Card Captors:
Nova Era

Sakura (voz trémula) - Não sou capaz.

Os dois guardiões tentavam acalmar a sua mestra cuja ansiedade tinha aumentado nestes últimos dias. Não conseguiam perceber a sua súbita preocupação. Com a cabeça baixa, agarrava o livro cor de rosa com decoração em arabesco dourado e apertava-o contra o peito como se a sua vida disso dependesse no quarto iluminado pela luz natural da lua.

Kero (preocupado) - Vais ver que podes estar apenas doente.

Yue observou o seu colega na forma de um boneco de peluche, de forma pedante.

Yue (de tom monótono) - As suas preocupações podem ser infundadas.

Ela baixou a cabeça e tentou cobrir o seu choro com as mãos. Estava perdida.

Casa Okinawa

Perdia-se nas inúmeras palavras aglomeradas que tinham perdido o sentido há muito tempo. O cansaço apoderava-se de cada centímetro do seu corpo espalhando-se da parte de trás da nuca até as extremidade geladas. A tinta no papel ficou turva e o seu instinto foi olhar para o seu limpo e observar a grande lua cheia que iluminava a cidade.

(murmurou) - Yue..

Sra. Okinawa - Ami, querida?

A pergunta fez com que a adolescente de 17 anos despertasse. Não sabia como é que os seus olhos redondos castanhos tinham acabado a olhar para o vazio. Virou a sua face arredondada para a sua mãe que estava na porta do seu quarto. Vestia um pijama largo e tentou afastar os caracóis que pendiam do coque, mostrando uma expressão confusa.

Ami - O que se passa?

Sra Okinawa (surpresa) - Quem diria que finalmente aprendeste chinês!

Ami não percebia a surpresa da sua mãe, a americana de cabelos loiros e magra de que tinha herdado todos os traços faciais, ela não sabia patavina de chinês. Qual o propósito de aprender aquela língua bizarra e complexa?

Ami (sarcástica) - Quem diria! - fez uma pausa, fechando o livro - Não sei chinês, ma! É por isso que estou a me matar a estudar para o teste amanhã!

A senhora Okinawa cruzou os braços, desconfiada. Podia jurar que tinha ouvido-a dizer algo. Ami decidiu ir até a casa de banho para lavar os dentes, não valia a pena continuar a penar por causa de uma disciplina. As suas olheiras pioravam o seu tom amarelado e traços estranhos que ela considerava uma horrível combinação de ocidente e oriente. Estava na altura do seu merecido descanso.

Sra. Okinawa (suspirou) - Muito bem. Descansa bem, eu também estou a precisar.

Ami acenou rapidamente e a sua mãe retribuiu o gesto. Quando estava sozinha com os seus pensamentos achou melhor ignorar este momento estranho. Como daquela vez em que podia jurar sentir uma presença forte ou quando o livro se moveu apenas com o seu pensamento. Ignorar, era a palavra de ordem. Deitou-se por fim na esperança de amanhã saber tudo de cor.

Casa Shiwabara

Miyu olhava-se ao espelho depois de ter tratado da maquilhagem para o dia seguinte. Tinha uma pele clara, olhos cor de amêndoa realçados pelo eyeliner preto. A sua face era esguia e tinha traços proeminentes que lhe eram elogiados vezes sem conta. Os lábios voluptuosos marcados com um rosa claro abriram-se num sorriso ao perceber que o seu cabelo loiro escuro liso e a sua franja estavam no ponto perfeito. Faltava apenas escolher a roupa que se ajustasse as curvas bem delineadas e salientes do seu corpo, sem revelar muito.

Sra. Shiwabara (surpresa) - Não estudas?

Miyu (em chinês) - Estudei toda a minha vida não vou ter problemas.

A sua mãe mostrou-se preocupada entrando no seu quarto em tons fluorescentes e incrivelmente desarrumado. Passou por cima de uma pequena pilha de livros e de acessórios para conseguir chegar ao armário. Olhou para a roupa escolhida e percebeu que a camisa estava amarrotada.

Sra. Shiwabara (leva a camisa consigo) - Vou passar a ferro. - parou ao pé da porta - Quando é que a Ami te vem visitar?

Miyu (em choque) - Mãe! Não vou trazer uma amiga para a obrigar a trabalhar.

Em seguida, sorriu de forma matreira, indicando que seria em breve. A sua mãe saiu do quarto e olhou para o ambiente caótico que a rodeava. De manhã, tudo estaria no sítio certo e arrumado ao milímetro. Com excepção da sua cama. Não o conseguia evitar. Desta vez a roupa que tinha pensado tinha aparecido no manequim como que por magia. Engoliu a seco e deixou de fora os cosméticos que precisaria no dia seguinte. Levantou-se e correu até à porta.

