Intrometida

Não consigo olhar no fundo dos seus olhos
E enxergar as coisas que me deixam no ar, deixam no ar
As várias fases, estações que me levam com o vento
E o pensamento bem devagar

Botan ajudava os rapazes numa luta contra alguns youkais. Hiei, Kurama, Yusuke e Kuwabara lutavam com afinco e estavam vencendo, mas o fato de Botan estar no meio da luta os distraia constantemente.

No momento em que ia ser atingida por um dos youkais, Hiei a salvou, tirando-a do caminho. A jovem, com a certeza de ser atingida, fechara os olhos. Quando voltou a abri-los, se deparou com os olhos vermelhos do koorime.

- Obrigada, Hiei. – Ela disse sorrindo aliviada. Hiei colocou-a no chão.

- Já lhe disse para se afastar daqui, onna. – Respondeu com sua grosseria costumeira.

- Não posso, Hiei. – A jovem falou consternada. – Quero ajudar vocês.

- Você não está ajudando, onna. – Ele reagiu com raiva. – Você se intromete na luta e toda hora temos que socorrê-la. O que nos toma tempo e pode colocar todos em perigo. – Hiei nunca admitiria que se preocupava com o bem estar dela, que a queria longe da luta. Preferia deixá-la com raiva do que vê-la morta.

- Me desculpe, Hiei. – Botan disse baixando os olhos, triste. – Realmente sinto muito. – Depois disso a jovem subiu em seu remo e sumiu entre as nuvens. O koorime se sentiu culpado, mas era melhor assim. Ele continuou lutando com os outros.


Outra vez, eu tive que fugir
Eu tive que correr, pra não me entregar
As loucuras que me levam até você
Me fazem esquecer, que eu não posso chorar

- Você viu a Botan por aí, Hiei? – Perguntou Kurama quando já haviam terminado a luta. – Ninguém sabe onde ela está.

- Foi embora. – Respondeu o youkai.

- Embora? Como? – Kurama ficou surpreso. – Quando ela foi? Não avisou ninguém.

- Mandei ela ir embora durante a luta. – O youko encarou-o.

- Espero que você não tenha sido muito estúpido com ela, Hiei. Mas acho que deve ter sido, ou ela não teria ido embora desse jeito. – Kurama estava zangado com o amigo. – Você parece não aprender que as pessoas como Botan têm sentimentos e se magoam com facilidade. Será que não pode tentar ser mais gentil? – Hiei se aproximou do amigo com um sorriso irônico.

- É? Isso é tudo muito bonito, Kurama. Mas se não fosse pela minha grosseria, aquela baka onna teria ficado aqui, tentando nos ajudar e acabaria morrendo. Se não fosse a minha falta de gentileza, o corpo dela poderia ser mais um dentre esses que temos que enterrar. Você fala de sentimentos e todas essas bobagens, mas eu não ligo de ser um vilão desajustado se isso for mantê-la viva. Portanto, se você não gosta da minha atitude, me processe. – Hiei dissera tudo isso de uma só vez, sem deixar que o amigo o interrompesse. Kurama fitava-o surpreso.

- Você a ama, Hiei. – Disse o youko simplesmente, com um leve sorriso no rosto. Hiei ficou vermelho.

- Não seja ridículo. – Ele respondeu começando a se afastar.

- Você a ama, Hiei. Admita!

- Cale a boca, raposa! – Disse Hiei, que usando sua velocidade estava parado na frente de Kurama. – Nunca mais diga isso! Ainda mais nesse volume.

- Então você admite? – Kurama sorria diante do nervosismo de Hiei. – O que tem demais? Vocês são solteiros. Não é nenhuma vergonha amar Botan. – O koorime suspirou.

- Não é uma simples questão de vergonha. Não temos nada em comum. – Respondeu Hiei com um tom levemente triste. – Como você disse, não sou gentil. Não posso ser o tipo de pessoa que ela merece. – O koorime voltou a se afastar.

- Mas talvez você seja a pessoa que ela queira. – Disse Kurama num sussurro, e apesar de ouvir isso, Hiei não parou de se afastar.


Olhe bem no fundo dos meus olhos
E sinta a emoção que nascerá quando você me olhar
O universo conspira a nosso favor
A conseqüência do destino é o amor, pra sempre vou te amar

À noite, Hiei estava quase cochilando em sua árvore, quando ouviu passos se aproximando.

- Hiei. – O koorime quase caiu da árvore ao ouvir aquela voz chamar seu nome. – Está acordado? – Por um momento ele pensou em ignorá-la, mas não conseguiria fazer isso.

- O que foi, onna? – Ele perguntou sonolento.

- Você pode descer? Preciso falar com você. – Com um pouco de preguiça, o koorime desceu e sentou-se encostado à árvore.

- O que foi, onna? – Botan ajoelhou-se na frente dele com um sorriso envergonhado.

- Eu... Eu queria pedir desculpas porque ouvi algo que acho que você não queria que eu ouvisse. - - Hiei fitou-a confuso. – Depois da luta eu fiquei voando por perto para o caso de vocês precisarem de ajuda e... Ouvi sua conversa com Kurama. – O coração de Hiei pareceu parar de bater por um momento.

- O que você ouviu, onna? – Perguntou Hiei sem conseguir compreender totalmente o que ele dizia.

- Tudo. – Ela respondeu ruborizando. – O koorime teve que fazer um esforço para não reagir e sair dali sem falar mais nada.

- O que faz aqui, então?

- Eu.. queria deixar claro que não cabe a você decidir se você é o tipo de pessoa certa para mim. – Hiei ficou surpreso. – Sou bem grandinha, Hiei. Essa decisão é minha. – Ele não podia acreditar. Esperava que ela se afastasse dele ao saber de tudo, afinal ele era um assassino. Com certeza não esperava o que estava acontecendo.

Mas talvez, você não entenda
Essa coisa de fazer o mundo acreditar
Que meu amor, não será passageiro
Te amarei de janeiro a janeiro
Até o mundo acabar
De Janeiro a Janeiro...

[De Janeiro a Janeiro – Roberta Campos e Nando Reis]

- E então? – Foram as únicas palavras que ele conseguiu reunir forças para pronunciar.

- E então que eu acho que você está se subestimando. – A jovem sorriu abertamente para ele, o que fez com que ele ficasse vermelho novamente. – Eu acho que você é muito mais do que imagina ser.

- Não entendo o que você quer dizer com isso. – Hiei tinha medo de se iludir, afinal sabia que não devia confiar em ninguém.

- E eu que sou a baka onna. – Sorrindo Botan puxou-o pela camisa e uniu seus lábios, deixando-o chocado. Mas bastaram alguns segundos para que o koorime reagisse, e correspondesse ao beijo. – Deu pra entender agora? – Ela perguntou quando se separaram. Hiei apenas encarou-a. – O que foi?

- Você é louca, onna. – Respondeu com um pequeno sorriso.

- Mas isso você já sabia. – Botan não conseguia parar de sorrir. Hiei voltou a beijá-la. Depois poderiam conversar a respeito do que ela quisesse. No momento o koorime não podia acreditar na sorte que tinha por Botan ser uma intrometida.