Disclaimer: os personagens de Harry Potter não me pertencem.
COMO UMA NINFA DA PRIMAVERA
Meu último ano em Hogwarts se aproximava a passos largos e as coisas não andavam fáceis no mundo da magia. Assim, eu agradeci quando as férias de verão chegaram e eu pude deixar um pouco da pressão para trás, apenas relaxando e aproveitando o calor.
Havia Olívia e Alex, alguns outros amigos na vizinhança, e mesmo Petúnia às vezes conseguia ser agradável - quando não estava desesperadamente tentando orgulhar Vernon, é claro. Pessoas o suficiente com quem socializar e nenhuma tarefa escolar, o que significava o paraíso na Terra, considerando meu cargo de monitora e as atribulações que vinham junto do mesmo.
A rua era agradável, tipicamente trouxa, a 15 minutos do centro da cidade, e a padaria da esquina produzia o melhor waffle do país.
Juntando tais vantagens à minha piscina, minha televisão e meu sorvete, podia denominar aquele como o lugar perfeito.
Ledo engano.
PRÓLOGO
Acordei com Petúnia me sacudindo. Estava calor e eu transpirava. O toque quente das mãos dela fez minha pele formigar.
"Anda, acorda, idiota." Ela resmungava. Sua voz impaciente parecia estar ecoando a quilômetros de distância dentro da minha cabeça, quase como se eu estivesse noutro universo.
"Não, me deixa." Empurrei-a com irritação, choramingando quando sua unha raspou contra a pele do meu braço. "Sai, Petúnia! Sério." Grunhi com mais ênfase, tentando amedrontá-la.
"Dá um tempo, aberração." Petúnia bufou, claramente desdenhando da minha atuação. Fez um movimento brusco sobre o piso. Ouvi seu salto batendo contra o azulejo. Logo a TV foi desligada. "A mamãe fez cookies, idiota! É a última vez que vou te chamar. Nem pretendia dividir com você mesmo."
"Cookies." Gemi, virando-me no sofá, os olhos ainda fechados.
Ao ouvir a palavra, logo me veio à mente a imagem da mesma. Respondendo àquele estímulo, meu estômago deu sinais de que aprovava o donativo. Estava na hora de reabastecê-lo.
"Ah, tá." Petúnia bateu o pé diante da minha letargia. Aparentemente, ela não estava familiarizada com a preguiça. Devia ser algo muito ultrapassado para seu corpinho todo 'na moda'. "Quer saber, garota? Desisto. Cate as migalhas mais tarde." E se afastou.
Eu soube que ela se afastou porque, quando estava irritada, tomava por hábito arrastar os pés. É claro, Petúnia ficava furiosa quando dizíamos que o fazia, mas não conseguia controlar o movimento inconsciente. Era uma sorte que nunca fosse capaz de ficar irritada perto de Vernon ou ela certamente já teria ido a um ortopedista.
Houve um longo instante de silêncio. Escutei mamãe rir ao fundo, provavelmente da cozinha, e me esforcei para abrir os olhos.
Bocejei enquanto me sentava.
O tempo estava abafado. O dia tinha estado quente desde o amanhecer e eu agora tinha a regata úmida de transpiração, além dos cabelos desajeitados e do rosto vermelho. Inclusive minhas suíças suavam.
Com meu short jeans e meus pés descalços e com esmalte descascando, eu era a perfeita imagem do desleixo. Afinal, o conceito de férias significava não precisar me preocupar. E isso fazia referência também ao meu estilo. Ir à manicure acabava com a minha paciência. Então, já que não havia nenhuma imagem impecável a preservar, eu podia apenas ser eu mesma: a garota ociosa, resmungona e esfomeada de sempre.
Lancei um olhar preguiçoso para o relógio pendurado na parede. Recém 14h. Minha soneca não havia tido sequer a duração de uma hora - o que parecia um pecado, sob todos os aspectos. Afinal, não havia nada para fazer desde que Olívia viajara para o interior a fim de visitar os avós paternos. Era terrivelmente aborrecido ir para a piscina sem companhia.
