Depois de muito tempo sem dar as caras... eis que a Silver decide "voltar à ativa". Não que algum dia eu tenha deixado de estar ativa, é claro... Quem acompanha o Expresso, a Amaterasu e New Dawn sabe perfeitamente que isso não é verdade.

Entretanto, eu não vinha publicando nada por aqui no FF., o que pode ter passado a alguns de vocês a ilusão de que eu tinha me aposentado por definitivo. Bem, não há nada mais longe da verdade que isso. Eu posso ter dado uma freada - especialmente porque estou recebendo meu diploma daqui a exatamente duas semanas - mas não deixei (nem pretendo deixar) de escrever.

Assim sendo, para que não pensem que esqueci de vocês, decidi aproveitar a minha última inspiração e publicar aqui os pequenos - quase mínimos - contos dos anos mais sombrios dos Cullen; contos estes que serviram como uma espécie de estudo de personagens para escrever New Dawn (cujo link vocês podem encontrar no meu profile).

Quem não tiver paciência para vê-los publicados aqui no FF. (onde devo atualizar a cada dois, três dias, no máximo, visto que os sete contos estão quase prontos) pode encontrá-los no Coruja, meu blog, cujo link também está disponível na página do profile. Lá no Coruja, além dos excertos, também estão disponíveis os "making-of" de cada conto e, em breve, as músicas citadas a cada capítulo para download.

Espero ter notícias de vocês! Não deixem de comentar!

Beijos,

Lulu.


Edward



Wide eyed, grinning in the darkened room
Sipping cactus brandy from a china spoon
Coming in the morning in the afternoon, forgetting.
So tired waiting for the end to come
Fully dead already but forever young
Hello, my dearest father it's your favorite son
There's some things that I'm regretting

I am destroyer I am lover,I am destroyer I am lover.
I love one thing, destroy the other.
I am destroyer, I am lover.

(Death to death – Stars)


'Ora, ora, ora... mas se não é o cordeirinho andando sozinho pela floresta do lobo mau... Parece que hoje é o meu dia de sorte...'.

Confundindo-se com as sombras, passos silenciosos, leves demais para serem percebidos, ele seguia o homem, que, por sua vez, estava ocupado demais, deliciando-se com o que faria com sua própria presa dentro em breve.

'Tão jovem... rostinho de bebê... mal posso esperar... eles sequer vão reconhecê-la quando eu terminar com ela...'.

O dono daqueles pensamentos apertou um canivete dentro do bolso. O caminhar da moça mais à frente mudara para um staccato que fazia par às loucas batidas de seu coração; ela percebera que estava sendo seguida e estava desesperada, implorando aos céus que alguém passasse pela rua, alguém, qualquer um.

Edward duvidava muito que ela tivesse em mente que seu alguém fosse um vampiro, mas ele era, ao final das contas, sua melhor aposta. Mesmo que ele desejasse beber o sangue dela, ela teria uma morte muito mais rápida e misericordiosa do que aquela que Adrian Shaw planejava.

'Isso mesmo, querida... corra, corra... termine com a charada... faça as coisas mais divertidas!'.

O outro homem quase pulava de excitação em reação ao medo que ela exalava. Edward às vezes se perguntava se psicopatas como Adrian tinham sentidos diferentes comparado a seres humanos normais: como um vampiro, capaz de cheirar o medo, o horror, aumentando o encanto da caçada.

Havia um beco um pouco mais adiante. Ele podia ver na mente de Adrian o lugar – a porta que levava aos fundos do quartinho que o homem alugara enquanto estava na cidade, o lixo que se acumulava rapidamente ao redor e os sinais sutis das duas mortes que se tinham precedido; sangue coagulado, marcas de unha no chão de pedras de calcário e nos umbrais de madeira.

Ele a estava levando para aquele lugar maldito e, sem saber, ela estava caminhando para a armadilha como um cordeiro cheio de boa vontade.

Saber exatamente onde se encontrava o covil daquele monstro acabava com a necessidade de segui-lo. A rua estava vazia, absolutamente silenciosa – estavam, afinal, no distrito comercial da cidade e as poucas pessoas que estivessem por ali àquela hora dificilmente seriam tolas de colocar o pescoço para fora de seus abrigos.

Com a graça e a quietude de um predador, ele escalou as paredes do edifício mais próximo, mãos e pés quase não tocando o concreto, rápido demais para olhos humanos. Lá em cima, o ar frio da noite era mais puro, sem as matizes de bebida, vômito, urina e dejetos que se misturavam ao permanente odor de carvão e enxofre, tão caros ao progresso.

