Agalma

Por Pearl-chan e FranHyuuga

Capítulo 01

"A dor de perder alguém"

A noiva ainda não se encontrava pronta para a cerimônia. Estava em um quarto amplo com paredes brancas e móveis de cor marfim. A cama era espaçosa e forrada com um edredom branco que continha detalhes em dourado nas barras. Os travesseiros sobre ela davam-lhe um aspecto confortável. As laterais da cama eram adornadas por criados-mudos. Sobre uma cômoda na extremidade do quarto havia dois porta-retratos.

Apesar de amplo e aconchegante, o quarto, naquele momento, nada transmitia à noiva que se sentia solitária e vazia. Ela caminhou com passos vagarosos em direção à cômoda e observou as fotos ali presentes.

Em um porta-retratos havia o registro de um dia feliz ao lado da irmã mais nova. Lembrava-se daquele dia... O sol as acompanhou quando juntas brincavam na areia fina da praia. A noiva ousou riscar um sorriso enquanto observava as madeixas castanhas da irmã, tão diferentes das suas em tom negro-azulado. Os olhos perolados, no entanto, eram semelhantes.

No outro porta-retratos havia a imagem daquele que lhe roubara a alma. A pessoa responsável em grande parte pela tristeza que sentia naquele momento. Ela apanhou o objeto apenas para aproximar seus olhos dos traços daquele homem como se o gesto lhe garantisse estarem juntos. Seus dedos dançaram sobre a imagem de um rapaz de óculos com a face um pouco oculta pelo grosso casaco que trajava. Ao lado dele estava a imagem de si própria, sorrindo verdadeiramente como nunca fizera em outras ocasiões.

Lágrimas começaram a brotar de seus olhos perolados enquanto ela observava a foto em suas mãos. Era muito ruim pensar que poderia ser a única lembrança que lhe restara daquele rapaz junto consigo. Seu corpo poderia vir a pertencer a outro, mas sua alma e coração pertenciam ao rapaz do retrato.

Andou alguns passos até chegar frente ao espelho. Os olhos maquiados começaram a borrar devido as lágrimas.

- Shino... – A jovem balbuciou com seu tom de voz melancólico, infeliz e choroso. Aquilo não poderia estar ocorrendo! Ela sabia não ser um sonho, mas desejava muito poder abrir os olhos e ver que a pessoa com a qual se casaria era o homem que ela realmente amava. Mero desejo. Ela estava desperta.

Com o retrato ainda em mãos ela começou a analisar sua imagem refletida no espelho. Seu penteado e maquiagem devidamente arrumados, faltando-lhe apenas colocar o vestido. Relutantemente, abandonou o retrato sobre a cama e pôs-se a concluir sua aparência.

Os cabelos eram presos ao alto com algumas mechas cacheadas sobre os ombros nus. Sobre o topo, uma tiara de cristais e miúdas perolas enfeitava-lhe e destacava o tom distinto de seus cabelos. A franja que comumente usava reta, desta vez estava de lado. O vestido branco de cetim não tinha alças e era justo no tronco, revelando curvas sinuosas. Na área do busto havia um bordado com pérolas e o restante do vestido era liso sem nenhum outro adorno. Ela estava linda. Mas não se sentia assim. Fitava a si própria no espelho sem reconhecer sequer um resquício de alegria ou satisfação.

Com uma das mãos tocou seu pescoço e lembrou-se faltar o item que tinha recebido de seu pai para a ocasião. Uma gargantilha de pérolas. Foi até o criado-mudo e apanhou a caixa negra aveludada na qual se encontrava a gargantilha, abriu-a e retirou-a. Prostrou-se novamente em frente ao espelho e levantou um pouco as mechas de cabelo que desciam pelo pescoço para colocar a gargantilha. Notou, então, uma lembrança temporária de Shino. Pousou a mão sobre um hematoma na curva de seu pescoço recordando nostalgicamente os lábios dele lhe puxando a pele alva na noite passada. Aquela marca física sumiria com o tempo, mas os registros de sua memória perdurariam por toda a sua vida.

Ao lembrar-se do ocorrido na noite passada a jovem sentiu um calafrio percorrer seu corpo. A lembrança de Shino beijando-a de forma avassaladora foi o suficiente para aquecer seu corpo por inteiro e frustrá-la ao constatar que aquele poderia ser o último contato que teria com o amado, pois depois de algumas horas ela estaria casada com seu primo Hyuuga Neji sob ordens inquestionáveis de seu pai, Hiashi.

Apesar de sorrir enquanto tocava a marca arroxeada de seu pescoço, sentia-se preocupada, pois se não soubesse ser discreta o futuro marido poderia notar e tratando-se de Neji as consequências seriam possivelmente desastrosas. No mesmo instante outra preocupação a atingiu: ela se casaria e, então, sucessivamente teria que pertencer a outro. O quarto do casal seria o mesmo que se encontrava após a cerimônia. E a cama na qual repousava o retrato de Shino seria a mesma em que se entregaria a Neji.

