Título: Um passe de mágica

Autora: Gabi

Shipper: Robin/Estelar

Gênero: Romance/ Comédia

Fiction Rated: T/ eventual M

N/A: Bom, mais uma idéia simples que virou um monstrinho de sete cabeças e tentou morder meus dedos enquanto eu digitava. Ficou um "pouquinho" maior do que eu tinha imaginado, então tive que dividir em capítulos.

Obrigada à Lya (muito obrigada amiga ...) que leu enquanto eu escrevia a apontou algumas falhas de enredo que eu tentei corrigir, mas tenho lá minhas dúvidas quanto ao sucesso das correções.

1. Acho que não deu certo

- Por que mesmo nós estamos aqui? – perguntou Andy esfregando os braços com as mãos, pois acabara se sentir um calafrio ao olhar em volta e se ver cercado por túmulos. Ainda não havia se acostumado com a idéia de estar um cemitério sombrio e deserto, altas horas da noite.

- Porque cemitérios são solo sagrado. – respondeu Terry, entrando na insígnia que acabara de marcar no chão com um líquido vermelho, ao mesmo tempo em que conferia na livro a ilustração marcada no papel velho e amarelado para ver se ela estava perfeitamente reproduzida.

- Igrejas também são solo sagrado e bem menos assustadora. Nós poderíamos estar em uma.

- Claro, mas acho que o sacristão não ia gostar muito da nossa companhia.

- Está bem, mas vamos terminar logo com isso. Não gosto daqui.

- Isso ainda vai ser um problema, porque você vai passar muito tempo aqui no futuro. É inevitável. Todos nós vamos. – disse em tom quase grave, que atribuía um humor negro a afirmação - Por que você não para de tremer como se fosse uma garotinha e me ajuda aqui?

- Aqui está o que você pediu. – entregando a mochila.

- E pensar que você achou o amuleto na internet... – meditou Terry ao se lembrar de onde o ingrediente faltante para o ritual havia sido encontrado.

- O que não está na internet hoje em dia? E o duende norueguês de quem eu comprei ainda dava garantia da autenticidade dos produtos.

- Ótimo. Assim estamos realmente seguros. – disse Terry com seu tom irônico, organizando os materiais no espaço no meio da insígnia: o amuleto em formato pentagonal, um recipiente com mel, uma borboleta, uma pena de pombo, as pétalas de e... uma escova de cabelo (?) – Mas o que isso está fazendo aqui? – perguntou Terry empunhado o objeto.

- Eu peguei emprestada da Chloe. Ela ainda não sabe que eu peguei e eu pretendo devolver antes que ela descubra.

- Eu pedi "o" fio de cabelo de uma virgem, não a escova de cabelo de uma.

- Calma. Deve ter cabelo de pelo menos umas cinco "virgens" ai.

- O livro fala em "uma", não em "cinco".

- O que abunda não prejudica. – disse Andy, pegando a escova das mãos de Terry e retirando o cabelo que estava preso por entre os dentes – E não tente vir com esse papo de sabichão porque você entende tanto sobre feitiços quanto eu. Nós mal sabemos pra que esse feitiço serve e ele provavelmente nem vai funcionar mesmo. Agora, termina logo com isso que eu estou congelando aqui. – disse com uma determinação que não manifestara até aquele momento.

- Você está é morrendo de medo, seu frangote.

Assim que Terry terminou de falar, um morcego que caçava ali perto fez um vôo rasante e passou a poucos centímetros da cabeça do garoto, que se jogou no chão encolhido e se protegendo com os braços.

- E parece que eu não sou o único. – ajoelhando-se perto do amigo que também se colocava de joelhos sem graça, limpando a terra de sua roupa.

- Vamos começar. Pronto?

- Sim. – respondeu Andy abrindo o livro na página desejada para ler o encantamento – Finalmente essas aulas de latim tiveram uma utilidade.

- Mas isso não é latim, Andy. É aramaico... – comentou Terry.

- Então acho que elas vão continuar sem ter utilidade. Ainda bem que não prestei atenção a nenhuma delas.

