N/A: Um presente de Páscoa aos shippers R/H! Essa fic ficou em segundo lugar no I Challenge Páscoa do fórum Grimmauld Place. Os itens obrigatórios na fic são: Ovo de chocolate, Cavalos, Vassoura, Bóia, Cenoura, Em Hogwarts. E os bônus eram: Beijo, Festa, Acampamento. Todos estão na fics, e achá-los ao longo da história pode ser mais uma diversão para os leitores! hehe ;) A fic foi dividida em duas partes por conveniência, mas é praticamente uma oneshot.

Feliz Páscoa para todos!


Três lados

Parte 1

Cada um terá razões ou arpões

Dediquei-me às suas contradições, fissões, confusões

Meu desejo, seu bom senso, raivosos feito cães

E a manhã nos proverá outros pães.

Aquele era a última idéia que Ron faria de um bom programa para as férias de Páscoa. Se espremer no meio de dezenas de bruxos em uma loja abafada, para gastar dinheiro com os outros era simplesmente a última coisa que ele gostaria de estar fazendo em seu tempo livre.

- Ei, tem gente aqui!

Mas o grande bruxo mal-humorado não parecia demonstrar o menor interesse pela presença de Ron - ou pelas leis da física -, e se enfiou largamente pelo espaço disputado que o ruivo havia acabado de conseguir na fila. Empurrado pelas vestes negras, Ron foi displicentemente jogado para fora do bolo de pessoas apertadas que tentavam - com todas as suas forças - garantir os últimos exemplares dos ovos de Páscoa da Dedosdemel.

- Idiota! - Ron parou à margem da multidão de bruxos que se amontoava em frente ao balcão, este já mostrando vários espaços vazios onde enormes e apetitosos ovos de chocolate há poucos minutos estavam expostos. Conseguiu, com um certo alívio, respirar pela primeira vez no que pareceram horas, mas soltou um gemido de desânimo ao ver o tamanho da fila que teria que enfrentar de novo. O homem carrancudo das vestes negras já havia sumido em meio à multidão, e qualquer possibilidade de ir atrás dele logo se mostrou impossível - jamais passaria pelos bruxos ansiosos que disputavam um lugar.

Tomara que seja pisoteado, pensou com raiva, escolhendo ignorar por um segundo que o tamanho do homem tornava improvável tal imagem - a não ser que Hagrid e seu 'pequeno' irmão Grawp resolvessem se abastecer de chocolate.

- Ora, o que temos aqui?

- Eu chamaria de traição gravíssima e imperdoável.

- Eu chamaria de enorme burrice.

Ron rolou os olhos antes de virar-se para a porta da loja. Na calçada, carregados de duas caixas de papelão e com expressões teatrais de decepção e surpresa, estavam Fred e George Weasley.

- Não encham o saco. – ele murmurou com impaciência.

- Oh! Eu estou simplesmente chocado com a falta de consideração do nosso próprio irmão. - Fred fechou os olhos com drama.

- Irmão? Eu não vejo nenhum irmão aqui, só um grifinório mirrado querendo apanhar. - George largou a caixa que carregava na calçada e ergueu as mãos em posição de luta. Sua expressão era tão convincente que alguns bruxos se apressavam ao passar ao seu lado.

Ron bufou sem paciência, e sentiu suas orelhas queimarem de raiva quando ouviu a voz da vendedora anunciando que os ovos tinham acabado. Sua exclamação nervosa foi abafada pelas inúmeras outras vozes decepcionadas que começavam lentamente a fazer seu caminho até a saída da Dedosdemel.

- Viram o que vocês fizeram? Onde eu vou arranjar ovos de Páscoa agora? - ele caminhou irritado até os irmãos, que o miraram com um sorriso maroto. George recolheu sua caixa de papelão e os três saíram pelas ruas movimentadas de Hogsmeade.

- Felizmente, nós estamos te aceitando de volta como irmão. - disse Fred ao seu lado.