Arrastei-me na direção da cozinha, o único refúgio do tédio no momento.
Petúnia e mamãe estavam sentadas em frente ao balcão americano com uma jarra de limonada. O ventilador de teto fazia suas franjas voarem. Colocavam a fofoca em dia. Elas tinham tanto assunto que poderiam falar por semanas.
"Ei, filhas mais novas e cachorros primeiro." Disse quando vi Petúnia estender a mão para pegar um cookie. Corri na sua direção e tomei o banco ao seu lado, acotovelando-a para pegar o primeiro pedaço, rapidamente levando-o à boca.
"Ai, sua selvagem!" Reclamou Petúnia, massageando as costelas atingidas. Puxou o meu cabelo e eu gemi em resposta.
"Piranha." Rebati, mas minha boca cheia fez com que farelos voassem para todos os lados, inclusive na direção da mamãe, que se protegeu com a revista de moda que estivera olhando nos últimos dois instantes, antes de eu invadir o ambiente.
"Garotas, tem o suficiente para saciá-las." Ela disse, pacientemente. "Agora, não fale com a boca cheia, Lily. Eu sei que você e Olívia andaram treinando bastante para agir como homens, mas apenas vocês duas acreditam que esse seja um experimento interessante. Eu particularmente vejo como repulsivo." Revirou os olhos.
Petúnia bufou, o que significava que concordava, e pegou um biscoito para si.
"Feriu meus sentimentos, mãe." Resmunguei, enchendo um copo de limonada. "É tudo em nome da ciência. Tudo em nome da ciência." Repeti, bebendo um gole.
"Pela ciência é o sacrifício que eu faço aturando você, seu filhote de macaco vermelho." Petúnia apontou o dedo ossudo na minha direção. Fez um bico com os lábios. Tinha migalhas de cookie grudadas no canto da sua boca e sobre o batom vermelho que usava. "Já disse pra deixar o meu secador de cabelo em paz."
"Não sou eu, é ele." Rebati, aparentando ultraje. "Nós temos uma relação de obsessão aqui, Petúnia. Minha recomendação é de que você devia levá-lo a um psicólogo. Ele realmente, realmente me ama. Diz que foi feito para mim. Não tenho culpa por suscitar esse tipo de propulsão. Você sabe, tudo o que eu fiz foi nascer."
"Yeah, o que você disser." Petúnia me lançou um olhar por sob os cílios, indiferente. Voltou-se para mamãe. "Eu vou sair hoje à noite. Há uma festa na empresa de Vernon. Eu estava pensando se a senhora me emprestaria a saia..."
"Não." Respondeu mamãe, sem sequer precisar pensar. Nem levantou os olhos da revista, melhor dizendo. "Querida, nós combinamos de ficar restritas aos nossos próprios armários. Você parece ter o dom para manchar tudo que é meu. Sinto, mas é a verdade. Então, não. Você não vai pegar a minha saia vermelha nova." E sorriu, angelical como só ela.
"Mas, mãe..." Petúnia choramingou.
Ela sempre vinha com o mesmo papo. Começava enrolando, conversando sobre algo desinteressante e então, pimba, lá estava Petúnia pedindo acesso ao guarda-roupa proibido. Talvez porque ainda tivesse a esperança de conseguir pegar mamãe distraída.
Mas eu a entendia, é claro. Mamãe estava bastante enxuta para alguém da sua idade. E tinha um senso de moda muito apurado. Vestia-se muito bem. Calçava-se muito bem.
Acaso do destino ou não, nós três calçávamos o mesmo número. Dependendo da roupa, vestíamos também o mesmo manequim. Exceto que eu tinha os seios e os quadris um pouco maiores que os de Petúnia, que estava sempre muito preocupada em manter o peso perfeito.
Também sofria das restrições de cada macaco fashion no seu galho da moda.
"Vai chover ou algo assim?" Perguntei, agarrando outro cookie. "O calor está insuportável. Nós precisamos de um alívio divino. Será que Deus recebe telegramas?"