- Percebe-se.

Terry respirou fundo. Andy definitivamente não era um dos garotos mais espertos do mundo, tampouco ele tinha qualquer intimidade com magia, mas que mal terrível um feitiço inocente poderia causar? Era a primeira vez que Terry pensava nas conseqüências do que iam fazer, pois desde que encontraram o livro antigo por acidente em um dos muitos baús da casa de Andy, jamais pensou que realmente executariam algum daqueles rituais e nem acreditava que eles poderiam desencadear alguma reação no mundo físico.

Ele e o amigo haviam reunido os materiais, estudado os rituais e invadido o cemitério por diversão, nada mais que isso. Bom, lá no fundo havia o desejo de usar a mágica para tornar as coisas mais fáceis. Terry ainda duvidava de que o "feitiço" funcionaria, mas agora começava a duvidar de sua dúvida. E se o feitiço funcionasse? E se alguma coisa saísse errada? E se eles conjurassem um monstro ou invocassem um demônio que iniciasse o processo de destruição do mundo?

Andy, por sua vez, não compartilhava dos mesmos pensamentos aflitos de seu amigo, pois ainda estava desconfortável demais com os túmulos que os rodeavam e a estranha sensação de que alguém os observava das sombras para pensar em algo que não fosse sair dali o mais rápido possível.

O ritual era bastante simples.

O garoto colocou a pena no chão e, sobre ela, afundou o amuleto de pedra na terra fofa, jogando mais terra por cima. Depois, sobre o local onde o amuleto havia sido enterrado, jogou as pétalas secas, derramou mel de modo displicente e depositou a borboleta morta ali encima, enquanto Andy continuava recitando algumas frases em um idioma estranho para os dois. Em seguida, Terry colocou fogo no tufo de cabelo que Andy havia retirado da escova de Chloe e deixou que ele se queimasse por completo enquanto eram recitados os versos finais e mais expressivos do ritual.

Eles esperaram alguns segundos e nada. Nenhum raio de luz... Nem um estalo... Nem uma ventania. Nada!

- É... Acho que não deu certo. – disse Andy encolhendo os ombros.

- Eu não disse que o mel industrial e as flores secas aromatizadas não funcionariam nunca? – disse Terry – Só mesmo na sua cabeça que nós podemos ir atualizando rituais milenares com ingredientes comuns da nossa época e esperar que funcione.

- Vai ver substituir sangue por groselha não dá certo, ou então o tal amuleto era falso. Vou pedir meu dinheiro de volta! – disse Andy fingindo alguma indignação para zombar da situação – Agora vamos embora – continuou ele dando meio volta – Vamos logo! – insistiu ao ver que o amigo não o acompanhava. Foi quando Andy percebeu a expressão de perplexidade o rosto de Terry e voltou-se para ver o que era: as asas da borboleta morta começaram a se mexer. Primeiro foi um movimento suave que Terry jurou ser fruto de sua imaginação, mas depois ela levantou por completo as asas azuladas que passou a abrir e fechar enquanto se preparava para sair voando.

Junto com o primeiro movimento das asas da borboleta, um pó brilhante se soltou e ondas concêntricas de energia foram se espalhando pela cidade sem que os garotos sequer percebessem, pois a vibração das asas mais se parecia com um vento suave.

Os garotos se entreolharam estarrecidos:

- Funcionou! – exclamou Andy – Não acredito. E você que achava que isso tudo era uma grande besteira.

- Tem certeza de que essa borboleta estava realmente morta e não sob estado de animação suspensa?

- Não venha com essa conversa. Deu certo! – vibrou Andy, pulando o pescoço do amigo para prender a cabeça desde com seu braço enquanto desarrumava seu cabelo com a outra mão – E você dizendo que não ia funcionar!

- Está bem. Está bem. Eu admito que... – a comemoração dos garotos foi interrompida, pois alguma coisa foi arremessada perto deles e caiu gemendo sobre uma lápide - ... Temos que sair daqui! – disse Terry puxando o amigo pelo braço.

