Sobre a fic: bem, oito anos depois da série Crimson ter começado –série essa cuja Manchas de vermelho seria a fic inicial, eu retomo o projeto. Os motivos são vários, indo desde a vontade de por fim ao que seria uma boa história, o meu estilo de escrita ter mudado ao decorrer de tantos anos –o que tornaria praticamente impossível simplesmente continuá-la de onde parou, e o fato que ao tentar reler no fanfiction, notei que alguns bugs na formatação do próprio site tornaram impossível que ela seja lida com clareza por qualquer um. O motivo, aliás, da mudança do título para o inglês é para que ela remeta à série a que pertence.

Reescrever a fic que bem dizer me lançou nesse universo, e que significa tanto pra mim é um desafio e tanto, não só pelas mudanças da minha própria maneira de escrever, pela maneira um pouco mais madura de ver os personagens e a estória, bem como da necessidade de deixa-la talvez um algo próximo do desfecho do livro –embora, infelizmente, não há como mantê-la fiel ao sétimo, que não seja talvez seu início.

Agradeço a todos que me acompanharam naquela época –e talvez ainda possam acompanhar hoje -ei, ainda tem alguém aí depois de quase dez anos? rs –e ao pessoal novo, que ler a fic e se interessar em acompanhar. Reviews, galere, eu vou precisar, sério. Bem, chega de enrolação e melodrama. Vamos à fic:

Sipnose Original: Ginny Weasley agora é conhecida como Annie Wingcloud, uma detetive bruxa. Draco Malfoy, auror, um dos poucos que conhece esse segredo, é obrigado a trabalhar junto dela. Ambos ex-comensais com passados negros. O passado quer voltar à tona e tudo pode acontecer.

Disclaimer: Potter e Cia pertencem a Rowling. Mas a Anne –em partes, rs –e todo o pessoal da polícia, vítimas dos crimes e etc são meus. :) ;)


Crimson Stains

Glory has returned to
Ashes into the darkness
Straining everything
into a deep crimson karma
Corruption Garden, Megurine Luka (numa das adaptações de Vocaloid, btw)

Capítulo um: Tormentos de lembranças e más premonições

Era uma noite escura. Escura demais para uma mulher como ela caminhar sozinha por uma trilha deserta. Cabelos cor de fogo, pele pálida demais, olhos num bonito tom de castanho. Ela estremeceu de leve. Frio demais, também, constatou.

"Ginny?".

Ela se virou, surpresa, tentando ver alguém nas sombras. Com a fraca luz da varinha, podia apenas distinguir alguns vultos.

"Quem está aí?".

"Ginny, é você?".

Ainda era?

"Sim, sou eu. Quem está aí?".

Silêncio. A ruiva estremeceu novamente, não apenas pelo frio.

"Quem está aí?" pediu novamente.

"Não nos reconhece mais Ginny?". Um dos vultos tomou a dianteira, aproximando-se dela, o suficiente para que a luz da varinha pudesse ilumina-lo "Não reconhece mais ao irmão que traiu?". Era Ron.

"Ron, eu...".

Ela se virou, assustada, antes de dar um grito de surpresa. Hermione estava à sua frente.

"Não reconhece mais a ninguém? Não reconhece mais a si mesma, raposa?".


Naquela noite escura, Ginevra Weasley acordou de súbito, entre um grito e as lágrimas.

Trêmula, sentindo o coração descompassado, procurou pelo relógio. Quatro e meia da manhã. Cedo demais, pensou, e tentou dormir de novo.

Em comparação com os outros pesadelos que vinha tendo, analisou, aquele era do tipo mais leve. Do tipo que em que podia fechar os olhos novamente, incomodada, mas sem ter medo de rever tudo novamente. Do tipo que machucava, mas não a deixava em pânico.

Apenas sentindo-se terrivelmente sozinha.

Levantou-se, pensando seriamente em procurar uma nova receita de poção para dormir sem sonhar. As que estava tentando estavam se mostrando miseravelmente falhas.