- Até porque, convenhamos, você não consegue fazer nada sozinho. - completou George num tom reprovador. Ron tentou protestar mas foi interrompido pelo outro irmão.

- Se você tivesse o mínimo de experiência de vida, não teria vindo comprar seus ovos na véspera da Páscoa.

- Mas você só tem o que, quinze anos? Nós deixamos passar.

- Dezessete. - Ron falou entre dentes.

- Como eu dizia, um bebê. Agora, se você não tivesse ignorado por completo o conselho da nossa querida mãe, você poderia ter simplesmente ido direto até a nossa loja, e comprado sem problemas os ovos de chocolate mais gostosos da Grã-bretanha.

Ron suspirou, irritado. Era justamente por causa de sua querida mãe que estava nessa situação. Algumas semanas atrás ele recebera uma coruja explicando porque nem ele nem Harry poderiam voltar para casa nas férias de Páscoa. Mesmo sem Dumbledore, Hogwarts ainda era um dos lugares mais seguros do mundo mágico, e os membros da Ordem estavam simplesmente muito ocupados para ter mais esse tipo de preocupação.

Nenhum problema até aí – este começou quando ela disse também não estar com tempo para preparar os ovos de chocolate como normalmente fazia, e como ela gostaria que essa Páscoa fosse alegre, como os tempos atuais precisavam de mais comemorações, como Harry merecia atenção e como ela mandaria dinheiro para Ron comprar ovos de Páscoa de presente para os amigos e irmãos.

Tudo culpa de Você-maldito-sabe-quem. Não fosse a droga da guerra ela não teria utilizado tão bem de seus poderes chantagistas naturais de mãe, e Ron não estaria no sábado anterior à Páscoa, com o bolso cheio de galeões e nenhum lugar para comprar os malditos ovos.

Molly Weasley até sugerira que Ron fosse até a Weasley's Wizard Wheezes de Hogsmeade – alguns meses antes os gêmeos haviam comprado a Zonko's -, mas ele tinha boas razões para não tê-lo feito.

- Eu não confio em vocês. – ele explicou, sem embaraço.

- Melhor começar a confiar, irmãozinho. A loja mais próxima daqui com chocolate a venda fica em Londres. – disse George.

- E você não vai querer decepcionar nossa mãe, não é? – Fred completou, forçando uma expressão séria – Nós não deixaremos!

- Além do mais, você não vai achar ovos de Páscoa assim em nenhum outro lugar do mundo!

Eles chegaram à loja, e logo se tornou claro a Ron porque ele não considerara comprar os ovos ali anteriormente. Os letreiros luminosos piscavam em várias cores o nome Weasley's Wizard Wheezes, e vários outros cartazes anunciavam promoções e mais novos lançamentos. Aparelhos estranhos soltavam fumaça, bonecos de animais mágicos corriam e voavam pela loja, poções coloridas borbulhavam ameaçadoramente. Ron podia jurar que havia visto fogo saindo de algum canto do prédio.

Você simplesmente haveria de ser maluco para comer qualquer coisa que saísse dali.

Ainda assim, havia uma fila considerável em frente ao balcão oposto às prateleiras repletas de ovos de Páscoa coloridos, sob o grande cartaz "Ovos de Páscoa Weasley, muito mais que chocolate!". A fila aumentava a cada minuto, com pessoas que vinham da Dedosdemel, e a quantidade de ovos expostos diminuía rapidamente.

- Ok – Ron demandou quando os três entraram na loja - o que é que eles fazem?

- Salvam a sua pele. – Fred respondeu, entregando a caixa que carregava para o bruxo loiro que trabalhava atrás do balcão dos ovos. – E vêm com lembranças dentro.

- Esse deveria ter sido nosso slogan, Fred! – disse George, entregando sua caixa ao mesmo bruxo.

- Que tipo de lembranças? – havia uma nota de medo sincero na voz de Ron.

