Capítulo 1

Esse era um daqueles dias em que tudo dá errado. O despertador não tocou, sua mãe tinha colocado a roupa que ele separara no dia anterior para lavar e o loiro pegou a primeira camisa que ele viu sem nem prestar atenção, o ônibus atrasou e ele não encontrou a secretária para pegar seus horários.

O pátio estava vazio afinal o primeiro sinal já tocara e todos deviam estar assistindo as aulas. Steve deixou-se deitar no banco de concreto, tentando se recuperar do tanto que correra em vão e fechou os olhos, a luz do sol incomodando-o. Era seu primeiro dia na S.H.I.E.L.D High School e ele ainda era bolsista. Deveria causar uma boa impressão se quisesse construir seu futuro ali e o que fizera? Chegara atrasado.

Abriu os olhos num susto ao ouvir gritos e levantou-se rapidamente para ver dois garotos sendo perseguidos por outros três.

- Por que o choque não deu certo? – Um dos garotos gritou para o outro, enquanto puxava-o pelo braço para se apressar. – Você não aumentou a frequência?

- Não, eu diminui. – O de óculos respondeu para ele, entre longas arfadas, já obviamente cansado de fugir. – Não queria matá-los.

- Bom, ótimo, agora eles vão matar a gente!

Steve não prestou muita atenção na conversa, estava observando os três rapazes que os perseguiam. Eles eram muito mais altos e mais musculosos e todos usavam jaquetas vermelhas, talvez do time de futebol. Valentões, o loiro reconheceria o tipo em qualquer lugar. Lembrou-se de como o time de lacrosse de sua antiga escola infernizara sua vida, pregando-lhe peças e chamando-o por apelidos ridículos, isso até Bucky intervir e se disponibilizar para ensiná-lo boxe. Steve aprendeu a se defender e a defender outros garotos que eram como ele e era isso que ele ia fazer agora. Ele odiava valentões, não importa de onde eles fossem.

- Parem! – Ele gritou, correndo para eles, mas ambos os alunos passaram direto como se ele não estivesse ali, só para se depararem-se com uma grande parede, encurralando-os.

- Droga. – Um deles reclamou e o outro assentiu com a cabeça de maneira exagerada. Eram ambos morenos, mas enquanto o cabelo de um era extremamente bagunçado e rebelde, o do outro fora repartido e penteado cuidadosamente para um lado.

- Parem! – Steve gritou novamente e dessa vez os três perseguidores pararam em frente a ele.

- Quem diabos é você? – Um dos valentões perguntou, dando um passo para frente na direção de Steve, quase dando um encontrão nele, já que o loiro se recusou a recuar.

- Vocês não vão bater neles. – Devido a proximidades, Steve conseguiu ler "SHS football team" em letras brancas sobre o emblema na jaqueta que o jogador usava.

- E quem vai impedir, você? – O aluno riu, fazendo seus outros companheiros se unirem a ele. – Tudo bem, assim é justo, três contra três. – Cerrou os punhos, mas Steve conseguiu se desviar do soco bem a tempo, e trocou de lugar com ele, pegando a tampa da lixeira a seu lado em um reflexo para se defender do segundo golpe. Não queria atacar.

O barulho da colisão com o metal foi abafado pelo grito de dor do jogador. E um silêncio terrível instalou-se no pátio como se todos estivessem tentando entender o que diabos tinha acabado de acontecer.

- Eu... Eu sinto muito. – Steve balbuciou, estendendo a mão para o jogador machucado, mas o cara se encolheu ao vê-lo se aproximar, querendo fugir do toque. Deixou a tampa cair no chão, num ato de boa fé. – Eu não quis...

- Cuidado! – O moreno de óculos o interrompeu, mas Steve não virou-se a tempo de desviar do ataque do outro valentão, que atirou-o ao chão com seu peso. – Solte-o! – O moreno ainda tentou ajudar, agarrando o jogador por trás, só que ambos acabaram caindo sobre o loiro, piorando-lhe ainda mais a situação.

- Chega! O que está acontecendo aqui? – Uma voz desconhecida se sobrepôs aos gritos e gemidos de dor e o peso sobre as costas de Steve desapareceu, permitindo que ele se levantasse para encontrar um homem vestido de terno preto se aproximando a passos largos e rápidos.