Os dois mal tiveram tempo para agarras suas mochilas. Apenas correram até os arbustos ali perto e ficaram escondidos vendo a garota ruiva voar até o túmulo onde a outra garota de cabelo curto se levantava, completamente imunda com uma gosma pegajosa:

- Tudo bem, amiga Ravena? – perguntou Estelar.

- Eu estou toda gosmenta. O que você acha? – respondeu a Ravena sentada e lamentando seu estado. A garota tentou se levantar, mas percebeu que a gosma a estava prendendo. Era uma massa grudenta que ia perdendo a elasticidade quando em contato com o ar e se tornava mais fácil de romper, mas até lá prejudicava a mobilidade dos que fossem atingidos, pois eles ficavam presos à superfície na qual havia caído e tinham seus membros presos um nos outros.

Os titãs estavam enfrentando uma criatura estranha de quatro patas, com pouco mais de dois metros de dorso e tentáculos gosmentos saindo da cabeça. O animal havia sido solto por algum vilão ainda não identificado e os jovens heróis o estavam perseguindo quando o aquele, encurralado, optou por invadir o cemitério. Como defesa, o animal vomitava uma espécie de fluido esverdeado e pegajoso a uma velocidade bastante considerável, o que dificultava a esquiva. Foi um desses "tiros" que acertou Ravena e a fez bater contra a cruz de concreto que guarnecia o túmulo de um desconhecido.

- Eu vou ajudar você! – disse Estelar segurando Ravena pela mão e tentando puxá-la da gosma, mas tudo que ela conseguiu foi também ficar presa ali – Eu não consigo sair! – resmungou Estelar depois de também prender seu pé na meleca.

- Isso... Estava fácil demais quando éramos cinco. Com três vai ficar muito mais emocionante. – ironizou Mutano vendo que as duas garotas estavam momentaneamente neutralizadas pela gosma do bicho.

Os três jovens restantes se reagruparam ao redor do inimigo para tentar mais um ataque. Ao comando de Robin, Cyborg disparou vários tiros com seu canhão, mas o animal era extremamente ágil e desviou de todos eles ao mesmo tempo em que deu meia volta e vomitou sua gosma em direção a Mutano que escapou por pouco:

- Cara, isso é nojento. – comentou Mutano aliviado por ter conseguido se livrar.

Robin se aproveitou da brecha dada pela criatura enquanto ela estava tentando acertar Mutano e conseguiu pular encima dele com uma acrobacia, mas não teve tempo suficiente para armar uma de suas bombas, pois o animal girou no ar e derrubou Robin no chão, pisando encima desde durante sua fuga.

Mutano transformou-se em um grande gorila e agarrou o animal pelos tentáculos, iniciando-se um cabo de guerra entre os dois. Cyborg aproveitou-se da distração da criatura para acertá-la com um tiro do canhão adaptado ao seu braço. A criatura gemeu, largou Mutano e tentou fugir mais uma vez, mas Cyborg atirou de novo, acertando, dessa vez, na cabeça do animal que quedou imóvel no chão.

- Ufa! – suspirou Mutano já em sua forma humana - Pensei que essa coisa não fosse parar nunca.

- Você reclama demais. Nem foi tão difícil. – retrucou Cyborg ajudando Robin, que ainda estava estirado no chão, a se levantar.

- Olha só! – disse Mutano rindo e apontando para o chão onde a forma do corpo de Robin havia ficado carimbada na terra fofa.

- Isso não teve graça. – resmungou Robin sacudindo a terra que havia ficado em seu uniforme e verificando que também estava sujo com um líquido vermelho. Sua primeira reação foi pensar que era sangue, mas quando passou o a mão encima e levou até o nariz percebeu que se tratava de xarope de groselha.

- Você se machucou? – perguntou Estelar que havia arrancado a tampa do túmulo no qual havia ficado presa com Ravena. Esta, por sua vez, acabou de destruiu o resto da tampa do túmulo erevelando o caixão de madeira escura, já desgastado pelo tempo, que estava depositado lá dentro. Mutano quase teve um ataque por achar que o fantasma do morto os assombraria por causa da violação de sua sepultura.