Assustou-se e sentiu-se nauseada com as constatações as quais chegava. Rapidamente, tomou o retrato em mãos, olhando-o mais uma vez. Deixou que uma lágrima escorresse dos olhos e caísse sobre o vidro. Não poderia ter aquele retrato exposto ou Neji exigiria satisfações, afinal, ele sabia de seu namoro com o rapaz do retrato e reconhecia que o término foi consequência do casamento arranjado. Escondeu-o no closet, por baixo de alguns objetos de artesanato. Era um local seguro, pois ninguém mexia naquelas coisas além dela.

Decidiu não pensar no que seguiria após a cerimônia. Não teria saída. Precisava casar-se por bem, ou seria obrigada a fazê-lo por mal.

Caminhou até o banheiro da grande suíte e pegou alguns lenços arrumando a maquiagem borrada. Aprontou-se e encarou-se novamente frente ao espelho afirmando a si mesma que de nada adiantaria chorar, ao menos naquele dia.

Melancólica, ela lembrou de como sempre desejara casar-se e ironicamente, ao contrário de todas as noivas, não estava contente, muito menos radiante como se imaginava. Não era o dia dos seus sonhos e não estava se casando com o homem que amava. Tentou esboçar um sorriso falso, mas nem para isso ele servia. Não enganaria ninguém com um sorriso daqueles, nem mesmo as pessoas que não conhecia acreditariam que estava feliz.

Ouviu batidas na porta do quarto despertando-a de seu enclausuramento pessoal.

- Hinata... ? – A voz de sua irmã soou através da porta como se pedisse uma permissão para adentrar no quarto.

A noiva mudou a expressão um pouco, tentando parecer mais serena e tranquila. Não deixaria que a irmã desconfiasse do que estava passando.

- Pode entrar... – Ela disse. – Estou quase pronta, só falta colocar o véu. Poderia me ajudar?

A irmã estava elegantemente trajada para uma festa de requinte: seu casamento. Era tão ruim para a jovem lembrar-se das expectativas que lhe envolviam. Poderia ser um aniversário ou uma outra festa, mas era seu casamento. Um casamento que não desejava.

A Hyuuga mais nova aproximou-se da cama e pegou o véu devagar. Andou até a irmã mais velha com um sorriso nos lábios, mas o deixou murchar ao notar os olhos dela inchados. "Ela estava chorando", concluiu.

- Hinata... – Começou a mais nova respirando fundo, tentando não ser rude. – Você tem que esquecer o Shino... – Olhou para a imagem de Hinata refletida no espelho. – Você vai se casar com o Neji. Hoje é o dia do seu casamento, deveria estar feliz. Olha... como você está linda.

A noiva sentiu seu coração esmagar diante do impacto das palavras da irmã. "Esquecer Shino?", refletia frustrada. Um pedido injusto e demasiado grande para que Hinata fosse capaz de atender. Podiam pedir a ela que cessasse as lágrimas e subisse ao altar ao lado de Neji, mas jamais exigirem que Shino fosse esquecido. Isso era demais para si!

De maneira inesperada até para si mesma, Hinata levantou-se e encarou sua irmã com o cenho franzido notando o olhar surpreso da mesma. As palavras que saltaram dos lábios da noiva eram ácidas, mas o timbre de sua voz permaneceu suave como lhe era característico:

- Esquecer!? Não, Hanabi! – Falou como uma mãe que repreende a própria filha. – Eu jamais esquecerei Shino! Ele é a única pessoa a quem amei... E amo! Com todas as minhas forças, eu o amo. – As lágrimas novamente passaram a molhar o rosto pálido da noiva sendo assistidas por Hanabi que estava atônita diante da repentina atitude da irmã.

- Hinata... – Falava-lhe a mais nova na tentativa de encontrar as palavras adequadas. Queria roubar a dor da irmã para si própria. Hinata não merecia ter sua felicidade arrancada como se não lhe pertencesse. – Neji é uma pessoa que cuidará de você. Talvez... você consiga amá-lo um dia. – Expressou desacreditada de suas próprias palavras a pequena Hyuuga.

- Neji é frio, Hanabi. – Hinata falou enquanto secava as próprias lágrimas que teimavam em sair de seus olhos. – Ele não se importa com o amor.

Hanabi sentiu-se impotente diante das palavras da irmã. Não era capaz de consolá-la, pois Neji realmente parecia não se importar com sentimentos. No entanto, Hanabi estava certa de que o primo sentia algo por Hinata, mesmo que o escondesse muito bem.

- Hina, não chore, por favor. – Ela acariciava os ombros nus da irmã mais velha. – Neji pode não ser a pessoa mais amável do mundo, mas ele se importa com você. Eu sempre percebi isso da parte dele.

- Obrigada, Hanabi. – Sussurrou a morena enquanto apanhava um lenço e sacava cuidadosamente o rosto para evitar manchá-lo ainda mais.

Hanabi, por fim, limitou-se em pegar o véu e arrumá-lo no penteado da noiva. Estava ciente do que a irmã sentia. Se pudesse, ficaria em seu lugar. Ver uma pessoa tão boa como Hinata passar por um sofrimento como aquele era ruim. Entretanto, essa escolha não era sua, nem da própria Hinata. Fora Neji quem escolhera a primogênita. Hiashi apenas deferiu e abençoou.

