Prólogo

O quarto estava escuro. Cortinas negras cobriam as janelas, impedindo a luz solar adentrar. Apenas poucos abajures exalavam uma luz tênue, tentando em vão acrescentar um pouco de vida naquele frio e escuro quarto.

Ela tentou cobrir-se com o seu fino cobertor mais desistiu. Seu corpo pequeno tremia tão frágil, tão doente. Ela tossiu e tentou se levantar, tentando sair da cama a qual tanto odiava... sair deste quarto, escapar dessa vida que ela não queria mais viver... Não depois de ver tal medo nos olhos daquela que era sua única amiga... ela não tinha mas amigos, havia espantado todos... Ela... A Bruxa.

O quarto estava silencioso, nada podia ser ouvido. Da janela podia-se ver o imenso jardim e a rua do outro lado da casa, nem mesmo os carros poderiam perturbar o seu sono. Um sono o qual ela não poderia dormir, por causa da dor que assolava seu corpo, a dor que ficava pior a cada dia, os ataques ficaram mais e mais frequentes e nem mesmo os remédios que seu pai dera não faziam mais efeito. Mas essa dor não se comparava com a dor que ameaçava rasgar seu coração.

Ela queria chorar, não havia ninguém por perto mesmo, ela sabia que seu pai estava no trabalho e aquela mulher maldita... ela não se importava. Ela não era sua filha, nem mesmo um parente, ela não era nada. Ninguém iria perceber quando ela morrer-se, ninguém iria chorar... ninguém se lembraria...

Ela se sentia como se já estive-se morta, como se ela fora enterrada nessa casa. Seu fraco coração finalmente iria desistir, finalmente... depois de tanto sofrer... um sofrimento sem sentido...

Usou todas as suas forças para virar a cabeça e olhar a foto que jazia no criado-mudo ao lado de sua cama. A sua foto, com ela... sua melhor amiga... sua única amiga. A qual perdera também, por causa do seu corpo, por causa da sua maldita doença, de sua alma amaldiçoada.

Nessa foto ela sorria, foi o único momento que ela se lembrara de ter sido feliz. Naqueles braços carinhosos, mas ao mesmo tempo tão fortes. Durante horas ela poderia ficar escutando aquela voz, sempre irradiando alegria. Por dias, ela poderia ficar olhando naqueles olhos castanhos, tão calorosos, tão profundos, tão brilhantes. Pela eternidade, ela poderia ter ficado assim, em seus braços. E por uma vez na vida se sentir amada.

Ela ouviu quando a campainha tocou então a porta se abriu e duas vozes discutindo entre si foram ouvidas. Eles brigavam e seus olhos acinzentados se arregalaram quando ela reconheceu a voz mais alta... aquela voz...

- Não pode ser... devo esta alucinando – Ela queria balançar a cabeça, para clarear a sua mente, mas ate o esse simples movimento causava uma dor imensa, o movimento doera mais do que imaginara. Seu pai já lhe dera alguns analgésicos, mas eles não surtiam mais efeito, eles não podiam mantê-la viva por mais tempo. Tudo o que eles poderiam oferecê-la era uma morte silenciosa... e esperava que em breve.

- Hotaru? – A porta foi aberta e uma menina adentrou o quarto escuro. Ela sorriu surpreendida. Não era só uma menina, era a sua menina... Seus olhos brilhavam e ela se sentia feliz, enquanto a jovem se ajoelhava ao seu lado sobre o colchão duro de sua cama estreita e pegava a sua mão gelada.

Sua mão era tão macia, tão quente, tão viva...

- Você esta bem? Hotaru! – Havia lagrimas naqueles olhos que tanto amava... lágrimas que ela queria remover, mas ela nem sequer tinha forças para levantar a mão e acariciar aquelas bochechas vermelhas.

Anjinha...

Ela não encontra mais forças para falar...

Eu te amo...

- Hotaru! Diga alguma coisa... – As lagrimas molhavam o belo rosto, a menina começou a chorar copiosamente e Hotaru se perguntou por que ela chorava também. Ela estava morrendo, ela sabia que estava, e isso era uma coisa boa ela pensava finalmente tudo estaria terminado... finalmente ela estaria em paz... estaria livre... longe do corpo fraco o corpo o qual sua alma era prisioneira. Mas ela sabia que nunca iria deixar o lado dessa linda menina, não enquanto ela pode-se ser o seu anjo da guarda.

- Taru... – Naquele momento a vagabunda de cabelos vermelhos, entrou no quarto. Hotaru queria gritar, que ela não tinha o direito de expulsar a menina do quarto, que sua amiga devia ficar do seu lado, que ela não queria morrer só, que ela queria morrer naqueles braços amorosos, mas ela não tinha forças. Tudo o que ela podia fazer era olhar, impotente, como a assistente do seu pai puxava de forma brusca a menina gritando, para fora do quarto.

- TARU! – O grito estava cheio de tristeza e desespero. Doeu mais do que qualquer mais do que qualquer ataque que sofrera, mais do que quando todos os ossos do seu corpo se quebraram quando era apenas uma criança, mais do que quando sua mãe morrera no mesmo incidente, ou quando seu pai decidiu deixá-la viver... embora ela já estivesse morta...

Por favor...

Ela sentiu as lagrimas rolarem do seus olhos também, sentiu que ficava cada vez mais difícil respirar, como todo o seu corpo se recusou a mover-se, como o seu coração parara de bater...

Por favor, não me deixe sozinha, anjinha...

Ela ainda escutava os gritos da outra menina, ate que silenciou-se.

Por favor, não me abandone

A ultima coisa que ouviu foi o bater da porta sendo fechada, então ela desistiu e se satisfez com a escuridão a qual a cercava.