Miyu (gritou) - Vou arrumar o meu quarto!

Tetsuya (grito abafado) - Deixa-me dormir, idiota!

Ignorou o seu irmão bastardo e decidiu prosseguir as limpezas antes que a sua mãe voltasse com a camisa engomada. Quando se virou para encarar o seu quarto ele já estava perfeitamente arrumado. A sua mãe apareceu ao seu lado segundos depois.

Sra. Shiwabara (surpresa) - Devias ter-te pronunciado no passado. Que maravilha!

Encantada por o quarto estar limpo em anos, entregou a camisa e foi deitar-se. Miyu, confusa, decidiu seguir o exemplo.

Entrada - Escola Secundária de Tomoeda

O grande edifício e branco rodeado de um jardim cuidado que lhe dava uma imagem de profissionalismo e sofisticação estava coberto em silêncio. As grande janelas permitiam ver as salas de tons beges e os alunos que nesta altura tratavam de testar os seus conhecimentos. Assim que a campainha anunciou o fim do tempo de avaliação, cada aluno arrumou as suas coisas com cuidado e deixou o papel do enunciado cuidadosamente na mesa para ser recolhido. A sala esvaziou-se aos poucos e no fim apenas restavam Ami e Miyu, na qual a primeira esperava que a segunda encontrasse a sua caneta perdida nos confins do universo.

Ami ( tom baixo) - Tens a certeza que não a guardaste?

Miyu (tom baixo) - Sim! Está aqui algures.

Ambas falavam no tom pouco usual devido à presença da docente de Chinês. Ela despediu-se com um sorriso e assim que a figura de autoridade se dissipou, voltaram ao seu modo normal.

Ami (sarcástica) - Coitada, deixa-me ajudar-te!

Miyu fez uma careta à falsa ajuda. Colocou a bolsa na mesa e tratou de esvaziar o seu conteúdo. Retirava com cuidado os objectos que trouxe consigo um a um, depositando-os com cuidado na mesa enquanto Ami cruzava os braços e suspirava.

Ami - Começo a achar que essa caneta nunca existiu.

Miyu (sem olhar para Ami) - Escrevi o teste com tinta imaginária, quem diria? - fingiu admiração.

Ami revirou os olhos e suspirou tentando mostrar a sua impaciência mesmo com a iminência de criar uma discussão que só atrasaria mais a sua saída..

Ami - Não podes simplesmente comprar outra?

Miyu apenas ignorou a sua pouco prestável amiga e ao chegar ao fim da sua bolsa, vendo-a vazia sem sinal da caneta, sentiu-se desconfortável. Ami aproximou-se de Miyu e notou um brilho vindo das costas dela. Pendurado no uniforme escolar estava a caneta. A busca tinha finalmente chegado ao fim.

Miyu (irritada) - Idiota do Satoshi! Vou cortar-lhe a língua.

Ami apenas permitiu que ela deitasse tudo para fora as formas como ia torturar o seu colega de turma, com descrições gráficas e detalhadas, ficando apenas contente por estar fora da escola e a caminhar em direcção a um lugar mais divertido. O teste não tinha-lhe dado nenhuma alegria por isso qualquer distracção era bem vinda mesmo que fosse mórbida. Sentaram-se num banco no parque do Rei Pinguim que a esta hora estava um pouco morto tendo apenas uma adolescente agarrada ao ecrã do seu telemóvel.

Miyu (levantando os braços)- Finalmente acabou a primeira ronda de testes.

Ami - Eu celebro a isso! - riu-se e levantou-se com troco na mão - Queres o quê?

Miyu (pensativa) - Quero o de Lychia.

Ami fez uma careta e apenas encolheu os ombros, tratando do pedido na máquina de venda automática. Pediu uma cola para si e quando tinha as latas na mão viu que Miyu se levantou. Apenas ficou de pé durante alguns segundos. Em seguida, avançou a um passo lento esquecendo-se da sua bolsa no banco de jardim, um comportamento estranho de alguém que não consegue sobreviver sem o seu estojo de maquilhagem.

Ami (tom alto) - A tua bolsa, tonhó!

Riu-se esperando uma resposta rápida e concisa mas apenas foi ignorada enquanto a sua amiga caminhava a passos largos em direcção a algo. Não teve outra opção se não agarrar nas bolsas e correr de forma a tentar ganhar o espaço entre as duas. Quando Miyu começou a correr a tarefa ficou muito mais difícil visto que não conseguia aumentar o ritmo. Correu durante alguns minutos até se lembrar de chamar a atenção da loira desmiolada.

Ami ( gritou) - Espera por mim!