- Acho que já está pronta. Vamos? – Falou a Hyuuga mais nova e logo andou em direção à porta sendo lentamente seguida por Hinata.

Cada passo que Hinata dava a frente era um que ela almejava dar para trás. Sentia-se caminhar em direção a um matadouro. Tremia levemente e os olhos ardiam, mas não era derramada alguma lágrima; elas haviam secado aos poucos, possivelmente guardadas para o momento do casamento. Seria uma noiva que choraria, mas não de felicidade como todas as outras que assistia em filmes ou conhecia em contos infantis. Choraria como uma viúva e, simbolicamente, o era na realidade, pois seu amor acabava de ser enterrado.

Quando andava pelos corredores da enorme casa, encontrou a figura onipotente do pai. Hiashi não demonstrava sentimento algum em seu olhar quando a encarou e, embora mantivesse sua postura altiva, era possível notar sua satisfação ao ver a filha pronta para o casamento ao qual ele tinha programado, supostamente, com o varão perfeito.

Para Hiashi, Neji era o melhor homem que poderia haver para a filha. Era dono de posses altíssimas, reconhecido pela alta sociedade como pródigo no ramo da família. Destacava-se atualmente no posto que antes pertencia ao próprio Hiashi: CEO da maior empresa de exploração e mineração de todo continente asiático. Ao ouvir a proposta de manter a fortuna Hyuuga em meio à família a partir do casamento entre ele e Hinata, não foi possível ao tio negar-lhe o pedido.

Entre transações e as passagens de títulos de Hiashi para Neji, a própria Hinata não faltou como bem em pauta e a pedido de Neji, que desde sempre a cobiçava, foi tratada como parte do que viria a pertencer-lhe.

Hinata era como um presente caro que Neji ambicionava desde criança. Hiashi sabia disso. E usou esse detalhe para manter Neji ao seu comando. Não havia jeito mais fácil e, além disso, seria perfeito: Hinata deixaria o estúpido namorado e se casaria com o esposo ideal.

- Hinata! - A voz do patriarca soou rígida. – Se já está pronta, vamos.

O pai, assim como a irmã, estava trajado elegantemente em um terno completamente preto, abissal igual a sua própria personalidade, pensava Hinata.

- Sim. – A noiva respondeu com o olhar baixo, fazendo uma breve reverência ao pai. Hanabi, no entanto, ao lado da irmã não o fez, pois se indignava com a tamanha submissão de Hinata.

O caminho para a Igreja não foi dos mais animados. A noiva estava estonteante, sentada no banco do carro preto ao lado do pai. Em suas mãos repousava um buquê de rosas brancas e em sua mente vagava as lembranças do que antes sonhara para si... Ela sorria e pedia a benção do pai que, por sua vez, desejava-lhe felicidades e tentava reduzir seu nervosismo afagando-lhe os cabelos. Tudo o que ocorria naquele carro, entretanto, era exatamente o oposto. Apenas indiferença.

Hinata mantinha os orbes analíticos sobre a paisagem que seguia rápida no exterior do carro. A cada esquina em que o carro passava, ela se sentia mais triste e o pai parecia não se importar com a expressão sofrida de seus orbes perolados.

A cada pequeno prédio que passava em frente ela tinha a visão de um rapaz com óculos escuros caminhando de mãos dadas com uma garota dos cabelos negro-azulados sorridentes e felizes, mas bastava olhar para o seu reflexo no vidro e constatar estar vestida de noiva para que o devaneio acabasse, o vidro parecer quebrar-se em mil cacos e o rapaz sumir.

O carro parou precipitadamente e ela soube tratar-se de um sinal. Aquilo aliviava um pouco. Saber que por alguns segundos o sofrimento seria adiado.

Quando o carro recomeçou a andar Hinata assustou-se, chegando a chamar a atenção do pai tamanho que seus olhos ficaram abertos. Parecia ser uma visão muito real. Ela estava vendo! Era Shino, parado em uma esquina, tão lindo quanto em seu retrato, como sempre fora. Seus braços cruzados, os óculos escuros sobre a face, as roupas cobrindo-lhe quase totalmente... Tudo era assustadoramente real! Fechou os olhos demoradamente como se desejasse provar a si mesma que o vira, mas ao abrí-los Shino já não estava mais em seu campo de visão.

"Outra miragem", pensou.

Andava com passos lentos. Os olhos pousados sobre os próprios pés. Não sabia para onde deveria seguir, mas isso pouco lhe importava. Sua face não demonstrava quaisquer resquícios de como se sentia internamente; uma verdadeira máscara.

Nunca fora um homem temente ao que lhe poderia ocorrer. Acreditava que a vida constituía-se de erros e acertos, um não mais importante que o outro. Mas o erro que ocorreria naquela tarde seria, irreparavelmente, sua ruína.

Estancou os passos aguardando o sinal fechar para atravessar a avenida. Os braços cruzados em um gesto comum estavam rígidos, como se protegessem seu coração da dor que ainda viria naquela tarde. Algumas crianças correram à sua frente, deixando-o para trás como se não estivesse ali. Observou-as. Os olhos castanhos, opacos devido a tristeza, eram escondidos sob o costumeiro óculos escuros.

