4:00pm. Ela finalmente poderia ir para casa. O hospital estava um verdadeiro inferno e, como ela era a estagiária, tudo ficava em seus ombros. "Quero 200 kits para tal cirurgia prontos até as 14:00"; "Deixe a medicação de amanhã dos pacientes de oncologia pronta"; "Verifique e conte todos os medicamentos que foram hoje". Ela ainda era uma universitária, por favor. E há quem diga que farmacêuticos só ficam na farmácia.
Em dias como esse, aliás, em todos os dias nos últimos quatro anos quando ela resolveu estudar em New York, Bella Swan nem se lembrava daqueles meses obscuros em que ficou parecendo uma morta-viva quando Edward Cullen a deixou.
Mas lembrava-se claramente do dia em que tudo mudou: ela e Jacob iam pular do penhasco juntos, mas ele demorou para chegar. Bella tinha olhado para baixo e visto a água escura se agitando. Sabia que era perigoso demais e que seu corpo não aguentaria, por isso já conseguia imaginar a figura translúcida de Edward ao seu lado. Chegou a dar um passo em direção ao precipício, mas parou. O rosto do pai, o homem mais bondoso que ela já conhecera, surgiu em sua mente e ela voltou a si. Não valia a pena. Edward Cullen não valia tudo isso. Ela não ia se matar e deixar pessoas queridas para trás só por causa de um vampiro. Olhou a vastidão do mar e deu as costas para a paisagem, voltando para a casa de Jake.
É claro que Alice apareceu no mesmo dia e se assustou ao encontrar Bella viva. Como ela apenas tinha visto o futuro da garota desaparecer – por causa da interferência da presença de Jacob – imaginou a morte da mesma e contou para Edward, que decidiu ir para Volterra acabar com sua existência. A vampira pediu para Bella ir com ela para a Itália tentar salvar o irmão e Bella, temendo não ser forte o suficiente para encarar Edward sozinha, pediu para Jacob ir com ela. Alice torceu o nariz ao ver ele entrando no carro junto, mas não disse nada. Os Volturi também não gostaram nada da presença do lobisomem e só mais tarde Bella foi saber que membros da família deles já haviam sido mortos por uma matilha. Sem querer acordar a fúria do metamorfo, eles deixaram Bella ir embora sem nem reclamarem que ela era uma humana que sabia demais sobre os vampiros.
A partir desse dia, Bella ficou mais distante dos Cullen. Eles ainda iam para a escola, agiam com ela como se nada tivesse acontecido, mas no final do dia letivo ela saía correndo para La Push, ou pedia para Jake ir para a casa dela. Edward se desculpava e pedia para ficarem juntos novamente basicamente todos os dias e, quando finalmente ela esgotou sua paciência, o chamou para conversar no mesmo lugar em que tinha dito para ele que sabia que era um vampiro. Ela explicou, da melhor maneira que pôde, que não poderia perdoa-lo por fazê-la sofrer tanto e que, como ele mesmo tinha dito para ela, ela era simplesmente humana e acabaria esquecendo dele. A expressão no rosto de Edward depois de ouvir isso era no mínimo miserável. E, enquanto conversava com ele, podia sentir vários pares de olhos observando-a. O que foi mais do que comprovado quando Jake chegou saltitando em sua casa naquela tarde.
É claro que Victoria resolveu atacar e, por mais que fosse angustiante não poder ajudar em nada, Bella ficou quietinha em La Push esperando a guerra acabar – sob a mira de um lobisomem mais do que irritado por não poder lutar e ter que ficar de babá de uma humana. Quando tudo acabou, ela recebeu a resposta da universidade e se mudou logo para New York.
Agora, ao tirar o jaleco e abrir o armário para pegar sua bolsa, escutou o som da notificação do celular. De várias notificações seguidas. Curiosa, abriu a bolsa e sentou-se em uma cadeira, pegando o celular. Alguém tinha adicionado ela em um novo grupo. Com um som do fundo da garganta, resmungou ao ver o nome da conversa: "Forks High School".
+01 99924817 Mike Newton: Esse é o número da Bella mesmo? Ela não tá respondendo
Angela Weber: É sim, eu tenho o número dela.
+01 98632571 Jessica Stanley: Por que ela ainda conversa com você e não comigo? Éramos bff
+01 99658135 Eric Yorkie: Ang se vc tinha o numero dela porque não passou pra gente?
Bella mordeu a pele do dedão bem do lado da unha ao ler as últimas mensagens. Angela se manteve uma amiga fiel e não passou seu número para ninguém. Mas Jessica estava chateada por não ter se mantido dentro de seus contatos. Isso renderia uma dor de cabeça.
+01 96357842 Lauren M.: Se não foi a Angela que deu o número dessa menina, de onde você conseguiu Mike?
+01 99924817 Mike Newton: O sr. Swan me passou
Ela expirou pelo nariz. Mesmo apenas lendo a mensagem de Lauren, já podia imaginar o tom zombeteiro da voz dela.
Eu: Essa menina diz oi.
Eu: Acabei de sair do trabalho e só vi as mensagens agora.
Ela enviou, a primeira mensagem apenas para deixar claro que tinha lido o que Lauren escreveu. Resolveu que seria melhor adicionar o número de todos do grupo antes que começassem a reclamar. Menos o da última, é claro.