Os três jogadores fugiram, correndo na direção oposta e o homem pegou o celular e disse somente três palavras, três nomes. Quando alcançou os três que sobraram, largou o celular no bolso e com a outra mão retirou os óculos escuros. – Senhor Stark, por que não estou surpreso?

- Bom dia, professor Coulson. – Cumprimentou o moreno dos cabelos rebeldes e do sorriso debochado.

O professor olhou os três e suspirou fundo, antes d se dirigir ao loiro. – Você deve ser Steve Rogers, certo?

- Sim, sim, senhor. – Steve respondeu rapidamente, sentindo-se mal pelo olhar decepcionado que recebeu. – Eu não quis machucá-los, eu só...

- Stark, Banner, vocês conhecem o caminho. Senhor Rogers, favor me acompanhar. – Indicou o a entrada do colégio com a cabeça e começou a andar. Steve seguiu-o de pronto, o garoto Banner logo depois e por fim o Stark.

- Você está bem? – Banner perguntou baixinho, tocando-o de leve no ombro, ao ver Steve engolir em seco. – E, uh, o meu nome é Bruce.

- Steve. – Cumprimentou-o com um aceno de cabeça. – E eu só... Eu não acredito que eu vou conhecer a diretoria antes da secretaria ou das salas de aula, e no meu primeiro dia... – Steve respondeu, tendo que tossir de tão seca que sentia sua garganta e virou a cabeça na direção dos dois, recebendo um sorriso simpático de Banner e uma gargalhada de Stark. – Eu... Eu não vejo qual a graça nisso. Nós estamos indo para a diretoria. – O loiro franziu as sobrancelhas.

- Grande coisa. – O moreno deu de ombros. – Se eu ganhasse um dólar para cada vez que eu fosse na diretoria, meu pai podia se aposentar e nós ainda lucraríamos.

- Você é... Você é Tony Stark, das empresas Starks. – Steve finalmente se lembrou de onde ele conhecia esse nome, estava por toda a parte, em outdoors, comerciais de TV, nas manchetes dos jornais e no alto daquele prédio enorme e feio em Nova York.

- Demorou muito para você reconhecer. – Tony sorriu-lhe convencido. – O que você tem feito pelos últimos 40 anos? Dormiu ou algo?

- E o que aconteceria se você perdesse um dólar cada vez que fosse a diretoria? – Steve retrucou, encontrando uma enorme satisfação ao vê-lo abrir a boca só para fechá-la em seguida. – Vocês iriam a falência ou algo?

- Entrem. – Professor Coulson indicou-lhe a sala com uma das mãos e Tony entrou como um foguete. Banner seguiu-o e Steve conseguiu ver que ele ainda estava sorrindo. Suspirou fundo antes de entrar atrás deles.

O Diretor Fury estava sentado atrás de uma grande mesa de vidro, com vários papéis espalhados. Quando os viu entrar, ele pegou três e se levantou-se para recebê-los. Era um homem grande e sua aparência era tão séria e grave que chegava a ser assustadora. O tapa-olho que usava no olho esquerdo fornecia-lhe um tom ainda mais sinistro. – Detenção. Sábado. – Entregou-os e voltou a se sentar, ligando seu computador, como se eles não estivessem mais ali.

- Eu preciso de mais tempo... – Tony sussurrou para o outro moreno, começando a digitar numa velocidade absurdamente rápida em seu celular. Devia ser um celular, só que era maior e mais moderno do que qualquer coisa que Steve já tinha visto antes.

- Diretor... – O loiro balançou a cabeça e decidiu-se focar. – Eu acredito que devo uma explicação ao senhor. Eu sei que violência não é a resposta e eu não quis machucar os outros alunos, mas...

- Onde eles estão? – Fury o interrompeu, dirigindo-se a Coulson.

- Professora Hill os trará aqui em dez minutos, senhor.

- Senhor... – Steve forçou-se a continuar. – Eu não queria atacá-los, mas eu não podia deixá-los machucarem os dois.

- Senhor Stark. – Fury novamente o cortou. – Por que você não diz ao senhor Rogers por que vocês estavam sendo perseguidos?

Tony escondeu imediatamente o celular e pigarreou. – Hã... Só estávamos pregando uma peça neles, era só um choque, eu programei os celulares deles para... uh, era só uma brincadeira, era para ser engraçado.

- Então por que eu não estou rindo? – A voz de Fury não deixava espaço para contestações.