- Não. Isto é só groselha. Mas não me pergunte como veio parar aqui.

- Acho que acabamos. – disse Cyborg amordaçando o animal para garantir que ele não voltasse a fugir até ser recolhido pelos homens da prefeitura - Vamos para casa.

- Ótima idéia. Essas meninas precisam de um banho. – brincou Mutano, mas este logo parou de rir da própria piada quando Ravena se aproximou séria. Mutano percebeu que havia exagerado com seu comentário e já estava pronto para pedir desculpas quando Ravena se jogou encima dele abraçando-o e também o sujando com a gosma.

- Você estava merecendo um abraço. - disse Ravena com sua voz rouca.

- É... acho que sim. Mas acho que agora você já pode me soltar.

- Não consigo. – disse Ravena que em seu ímpeto de sujar Mutano não havia pensado que dois ficariam colados depois do abraço – Estamos grudados. – continuou ela, arrependida de sua brincadeira.

- Como assim? – perguntou Mutano fazendo o possível para se soltar.

- Quem diria... Agora não é só o Robin e a Estelar quem estão namorando.

– disse Cyborg. Robin olhou para Estelar e riu sem graça, já que o quase fim do mundo enfrentado por eles com a ascensão de Trigon acabou ficando entre o jovem casal que continuavam sendo só bons amigos.

- Não brinca com isso, Cyborg. – choramingou Mutano, não achando graça na insinuação de Cyborg.

- Esperem um pouco. Eu escutei alguma coisa. – parando de rir e se concentrando para identificar de onde havia vindo o barulho.

- O que foi? - perguntou Estelar ficando imóvel como uma estátua e acompanhando o movimento de seu colega com os olhos, quando uma borboleta de asas azuladas pousou em seu nariz e ela rompeu o silêncio com um espirro – Desculpe.

- Tem alguma coisa por aqui... – Cyborg deu alguns passos e destruiu o arbusto na sua frente com um único golpe, revelando o esconderijo dos dois meninos apavorados que, por pouco, não acabaram levando um tiro por estarem no lugar onde um perigoso bandido deveria estar escondido.

- Nós não fizemos nada! Nós não fizemos nada! – repetia Terry.

- São só dois garotos. – disse Cyborg – O que vocês estão fazendo em um cemitério?

- Teste de coragem... – mentiu Terry - E parece que nós passamos, não é Andy? – tremendo.

- É. – concordou ele autonomamente enquanto reparava os cinco adolescentes, principalmente na alienígena de olhos verdes - Vocês moram na torre em "T"? – perguntou Andy, mais curioso do que assustado.

- Sim. – respondeu Estelar com um sorriso.

- Dá um autógrafo? – tirando um bloco e uma caneta do nada.

- Desculpe esse idiota. Ele não sabe o que está dizendo. – disse Terry puxando o amigo – Nós já estamos indo embora... – e saiu arrastado Andy enquanto ele dava tchau para Estelar com cara de bobo apaixonado.

- Olha só – disse Cyborg apontando para os restos do ritual executado pelos garotos que ainda estava no chão – Alguém estava tentando fazer uma bruxaria por aqui. Acho que isso explica a groselha.

- Que tipo de ritual usa xarope de groselha? – comentou Ravena.

- Eles estavam invocando a fada dos doces? – riu Mutano, mas ficou logo sério quando deu com a cara sem o menor traço de um sorriso da garota de cabelos azuis.

- Adolescentes... Sempre fazendo coisas idiotas para aparecer. – disse Robin em um tom de recriminação oriundo de uma pontada de ciúme, porque Estelar havia ganhado mais um integrante para seu fã clube.

- E o que você acha que é? Adulto? – replicou Ravena que até aquele instante são havia conseguido liberar seus braço, mas continuava parcialmente colada a Mutano.

- Mas eu não faço coisas idiotas.

- Não? – interrogou a garota dando um tom cético à sua voz rouca.

Robin não teve como desmentir, contentou-se em olhar feio para amiga:

- Vamos embora.