"Nunca conheci ninguém que houvesse tentado." Disse mamãe, sorrindo. Tomando um gole de limonada, virou uma página da revista. Ao meu lado, Petúnia continuava fazendo beiço. "Quando Olívia volta?" Indagou. "Paige está começando a acabar com a minha paciência."
Paige era a melhor amiga de Petúnia. Ela conseguia ser ainda maisirritante que Petúnia. Seu penteado perfeito era irritante, sua voz era irritante e até sua maneira impecável de se vestir era irritante. Além disso, o jeito como se achava superior porque havia ganhado um carro era, ah, deixa eu pensar, tremenda, estrondosamente irritante.
Passar um dia com ela era a mesma coisa que ir ao inferno e voltar.
Para azar da mamãe, Paige parecia adorá-la. Em todas as vezes em que havia visitado a nossa casa – e que haviam sido muitas, deixe-me acrescentar–, fizera questão de declarar sua admiração. Aparentemente, mamãe havia realizado seu sonho: tivera duas filhas e mantivera o corpinho irreprochável.
Não era à toa que a paciência dela começava a acabar. Babação de ovo podia ser tão irritante quanto menosprezo algumas vezes.
"Paige é ótima." Rezingou Petúnia, mal-humorada. "Só é um pouco efusiva, o que não é nenhum pecado. Que eu saiba." Declarou, olhando-me com impaciência, certamente esperando por uma réplica. Reiterar suas afirmações era meu passatempo preferido.
"Efusiva, hein?" Sorri, sarcástica. "Pra mim isso é um novo sinônimo para vadia-puxa-saco-de-saia-engomada." Juntei uma migalha na forma, levando-o à boca. "Engomar a saia, sério?"
"Classe nunca é demais, ora essa." Ela enrugou o nariz, empinando-o.
Eu estava pronta para dar uma gargalhada forçosamente exagerada quando a campainha soou. Nós nos olhamos, silenciosamente decidindo quem cumpriria com as formalidades exigidas. Não estávamos esperando visitas, assim, estávamos um caos de suor e farelos.
"Lily vai." Mamãe disse de repente, a voz suave, e Petúnia me lançou um olhar superior, porque sabia que não devia se gabar oralmente. Na maioria das vezes, fazê-lo resultava em ter as vantagens concedidas negadas no mesmo instante.
"Isso é abuso de poder." Reclamei enquanto me levantava e seguia com passos pesados até a porta. Sacudi a blusa e arrumei o cabelo para tentar parecer mais apresentável.
"Ah, bem, processe-me." Falou mamãe da cozinha.
Praguejei baixo ao abrir a porta.
Parei em frente à mesma, surpresa. Na soleira, havia uma senhora gorducha de cabelos castanhos, boca pequena e rosto úmido. Usava um vestido floreado e tinha uma pulseira em torno do pulso, a qual me chamou a atenção por causa do reflexo do sol nos cristais transparentes.
Pisquei. Provavelmente a vizinha nova, conclui. A casa ao lado da nossa estava para vender fazia dois anos. A vizinhança era boa, mas assim que os interessados descobriam que a última moradora havia morrido ali dentro, vítima de um ataque cardíaco, todas as propostas desapareciam quase imediatamente.
"Olá. Posso ajudá-la?" Perguntei, educada.
"Ah, querida, olá. Eu sou a Srta. Green. Mudei-me recentemente para a casa número 27. Será que você se importaria de me deixar usar o seu telefone? Eu e meu bebê estamos famintos e ainda não fomos ao supermercado." Pediu, dando-me um sorriso agradável.
Dei uma olhada por sobre o ombro. A sala não estava muito arrumada, mas não havia nada comprometedor espalhado por sobre o sofá, o que devia significar segurança.
"Claro, Srta. Green." Anuí, amigável. "Sinta-se à vontade." Estiquei o braço na direção certa e ela sorriu e sacudiu a cabeça num agradecimento mudo, seguindo pelo hall. O local ficava consideravelmente menor diante do seu tamanho, de modo que eu me espremi contra a parede.
Mamãe saiu do seu esconderijo ao perceber que o território estava sendo invadido e se adiantou para socializar. Ela adorava novos vizinhos. Significava novas fofocas.
