A Rosa Inglesa

Annah Lennox

Capítulo I

Inglaterra, 1943

Não havia uma única casa em Londres que já não tivesse sido destruída pelos bombardeios. A guerra havia começado há três anos e nem um passo rumo a paz havia sido tomado. Alguns supersticiosos acreditavam que o fim estava próximo, mas para Virgínia Weasley ainda havia esperança, e por isso estava de partida para o campo de batalha.

Tinha apenas vinte anos, mas já sabia muito bem o gosto da desilusão e triste pesar de uma perda querida. Já não tinha motivos para permanecer naquela cidade, com os braços cruzados, à espera de algum milagre. Sua família era muito pobre, a recessão era cruel e fria, e nunca havia olhado para eles, pessoas humildes, operários de Manchester.

- Virgínia, repense, ainda há uma chance filha - falou Molly, desesperada; simplesmente não concebia a idéia de ver sua única filha indo para o campo de batalha: mesmo sendo enfermeira ela sabia o quanto era arriscado. - Não me deixei só... seus irmãos... seu pai, eles também foram para essa maldita guerra.

- Mamãe, eu não posso ficar aqui – falou, levando as mãos ao rosto da mulher, judiado pelo o tempo. - Nada vai me acontecer, eu sei disso, além do mais risco por risco também corro aqui. Os caças alemães estão por toda a parte no céu, nem mesmo os orfanatos eles poupam...

Ela nunca fora uma menina comum, desde de cedo sabia qual era o seu lugar. Desde a mais tenra idade havia aprendido a trabalhar, e o que é o principal: não ter medo de lutar por aquilo que almejava. As palmas das suas mãos também não escondiam os calos de trabalho escravo em uma indústria de material plástico em Manchester.

- A única coisa que desejo, mamãe, é protegê-la – disse, observando o movimento calmo da estação de trem. Era uma movimentação atípica para uma tarde de domingo, mas ninguém se arriscava a viajar em tempos de guerra, a não ser ela e sua mãe e alguns soldados que haviam tirado licença. - Você estará na fazenda de tia Morgana, protegida dessa carnificina, aonde os aviões não chegam... eu estarei lutando para salvar vidas, mamãe, e para ajudá-la a sobreviver com o mínimo de dignidade.

- Eu prefiro morre pobre a ter mais um filho morto! – comentou, chorosa, lembrando-se de Gui, que havia morrido no campo de batalha seis meses atrás.

- Eu não vou morrer como ele... eu vou viver para salva vidas: e um dia a senhora vai ter muito orgulho de mim! – falou, sorrindo e sonhadora.

Molly não tinha tanta fé, odiava aquela guerra idiota que havia feito sua família perecer. Seus meninos estavam lutando por uma causa desconhecida e que não dizia respeito aos Weasley; seu querido filho nunca mais voltara para os seus braços... ele tinha morrido em algum lugar da Franca, e nem mesmo o corpo dele ela tivera o direito de ver mais uma vez. Era horrível aquela sensação, tinha medo até mesmo do carteiro... não, não queria receber aquela maldita carta de condolência, falando que seu filho havia morrido como um "verdadeiro inglês". Que a rainha fosse para o inferno, mas queria sua família de volta. Eram pobres, sim, às vezes não tinham nem o que comer, mas antes de tudo eram unidos e felizes. Não queria que a sua caçula tão sofrida partisse para o lado da destruição e da dor.

- Eu não quero ter orgulho de você, Ginny – falou, abraçando a filha com força. - Eu quero que você viva, ao meu lado, como éramos antes!

- Última chamada para quem vai para Leicester! - gritou o homem vestido de azul. - O expresso sairá daqui a dois minutos, e não toleramos atrasos!

Virgínia fitou os olhos tristes da mãe. Aquela era sem dúvida a hora mais difícil, a hora que diria adeus sem a esperança de voltar a vê-la. Ela estava fazendo o melhor para a família: era um Weasley, não desistia nunca. Voltaria a ver a mãe, e traria para ela um bonito presente, o qual aquela pobre mulher nunca pôde pagar.