"Ela adorava crianças", lembrou. Os pequenos sorridentes acenavam à mulher que parecia ser a mãe. Ele desejou não estar sozinho naquele momento; desejou partilhar aquela cena com a única pessoa que lhe importava: Hyuuga Hinata.

As ruas tinham um pequeno número de transeuntes. Era uma região pouco frequentada. Encarou ao lado uma vitrine bem polida, reconhecendo a confeitaria preferida dela. Ele nunca apreciou doces, mas adorava sentir o açúcar nos lábios rosados de Hinata depois que a mesma saboreasse alguma torta de morango que tanto gostava.

"Seus lábios não me pertencem mais...", refletiu frustrado enquanto continuava a caminhar vagarosamente. Lembrava-se bem das palavras que ela dissera na noite anterior...

[Flash back]

- S-Shino... – A voz melodiosa da jovem soou no quarto em que se encontravam rompendo o silêncio meditativo.

Estavam nus sob os lençóis tão brancos de Shino. Ele sempre fora cuidadoso com seus pertences e Hinata era-lhe o que mais zelava. Os braços fortes daquele que fora chamado envolviam protetoramente a cintura fina de Hinata que tinha sua cabeça pousada sobre o peito firme do namorado.

Ele soltou-a delicadamente e apoiou-se em um de seus braços, podendo, assim, encará-la. Os orbes perolados fitavam castanhos curiosos. Os óculos tinham sido esquecidos como sempre foram quando estavam sós e ele suspirou aguardando as palavras no timbre suave que somente ela possuía. Ela gaguejara, ele notara. Isso indicava a importância do que lhe seria dito...

- P-Precisamos... con-conversar. – Ele assistiu as lágrimas de sua namorada com surpresa. Ela chorava baixo, sempre tímida ao demonstrar suas emoções. Mas, o que importava era o sofrimento que seu semblante carregava.

Ele incentivou a jovem em continuar com as palavras, passeando com os dedos delgados de sua mão livre sobre os cabelos negro-azulados dela. Tão macios e brilhantes como tudo que ela lhe representava.

- Eu... Eu vou me casar amanhã. – Pronunciou a mulher desviando o olhar para a parede ao lado. Ele sentiu sua respiração pausar. Ouvira bem? Sua namorada se casaria no dia seguinte?

- O quê...? – Balbuciou atônito. Afastou-se enquanto se sentava na extremidade da cama. Os dedos que acariciaram a pele quente de Hinata estavam presos nos próprios cabelos castanhos em sinal de incredulidade. Ouvia os soluços femininos indicando-lhe ser verdade... Não se tratara de uma frase fantasiosa.

Suspirou pesadamente e questionou sério:

- Por que não me disse antes? – Sua voz estava rouca pela sensação desagradável de ter um nó em sua garganta. Ele desejou gritar! Entretanto, seu orgulho não lhe permitia. Sempre foi extremamente controlado, mantendo seus mais perigosos sentimentos escondidos sob a máscara da indiferença.

O sentimento de desespero, no entanto, lhe consumia como um veneno. Seu coração estava acelerado; era capaz de ouví-lo alto em seus tímpanos. Estava quebrando por dentro e ela sabia disso.

- E-Eu... n-não queria... te machucar! – Hinata falava com dificuldade. Sua voz baixa era abafada pelos soluços dolorosos que emitia.

- Me machucar? – Questionou para si mesmo. O incontido sarcasmo acompanhava suas palavras. – Desde quando isto está programado, Hinata?

- Desde... que... Neji e meu pai resolveram manter a herança entre os Hyuuga. – Respondeu triste.

Shino encarava o teto. As costas voltadas àquela que tanto amava. Ele sabia que o assunto "herança" era abordado pela família de Hinata há aproximadamente dois meses. As preocupações surgiram quando o poderoso Hyuuga Hiashi, pai de sua namorada, descobrira seu câncer.

- Neji... – Shino sibilou o nome com asco. Tratava-se do primo de Hinata. Um empresário sujo e arrogante. – Será com ele? – Voltou-se pela primeira vez a Hinata. Ela mantinha seu olhar vago sobre a parede oposta.

- Sim... – Respondeu a jovem após um breve silêncio incômodo.

- Não precisa fazer isso, Hinata. – Afirmou enquanto aproximava-se do corpo feminino. Ela o amava, ele sentia. E ele a amava, ela sabia.

Os orbes perolados da Hyuuga pousaram sobre a face de Shino. Delicadamente, as mãos pequeninas dançaram sobre os traços da face do rapaz, memorizando-os. Era o fim.

- Sim... – Ela falou em tom resignado. – Eu preciso.

Shino sentiu como se seu coração fosse alvo de inúmeros dardos e isso, ironicamente, lembrava-lhe ser a simples peça de um jogo infame. Era o golpe final; um "cheque-mate" no xadrez.

Hinata seria a rainha, a qual devia proteger, e ele seria o rei: a única peça capaz de dar apenas um passo por vez. Simbolicamente lhe fazia sentido, mas estava assustado demais para refletir sobre isso.