Retornei para a cozinha. Petúnia havia se apropriado da revista e da bandeja de cookies e tinha uma expressão de desgosto no rosto enquanto virava as páginas de maneira agressiva – ainda estava aborrecida por não conseguir a chave do guarda-roupa.
"Quem é a estranha?" Ela perguntou, sem erguer a cabeça, enquanto eu passava reto e seguia até o refrigerador. Era chegado o momento de alimentar o meu vício.
"A vizinha nova." Disse, abrindo a porta atrás do meu sorvete de flocos. "Ah, não, Petúnia!" Gritei, quando vi o refrigerador vazio. "Você devorou o meu sorvete de flocos outra vez?" Esbravejei, virando-me para encará-la, furiosa. "Se você quiser monopolizar o secador, exijo os mesmos direitos para o sorvete de flocos!"
"Não canse a sua voz gritando comigo, idiota." Ela nem mesmo teve a dignidade de erguer a cabeça. "Foi o papai quem evaporou com o seu estoque ontem à noite. Sinto muito." Então levantou o queixo, um sorriso cínico no rosto. "Pensando melhor, não, não sinto não."
"Monstro do pântano." Rugi, o rosto em chamas.
"Cabeça de fósforo." Ela respondeu, sem se afetar. Empurrou a bandeja de cookies para o lado e apoiou o cotovelo sobre a bancada.
"Cuidado comigo, caveira amaldiçoada." Apontei o dedo na sua direção, o que ela fez questão de desdenhar com um arquear de sobrancelhas. "Porque eu sou altamente inflamável!" Gritei, caminhando com passos forçosamente pesados para a saída da cozinha. Bater pé era a minha estratégia infalível para tirar mamãe do sério.
Funcionou, é claro, embora a ideia inicial houvesse sido perturbar Petúnia, que não saiu do seu estado catatônico. Mamãe ergueu a cabeça e fez uma careta que significava 'Conversinha no mais tardar' e foi o suficiente para fazer desaparecer a minha indignação.
A Srta. Green, apesar dos ruídos propositais, estava sorrindo, o que era bastante simpático, e sacudiu a cabeça num sinal de reconhecimento. Aparentemente, havia se tornado a nova melhor amiga da mamãe. Em menos de cinco minutos, elas já estavam sentadas uma de frente para a outra, com os corpos inclinados como se atraídos por um ímã, o que só podia significar intercâmbio de informações quentes.
"Estamos sem sorvete." Anunciei, parando em frente à mesa de centro, levando os braços à cintura, com a minha melhor expressão de seriedade. Estar sem sorvete era o meu equivalente para 'o Big Ben desabou', 'acabou o papel higiênico' e 'está frio demais para sair da cama'.
"Bem, pegue a sua mesada e vá comprar outro." Disse mamãe, indiferente.
"O quê? Você não pode me fazer gastar a minha mesada com comida!" Reclamei, chocada. "Você sabe quanto custa um vestido novo, o esmalte do momento ou a sandália que eu quero comprar desde o mês passado? Milhões. Estou juntando até as minhas últimas moedas. Preciso de uma ajudinha aqui, mãe."
"Seu pai já comprou dois potes de sorvete para você nesse mês, Lily. Colocar um filho no mundo significa alimentá-lo, não alimentar seus vícios." Mamãe falou, sem se compadecer. "Se você quiser outro pote de sorvete, bem, pois vá comprá-lo."
Pisquei, incrédula. Nós estávamos entrando na ditadura do sorvete.
"Que fique registrada a minha indignação." Resmunguei, caminhando para a saída. Calcei os chinelos enquanto abria a porta. "Vou fazer um protesto! Não esperem por mim!" Gritei, já na soleira de entrada, mas enfiando a cabeça para o hall.
Amarrei o cabelo num coque frouxo, ajeitando a alça da regata que caía pelo ombro, e enfiei a mão no bolso atrás de alguns trocados.