- Venha até aqui, Roniquinho. – George o guiou até uma prateleira, a qual esvaziava rapidamente. Ele apontou para alguns grandes e bonitos ovos, embrulhados em papéis de três cores. – Está vendo os azuis?

Ron aquiesceu. Uma fila longa de ovos azul-anil idênticos ocupava quase toda a prateleira.

- São para meninos. Você sabe, dentro tem brinquedos para garotos.

- Mas que tipo de-

- Chegaremos nisso depois. - Fred o interrompeu – Esses com o papel rosa, são para meninas.

Havia cada vez menos ovos de cor rosa nas estantes, e na que Ron olhava sobravam apenas três.

- E os vermelhos? – Ron perguntou. As caixas que Fred e George haviam trazido se revelaram cheias de ovos embrulhados num bonito e brilhante papel escarlate, amarrados por uma grossa fita repleta de corações.

- Ah, acabamos de receber. Infelizmente a encomenda atrasou no caminho, mas acho que ainda conseguiremos vender bastante. – disse George – São para todos os casais de pombinhos apaixonados cujo efeito da flecha do cupido ainda persiste.

Ron encarou os irmãos incrédulo. Atrás de si a fila se mostrava cada vez mais violenta.

- São presentes para namorados, Ron. – suspirou Fred. E adicionou com um ar de propaganda – E são unissex!

- Isso quer dizer que você pode dar tanto para homens ou mulh-

- Eu sei o que é! – interrompeu Ron sem paciência. Aquele dia estava se tornando muito mais longo do que o esperado. Lá fora a noite já começava a dominar, e os clientes na fila se mostravam cada vez mais determinados a conseguir os ovos. – E tá legal, eu vou comprar seus ovos. Não é como se eu tivesse muita escolha...

- Exatamente o que gostamos de ouvir de nossos clientes!

- Quantos vão ser? – Fred se adiantou até as prateleiras. Algum bruxo na fila gritou algo em protesto, mas a confusão era muita para notarem qualquer coisa.

- Não esperem que eu compre para vocês – disse Ron – Um para Harry, um para Ginny, um para Hermione.

- Nenhum para o Roniquinho? – George adicionou, tomando notas.

- Prefiro galeões a chocolate.

- Cadê seu espírito pascoal? – George exclamou, falsamente chocado – Ok, só porque você é nosso irmão, nós vamos lhe dar de brinde essa fantasia especial de coelho!

- Por que eu ia querer uma roupa de coelho? – Ron olhou incrédulo para o amontoado de pelugem branca que George lhe entregava. Era possível distinguir através da bola fofa uma cenoura laranja berrante e duas orelhas de um tom de rosa assustadoramente delicado.

- Porque esse ano você vai estar bancando o coelhinho, não é mesmo, Roniquinho? – George segurou a cenoura e ofereceu para o irmão fazendo sons que Ron conseguiu incrivelmente identificar como os de coelhos roendo.

- Eu já te digo o que fazer com essa cenoura – ele começou rispidamente, mas foi interrompido por Fred que chegava com um saco de papel pardo e uma expressão perto do terror.

- Incrível como o chocolate pode atiçar o ânimo dos clientes! Não queriam deixar que eu pegasse produtos de minha própria loja, acreditam? – Fred mirou a roupa nas mãos do gêmeo e sorriu – Ron vai se fantasiar?

- Não! – ele quase gritou – Pegou os ovos?

- Consegui alguns. – Fred abriu o saco e retirou um ovo azul – Para Harry, azul, eu imagino. Para Ginny, rosa, ou acho que mamãe nunca se recuperaria.

- Nem eu. – disse George com uma expressão de nojo. – Tem certeza de que não quer a fantasia?

- Absoluta. – Ron segurou os dois ovos e esticou a mão para Fred, mas este franziu a sobrancelha e se dirigiu ao irmão mais novo com o rosto curioso.

