A esposa perfeita.
Para sempre a esposa perfeita.
Terminou de secar a faca de cortar bolos e a guardou dentro da gaveta de talheres. Com isso, toda a louça estava limpa e guardada, inclusive a do bolo de chocolate que fizera para o lanche da tarde. O chão da casa estava limpo, todos os móveis haviam sido cuidadosamente polidos, os ventiladores desempoeirados. A mesa para o jantar estava posta, a empregada se fora, o assado estava pronto no forno. Neji chegaria do trabalho em uma hora, e Nori já havia começado a fazer sua lição há mais de vinte minutos.
Isso significava que a qualquer momento...
- Mamãe, posso ir brincar lá fora?
Ela sorriu, como sempre sorria.
- Claro, querida.
- Obrigada, mamãe!
A pequena menina saiu correndo alegremente para a porta de saída. Ela deveria repreendê-la por correr, mas deixou passar.
Foi até o escritório da casa, sentou-se sobre a cadeira acolchoada e o plástico que protegia o estofado chiou com o seu peso. Seus dedos deslizaram sobre a extenção brilhante da escrivaninha de madeira nobre, que reluzia à luz das lâmpadas novas dentro do lustre limpo. Dedilhou as gavetas onde Neji mantinha seus papéis do trabalho. Todos em bloquinhos bem organizados por ordem alfabética. Mais ao fundo da primeira gaveta, os dedos encontraram o objeto de metal. Também havia sido polido, e estava pesado. Carregava cinco balas em seu interior. Ela sabia, ela mesma havia contado.
Por um segundo, ela sentiu vontade de um último beijo de boa noite. De deixar seu coração ser preenchido por um último "eu te amo, mamãe". Mas ela sabia que não deveria fazer isso. Se voltasse, estaria jogando tudo fora. A chance perfeita, a oportunidade certa, o seu plano tão minuciosamente planejado. Não haveria mais tempo, nem coragem. Porque Neji tiraria uma folga para ficar mais tempo com a família, a sua família perfeita, e ela não suportaria mais isso.
Talvez devesse colocar o objeto em sua boca. Sentir o metal frio sobre os lábios, e dar à sua língua o prazer e experiência única do gosto de pólvora. Mas não. Isso estragaria o papel de parede azul claro, acabaria com o acabamento, o reparo seria caro, diminuiria o valor do imóvel.
Deveria ser um tiro na lateral do rosto. No máximo, apenas sujaria o carpete. Talvez a mancha não saísse, mas ela mesma já havia encomendado um carpete novo, porque era a esposa perfeita.
Para sempre a esposa perfeita.
A arma não estava travada.
Um brinde à esposa perfeita.
Ela atirou.
N/A: Bem... Rere, é, acho que eu voltei com as death fics, mas não tenho muita certeza sobre isso /sigh
Não ficou muito claro, mas a personagem/esposa em questão é a Tenten, e o motivos que a levaram a se matar estão abertos à imaginação. Talvez ela não estivesse aguentando toda a tranquilidade da vida de dona-de-casa, talvez toda a perfeição fosse falsa e superficial, talvez ela sofresse uma enorme pressão internamente, quem sabe? O que poderia levar uma esposa perfeita a se matar? E... Review? 3
Kisu Kisu