Administrar a minha mesada era muito mais difícil quando não estava em Hogwarts. Significava muito tempo livre para olhar vitrines e ler revistas da moda. Conseqüentemente, muito tempo livre para alimentar novas ambições com relação ao mundo material.
Era difícil a vida de uma adolescente da classe média.
Dei alguns passos na direção do mercado antes de me chocar com alguém. O impacto me fez cambalear, mas uma mão quente e úmida segurou o meu braço, impedindo-me de cair para trás. Minhas moedas se espalharam por todos os lados.
Ergui a cabeça, os lábios torcidos diante da situação desagradável, e fiquei sem palavras. Aquele rosto gorducho e de dentes levemente proeminentes, a sombra de cavanhaque e os cabelos castanhos claros e ralos. Ah, meu Deus. Eu sabia que a Srta. Green me lembrava alguém, mas não acredito que fosse Peter Pettigrew.
"Evans?" Ele perguntou, igualmente surpreso, e pareceu envergonhado, soltando-me no mesmo instante.
Olhei para o local de onde ele saíra. A casa recém-comprada ao lado da minha. Havia alguns móveis ainda espalhados pelo jardim dianteiro e um pequeno sofá de dois lugares sobre a varanda. A mudança não havia terminado.
"Você é o meu novo vizinho." Concluí, a voz fria, tentando disfarçar a incredulidade.
"Ah, hmm, sim." Aparentemente, viver numa vizinhança trouxa o constrangia, porque havia um corado intenso nas suas bochechas, que certamente não era causado por minha causa. Nós éramos tão próximos quanto Pólo Norte e Pólo Sul. "Meus pais se divorciaram e..."
"Está bem." Interrompi, gesticulando. Não queria sequer ser inteirada dos motivos da sua mudança. Diálogo significava dar abertura para um princípio de camaradagem e, definitivamente, eu não queria nenhuma camaradagem com alguém com quem pretendia evitar contato. "Então, boa sorte na mudança." Sinalizei o sofá esperando para ser erguido e comecei a juntar minhas moedas.
"É, tá." Ele disse, coçando a cabeça. Abaixou-se também. "Desculpa. Deixa eu te ajudar." Murmurou, ainda hesitante. Ele tinha quase tanto medo de mim quanto tinha do monstro debaixo da cama.
Nós terminamos a tarefa em menos de 30 segundos e logo seguimos nosso próprio caminho sem trocar mais nenhuma palavra. É claro, a descoberta serviu para terminar de perturbar meu humor. Porque Peter Pettigrew significava, pelo menos em pequena escala, James Potter. E James Potter era um nome que eu costumava manter em stand by durante as férias, para não me aborrecer.
Suspirei, virando a esquina, e logo vi um carro parado em frente ao estacionamento da casa de Olívia. Era sinal de que ela havia retornado da sua visita à família no interior.
Vibrei internamente. Com Olívia de volta, os meus dias de ócio solitários estavam sendo enterrados. Nós éramos as mestras em lagartear sob o sol quente da manhã e conversar sobre assuntos absolutamente irrelevantes, nunca nos entediando.
Sr. Strauss estava retirando as malas do porta-malas e sorriu ao me reconhecer. Obviamente, com os meus cabelos vermelhos e as sardas no meu nariz, eu era tão reconhecível quanto um elefante roxo.
"Lady Lily, a duquesa das chamas!" Cumprimentou-me com um aceno de cabeça e o habitual apelido, o qual sempre me fazia resmungar de indignação. Ele sabia que eu odiava a analogia ao fogo. Era sempre a piada mais comum. "Pode entrar. Olívia acabou de subir. Ela ia trocar de roupa e ir para a sua casa, mas pelo visto você consultou a sua bola de cristal hoje." Piscou, jogando a alça de uma bolsa no ombro e batendo a tampa do porta-malas.
"Sempre um piadista, Sr. Strauss." Respondi, irônica, provocando-lhe risos. "Lembre-me de sugerir à Sra. Strauss para levá-lo a um circo. Você ia se sentir em casa." Dei um sorriso torto por cima do ombro conforme começava a subir os degraus que levavam ao alpendre. "Com todo o respeito, é claro." Adicionei.