- Pra você é fácil dizer. Não está colado em ninguém. – reclamou o mutante.

- Uma ajudazinha seria bem-vinda. – completou Ravena.

- Deixa comigo. – ofereceu-se Cyborg agarrando Mutano pelos ombros – Estelar, segure a Ravena.

A jovem de cabelos ruivos seguiu o comando do andróide e ao sinal os dois puxaram os amigos cada qual para seu lado e conseguiram com que eles se descolassem.


Na torre, cada titã procurou seu canto. Ravena e Mutano estavam em pior estado, então tiveram prioridade para o uso dos banheiros.

Estelar ficou na fila, pois só havia dois banheiros na torre e ela queria tirar aquela gosma de seu braço. Cyborg tentou convencer Robin a ir até a enfermaria, mas este relutou até o fim e disse que só precisava dormir um pouco. Isso só se mais nenhum super-vilão tentasse ameaçar a segurança da cidade, senão isso ele faria. Só naquela noite eles tiveram que cuidar de três ataques distintos. Será que os vilões não poderiam fazer um revezamento? Um atacaria na segunda... outro na terça... e assim por diante, desde que o fim de semana fosse respeitado, é claro.

- Se você quer continuar teimando, ótimo. – disse Cyborg, pois não estava com paciência para continuar a tentar convencer Robin - Mas então acorde outra pessoa no meio da madrugada chorando se for alguma coisa séria.

- Que história é essa de "acordar no meio da madrugada"? Você se recarrega em quinze minuto. Não precisa dormir oito horas por noite como o resto de nós.

- E só por isso você se sente no direito de me incomodar a qualquer hora? Não é nem pela madrugada, é pela sua teimosia. – com tom de irmão mais velho passando sermão - Quantas vezes eu tenho que lembrar que... Bom, você não é de "aço". O Superman é. Você, não.

- Como se desse para eu esquecer disso. – disse Robin, não satisfeito com sua condição de mero mortal de carne e ossos – Tudo bem. Se você insiste. Eu vou mesmo ter que esperar o Mutano terminar para poder tomar banho. Vamos fazer isso logo.

- Sim senhor. O senhor quem manda. – zombou Cyborg, seguindo o garoto até a enfermaria.

De fato não era nada sério, mas demandava pequenos cuidados. Havia pequenas lesões em algumas costelas, mas elas não chegavam a estar quebradas. Também não havia muito que fazer além de enfaixar a região para protegê-la e ficar de molho alguns dias para dar tempo do corpo reagir por si mesmo. Ou isso, ou então pedir uma ajudinha para companheira Ravena cujos poderes eram sempre úteis em ocasiões assim. Mas como ela não estava muito receptiva naquela noite, o jeito era esperar até o dia seguinte.

De qualquer forma, com ou sem poderes de cura de Ravena, para Robin estava mais do que claro que ele não poderia se dar ao luxo de tirar alguns dias de folga por algo tão simples enquanto os vilões não tiravam nenhum. E, na sua cabeça, isso estava longe de ser coisa de "maluco obstinado", porque fraturar o antebraço era muito, mas muito diferente de lesionar levemente algumas costelas que não atrapalhavam em nada... Talvez em respirar, mas isso nem era tão importante.

Como esperado, Mutano, que nunca havia gostado tanto assim de banho, já havia terminado de se limpar e estava na cozinha preparando um lanche "leve" antes de ir dormir quando Robin voltou da enfermaria, ainda contrariado com as recomendações de Cyborg, mas conformado com seu propósito de não seguir nenhuma delas.

Sentou-se na borda da banheira para descalçar as botas e depositá-las em um canto. As luvas verdes já haviam ficado em algum lugar no caminho, junto com a capa, afinal de contas, aquele era um banheiro para o uso exclusivo de homens e não havia nenhuma mãe por perto para ter um enfarte fulminante ao ver as roupas jogadas no chão molhado.