Ele deixou que uma única lágrima lhe manchasse o rosto antes de pressionar seus lábios nos de Hinata de maneira intensa, sentindo-a estremecer ante seu toque.

Sua língua aveludada acariciou os lábios da Hyuuga em um pedido mudo para aprofundar o beijo. Ela cedeu e ele explorou todos os cantos de sua boca avidamente. Abstraía o sabor doce que somente ela possuía... Aspirava o perfume amadeirado que sua pele continha... As mãos passeavam livres sobre o corpo quente e repleto de curvas sinuosas que o levavam a abandonar a razão.

Ela se perdia nas sensações prazerosas que Shino lhe proporcionava. As carícias sensuais e cuidadosas expressavam o amor que lhe era dedicado. A boca de Shino abandonou seus lábios para trilhar seu rosto e encontrar a curva de seu pescoço. Ela sorriu. Ele sabia tratar-se do lugar mais sensível de seu corpo. Sentiu os lábios experientes e desejosos puxarem-lhe a pele do pescoço, causando um misto de dor e prazer. Fora o suficiente para que ela despertasse do torpor que lhe acometera e afastasse Shino de si.

- N-Não... posso! – Ela falou com palavras entrecortadas. Os seios pressionavam-se contra o peito firme de Shino enquanto arfava pesadamente.

Ele se afastou com lentidão. O desejo ainda pulsando entre as virilhas. Recuperou a compostura e levantou-se nu recolhendo as roupas pelo chão. - Então, é o fim? – Questionou com certa frieza. Outra de suas máscaras.

- Não posso... continuar a lhe ver, Shino. – Ela falava com os olhos cerrados. O rosto tenso demonstrava conter novas lágrimas. – Amanhã, serei uma mulher... – Pausou, procurando qualquer palavra que a pudesse definir: "Derrotada", "Triste", "Desiludida". – Casada. – Concluiu.

Hinata levantou-se segurando firmemente os lençóis que lhe envolviam o corpo. Ele a admirou demoradamente, ela notou. Sempre que fizera isso, Shino puxava-lhe os lençóis e acabavam por deleitar-se de novos momentos de amor. Entretanto, isso não ocorreria novamente. Não mais. Ele se limitou em abandonar o quarto, deixando-a só para que se vestisse.

Ela saiu do quarto como se andasse em uma marcha fúnebre. Isso, no entanto, aos olhos apaixonados de Shino, não reduzia em nada sua beleza estonteante. Trajava um vestido simples de cor preta... A cor que ele sempre apreciou em seu corpo esbelto. Ela encarava o chão como se desejasse sumir. Ele a olhava atentamente, gravando em memória o que nunca mais seria seu.

Sentindo-se culpada pelo destino trágico de suas vidas, Hinata não o encarou quando alcançou a porta. Sua mão pousou na maçaneta que lhe daria acesso a um mundo sem Shino, a uma vida sem amor.

A porta que se abriu, fechou-se de forma violenta antes mesmo que ela pudesse passar. Ela viu a mão de Shino sobre a porta impedindo-a de sair e desejou ardentemente que ele a tomasse novamente em seus braços. E ele o fez. Como sempre fazia quando lia em seus orbes perolados o que desejava. Era a louca sintonia que mantinham entre si; uma comunicação muda.

Shino pressionou Hinata contra a porta mantendo seus corpos próximos. Aproximou seus lábios da face corada e delicada que ela possuía, pousando-os levemente sobre a fronte. Ouviu-a suspirar decepcionada. Ela esperava um beijo sôfrego; ele queria sentí-la o máximo que podia.

Shino aproximou os lábios dos dela, sentindo a respiração alterada lhe acariciar a face. Ela tomou a iniciativa e roçou seus lábios trêmulos nos dele. Ele afastou-se apenas um pouco, pois desejava tornar aquele momento ainda mais especial. Ela pedia, ele negava. Ele sentiu as mãos suaves pousarem sobre seu peito, agora vestido com a camiseta cinza que ela o presenteara. Os lábios de Shino foram de encontro à orelha de Hinata, na qual ele expressou em um sussurro rouco:

- Eu te amo, Hina. – Aquelas palavras a acompanhariam em suas mais lindas lembranças. Ela não hesitou em responder-lhe também ao seu ouvido:

- Eu sempre te amarei, Shino. – Era uma promessa. A qual jamais seria esquecida.

Ele tomou seus lábios de maneira rápida e desesperada, selando aquele último encontro que terminara em uma perigosa promessa. As línguas se encontravam e se sentiam de forma desejosa, lutando pelo espaço que não lhes pertencia mais. O beijo era molhado, sedento, sofrido. Terminando em pequenos selinhos, leves carinhos. Segundos ou minutos se passaram. Não sabiam dizer ao certo. Ela foi a primeira a romper o contato. Ele a deixou partir.

[Fim do Flash back]

Ajeitou os óculos escuros sobre a face, como se o gesto lhe garantisse não chorar. Hinata sempre lhe dissera que os óculos escuros lhe tiravam as cores vivas que constituíam a vida. Ela nunca soube que para ele só importava abandonar os óculos quando estavam sós. Só importava ver a vida que emanava dela. As lembranças ainda lhe doíam e imaginou que seria tudo mais fácil se nunca a tivesse conhecido.

