Capítulo 1
Apenas uma garota normal...
Bella
Andando pelos corredores da nova escola, meus pensamentos se confundiam. Eu estava apavorada, não sabia como agir na frente de pessoas normais para que elas não descobrissem que EU não era normal.
Passei muito tempo longe delas, e já não me lembro como iniciar uma conversa normal, que não envolva nenhum dos meus diagnósticos feitos por algum médico.
Continuo sem entender porque diabos os meus pais decidiram que eu deveria ter a experiência do último ano do Ensino Médio numa escola normal. Isso era uma besteira, eu estava muito bem na escola especial!
Aparentemente, enquanto eu andava pelos corredores, ninguém – entre os poucos alunos presentes – pareceu notar a diferença entre mim e eles. Claro, isso não era algo perceptível à primeira vista!
Eu estava fazendo a coisa mais vergonhosa que se tem para um adolescente novo na escola é andar com um mapa enfiado na cara enquanto vaga pelos corredores, uma colinha que o faça se lembrar para qual sala deveria ir, mas no meu caso, eu iria usar muitas e muitas vezes, o ano todo. Se na minha antiga e pequena escola especial eu precisei do mapa nos sete primeiros meses, imagine nessa escola gigante e cheia de adolescentes normais e que me deixam confusa.
Eu havia estado ansiosa demais essa manhã e por estar acostumada a acordar sempre às cinco da manhã, não consegui mais dormir depois desse horário.
Meus pais já estavam acordados quando o meu despertador tocou às seis, meu pai se arrumava para o trabalho, enquanto minha mãe já pronta para o seu, preparava o café.
Sentei em minha rotineira cadeira na mesa da cozinha e comecei a comer cereais de chocolate, minha mãe empurrou um pedaço de torta e um copo de suco de morango, o que eu mais gostava.
Eu já estava pronta, com meu uniforme meticulosamente passado, a camisa branca com o símbolo da escola bordado no canto esquerdo, calças jeans escuras, tênis, meus cabelos muito bem escovados e presos numa trança lateral, bem firme, feita por minha mãe, já que por mim, iria como sempre fui, com os cabelos presos num coque. Acho que ela disse que merecia algo novo para uma escola nova.
Insisti para que ela me deixasse ir dirigindo sozinha hoje, em vão, é claro. Disse-me que eu só poderia ir sozinha de carro quando eles acharem que eu poderia me controlar se algo desse errado, e o primeiro dia não era bom para uma tentativa.
Quando meu pai chegou à cozinha, a primeira coisa que reparei foi em sua gravata torta, eu odiava quando ele não colocava aquela coisa certa.
-Pai, sua gravata está torta! – disse e abaixei minha cabeça, fechando os olhos, para tentar pensar melhor. Droga, deveria ter feito isso antes de dizer que a gravata estava torta!
-Charlie, venha aqui, meu bem! – ouvi minha mãe dizer e passos para perto de mim.
-Pronto, agora sim. Ainda não entendo como não consegue colocar essa gravata direito ainda... – ela sabia que eu não me sentiria bem se aquela gravata não estivesse colocada corretamente.
-Querida, termine seu café, vou pegar minha bolsa e sua mochila, e então nós vamos, ok?
Assenti com a cabeça e terminei de tomar meu café da manhã antes de ela voltar.
Peguei as chaves do carro e esperei-a lá fora depois de ganhar um beijo de 'boa sorte no primeiro dia' de meu pai.
Coloquei o cinto e esperei minha mãe se despedir de meu pai com um beijo na boca, revirei os olhos, achando aquilo nojento e olhei para o outro lado.
Assim que ela entrou no carro, me entregou minha mochila, colocando a dela no banco traseiro e dando partida.
-Coloquei seu celular dentro da sua mochila, assim que suas aulas acabarem, você tem que me ligar, ok? – disse minha mãe.
Assenti e fomos em direção à escola, com o rádio ligado em alguma estação de música, mas eu não estava ouvindo.
Olhava para as janelas o tempo todo, não vendo nada, na verdade, estava nervosa demais para isso e sentia minhas mãos suando enquanto passava uma na outra.
Quando chegamos à escola, pude ver o quão grande ela era, quando vazia, já que quando os meus pais me trouxeram para que eu conhecesse a escola, a escola estava em horário de aula, isso ano passado, foi um pouco perturbador ver tantas pessoas fazendo tanto barulho depois de muito tempo no silêncio.