+01 86574235 Tyler Crowley: BEEELLLAAAAA!
Sorriu ao ler a mensagem de Tyler e todos cumprimentaram ela. Angela explicou que fizeram o grupo para poderem se reunir nas férias e relembrar os bons momentos. Não me lembro exatamente de nenhum bom momento, Bella pensou, mas certas coisas não dever ser expressadas para os outros.
Mike Newton: Bella, eu posso colocar os Cullens no grupo? A presença deles não me agrada muito e eu lembro que você não ficou nada bem por conta do Cullen mais novo
Mike Newton: Mas a ideia era juntar todo mundo que estudou junto
Mike Newton: É claro que eu vou super entender e te apoiar se você não quiser
Ele tinha mandado no privado. Mike sempre foi agradável com ela, embora irritantemente doce as vezes. Ela respondeu:
Eu: Tudo bem, não me importo mais com eles.
Surpreendentemente, ele realmente tinha o número dos Cullens.
Bella guardou o celular e o jaleco, finalmente saindo do hospital. Pelo menos do trabalho já estava de férias, só faltavam mais duas provas para se ver livre da faculdade por pelo menos um mês. Neste ano, finalmente ia forçar o pai a vir passar o Natal em New York, mas por conta da reunião da turma teria que passar o feriado em Forks mesmo. Ao contar isso no telefone, Charlie Swan ficou mais do que feliz e é claro que ele desconversou quando ela perguntou o motivo de ele ter passado seu número.
Ela seguiu para a casa que dividia com mais quatro meninas. Era perto do campus, ou seja, não tinha nenhum adulto responsável por perto. Ao passar pelo portão de entrada, viu a correspondência de Sam jogada ali. A revista pornô gay não estava nem encapada devidamente, apenas com o plástico transparente em volta e a etiqueta com branca com o endereço. Ela pegou e se dirigiu para a casa em frente a sua, passando a encomenda para debaixo da porta.
Naquele horário era difícil encontrar alguém em casa. Daisy provavelmente devia estar trabalhando e só chegaria dali a uma hora. Kitty e Annabel estariam dando monitoria na faculdade. E Ella estava na academia. Com quaisquer outras pessoas, provavelmente a certeza de que uma casa cheia de meninas era organizada seria uma verdade, mas no caso dessas cinco em particular não poderia estar mais errado. Bella chutou uma caixa de pizza do caminho e subiu as escadas, se jogando na cama. Realmente estava frio, mas era esforço demais se levantar novamente só para ligar o aquecedor.
– Essa caixa de pizza não está onde eu deixei. – A voz seguiu o som da porta principal se abrindo. – Cheguei! – Kitty gritou.
– Aqui em cima – Bella respondeu ainda deitada.
– Acho que vai acabar nevando antes mesmo do dia 21. – Kitty continuava falando enquanto marchava escada acima. – Oi – ela disse ao entrar no quarto e se deitar ao lado de Bella.
– Ugh, não diga isso! – Ela resmungou e virou de lado para olhar para a amiga. – Vou ter que passar o Natal em Forks.
Kitty fez uma careta e começou a rir.
– Acho que vai congelar lá, Bellinha. Mas é uma pena, queríamos tanto conhecer o Chefe Swan pessoalmente. – Ela deu um sorriso malicioso. – Principalmente a Ella, sabe que ela adora caras mais velhos e de bigode.
– Que horror! – Bella riu e jogou um travesseiro na outra. – Meu pai tem namorada.
– Hmm, tenho certeza de que a Ella não se importaria com isso. – Elas riram juntas por um tempo e depois fizeram um breve silencio. – Pensei que odiasse aquela cidade. Quando chegou aqui passou a maior parte do tempo no sol, pensei que ia pegar uma insolação.
– E eu peguei mesmo, não lembra? Daisy fez aquele soro caseiro horrível, vomitei até as tripas. – Ela fez uma pausa. – Minha turma do ensino médio quer se reunir. Fizeram um grupo no whats app. E foi meu pai que passou meu número para eles. Vou ter que ir.
Ela se levantou a contragosto da cama e ouviu suas costas estalarem.
– Por que não pede a Annabel para te fazer uma massagem? Ela faz fisioterapia.
– Boa ideia. – Ela movimentou os ombros em movimentos circulares, produzindo mais estalos. – Tenho uma prova hoje a noite. E a última amanhã de manhã. Já estou de férias do hospital. Vou pegar o avião amanhã de noite.
Kitty se levantou e foi para a porta do quarto, ao mesmo a porta de baixo se abria e o som de risadas entrou na casa.
– É sua última noite aqui, por que não comemos comida de verdade?
Bella sorriu.
– Noite do hambúrguer?
– Mas é claro.
Kitty saiu do quarto e Bella revisou mais uma vez o conteúdo da prova de Hematologia. Tomou um banho e saiu para a faculdade. Ao voltar para casa, as meninas já estavam esperando ela na mesa para poderem comer. Como a maioria ia estar fora o dia inteiro, já se despediram dela naquela mesma noite. Ela subiu e estudou para Farmacoterapia, a última prova do semestre.