Mas o pensamento veio tão rápido quanto foi banido. Jamais se arrependeria. Não de tê-la amado, de tê-la feito sua. Talvez fosse o momento de dar um adeus definitivo. De vê-la como estaria em seu vestido de noiva, tal como algumas vezes a imaginou quando sonharam juntos em casarem-se um dia.

O caminho tornou-se oposto ao que seguia. Não que tivesse anteriormente algum destino. Mas, agora, sabia exatamente para onde ia. Veria um certo alguém, partindo para sempre de sua vida.

Depois de alguns minutos no carro, chegaram à Igreja. O carro foi estacionado na porta principal e era possível ver a todos os convidados em pé, aguardando a tão comentada noiva para o casamento. Hiashi foi o primeiro a deixar o automóvel, saindo e estendendo a mão para a filha, pedindo que saísse.

- Mude essa cara. – Ordenou seco. – Não me faça passar outra vergonha.

A noiva nada respondeu. Apenas assentiu com a cabeça e esboçou um sorriso indigente e falso. Logo entrelaçou seu braço direito ao do seu pai enquanto o buquê encontrava-se seguro na outra mão. Começaram a andar a passos lentos em direção à entrada da Igreja.

Embora se encontrasse frente à Igreja e pudesse olhar a todos, ela pensava em Shino, vendo-o em seu imaginário como nos contos de fadas nos quais o amado vinha com um cavalo branco e roubava a noiva que tinha que se casar com o ogro. Mas não avistou nada, apenas muitas pessoas a observando.

Neji estava esperando ao lado do altar. Ela observou seu semblante sério. Apesar de desejável e belo, para a noiva, seu primo era maldoso, frio... seco. O que acabava por não a atrair. Diferente da maioria das mulheres, ela apreciava homens afetuosos, bondosos e carinhosos, exatamente como Shino. Sem mencionar que ele, mesmo diferente, sempre seria belo.

A marcha nupcial começou a tocar e Hinata envolveu mais fortemente o braço do pai. Sobre a imensa passarela de vidro, seu destino agora era Neji e isso lhe soava inevitável. Começaram a andar a passos lentos sob olhares analíticos. Os convidados não a conheciam, pois Hinata sempre evitara atrair atenção indesejada. Era possível ouvir murmúrios: "Então essa é a noiva", "Ela é bonita", "Desconhecida até agora"... despertando no interior da Hyuuga uma vontade quase incontrolável de fugir dali. Neji esboçava um sorriso malicioso quando partiu em direção a ela e Hiashi. Logo Hinata já não era mais acompanhada pelo pai, e sim pelo primo.

- Sorria. – Ele inclinou-se e ordenou em tom muito baixo próximo ao ouvido dela. Aquela palavra lhe soou ameaçadora.

A partir daquele instante Hinata apenas fez o que lhe era pedido até a hora em que o casamento se findasse. O momento do "sim", tão sonhado anteriormente, ocorreu quase vazio. Uma página virada em sua vida. O beijo que lhe foi dado era um toque firme de lábios. Neji colocou uma das mãos em sua cintura e outra em sua nuca, puxando-a de encontro a sua face. Não houve tempo sequer de sentir o gosto da boca de seu marido. Tudo parecia ter sido tão rápido... Ou talvez ela não estivesse presente... Agia como se fosse uma máquina títere e programada para aceitar e repetir tudo que lhe ordenassem. Em seu interior, apenas almejava continuar neste estado quase catatônico quando seu corpo precisasse ser entregue ao outro.

Estava há alguns metros da Igreja, suficiente para avistar a limusine luxuosa frente à escadaria. Fazia alguns minutos que estava ali e Shino desejou adentrar no recinto e impedir Hinata de dizer "sim" e prometer ser uma esposa fiel a alguém que não fosse ele! Desejava impedí-la de satisfazer a todos com aquele casório; evitá-la receber o beijo de outro. Entretanto, limitou-se em permanecer onde estava, pois não seria possível distrair os seguranças que zelavam as portas de acesso à Igreja. Era sensato, acima de tudo, respeitá-la.

Ouviu os sinos eclesiais tocando a sinfonia que lhe soou melancólica ao anunciar o término do casório. "Ela, enfim, casou-se com outro...", concluiu.

As imensas portas de madeira se abriram e inúmeros fotógrafos posicionaram-se para registrar aquele momento importante. Hyuuga Neji era um empresário muito reconhecido por seus feitos e, também, pelos incontáveis casos difamatórios de sua imagem nos quais ele jamais fora condenado.

O casal saiu da Igreja acompanhado pelos seguranças. Os convidados seguiam os cônjuges, mas não manifestavam alegria. Apenas sorriam polidamente. Tratava-se de um casamento formal; um contrato que garantia aos Hyuuga da manutenção de sua fortuna.