Havia apenas três ou quatro carros no estacionamento, com certeza de algum professor, diretor, secretária ou algo do tipo, já que seria muito difícil uma pessoa normal estar de pé às seis e meia da manhã.
Minha mãe desceu do carro junto comigo e andamos em direção à secretaria. Ela tinha que garantir que eu não esqueceria o caminho até lá e nem que me esquecesse de pegar uma cópia do mapa da escola.
Na secretaria falamos com a senhora Copper, ela sempre estava lá, das seis da manhã às sete da noite, é claro que ela sabia do meu problema e reforçando o que os diretores haviam dito durante a minha matricula, se eu precisasse de qualquer tipo de ajuda, os professores poderiam ser comunicados e todos estariam à minha disposição.
Ainda ali, minha mãe decidiu que eu deveria ir sozinha até o portão principal, então, depositando um beijo em meu rosto, com um 'boa sorte', um sorriso e um aviso de que para tudo o que eu precisasse era só ir até a secretaria ou ligar para ela, ela virou-se em direção ao carro e foi embora.
Agora, enquanto ando pelos corredores quase vazios, tentando encontrar a sala de aula, onde eu teria Biologia, me sentia meio perdida entre os poucos alunos que circulavam entre os corredores fazendo um barulho muito grande aos meus ouvidos.
Iria demorar muito para me acostumar com isso.
Finalmente encontrei a sala de aula, e entrei, sentando-me no fundo, para que ninguém ficasse me olhando pelas costas.
Não havia ninguém lá ainda, rezando para que as horas passassem rapidamente e que eu pudesse voltar pra casa.
Mas, ao contrario dos meus desejos, o dia foi se arrastando...
Felizmente o senhor... Banner, eu acho, não nos fez nos apresentar, aquilo seria totalmente embaraçoso.
Por ser o primeiro dia de aula do ano, todos os professores estavam revisando algumas matérias do ano passado, portanto, tudo estava sendo fácil demais, até mesmo para mim.
Logo após Biologia, seguiu-se Matemática e Química, no mesmo ritmo até o intervalo.
Preferi não ficar com os outros alunos e ir ao refeitório, então, segui procurando a sala onde teria a próxima aula, literatura.
Particularmente eu adorava essa matéria, mas minha dificuldade em memorizar tudo era tão, mas tão grande que eu tinha certeza de que eu seria um desastre nessa matéria esse ano.
Sentei-me em uma das carteiras do fundo e esperei, minha perna balançando sem parar. Não estava com fome, no entanto, retirei uma barra de chocolate da bolsa que carregava e destaquei dois pedaços, isso faria bem para o meu ânimo e concentração.
Minha sempre deixava vários desses em minhas bolsas, mochilas e nécessaires, já que isso me deixa relaxada!
Menos de um minuto depois, um homem, alto, com cabelos loiros, olhos azuis profundos e uma presença muito forte adentrou a sala.
O perfume doce invadiu a sala vazia e mesmo sendo bem desatenta na maior parte do tempo, reparei que ele se vestia de uma maneira muito séria pra ser um aluno, mas o achava muito novo para ser um professor.
Abri minha bolsa, retirando meu caderno e com uma caneta em mãos, fazia anotações aleatórias, talvez até alguns desenhos, quando ouvi a voz, grossa, um pouco rouca, porém bonita e agradável de se escutar.
-Senhorita...?
Imediatamente minha atenção saiu da folha de caderno rabiscada para o homem à minha frente, que havia colocado uma maleta em cima da mesa que ficava bem no meio da sala, de frente para a turma, que ainda não estava lá.
-Swan, Isa-bella... Swan. – disse meio gaguejando na hora de dizer meu nome.
Ele estava encostado na mesa, com seus braços cruzados no peito, sem o grosso casaco preto, o suéter bege que deixava a camisa e a gravata aparecendo, davam-lhe um ar de mais velho, porém, era só olhar em seu belo rosto e perceber que ele não passava dos vinte e cinco anos!
-Olá senhorita Swan, chegou cedo para a aula! – disse ele amigavelmente.
-Sim, senhor... – tentei me lembrar do sobrenome dele, mas como sempre, eu não me lembrava.
