludido nas teias do poder, achando que teria tudo, e descobriu que tudo, não era nada. E que nada, era pouco mais que alguma coisa.

Descobriu isso tarde demais, porém, e não teve tempo de consertar sua vida. Ele tentou, claro. Deixou pistas para que alguém um dia conseguisse acabar o que ele começará. E deixou suas memórias, sim, deixou-as, escondidas num velho baú no Largo Grimmauld, número 12. Talvez, algum dia, elas fossem achadas. Ele gostaria de deixar mais pistas, mas ele temia que o conteúdo daquilo caísse em mãos erradas.

E já havia feito tanto, era hora de deixar alguém carregar o fardo. Sangue jovem, sim, sangue jovem.

E na gaveta de suas mágoas, havia mais uma. Uma em várias. Ela, Íris, seu amor, sua paixão. A mulher que deixaria sozinha na vida. Mas ele não podia fazer nada por ela, nada mais. E ela havia feito tanto por ele, mas as coisas eram assim. O que não fosse pago de dívidas nessa vida, iria ser pago em outra. E ele devia muito a Íris.

Também devia a família dos que matara, e não foram poucos.

A morte, do mesmo modo que havia matado, ele morreria. Todo aquele lugar cheirava a morte, e no fim, ele não conseguia pensar em coisa melhor pra lhe acontecer.

Gostaria apenas de ter terminado tudo, de ter acabado com aquilo, mas como ele já havia pensado antes. Aquilo era coisa pra outro. Não estava escrito no seu destino.

Seu destino acabaria logo. Ali, naquele canto escuro, tão logo decidissem como iam acabar com sua vida.

E claro, havia ele. Tão efêmera quanto fora sua existência, tão apagada como seria sua morte. E no fim, ele morreria nas sombras, como havia vivido nelas.

E talvez aquilo fosse pouco pra tudo que

E mesmo que fosse impossível acreditar, ele morreria em paz. Por que ela estava salva e outros tantos seriam salvos, tão logo seus diários fossem achados.

Muitas vezes ele se perguntara por que escrevia diários, já que lhe parecia algo tão afeminado, mas ele gostava de colocar tudo o que não conseguia falar em textos.

E no fim virara apenas palavras e ele viraria pó. E ele seria esquecido, até que descobrissem a verdade, se um dia ela fosse descoberta.

Mas já não importava, ele nunca fora um homem de grandes expectativas.

Ele era apenas Régulus Black, comensal da morte, desertor, apenas mais um entre tantos outros.


N/A: Bom, mais um pequeno surto, meio planejado, mas que só foi pra fora ontem. Deu pra perceber que essa fic vai ser centrada em Régulus, por que eu estava com vontade de variar um pouco o núcleo de personagens.

Eu não posso garantir um tempo fixo pra atualizar, mas vou tentar que seja o mais rápido possível. E por favor, COMENTEM!