Edward quase fez uma careta a esse último pensamento. Progresso... Ele não era capaz de enxergar muito progresso na raça humana; não quando um sistema judicial corrupto e falho deixava escapar assassinos como Adrian Shaw por entre seus dedos. De que adiantava os avanços da tecnologia se eles eram incapazes de avançar moralmente, eticamente?

Não demorou a que ele desviasse dessa linha de pensamento. O que ele podia dizer de moral e ética, afinal? Ele não estava ali para pensar. Ele não queria ter de pensar. O anjo vingador não questionava; apenas aplicava a justiça.

Justiça com as próprias mãos.

Quão melhor que Adrian ele era?

Um grito sufocado soou, seguido pelo som de impacto – um corpo contra a parede. Edward bloqueou os sussurros de profanidades que o outro repetia como carícias enquanto beijava o pescoço da moça. Ela choramingava baixinho, tremendo da cabeça aos pés, incapaz de reagir, incapaz de gritar pela mão sobre sua boca.

O homem tirou o canivete do bolso, subindo molemente com a lâmina ao longo da blusa dela, rasgando o tecido leve, expondo a pele macia, sem marcas.

Edward leu em sua mente o desejo de cortar, rasgar, dilacerar... trabalhar a navalha sobre o rosto coberto de lágrimas... deixar nela sua assinatura...

Ele saltou antes que alguma gota de sangue pudesse ser derramada. O som de ossos se deslocando ecoou pelo beco. Adrian cambaleou para trás, soltando a moça, que caiu molemente no chão, sem sentidos.

Apesar da dor que Edward podia sentir nos pensamentos dele, o homem apenas estreitou os olhos, irritado com aquilo que ele via como "competição". Ele não estava preocupado com a súbita aparição; seus instintos estavam todos embriagados pelo poder da perseguição, incapazes de atentarem para o perigo que o jovem à sua frente representava.

'Ele é apenas um e está desarmado. Filho da mãe... eu vou mostrar a você, camundongo, que não se deve brincar com o gatinho'.

Ele não se desviou quando a navalha veio em sua direção, um riso de escárnio em seus lábios vermelhos diante da comparação nos pensamentos do outro, antes de alcançá-lo pela nuca, sentindo a coluna do homem ceder sob a mera pressão dos seus dedos.

Não estava disposto a perder mais tempo ali; há qualquer minuto a moça acordaria e ele não queria estar ali quando isso acontecesse. Desnudando os dentes imaculadamente brancos, ele os cravou exatamente sobre a jugular do homem em seus braços.

O primeiro trago de sangue era como um sorvo de vida. Apesar de se alimentar apenas daquilo que considerava a escória da escória, ele sabia que não havia qualquer diferença no sabor deles e de algum inocente que, por acaso, entrasse em seu caminho.

Ele gostaria que fosse diferente. Que o sangue deles tivesse um sabor horrível, repelente. Seria sua pena, seu castigo. Perfeito para sua necessidade de auto-comiseração e desprezo. Ele era um glutão por culpa.

Todas essas considerações, contudo, foram varridas de sua mente enquanto sugava o sangue quente, convidativo; o veneno preenchendo sua boca, o frenesi envolvendo cada um de seus sentidos – os ossos que se partiam sob seus dedos frenéticos, o cheiro ferruginoso, o sabor absolutamente incomparável, o corpo sem vida que se dobrava, submetia-se diante de seus olhos, o resfolegar dele próprio misturado ao silêncio noturno.

O corpo estava seco antes que ele se desse completamente por satisfeito. Apesar disso, ele se forçou a pensar com clareza, a não ceder completamente ao instinto e pular sobre a humana desacordada.

Alguns minutos se passaram antes que Edward estivesse novamente em controle de si próprio. Finalmente, ele lançou um olhar a carcaça aos seus pés, completamente drenado. Com a navalha caída, ele terminou de dilacerar a garganta de Adrian, sobre sua mordida, jogando o cadáver sobre os montes de lixo em seguida.

Ele não olhou para a jovem enquanto deixava o beco. Não havia muito que fazer por ela; seu trabalho, além disso, estava feito. Mesmo que ela se lembrasse dele, provavelmente encararia sua repentina aparição como um delírio... ou, talvez, intervenção divina; quem sabe?

Edward sabia, porém, que estava longe de ser um anjo da guarda. Ele não era menos culpado do que aqueles que caçava. Não havia nada de puro ou inocente nele, não depois de décadas vivendo nas sombras, ouvindo os pensamentos dos humanos, sentindo-se paradoxalmente superior e inferior a eles.

Um cadáver imortal, sob uma máscara de juventude e beleza a dissimular sua natureza de Anjo Caído.