- Para Hermione, certo? – ele disse, e Ron aquiesceu – Que cor seria?

Ron piscou.

- Como assim? Ela é uma menina!

- Ah, sim! – Fred deu uma piscadela – Que bom que você já reparou isso. O que me leva a outra pergunta...

- Só me dê um rosa. – Ron sentiu suas orelhas corarem e não pôde desejar mais que não estivesse ali.

- Bem, esse é o problema. – Fred puxou de dentro do saco um grande e reluzente ovo escarlate – Eles acabaram.

- Como assim?

- Não tem mais nenhum ovo cor de rosa. – Fred repetiu, e puxou mais um ovo azul do saco. – Você pode dar esse, mas conhecendo a Hermione, eu não acho que seria a melhor idéia.

Ron passou as mãos pelo rosto. Uma voz feminina ecoou em sua cabeça.

"Só porque você demorou três anos para reparar, não significa que ninguém mais tenha reparado que eu sou uma garota!"

E a dor aguda de ter uma dúzia de canários voando na sua direção, com a intenção única e exclusiva de atacá-lo, voltou a sua mente com uma nitidez notável.

- Vou levar o vermelho. – ele disse rapidamente.

- Ótima escolha, maninho. – Fred colocou todos os quatro ovos de volta no saco – E mais um ovo para você, já que você não quis aceitar nosso lindo presente.

- É só passar no caixa. – George exclamou, com a voz estranhamente profissional. - Agradecemos a preferência!

Ron encarou os irmãos sorridentes com os olhos semicerrados. Estavam sorridentes demais.

- Como são as lembranças que vêm aqui dentro? – ele não escondeu a desconfiança em sua vez.

- Ora, Ron, tenha certeza que não há com o que se preocupar! – Fred disse, ainda no mesmo tom sério e profissional.

- Digamos que serão as lembranças certas. – George completou, sem esconder o orgulho.

- E o vermelho? – um frio incômodo se instalou em sua barriga.

- Também, a lembrança certa. – Fred piscou – Com sentimento.

Ron ainda mirava os irmãos com desconfiança quando deixou a loja, seguindo o caminho conhecido em direção à escola. Mas logo deu as costas para os dois e apressou o passo, a sacola marrom segura em suas mãos. Eles estavam prestes a anunciar que os ovos tinham acabado e havia uma multidão inquieta cercando da porta.

xxx

Talvez fosse o cansaço da pequena aventura na busca por ovos de Páscoa, mas no dia seguinte Ron acordou perto do horário do almoço. Levantou da cama num salto, e logo viu que o dormitório já estava vazio – nem Neville roncava preguiçosamente, como era de costume.

O ruivo se vestiu com rapidez e carregou a sacola com os ovos de chocolate até a Sala Comunal. A última coisa que ele queria era que Harry ou Hermione recebessem uma coruja de Molly Weasley, perguntando o que haviam achado dos presentes. Ron tinha a forte impressão de que algo assim pudesse acontecer – ou então estava apenas mais sonolento do que o normal.

Poucas pessoas estavam na Sala. Várias haviam voltado para casa, e uma olhada pela janela mostrou que muitos alunos haviam resolvido aproveitar o belo dia ensolarado nos jardins da escola.

- Ah, Ron, até que enfim! – Ginny exclamou, ao ver o irmão descendo as escadas. Ela se sentava numa das confortáveis poltronas junto à lareira, acompanhada de Harry e Hermione, que dividiam um sofá oposto e sorriram à chegada do amigo.

- Bom dia para você também, maninha! – ele cumprimentou, acomodando-se no sofá vermelho ao lado de Hermione.

- Estava só te esperando para entregar esses – a ruiva puxou uma sacola da Dedosdemel, e de lá tirou três ovos caprichosamente embalados em papéis decorados com coelhos coloridos – Feliz Páscoa!