Lavou o rosto pálido, observando as olheiras que denunciavam a recorrência de noites mal dormidas, os cabelos de um acobreado quase loiro –em pouco se aproximando do vermelho vivo de seus sonhos e de suas memórias, os olhos azul claro. Tão diferente da moça de seus sonhos que não poderia dizer que eram a mesma pessoa. Sentia falta dos olhos castanhos, dos cabelos vermelho vivo. Continuava sardenta e baixinha, era verdade, observou com uma careta. Mas mais parecia uma irlandesa comum do que uma Weasley. Na época em que aceitara os feitiços dolorosos de mudança, fora exatamente esse a intenção. No presente, era uma necessidade.

No entanto, sonhos como aquele denunciavam a saudade de uma época anterior a qualquer mudança. Antes de Ginevra Weasley estar morta, pensou, o olhar caindo para a cicatriz outrora estivera a tatuagem sinistra em seu antebraço esquerdo. Podia toca-la friamente agora, percorrer com os dedos aquela linha sem correr o risco de chamar a atenção de Voldemort e com isso convocar uma dezena de bruxos das trevas. A ligação entre eles e a tatuagem caíra junto com o Lorde das Trevas; e nada a confortava mais do que isso.

Um arrepio percorreu sua espinha, e ela tirou os dedos em da cicatriz. Ninguém era capaz de explicar o porquê, mas a Marca de todos os Death Eaters se tornara aquela cicatriz assim que Voldemort caíra. Mesmo que não acontecesse nada efetivamente, era involuntária a sensação ruim que sentia quando tocava ali, como se algo sinistro ainda permanecesse, um mal secreto percorrendo a carne. Ou ela estava atormentada demais por pesadelos e pelas lembranças, o que era infinitamente mais lógico, lembrou a si mesma.

"Raposa..." sussurrou olhando agora para sua imagem no espelho. Claro, Ron sabia. E provavelmente era o único. O irmão provavelmente preferiria morrer a contar para todos a desonra que a caçula se tornara.

Talvez Hermione soubesse, conjeturou. Eles estavam casados e Ron seria o típico marido que contaria tudo à esposa, pelo que ela sabia. Os Weasleys estavam tão felizes quanto poderiam estar com três filhos mortos. Ela supostamente entre os três. Junto de Fred e Charlie.

Não pela primeira vez, lamentou não ter fotos da sua família.

Estou sendo idiotamente melancólica, pensou com amargura, como se eu pudesse pegar um vira-tempo e mudar tudo...como se eu desejasse fazer isso. Não desejava.

Observou novamente a cicatriz, com uma expressão de desagrado, por vários instantes. A verdade é que aquele passado estava muito mais presente dentro dela do que a menina de seu sonho. A Marca, seu novo nome, sua própria aparência. Ela era Annie Wingcloud, outrora Raposa Vermelha entre os Comensais da Morte. Ginevra Weasley morrera oficialmente sete anos antes de tudo aquilo. Tentou sorrir para si mesma no espelho, mas seu reflexo estava com aparência doentia demais para isso. Suspirou.

A maioria dos Comensais que sobreviveram à Guerra hoje levavam vidas normais, com suas famílias, e seu secreto desejo pelo sangue puro. Exatamente como acontecera na Primeira Guerra, os casos mais graves estavam em Azkaban, e aqueles que eram espertos o suficiente ainda assim poderiam se safar com alguns poucos arranhões.

Com exceção dela, cuja identidade era conhecida apenas no círculo mais íntimo do Lorde, e a grande frustração de vários aurores, que considerariam a Raposa uma Comensal de alta periculosidade, sempre espreitando para tomar o poder. Riu ao pensar que nenhum deles veria perigo na simpática investigadora de um pequeno departamento da polícia Bruxa de Londres.

Murmurou um feitiço que fez a tatuagem transfigurar-se em uma borboleta. Como qualquer mudança, era um feitiço dolorido. Ao contrário dos outros, precisava ser constantemente refeito. Em soma, lhe davam a impressão de que não havia nada que não pudesse ser modificado ou disfarçado. A um preço justo.


N/A: Bem, era isso. Agradecimentos à beta original, Paty Padfoot, embora eu desconfie que nem mais no fandom ela está, rs. E se alguém se voluntariar para ser um novo beta, eu agradeço. :)