Miyu parou finalmente de correr e quando se virou para encarar a Ami esta notou algo. Miyu estava pálida e mostrava-se assustada. Conseguiu finalmente chegar perto do corpo de Miyu estancado perto de um portão aberto numa casa que não reconhecia. Ami atirou com força a Miyu os seus pertences tentando recuperar o fôlego enquanto lhe era dada uma explicação.

Miyu (transtornada) - Vi luzes. E elas aproximaram-se de mim e guiaram-me até aqui. Estão a pedir que entre.

Ami fez um expressão incrédula mas ao observar o portão novamente viu as malditas luzes. Estariam as duas sobre efeitos de drogas, seria isto apenas uma ilusão? Com um passo decidiu, entrou pelo portão convidativo e foi seguida por Miyu colada a si como se da sua sombra se tratasse. Ao andarem pelo caminho desenhado pelas luzes foram bater a um jardim vazio, bem tratado, com relva fresca e arbustos com flores proeminentes e coloridas. Saltou-lhe à vista o belo livro cor de rosa em cima da mesa de metal pintada de branco e sentiu-se tentada a tocar-lhe. Colocou a sua bolsa às costas e com as suas duas mão livres agarrou-o com cuidado mas o livro começou a brilhar e, assustada, largou-o sem querer no chão.

Miyu (com a voz trémula) - O que se passa?

Antes que Ami pudesse responder o livro abriu-se com violência, soltando uma forte ventania enquanto cartas incandescentes eram expulsas com rapidez. As raparigas apenas conseguiram apanhar duas das cartas deixando todas as outras fugirem por entre os dedos e assim que a luz cessou olharam melhor para o que tinham em mãos. Duas cartas cor de rosa com detalhes intrincados dourados com uma lua e um sol de um lado, e do outro uma figura desenhada com uma designação. Aproximaram-se uma da outra, de forma a verem ambas as cartas, uma denominava-se The Through* e a outra The Mist.* Em seguida, um peluche voador amarelo apareceu parecendo nervoso e aflito. Tinha uma cabeça redonda, com duas orelhas redondas salientes que ocupavam grande parte da cabeça e um corpo pequeno com pequenas asas brancas.

Kero (irritado) - O que fizeram? Suas ladras!

Ele contorceu-se de uma forma esquisita e as duas adolescentes recuaram alguns passos, claramente assustadas. Viram o peluche analisar primeiro o livro caído no chão e depois viu as duas únicas cartas que sobravam do baralho que antes repousava na ranhura criada nas páginas.

Kero (frustrado) - Não pode ser! Suas...

A postura de Miyu mudou, dando um passo em frente.

Miyu (confiante) - Vê lá o que vais dizer! Não temos culpa de nada, o livro abriu-se sozinho e as cartas voaram. Tiveste sorte de conseguirmos apanhar estas duas.

Os papéis tinham-se invertido, Ami mostrava-se agora ansiosa e tímida fazendo com que Miyu a olhasse de relance, vendo uma postura corporal de timidez e de defesa, com os braços cruzados e dobrada sobre si mesma. Voltou a encarar numa questão de segundos o peluche mágico com determinação e esperou que ele ripostasse.

Kero (gritou) - Isso é mentira!

Miyu (com arrogância) - É só isso que tens? Pelo menos sê mais criativo!

Antes que ouvisse outra resposta ambas ouviram passos dentro de casa e assim que eles cessaram uma figura de uma mulher esbelta espreitou por entre as portas de vidro. Vestida de forma elegante, com o cabelo cor de mel amarrado num coque solto, olhos verdes brilhantes manchados por olheiras negras e uma expressão neutra. As duas adolescentes sentiam uma sensação de conforto ao olharem para aquela jovem adulta acompanhada por um homem alto de cabelos brancos. Era uma sensação que não deveriam sentir perante uma estranha e por isso mesmo as aterrorizou até ao tutano.

Sakura (calma) - Por favor, perdoem o Cerberus. - mostrou um sorriso - Podem partir e levem as cartas e o livro convosco. Quando estiverem prontas, voltem cá. Estaremos à vossa espera.

Ami e Miyu agarram nas suas coisas e decidiram aceder ao pedido da estranha mulher levando consigo o livro e as cartas. Desataram a correr até chegarem ao parque do Rei Pinguim. Ao pararem para recuperar o fôlego apenas trocaram um olhar que ambas entendiam e em seguida partiram em silêncio para as suas casas murmurando apenas uma leve despedida. Ao deitarem-se naquela noite e observarem a lua cheia que começava a desvanecer tentaram esquecer o estranho incidente e ter um momento de sossego, por fim.

Continua no próximo capítulo.

* A Através

** O Nevoeiro

Infelizmente apaguei esta história sem querer e agora vou ter de publica-la outra vez. Mil perdões! Mas adicionei um novo capítulo!

~*~AnGe Lille ~*~