Terminou de tirar o resto da roupa e a jogou ao lado do cesto dentro do qual a roupa suja deveria ficar. Depois pensou na enorme contradição da cena e voltou a recolher todas as peças que estavam jogadas e colocá-las em seu devido lugar, porque ser protetor da cidade não era desculpa suficiente para se ser desleixado. Talvez fosse desculpa para contratar um mordomo faz-tudo e discreto como o Alfred, mas isso já era outros quinhentos.

Entrou debaixo da ducha e percebeu logo que havia esquecido de tirar a máscara... de novo. Estava tão acostumado com ela que nem se lembrava de tirá-la quando preciso, já que sua vida de civil havia praticamente deixado de existir depois que se uniu aos Titãs.

Tirou a máscara de a deixou de lado, esfregando a região dos olhos.

A água, inicialmente fria, foi esquentando gradualmente até ficar bastante quente. O rapaz tomou um banho bem demorado, repassado mentalmente tudo que o grupo havia feito e já pensando em alguma forma de treinamento, pois o ataque á criatura dos tentáculos deixou bem claro algumas falhas que ainda havia na defesa dos mesmos. Só percebeu que estava demorando demais quando Mutano, cansado de esperar, começou a esmurrar a porta do banheiro, pois havias esquecido de escovar os dentes e precisava pegar sua escova. Foi só ai que Robin desistiu de gastar toda a reserva de água doce do planeta de uma só vez e desligou a ducha.

Quando terminou, o banheiro inteiro estava cheio de vapor como se fosse uma sauna úmida. Abriu caminho em meio à cortina de vapor e achou as toalhas. Enrolou uma em sua cintura, usou outra secar o cabelo, deixando-a envolta de seu pescoço quando parou enfrente à pia, mas o espelho estava todo embaçado.

Passou a mão no espelho, que ficou cheio de gotículas de água, e pôde ver sua imagem refletida: o cabelo preto bagunçado e a franja meio caída sobre os olhos azuis. Nada de diferente dos outros garotos de sua idade.

Escovou os dentes com pressa, abriu a porta e verificou se havia alguém no corredor. A barra estava limpa, então jogou a segunda toalha sobre a cabeça para se esconder e caminhou rápido até seu quarto, quando finalmente começou a sentir os verdadeiros resultados de ser pisoteado por um animal daquele tamanho.

Seu corpo estava todo dolorido. Provavelmente teria que apelar para seu "arsenal" de antiinflamatórios para levantar da cama no dia seguinte, mas já tinha se condicionado a suportar aquele tipo de dor pós-batalhas. "Suportar" claro, porque não tinha uma veia masoquista para se acostumar às contusões ou gostar delas.

Foi até o armário e pegou algumas ataduras, depois sentou-se na cama para começar a enfaixar seu tórax, encontrando certa dificuldade na realização de tal tarefa, já que a faixa deveria ser colocada de modo firme para ter alguma utilidade, mas a área ainda estava dolorida demais para receber pressão superior à de um leve toque. Prendeu a respiração e forçou mais um pouco para não precisar da ajuda de ninguém e, por um instante, passou por sua cabeça se tudo não seria mais fácil se não fosse tão orgulhoso a ponto de evitar pedir ajuda.

Quando finalmente terminou de prender a última faixa, respirou aliviado e deixou-se cair na cama com os olhos fechados.

Na verdade seus olhos já estavam se fechando sozinhos, pois o rapaz não dormia direito há pelo menos três dias. Desde que Cyborg superou todos os recordes no novo jogo de video-game e desafiou, em tom de deboche, o menino prodígio a recuperar sua antiga posição no topo da lista.

Robin encolheu-se na cama, já que metade de seu corpo ainda estava do lado de fora e virou-se de lado, aconchegando-se melhor. O colchão estava tão confortável que não faria mal continuar ali por mais alguns minutos antes de se levantar novamente para colocar o pijama. Foi relaxando aos poucos e perdendo a consciência sem se dar conta, até que voltou a despertar com o barulho da porta se abrindo e se fechado em seguida.

