Ela estava só. E corria. Corria para longe embora não soubesse quão longe era onde ela queria chegar. Pra falar a verdade ela só queria fugir, não via direção a sua frente . Quem foge sai correndo sem saber pra onde, só quer se afastar de onde lhe querem mal. Ela se arralhara em diversos lugares do corpo. Joelhos, braços, rosto mas continuara correndo. A dor dos arranhões era imediata seguida de ardência no local, sentia também cheiro de sangue vindo deles. E agora?, ela pensava. Não tinha família, não tinha amigos e o pior: não tinha esperança. O último lugar que ficara a fizera correr agora. Muitas pessoas a hostilizaram, outras queriam se aproveitar dela e do que tinha. Muitos diriam sem cerimônia que gostariam de possuir um terço do que ela possuia e cheia de tristeza diria que não é tão fácil e maravilhoso como se pensa. Pelo contrário, era algo doloroso e até mesmo, mau. No início, ela queria esconder e achava que seria o suficiente mas não foi. Sempre acabavam descobrindo, sempre. Uma vez descoberto vinham as perguntas e com as perguntas, o interesse, daí para a exploração era um passo. Ser diferente é algo bem comum mas quando você tem algo que os outros não têm, isso pode ser extremamente perigoso. Ela ouviu passos, com certeza havia alguém que estava se aproximando e pelo barulho era um grupo razoavelmente grande. Sentiu medo, o grupo gritava por ela, alguns demonstravam raiva, até mesmo ódio na voz. Se encolheu o máximo que pôde em um arbusto, não tinha nada em mãos, apenas uma trouxa com uma ou duas mudas de roupa. Seus cabelos estavam presos em uma trança e por causa da corrida que dera, duas mechas lhe caíam ao rosto. Tremia dos pés a cabeça, de medo, de frio, como um animal acuado pressentindo caçadores perto prontos para arrancar sua pele.

- Vamos! Ela está por aqui! Temos que pegá-la! – muitos diziam isso em coro.

Ela então chorou. Chorou um choro sentido, um que vem da alma, que dói e parece arrebentar tudo por dentro. As lágrimas caiam livremente e ela tentava raciocinar alguma coisa. Sentia que a multidão furiosa e se aproximava, se a encontrassem seria horrível. Aquele arbusto era escondido mas imaginava que eles não deixariam nenhum lugar escapar, precisava sair dali. E depois fugir definitivamente daquela ilha. Viu algumas árvores frutíveras e flores. Daí enxergou sua oportunidade, correu o mais rápido que pôde e escalou uma. O mais depressa que suas pernas e braços conseguiram. Os arranhões que os espinhos dos arbustos fizeram começaram a sangrar de novo e novos foram feitos devido a casca grossa da árvore e farpas. Ainda assim chegou ao topo e ficou em cima de um galho longo que era escondido pela copa. As mechas caídas em seu rosto agora quase tapavam seus olhos e estavam molhadas pelas suas lágrimas. Apesar do frio da noite, ela estava suando, afinal correra demais. Poucos momentos após subir na árvore viu a multidão se aproximanr, podia ver ódio, cobiça, raiva nos olhos de cada uma daquelas pessoas, gritavam o nome dela e para que aparecesse. Olharam no arbusto que ela estava momentos antes. "Que alívio", pensou ela. Vasculharam tudo, cortaram moitas para ter certeza que não havia ninguém nelas. Ela ficou nervosa, mas imóvel, nelhuma folha caiu ou galho estalou. O grupo vasculhou por mais um tempo.

- Não pdoemos perdê-la! Ela é valiosa demais!

- Com ela, nossa ilha poderá crescer e enriquecer!

Ela respirou fundo, sabia que nunca iriam procurá-la no alto das árvores e vendo os arbustos vazios logo desistiriam. E assim ocorreu. A multidão afastou-se comentando que ficaria alerta e que cedo ou tarde a encontrariam. Após algumas horas, sabendo que era tarde e todos na ilha já deviam estar dormindo, ela desceu da árvore. No tempo que se passou, ela cochilara um piuco, tentando recuperar as forças e a coragem. Após descer ficou atenta a ruídos, estava um silêncio pesado e por isso qualquer barulho indicaria um animal noturno ou alguém. Procurou manter o silêncio mas andou o mais rápido possível para fora daquela mata. Uma vez fora começou a correr. Seus pés estavam cansados e doloridos mas ela usou a força que ainda tinha para chegar ao cais. Olhou em volta e não havia ninguém por perto, geralmente ficava alguém olhando para ver se não chegava alguém no meio da noite. Ela encontrou seu pequeno barco, na verdade ra como uma média canoa com uma vela. Desamarrou-a e a empurrou para o mar, abriu a vela e começou a remar, o mais depressa para se afastar da praia. Definitivamente não levava boas lembranças dali. Mal sabia que vinha uma chuva muito forte com trovões e relâmpagos. Não chegou a ser uma tempestade mas havia ondas que balançaram a canoa, ela ficou encharcada e com muito frio. Começou a tossir e ficar tonta, estava fraca por causa de tudo que havia ocorrido e seus arranhões nãi tinham sido tratados. Ainda assim tentava conduzir sua "embarcação", conseguiu por um tempo, o suficiente para que a chuva e os relâmpagos parassem. Então ela não aguentou amis, sentiu que ia perder os sentidos, sua fraqueza finalmente a venceu, caiu deitada na canoa, mas antes de fechar completamente os olhos, olhou o céu um pouco escuro e pensou: "Alguém... por favor, ajude-me." E tudo escureceu definitivamente.