Shino observava atentamente cada movimento de Hinata. Seu vestido sem alças colado ao corpo concedia-lhe a aparência tentadora de uma ninfa. Mas os cabelos levemente cacheados que lhe caíam sobre os ombros faziam-na inocente como uma criança.

Ela não sorria. Seus olhos estavam fixos sobre o carro negro estacionado à frente da Igreja. Parecia imaginar o que aconteceria adiante. Os orbes castanhos de Shino fitaram a figura imponente ao lado de Hinata. Era Neji. Elegantemente vestido em um terno branco, Neji tinha seus dedos delgados trançados entre os dedos delicados de Hinata. Ele demonstrava satisfação plena e Shino questionou-se em relação às verdadeiras intenções de Neji ao casar-se com a prima. Era-lhe claro que o grande CEO crápula sentia algo por Hinata.

Os orbes frios de Neji pousaram sobre Shino que notou imediatamente ter sido reconhecido. O Hyuuga recém casado enlaçou a cintura de Hinata, surpreendendo-a ao aproximarem mais seus corpos. Ela corou intensamente sem notar a aura assassina de Neji, tampouco a figura que tanto amava a alguns metros de si.

Shino sentia o ódio invadí-lo de maneira crescente. A mão de Neji sobre a cintura de Hinata lhe desafiava! O Hyuuga brincava consigo... E divertia-se ao vê-lo frustrado e impotente. Por trás das lentes de seus óculos escuros, seus orbes castanhos acompanharam os passos lentos do casal que se dirigia à limusine. Neji adiantou-se para abrir a porta enquanto os olhos perolados de Hinata cintilavam demonstrando que ela buscava conter as lágrimas. Ele notou quando ela varreu o ambiente a procura de alguém. Ela o procurava entre a multidão, constatou.

A porta da limusine já estava aberta quando Neji sussurrou algo para Hinata. Ela assentiu silenciosamente e adentrou na limusine. Nenhum sorriso fora expressado nos lábios doces de Hinata e Shino regozijou-se com isso. Apesar de casada, ela ainda o amava. Neji fechou a porta da limusine e com um gesto chamou um dos seguranças. Falou-lhe algo e voltou seu olhar a Shino. O mesmo compreendeu imediatamente ser necessário ausentar-se. O Hyuuga não o deixaria sair impune. O Hyuuga não era reconhecido como "gênio atroz" por motivos vis e Shino invadiu seu espaço pessoal ao decidir aproximar-se de Hinata.

Resignado, Shino assistiu Neji adentrar na limusine sob os flashes das câmeras que o acompanhava e passou a andar em passos acelerados com destino à sua casa antes que o segurança do Hyuuga lhe alcançasse. Poucos minutos se passaram quando se viu distante da Igreja na qual Hinata se casara. Ao concluir que ninguém o seguia, passou a caminhar vagarosamente... Tentava organizar seus pensamentos.

"Ela o fez. Casou-se com outro e deu fim ao nosso relacionamento. Ela fez a escolha dela... E eu farei a minha!", refletia desgostoso. Adentrou em um bar qualquer. O sol se perdia no horizonte quando ele se sentou frente ao balcão. Uma mulher alta e esguia veio ao seu encontro:

- E aí, meu jovem? O que vai querer? – Falou-lhe com a voz arrastada. Shino a observou antes de responder:

- Whisky.

- Ah... não teve um bom dia. – Ela sugestionou enquanto apanhava o copo e a garrafa. – Tome! – Estendeu-lhe a dose do líquido âmbar e sem gelo. – É por conta da casa.

- Obrigado... – Respondeu-lhe sem ânimo. Após horas e vários copos encarou o relógio fixado na parede envelhecida do bar. – O horário está correto?

- Sim! Aqui temos as horas certas para acompanhar os jogos e...

- Eu entendi. – Cortou-a secamente. Ela compreendeu não ser bem-vinda e seguiu para os demais clientes. Eram 00h30min... O casamento fora às 18h. Isso lhe indicava que, provavelmente, Hinata estaria a sós nesse momento com seu marido, pronta para cumprir suas obrigações matrimoniais. Tomou em um só gole o último whisky que lhe fora dado e ainda sentiu-o arranhar sua garganta. Lembrou-se de forma incômoda que a última vez na qual bebera foi após o enterro de sua mãe, vítima de um aneurisma. Ironicamente, parecia que as perdas lhe incentivavam a beber.

Pousou seus olhos novamente nos minutos que se arrastavam. Aquilo o estava matando! Imaginá-la nos braços de outro... Imaginá-la para sempre longe de si.

- Ei! – Chamou a mulher que outrora lhe atendeu. – Mais uma dose!

Ela prontamente encheu seu copo e saiu deixando-o só. Shino encarou aquele líquido e o bebeu novamente, desejando ter ingerido veneno.

Os passos ecoavam sobre o piso de madeira polida. O comentado casal adentrava na casa que lhe pertencia e seguia em um silêncio incômodo para o amplo quarto em que ficariam "até que o casamento fosse consumado".

Hinata ofegava e suas mãos agarravam-se fortemente à saia do vestido. Seu lábio inferior preso entre os dentes e a face pálida apenas demarcavam ainda mais seu nervosismo.