Ron suspirou. Sua mãe provavelmente encobrira Ginny com a mesma função, mas a garota provavelmente não deixara tudo para última hora como o ruivo. Ele se irritou um pouco por não ter recebido nem um convite dela para comprar ovos em Hogsmeade na semana anterior.

- Ah, Ginny, você não precisava! – Hermione exclamou, pegando o seu e admirando os desenhos do papel.

- É, Ginny. – Ron alcançou o ovo. Reparou que era um pouco menor do que os seus, e não reprimiu um sorriso interior.

- Ah… Obrigada.

Harry recebeu o presente um pouco desconcertado – ou, como Ron costumava chamar – com sua expressão "Ginnyiesca." O garoto nunca mais se mostrara completamente à vontade perto da ex-namorada. Ron não culpava-o exatamente, mas às vezes isso se tornava ligeiramente constrangedor, já que Ginny exibia uma confiança admirável.

- Eu também tenho algo – Hermione se adiantou, abrindo sua mochila e retirando grandes barras de chocolate embrulhadas em papel branco – Pedi para meus pais enviarem doces. Eu tentei impedir, mas eles mandaram chocolate sem açúcar. – ela falou quase que se desculpando.

- Sem problemas, Hermione. – Ron já havia se acostumado com os presentes anti-cáries do casal de dentistas pais da amiga, e na verdade achava os doces bastante gostosos. Ou talvez tivesse algo a ver com o sorriso satisfeito que Hermione estampou quando Ron apanhou sua barra.

- Eu não sabia que nós íamos começar a trocar presentes na Páscoa também. – Harry disse, a expressão um pouco constrangida. Ron foi ao socorro do amigo.

- Não se preocupe, cara. Foque suas energias naquela história de salvar o mundo mágico. – ele piscou para o amigo, e puxou o saco de papel que trouxera – Eu mesmo só comprei ovos para vocês porque mamãe me obrigou.

- Ron! – Ginny exclamou, um quê de indignação em sua voz. Hermione soltou uma risada curta.

- Que foi? É verdade. – ele apanhou o ovo cor de rosa e o entregou a Ginny.

- Eles não são da Dedosdemel, são? – a ruiva disse, curiosa, analisando o presente. Ron atirou o ovo azul para Harry.

- Ah… não. – Ron murmurou. Não havia razão para mentir – ou ele pelo menos esperou que não houvesse. Puxou o ovo vermelho e entregou para Hermione com uma ligeira hesitação – São da loja de Fred e George.

- Ah, é mesmo. – Harry puxou uma pequena etiqueta em seu ovo que Ron não havia reparado anteriormente – Tá dizendo aqui: "A Páscoa é um período para renovações! E a Weasley's Wizard Wheezes te ajuda a saber exatamente o que seu coração mais quer para esse recomeço, em modelo compacto. E mais: Uma surpresa exclusiva e irrecusável."

O queixo de Ron caiu e ele se arrependeu profundamente do dia anterior.

- O meu não diz isso. – Hermione exclamou, e Ron respirou aliviado. Ela retirou a fita repleta de corações e desembrulhou o ovo, deixando a mostra somente o apetitoso chocolate. Ela hesitou.

- Bem, eu não acho que Fred e George fariam algo perigoso... – Ginny disse à amiga, incerta – quero dizer, eles tem fregueses para satisfazer.

- Verdade. – Hermione separou as duas metades do ovo, e um barulho como de uma pequena explosão invadiu a sala, junto com uma forte fumaça púrpura.

Os quatro tossiram, e somente quando a fumaça se dissipou que conseguiram distinguir um enorme arranjo de flores brancas seguro nas mãos de Hermione.

- Ah, lírios! São meus preferidos. – ela disse, virando-se para Ron num sorriso. Ele lutou com todas as suas forças para que suas bochechas não corassem, mas o calor em sua face mostrava ser uma batalha perdida – Obrigada, Ron!

