A tarde era extremamente fria. O sol batia pela janela do quarto branco, mas nada ali parecia esquentar. A lâmpada piscava mesmo desligada, ou era coisa da minha cabeça?
Respirar parecia difícil para quem estava do lado de dentro e tão calmo e fresco do lado de fora. O horário que saíamos para poder nos acomodar em nossas cadeiras duras e nossos remédios calmantes eram às cinco.
Estavam atrasados.
Não tinha relógio dentro do quarto, só uma cama, um colchão e um travesseiro. As vezes, quando tinha frio eles deixavam uma coberta também. Mas eu sabia que já eram mais de cinco horas. Todo o dia quando eu olhava pela janela podia ver um carro preto estacionado na garagem, (uma exclusividade do meu quarto, uma janela aberta) e eu via saindo sempre um homem com cabelos dourados.
Ele.. Ele todo o dia vinha nos ver e principalmente me ver. Talvez ele me achasse o caso mais grave, talvez. Ele uma vez recomendou que retirassem as minhas roupas brancas e dessem algo mais azul, ou preto, disse que combinaria mais comigo e com a cor dos meus cabelos. E sempre perguntava o porque das minhas mãos estarem sempre enfaixadas, nem eu me lembro.
Hoje o carro dele não estava lá.
Ninguém abriu as portas para o remédio das cinco. Por que?
De repente o prédio perdeu a energia. Soube pelo barulho do gerador que havia parado. As trancas abriram-se sozinhas e de repente os passos das outras pessoas saindo de seus quartos me fez pensar se eu devia sair também. Acabei tomando o mesmo rumo, hesitante. Mas a mão que segurou na minha aquela hora, era dele. Acho que da única pessoa que eu pudia contar desde que cheguei aqui. E ele me puxou para fora, correndo, as outras pessoas não pareciam nos ver. Descemos as escadas de emergência, passando por mais três andares até chegarmos no térreo e então pude ver o carro preto dele e de como seus longos cabelos lhe caíam bem na face clara e terrivelmente séria.
-Você armou tudo isso?-Perguntei quando paramos de correr.
-Entre no carro.-A voz dele saiu áspera. Mas não tive motivos para nega-lo. Entrei no carro e o vi dar partida. De repente muitas pessoas conhecidas começaram a ir para a rua também mas como eu já tinha notado, nenhuma delas parecia saber que tínhamos saído de lá.
O que houve comigo? E o que houve com esse rapaz que dirigia? Achava que ele era o terapeuta dali, mas porque então, levar apenas a mim? O que eu era para ele e, o que ele tinha sido para mim?
Eu não tinha lembranças. A única que eu tinha desde que cheguei naquele quarto totalmente branco, era um espelho e eu ria de mim mesmo do outro lado. E acabei apagando dali para frente.
E agora estou fugindo com ele