Sentou-se se súbito e deu de cara com a alienígena de Tamaran parada em frente à porta com uma expressão curiosa e vestida com sua roupa de dormir: um short curto rosa com duas listas brancas nas laterais e uma camiseta branca com o desenho de uma gatinha sorridente e algumas flores estilizadas.

- O Cyborg disse que você se machucou e eu vim ver se está tudo bem. Está tudo bem?

A primeira reação de Robin ao analisar a situação e lembrar que havia esquecido sua máscara no banheiro foi escorregar para o outro lado da cama, puxando o edredom que a forrava consigo, ao mesmo tempo em que procurava algo que estivesse ao seu alcance para cobrir o rosto. No entanto, calculou mal a distância e acabou caindo no chão e ficando abaixando atrás da cama. Depois de conferir que sua tolha estava no lugar, voltou a se levantar com as mãos cobrindo o rosto, deixando o dedo médio e o indicador mais separados para improvisar uma máscara:

- Estelar, você não pode ir entrando assim. – disse Robin, tão surpreso com a aparição da companheira de equipe, quanto envergonhado por estar sem a máscara, quando se lembrou que o fato de estar só de toalha poderia ser algo mais embaraçoso.

- Tem razão. – disse ela apoiando a mão no rosto em um instante de reflexão – Eu esqueci de bater. Mas vou me lembrar da próxima vez. – disse sorridente – Robin... Por que você está cobrindo seu rosto? Tem alguma coisa de errado com ele? – perguntou a jovem ruiva franzindo a sobrancelha enquanto contornava a cama com passos lânguidos.

- Não, nada. - negou Robin, mas viu logo que teria que ser mais convincente em sua explicação, já que estava literalmente na "cara" que havia algo errado – Só que estou sem minha máscara e...

- Deixa eu adivinhar: você se sente nu sem ela? – completou Estelar, rindo e terminando de dar a volta na cama para ficar do mesmo lado em que estava Robin.

- Também tem isso. – desviando o olhar para o chão sem graça - Preciso me trocar.

- Tudo bem. – dando mais dois passos e sentando-se no pequeno armário próximo da cama de Robin.

Aquela não era bem a reação que o garoto esperava, então ele continuou parado esperando que a jovem alien se levantasse e saísse do quarto, mas não parecia não estar nos planos desta fazê-lo.

- Você se importa que eu fique? – perguntou Estelar depois de alguns segundo, como se tivesse chegado a alguma conclusão absurda.

- Só se você não se importar em me ver pelado. – respondeu o menino prodígio acreditando que não poderia ter sido mais claro em sua ironia.

- Então tudo bem. – disse Estelar inclinando seu corpo para trás, apoiada pelos braços, demonstrando que não tinha intenção de sair para o desespero de Robin que continuava cobrindo o rosto com as mãos, agora também para esconder seu espanto, em total contraste com a naturalidade com que Estelar brincava de balançar seus pés, com a cabeça um pouco inclinada.

- Você não está pensando mesmo em ficar aqui, não é? – perguntou com uma ponta de desespero. Estelar não respondeu, apenas riu da falta de jeito do líder da equipe para lidar com situações que fugissem ao domínio do heróico. Foi então que ela percorreu com os olhos o corpo de Robin, parando na altura da toalha e lançou olhar enigmático como se estivessem planejando algo.

- Robin... – descendo do pequeno armário e aproximando-se do constrangido rapaz que recuou até dar com o vidro em suas costas – Se sua toalha caísse, você ia continuar cobrindo seu rosto?

- De onde você tirou essa idéia? – desesperado com a possibilidade da hipótese tratada na pergunta se realizar e, reflexivamente, segurando a toalha com as mãos.

- Não tem mesmo nada de errado com seus olhos. – concluiu ela satisfeita por sua brincadeira ter funcionado – Aliás, eles são bonitos. Não sei porque você insiste em usar essa máscara o tempo todo. – parando a poucos centímetros de Robin que estava praticamente encurralado.

- Sabia que essas bandagens fazem você parecer com os mortos da antiga civilização egípcia depois dos rituais fúnebres? – disse Estelar, dando uma pequena risada enquanto corria sua mão por sobre o peito dele até a altura da toalha e prendendo-a entre seus dedos.