"Vá brincando, vá brincando, mocinha." Ele disse, a voz alta, e eu ri.
Subi as escadas para o andar superior, rapidamente chegando ao quarto de Olívia. Era o único com uma porta verde neón. Ela havia convencido seu pai a lhe dar permissão para pintá-la depois de depená-lo no pôquer. Nós costumávamos jogar pôquer nas sextas, apostando balas, tarefas domésticas e prendas vergonhosas. A Sra. Strauss era um desastre nos jogos, mas o resto da família representava muito bem o seu papel. Quase nunca era capaz de ganhar deles.
Dei uma leve batida contra a madeira e logo girei a maçaneta. Olívia estava pulando sobre o chão, tentando fechar o botão do seu short jeans, que não parecia colaborar. O cabelo preto e o rosto vermelho e suado formavam um contraste gritante, o que me fez rir, chamando sua atenção.
"Você só vai entrar aí se for comprimida a vácuo, fofa." Disse, cruzando os braços e me escorando contra o batente.
"Pois... Ufa, ria, queridinha." Ela bufou, cansada, e parou de pular. Seus braços caíram molemente ao lado do corpo. "Desfiado agora voltou à moda. Eu vou vestir esse short nem que precise passar horas sem respirar!"
"Cerca de um ou dois minutos, você quer dizer." Reiterei, arqueando as sobrancelhas. "Três, se você for um nadador proficiente. Mas nós duas sabemos que você não segura o fôlego por mais de dois minutos. Nem adianta tentar. A menos que pular agora seja um novo ritual de emagrecimento." Acrescentei, sarcástica, o que fez com que ela me lançasse um olhar mortal.
"Meu corpinho é divino. Não há o que tirar nem pôr." Olívia disse, revirando os olhos. Começou a tirar o short. "Quer saber? Vou colocar fogo nisso." Resmungou, sacudindo o dito-cujo.
"Deixa o short pra lá." Caminhei na sua direção, agarrando-o, e o joguei sobre o sofá. "Põe um biquíni e vamos lá pra casa." Sugeri, abrindo uma das gavetas do armário, tirando dali um biquíni rosa. "O dia está ótimo pra pegar sol na beira da piscina. E depois podemos fazer um espaguete pro jantar. Papai e mamãe jantam fora hoje à noite."
Papai e mamãe tinham um trato: eles tinham um encontro e iam a um lugar diferente toda semana. Diziam que era para manter viva a chama do relacionamento.
Isso significava uma noite de liberdade. Liberdade geralmente resultava em encontro noturno com as garotas, um filme qualquer, pipocas, às vezes alguns jogos de azar e alcoólicos, se alguém tivesse a coragem de assaltar o bar dos pais. Petúnia nunca atrapalhava. Aproveitava o tempo ganho para ficar até tarde na casa de Vernon, fazendo Deus-sabe-o-quê.
"Tá, tá." Olívia arrancou o biquíni da minha mão, começando a se despir. "Mas eu só topo se nós formos à sorveteria depois. Meu nível de glicose está baixíssimo. A vovó é diabética e a única coisa doce que tem naquela casa é açúcar!" Fez um bico, frustrada. "É pecado privar uma viciada do seu vício."
"Yeah." Murmurei, revirando os olhos. "Anda logo, bebê chorão. O sol não vai esperar o dia todo."
"Só mais umas três horas, né." Rebateu Olívia, irônica.
N/A: Sempre quis escrever uma longfic desses dois! Aproveitei a chegada do verão para me inspirar :)
Vai se passar durante as férias que antecedem o último ano, portanto não irei trabalhar muito com o mundo da magia e o futuro tenebroso que espera nossos protagonistas.
Aviso desde já que Lily pode estar eventualmente OOC. Gosto daquela personalidade exageradamente explosiva, mas cansei de ler gritos de "É Evans, Potter! Evans!", então irei torná-la um pouquinho mais tolerante e impassível aos aborrecimentos proporcionados pela trupe Marota. Mas veremos mais sobre isso adiante.
Deixem seus comentários. Nos vemos em breve!