- Eu achei... – Steve começou, não acreditando no que acabara de ouvir. – Eu achei que estava protegendo vocês dos valentões, mas vocês... Vocês que eram os valentões.

- Ninguém pediu sua ajuda, Capitão América. - Tony revirou os olhos e Bruce fixou o olhar nos próprios sapatos.

- Por que capitão... – Steve não chegou a finalizar sua frase, finalmente prestando atenção na camisa que vestira com pressa sem nem perceber. A estampa era enorme e era a bandeira dos Estados Unidos. – Droga.

- Você tem um bom coração, senhor Rogers. É uma qualidade, embora muitos considerem um defeito e se aproveitem disso. Tome cuidado e bem-vindo a Shield High School. – Fury estendeu-lhe a mão e Steve aceitou-a de pronto.

- Obrigado, obrigado, senhor. E eu sinto muito, de verdade.

- Senhor Banner, eu vejo que você quis participar. – Ele virou a tela do computador mostrando a gravação da luta que ocorrera a pouco no pátio. – Já passou um ano sem nenhum incidente e acho que você não queira quebrar esse recorde.

- Oh, qual é, por que o garoto não pode liberar um pouco a raiva? – Tony os interrompeu, levantando as duas mãos, num gesto terrivelmente exagerado.

- Você sabe por quê. – Fury respondeu e virou-se para encará-lo. – Senhor Stark, eu estou confiscando seu celular, entregue-o para mim.

- O quê?

- Você já hackeou meu computador e mudou as notas de todos os alunos no semestre passado, não vai acontecer de novo.

Coulson tomou o celular da mão do moreno e entregou-o ao diretor, ignorando os xingamentos baixinho de Tony.

- Voltem para suas aulas agora. – Indicou a porta com a cabeça. – Não você, Rogers. – Fury esperou os dois saírem para acrescentar. – Romanoff, mostre a escola ao senhor Rogers e lhe entregue o horário.

- Sim, senhor. – Uma garota ruiva respondeu e Steve olhou na direção da voz, sem saber como ela entrara na sala sem fazer nenhum barulho ou se ela estava ali todo esse tempo. Tampouco sabia qual das duas opções seria menos medonha. – Por favor, siga-me.

E Steve obedeceu, seguindo-a pelo longo corredor principal.

- Natasha Romanoff, muito bom te conhecer, eu sou aluna-monitora da SHS. – Ela se apresentou assim que ele alcançou-a.

- Steve Rogers. – O loiro ficou incerto se estendia a mão ou se inclinava-se para beijar-lhe o rosto, acabou por não fazer nenhuma das duas coisas.

- Eu sei, eu li a sua ficha.

- Espera, eu tenho uma ficha?

- Uma muito chata, relaxe.- Ela riu da confusão que tomou-lhe as feições.

- Bem, agora eu tenho uma detenção. – Steve balançou a cabeça negativamente, suspirando fundo. Tudo acontecera rápido demais.

- Tenho certeza que você vai sobreviver. – Ela deu-lhe um tapinha de leve no ombro. – Bom, as letras que definem os blocos estão em ordem alfabética, começando na entrada. Suas aulas são no C e no D. Do outro lado do pátio fica o refeitório, não é difícil de achar, é só seguir a multidão na hora do recreio. – Natasha discursou sem parar e Steve se obrigou a prestar atenção, alguma coisa lhe dizendo que era não repetiria as informações, nem que ele pedisse. – Os armários masculinos ficam nos banheiros principais, aqui no final do corredor. O seu é do lado direito do de Clint, o dele tem um adesivo gigante de um gavião, é fácil de reconhecer.

- Como você... Como você sabe que tem um adesivo no armário dele?

- Porque fui eu que colei lá. – O canto direito da sua boca elevou-se por um minuto como se estivesse se lembrando de algo bom, mas o sorriso sumiu no minuto seguinte. – Você vai ficar bem agora?

- Oh, sim, sim, obrigado, Natasha. Se eu puder um dia retribuir a gentileza...

- Eu vou pensar em algo, Rogers, apenas espere. – Ela piscou um olho para ele e se despediu, desaparecendo no corredor que levava ao bloco F.

Steve olhou seu relógio, ainda faltava para a aula do almoço, ele tinha um longo dia pela frente. Suspirou fundo.