- De nada. – ele gaguejou, e desviou rapidamente o olhar para Ginny e Harry – Viram? Nada de perigoso!

Ginny encarou o irmão e riu, como se sua própria face demonstrasse o contrário. Harry pôs-se a desfazer o laço azul e abrir o ovo.

Não houve explosões, e ele retirou timidamente uma miniatura perfeita da sua Firebolt.

- Isso não é tão ruim... – ele disse, apesar de não esconder a hesitação.

Ron lembrou-se do que a etiqueta dizia, e a voz de Harry voltou a sua mente, numa conversa que eles haviam tido semanas atrás e onde o moreno havia confidenciado que sentia uma enorme falta de jogar Quadribol – o esporte havia sido proibido no início do ano letivo, por questões de segurança.

- Ei, tem outra coisa. – Harry puxou um pequeno pedaço de pergaminho com um texto imprimido em caprichosas letras vermelhas – "Você está convidado para a Primeira Festa Pascoal da Weasley's Wizard Wheezes! Compareça e confira o desconto especial nos produtos para os Dia das Mães. 13 horas, sede de Hogsmeade."

Antes que Ron pudesse imaginar quais produtos os irmãos seriam capazes de produzir para mães – e até ponderar enviar algum para sua própria -, Hermione se adiantou.

- O meu também tem um desse. – Hermione puxou um papel de dentro das cascas abertas do chocolate. – Mas é com acompanhante.

Ginny havia aberto seu ovo, e segurava uma miniatura de algo que Ron não conseguiu identificar. Ela puxou um convite e mostrou aos outros com impaciência. Seu olhar logo se virou para Harry, e sua expressão demonstrava uma irritação que Ron já conhecia – e temia.

- Então, você recebeu uma vassoura? – ela disse, encarando o moreno.

- Ahn? – ele balbuciou algo, e seus olhos verdes foram tomado pelo nervosismo.

- Sério, Harry? Uma vassoura? – ela continuou, a voz agora demonstrando raiva em cada sílaba que dizia. Hermione virou-se rapidamente para Ron, olhando-o significativamente. – É isso que você mais quer na vida?

- Do que você está falando? – Harry conseguiu demandar, mas ainda havia um toque visível de hesitação em sua voz – O que você ganhou?

Ele se adiantou e retirou das mãos da menina uma pequena e exata réplica da taça do torneio de Quadribol que estava à mostra no alto da lareira da Sala Comunal.

- Viu, você também está pensando em quadribol! – Harry falou, voltando a sentar-se no sofá. Ginny bufou de raiva e Hermione se levantou num salto.

- Eu acho que vou… sentar mais para lá. – ela olhou fixamente para Ron, que entendeu rapidamente o recado.

- É, eu também! – os dois se dirigiram até o outro lado da sala, mas Ginny mal pareceu perceber, e quando falou novamente, se tornou óbvio que ela não se importava que o resto da casa a ouvisse.

- Quadribol? Você por acaso já esqueceu o que mais aconteceu no dia que a gente ganhou essa maldita taça?

Harry encarou a ruiva com a boca semiaberta e os olhos verdes repletos do que Ron reconheceu como algo muito próximo do terror.

- Eu… não…

- Eu não agüento mais esse seu jeito passivo-agressivo, Harry! – Ginny continuou, ignorando o resto dos grifinórios que ouviam tudo com desconcerto – Fugindo de mim, sem falar nada sobre o que aconteceu…

Foi a vez de Ron se levantar, temendo por sua sanidade. A última coisa que precisava no momento era ouvir sua irmã caçula discutir a relação com seu melhor amigo.

- Vamos sair daqui?

Hemione não hesitou, e o seguiu o mais depressa que pôde até o buraco da Mulher Gorda, o ovo agora deformado mas embrulhado no mesmo papel vermelho em suas mãos.

Os deuses vendem quando dão

Melhor saber

Seus olhos de verão

Que não vão nem lembrar.