Seu marido a observava com o semblante sereno, divertindo-se por vê-la tão transtornada. Era-lhe claro que Hinata esperava algo extremamente negativo, como se ele tivesse garras e não mãos capazes de conceder-lhe prazer.

Se havia algo com o qual Hyuuga Neji se orgulhava, indubitavelmente, era o seu reconhecimento merecido em ser um amante ardente. E ele faria com que nesta noite Hinata compreendesse que seu namoradinho jamais se compararia com ele. Neji a faria gritar seu nome e implorar para que ele a tornasse sua mais e mais vezes. Só de considerar esta ideia, um sorriso riscou-se nos lábios bem delineados do CEO e ele envolveu mais firmemente a cintura fina de Hinata trazendo-a para mais perto de si enquanto apressava os passos.

Alcançaram a porta pertencente ao quarto do glorioso casal. Hinata cerrou os olhos e sua respiração pausou. Surpreendeu-se quando Neji tocou seus ombros nus e a virou gentilmente de frente para ele.

- Hinata... – A voz rouca e máscula chamou-a e ela compreendeu que Neji ordenava-a abrir os olhos. De maneira lenta ela o fez. O ar ainda preso em seus pulmões começava a deixá-la rubra.

- Respire. – Outra ordem, um pouco mais enfática.

A jovem deixou o ar escapar-lhe por entre os lábios ruidosamente enquanto encarava os orbes perolados e intensos de Neji. Era possível notar o desejo faiscar naqueles olhos e ela se sentiu subitamente repulsiva por despertar interesse em alguém que não amava... Em alguém que não era ele.

Neji voltou-se para a porta e abriu-a deixando que Hinata adentrasse à sua frente em um gesto cavalheiro. Ela seguiu alguns passos até o centro do quarto e fitou a enorme cama com lençóis novos desde que saíra. Imaginou que se fosse Shino, provavelmente, não entraria no quarto com seus próprios pés, pois ele a carregaria como um perfeito príncipe e a deixaria sobre a cama beijando-lhe a pele alva e fazendo-a sua. Um nó em sua garganta pareceu formar-se e ela precisou respirar pesadamente para não deixar seus olhos marejados. Neji a estava tratando com paciência demais para que ela brincasse com sua sorte.

- Tire seu vestido e arrume-se. Eu retorno em dez minutos. – A voz de Neji soou urgente às suas costas, quase ansiosa. Ele abandonou o quarto com passos largos e fechou a porta.

Hinata estava só...

Dez minutos a separavam das mãos de outro sobre seu corpo. Do calor de outro invadindo-lhe e tornando-a inteiramente casada. Inteiramente pertencente a alguém que não era ele.

- "A alguém que era Neji...".- Afastou os pensamentos que a deixavam ainda mais melancólica e abriu o zíper de seu vestido deixando-o deslizar pelo seu corpo e cair ao chão. Delicadamente tirou sua tiara de cristais azuis e deixou-a sobre o criado-mudo, bem como o fez com seu colar.

Trajava apenas uma calcinha branca e sem graça. Caminhou com passos suaves até uma maleta prateada presenteada por Hanabi que lhe fez o imenso favor de zelar por sua aparência na noite de núpcias. Apesar de adolescente, sua irmã sabia o que era necessário para agradar um homem e Hinata não tinha condições emocionais de comprar nada para a ocasião quando esta envolvia outro que não Shino.

Abriu a maleta e a surpresa tomou seus olhos ao encarar a minúscula calcinha preta que Hanabi deixara para ela. A renda negra não lhe esconderia nada aos olhos de Neji! Ao lado da calcinha havia uma camisola curta e transparente, também preta, pronta para que Hinata a usasse.

Um suspiro exasperado saiu de seus lábios quando Hinata considerou que Neji poderia ficar decepcionado se a visse com sua atual calcinha branca sem adorno algum. E decepção, para o poderoso Hyuuga, significava deixá-lo bravo o suficiente para que ele não agisse nem um pouco gentilmente.

Tão rápido quanto considerou suas hipóteses, Hinata substituiu sua calcinha branca pela peça sensual de Hanabi e sobre seu corpo colocou a camisola preta presenteada. Não lhe agradou em nada sua imagem refletida no enorme espelho do quarto.

O próximo passo foi soltar os cabelos presos no coque bem feito e deixá-los soltos caindo-lhe sobre os ombros. Com as mãos, Hinata tentou arrumar as mechas preto-azuladas para que escondessem, ao menos um pouco, o busto farto. Uma batida suave na porta a fez estremecer. Neji não aguardou sua resposta e adentrou no quarto deparando-se com uma Hinata sensual e rubra aguardando por ele.

Uma verdadeira deusa que era somente sua e de mais ninguém.

Os olhos de Hinata desviaram-se do torso talhado do marido livre de quaisquer vestimentas e pousaram inevitavelmente sobre a bermuda preta que ele trajava. Somente uma bermuda! O pior, no entanto, seria quando ele estivesse sem nada... Encarando o chão, ela ouviu os passos firmes de Neji se aproximarem.

Continua...

Agradecemos por lerem!

Beijos gratos,

J. Pearl-chan e FranHyuuga