-Cullen, Edward Cullen. Vejo que é uma aluna nova, seja muito bem vinda senhorita Swan.
-Obrigada. – disse voltando a minha atenção para o desenho.
Eu não sabia que desenho eu estava fazendo até tê-lo terminado... Era uma rosa.
Bonita.
Virei a página e comecei a desenhar outra coisa.
Quando o sinal anunciando o fim do intervalo soou, ao contrário do que ocorreu em todas as outras aulas, pelo que pude perceber, os alunos chegaram rapidamente à sala de aula.
Todos cumprimentavam Edward ao entrar, um toque de mãos, às vezes um abraço, as meninas mexiam nos cabelos e sorriam demais.
Ele se apresentou e pediu que um por um se apresentasse, dizendo nome e idade.
Eu podia fazer aquilo.
Edward era do tipo de professor que fala bastante e passa pouca lição escrita, talvez por isso os alunos gostam tanto dele, ou talvez por ele ser quase da nossa idade... Ele com certeza havia dito sua idade, mas eu já não me lembrava disso.
A única coisa que eu sabia que se quisesse me dar bem nessas duas matérias, precisaria de aulas extras ou teria que escrever resumos de tudo o que o professor disser.
Depois de literatura, tivemos inglês e bem, Edward era nosso professor, portanto apenas trocamos o foco da conversa.
Digo, eles trocaram, porque não acho que estava prestando muita atenção no que ele dizia.
-Olá.
Olhei para o lado e uma garota, branca, cabelos curtos e um sorriso gigante no rosto, me encarava.
-Sou Alice Brandon, seja bem vinda ao FHS.
-Ahnn, Bella Swan, obrigada. – disse dando um leve sorriso e me voltando para frente novamente.
Ela não tentou uma nova aproximação, mas acho que ela ainda iria vir até mim outras vezes.
Ao final da aula, todos se despediram de Edward como se ele fosse um colega de turma e eu fiz meu caminho para o portão de saída.
Fui até a secretaria, um dos únicos lugares que fui obrigada a decorar o caminho e entreguei para a senhora Cooper o papel assinado pelos professores, algo sobre estarem cientes da minha transferência e do meu pequeno probleminha.
-Já ligou para a sua mãe, senhorita Swan? Você pode ficar aqui enquanto espera...
-Não, obrigada, eu vou andando.
Saí da sala da secretaria e fiquei meio confusa sobre para qual lado ir... Sentei em um banco, e observei as pessoas irem em direção à seus carros, a maioria em bando, ou grupos, ou algo parecido. Alguns professores também estavam ali, conversando com alguns alunos e entre si, até agora eu me lembrava do nome de todos aos quais tive aula hoje, mas não sei se me lembraria disso amanhã sem precisar consultar meu caderno.
Edward estava ali também, conversava com dois adolescentes – um menino e uma menina – bem próximos a mim.
A garota era a que me cumprimentou durante a aula de inglês... Como era mesmo o nome dela?
Eu não me atentei à conversa, só ouvi o carinha de cabelos loiros cheio de cachinhos dizer 'boa aula, Edward'.
A escola estava quase vazia e eu precisava me lembrar para qual lado ficava a minha casa.
Levantei-me e quando comecei a caminhar para a direita, a buzina de um carro chamou a minha atenção.
Sim, era minha mãe.
-Você deveria ter me telefonado, Bella. Sabe que não pode andar sozinha por aí.
Ela continuou falando por um bom tempo, mas... Eu não estava prestando atenção, realmente.
Vagamente respondi sua pergunta sobre como havia sido o primeiro dia na escola e ignorei seu estímulo sobre 'pronta para arranjar um namorado?'.
Acho que ela tem dito isso desde que completei doze anos.
Em casa recebi uma ligação da doutora Megan, ela queria saber como havia sido meu primeiro dia e ao contrário de minha mãe, ela não aceitava um 'foi tudo bem', então gastei bons minutos tentando encontrar coerência em minhas próprias palavras e descrever como foi meu primeiro dia.
Acho que foi um bom dia, melhor do que eu podia esperar e definitivamente não foi ruim como teria sido se alguém estivesse apontando dedos e falando de mim pelas costas, me chamado de anormal, como, de acordo com meus pais havia acontecido em meus primeiros anos na escola.
Talvez aqui eu pudesse ser apenas uma garota normal.
