Deitou-se na cama, totalmente despido e se concentrou em focar algumas das formas abstratas do teto de madeira. Tentativa fútil, era como se tudo ainda estivesse em movimento. Sentia o corpo girando e girando como se já realizasse o ato de pular da janela do décimo oitavo andar e balançasse eternamente em pleno ar. Pensou se outra ducha o livraria de tais sensações desprezíveis, mas não tivera tempo suficiente para concluir qualquer coisa.
- Você está branco. – viu uma silhueta da porta, trazendo demasiada luz para dentro do cômodo. Quebrou a densidade do ar, o silêncio do recinto e sensibilidade dos seus olhos negros acostumados com o breu. – Planeja morrer da forma mais idiota possível? Ninguém notaria falecer um artista imbecil.
- ...
- Um que mais parece um estudante de ensino médio.
- Eu sou branco assim mesmo. – sorriu de olhos fechados. – Estou curioso, isso significa que você também não sentiria minha ausência, Sasuke-kun?
Ainda sentia a pele formigar e um dilúvio de emoções percorrerem seu íntimo, destroçando suas vísceras. Não entendi por que aquela pessoa diante de si, que só mostrava facetas frias e distantes, o fazia ter tantos temores. De quê? Sai não entendia ainda.
Não o viu adentrar o quarto, só soube que estava perto quando o mesmo sentou na borda do colchão e fez um breve toque com as mãos na sua pele alva, contudo podia dizer sem sombras de dúvidas que ele estava usando sua costumeira máscara. Indispensável, principalmente quando o vinha visitar. O Uchiha não fingia ser outro alguém, isso, não. O que buscava era somente dissimular o que tinha de pior, o que fazia de pior.
- Suspeito que esteja gostando de fazer isso comigo. Se não estiver, ficarei decepcionado.
Eram tão opostos quanto parecidos. O que Sai mostrava era cru, porém mais vívido que qualquer fantasia do outro – afinal, tratava-se dele mesmo, simples e diretamente o próprio se apresentava em seus gestos ensaiados e dicas retiradas de livros.
Uma tela branca que desde então esteve imaculada. Sasuke fez os primeiros borrões.
