Um homem ainda sentia os espasmos do orgasmo tido com a mulher deitada ao seu lado. Ambos estavam nus e ofegando por ar, mas nenhum deles parecia cansado, somente satisfeito com o prazer que consumara poucos segundos atrás. O cheiro do suor ainda se fazia presente entre aquelas quatro paredes. Ninguém descobriria eles ali, ninguém estragaria aquela noite perfeita, se bem que se caso um imbecil atrapalhasse aquele momento tão único, o infeliz certamente seria assassinado.
As cores daquele quarto simples eram intensas assim como o ato praticado pelos amantes ferozes e insaciáveis. As respirações entrecortadas eram os únicos diálogos entre eles durante alguns minutos. Finalmente a mulher inverteu as posições, subindo em cima do corpo talhado por treinos pesados do seu amante.
- Você não sente falta das suas lembranças? – a mulher indagou, passeando seus dedos nas linhas perfeitas do peitoral másculo.
- Não – ele respondeu, fechando a mão delicada e serpenteante nos seus dedos – a única coisa que me importa agora é ficar aqui olhando você adormecer nos meus braços como um anjo...
Duas batidas interromperam o clima gostoso entre o casal. O jovem suspirou e rapidamente vestiu a calça, indo para abrir a porta com a intenção de espancar os imbecis que estavam importunando seu descanso. Havia conquistado respeito dos soldados e eles sabiam muito bem que aquele dia era sua folga autorizada pelo imperador daquele palácio.
- Olha precisa ser um motivo muito... – o jovem não conseguiu terminar a fala ao ver o estado deplorável dos soldados e indagou – o que aconteceu?
- Nós recebemos um aviso de que a Cidade foi invadida por estrangeiros e... – o soldado respondeu, com sofreguidão – logo esse grupo estará invadindo este palácio...
- E cadê os outros? – o jovem bufou, indignado – A Cidade Proibida que eu saiba está protegido por milhares de soldados...
- Foram todos derrotados... – um deles respondeu, apoiando-se na parede do corredor, tamanha era a dor que sentia no corpo.
- Mas a troco de que? – indagou, preocupado – Dinheiro?
- Eles estão atrás do senhor... – afirmou o homem ferido.
- Então eu mesmo irei recepcioná-los – o jovem retornou apressadamente para o quarto e vestiu a indumentária chinesa azul, amarrando seus cabelos soltos.
- Aconteceu alguma coisa? – a mulher indagou, vestindo-se também.
- Yu, eu quero que cuide dos soldados – o jovem disse, amarrando uma faixa amarela na sua cabeça – eles estão gravemente feridos e precisam de curativos o mais rápido possível.
Yu. Um nome chinês que significava "pedra preciosa". Havia conhecido o seu atual amante num bar em Pequim. Naquela época, ele tinha acabado de perder a memória e estava completamente desorientado sem saber onde buscar ajuda para recuperar as lembranças perdidas. Conforme convivia com o misterioso, sua admiração por ele somente havia crescido e transformado num outro sentimento chamado paixão.
A bela jovem tinha olhos negros e enigmáticos assim como seus cabelos bem cuidados e alisados num longo rabo de cavalo. Suas vestimentas eram completamente fora dos padrões das outras mulheres mais recatadas. Usava vestes curtos e provocantes de cores intensas para facilitar nos combates contra os homens. Havia se tornado a concubina favorita do imperador pelo fato dela ser uma das poucas mulheres que possuíam uma inteligência fora do comum e sabiam lutar.
As regras ali eram claras. As amantes do imperador jamais podiam ter relacionamentos íntimos com empregados e soldados. Sabiam que acaso descobrissem a relação entre Yu e o braço direito do imperador, quem ele havia depositado uma enorme confiança, ambos seriam expulsos da Cidade e na pior das hipóteses, sem vida.
Enquanto Yu preparava os curativos com ervas medicinais para os soldados, o jovem saiu apressado para fora do palácio.
Com um olhar indignado, passeou pelos arredores. O cenário era lamentável. A maioria dos soldados estavam feridos e alguns em estado grave, estirados no chão. Caminhou mais alguns passos e pôde ver nitidamente os rostos dos responsáveis. Haviam alguns homens, uma senhora e duas mulheres. Uma delas em especial chamou mais atenção: a jovem que tinha cabelos longos e roxos.
- Mousse... – ela chamou pelo seu nome, surpresa.
_ x_
"Anata no namae yondara soko de
Totsuzen me ga samesou
Konna ni umaku ikikkonai
Mata guuzen aeru nante"
"Se eu chamo seu nome, então,
Eu poderia acordar de repente.
Quando você estiver trabalhando fora
Podemos nos encontrar casualmente"
(Konna Yukari - Tokimeki no Doukasen)