- O que você... – os olhos azuis de Robin fitavam assombrados os olhos cor de esmeralda de Estelar, mas ele não pôde terminar a frase, pois teve seus lábios tomados pelos da garota alienígena que não perdeu tempo em explorar a boca dele com sua língua, depois depositou sua cabeça no obro do rapaz e passou a beijar-lhe o pescoço, começando pela base, passado pela nuca e até chegar à orelha enquanto descia suas mãos pelo quadril dele.

A respiração de Robin estava alterada e os batimentos cardíacos acelerados em uma descarga de adrenalina semelhante ao de quando estava a caça de algum criminoso, mas ao contrário do que acontecia no exercício de sua função de guardião da cidade, dessa vez o menino prodígio não estava conseguindo exercer total controle sobre seus sentidos e mal podia concatenar suas idéias a ponto de formular uma sentença que fizesse sentido:

- Estelar... você... tem idéia do que está fazendo?

- Claro que sim. – sussurrou com um tom provocante, intercalando sua fala com um beijo rápido - Isso também funciona assim no meu planeta. – continuou ela beijando-o novamente e depois recuando até a cama, onde se livrou logo de sua blusa, atirando-a encimas de Robin.

- - - - - - - - -

- Robin... Acorda! É sua vez de preparar o café. – gritou Mutano enquanto esmurrava a porta.

O garoto logo abriu os olhos assustado, mas precisou de alguns segundos para tomar consciência do que estava acontecendo. Ainda estava atravessado na cama, meio encolhido e com o rosto amassado sobre o edredom que havia absorvido a umidade de seu cabelo, o qual ainda estava molhado quando resolveu se deitar apenas por alguns instantes na noite anterior. Então era isso... Havia pegado no sono e tudo não havia passado de um simples sonho.

- Cara! – gritou Mutano novamente - Você já acordou? Eu quero panquecas!

- Não precisa arrebentar a porta. – vociferou Robin do outro lado - Eu já acordei.

- Ótimo. – disse Mutano entendendo a resposta nada amistosa como uma autorização para entrar no quarto, no que Robin puxou o edredom e enfiou-se debaixo dele. O jovem meta-humano jogou logo a máscara que Robin havia esquecido no banheiro encima da cama – Pega! Achei isso no banheiro.

- Obrigado. – agradeceu Robin feliz por poder se esconder novamente atrás de sua reconfortante máscara.

- Por que a felicidade? Você não tem outras iguais a essa?

- Tenho, mas esta é de estimação.

- Você consegue ser estranho às vezes. Agora levanta logo e vai para cozinha, antes que a Estelar ou a Ravena tentem cozinhar! – falou logo Mutano, esperando que Robin reagisse à ameaça de ter que comer a comida das integrantes femininas da equipe e achou muito estranho o estado de inércia em que permaneceu o líder dos jovens titãs - Hey! O que foi com você?

- Nada. – se enterrando novamente no edredom, fingindo um tom desanimado – Eu estou meio enjoado.

- Credo! – disse Mutano recuando e ficando apoiado no vão da porta apenas com parte do corpo para dentro do quarto para evitar qualquer contato - Quer que eu chame a mamãe-Cyborg?

- Não, pode deixar. Acho que é só uma gripe... – colocando a mão fechada sobre a boca e tossindo algumas vezes.

- "Gripe'? – seu grande temor de que se tratava de um vírus MUITO contagioso estava confirmado - Então pode ficar por ai – fazendo sinal para que Robin ficasse longe. Mutano havia ficado quase traumatizado com a experiência de ficar resfriado, trocando de forma a cada vez que espirava e preferia evitar qualquer contato com qualquer dos vírus da gripe e essa era exatamente a reação que Robin esperava - Eu preparo o café e alguém traz aqui você. Não vai precisar nem ir até cozinha. Só fica bem longe de mim.

- Se você insiste... E não deixe a Estelar nem a Ravena se aproximarem da cozinha.

>>>> continua