- É o seu trem, mamãe... - avisou, ela sentido os olhos arderem pela a primeira vez em seis meses.

Molly sentiu uma dor profunda na alma. Sua menina tinha crescido e iria de encontro ao seu destino. Mas mesmo assim não podia deixar de pedir...

- Fique, minha filha. Venha comigo para Leicester.

- Não posso, mamãe - falou abraçada à pobre senhora. - É o dever que tenho com o meu povo, com o meu país, com a nossa família... e principalmente por Gui.

E ficaram abraçadas até o último segundo. Naquele momento eram apenas mãe e filha se despedindo. A mãe iria para um lugar bonito aonde teria paz, e a filha iria lutar para trazer alegria àqueles que não tinham nada a não ser um fuzil na mão.

Molly Weasley embarcou. Nenhumas das duas disseram aquela palavra tão simples e tão difícil de ser pronunciada.

O trem se afastou com força e em alguns segundos sua mãe não estava mais ali a seu lado. Agora seria apenas Gina por Gina, e ninguém mais por ela.

- Adeus, mamãe...- murmurou, dando as costas para o trem que partia com toda a força rumo a Leicester.

Já não havia mais nada a fazer ali. Naquele mesmo dia Virgínia Weasley se juntou ao grupo da cruz vermelha e partiu para Austrália, aonde receberia treinamentos básicos antes de voltar para Europa.

OOOOIoIOOOOO

O Capitão Draco Malfoy não escondia a repulsa pelas táticas de guerra do Major americano Robert Callahan. Era uma antipatia recíproca, um não gostava de trabalhar com outro. Mas não podiam lutar contra as ordens dos seus superiores. Draco não gostava em nada de ficar dias entrincheirado a espera do inimigo, e Robert não aprovava a atitude impulsiva, até mesmo suicida do capitão da RAF. Capitão Malfoy tinha de zelar pelo bem-estar de suas tropas e não levar aqueles pobres meninos a cometerem suicídio. Draco, porém, não gostava de ficar pescando moscas enquanto os aviões alemães aleijavam os seus soldados. Não gostava de ficar a espera de algum milagre, se estava naquela bendita guerra era para lutar e não para ficar demonstrando para os alemães o quão frágil eles eram.

- Eu não quero brigar com o senhor major, mas também não vou ficar quieto quando vejo que em vez de lutar nossas baionetas estão enferrujando, pois o senhor teme perder mais homens - falou Draco, sério. - Isso não é guerra, não pelo que eu sei. Devemos conquistar territórios antes que eles conquistem o nosso país. Além de tudo vocês americanos...

- Capitão, você por acaso está insinuando que os americanos não sabem batalhar? - perguntou o major em tom desafiador.

- Isso mesmo, senhor... – respondeu em tom ameaçador.

- Como ousa...

- Ouso, pois o senhor acha que aqui na RAF há lugar para maricas medrosos.

- Hora seu desgraçado filho de uma mãe! - praguejou o major, indo a sua direção.

Ele queria briga, e era isso que iria ter. Ele não fora criado em umas das mais tradicionais escolas militares de Londres para agora amarelar só porque o grande major queria uma boa briga.

- Ora ora, os dois inimigos declarados estão conversando. Isso é um milagre ou atrapalhei a briga? - falou Sir Alan Brooke, entrando na sala sem a menor cerimônia. - Não sei porque tanto ódio se ambos tem o mesmo sangue...

O grande senhor do exército, Sir Alan, era um parente distante, mas que se julgava ser um Malfoy, o que era uma baita de uma mentira. O que reforçava isso era o fato dele sempre comentar sobre os seu laço de sangue com aquele americano. Mesmo que fosse verdade o fato de Lúcio Malfoy ter tido um caso com a mãe dele, isso não queria dizer nada... aliás, não punha a mão no fogo por nenhuma mulher no mundo. Todas eram iguais a Pansy: aproveitadoras, mentirosas e que sempre estavam atrás do status, luxo e conforto que o nome Malfoy as proporcionavam.

- O que deseja, Sir Brooke? - perguntou Robert controlando a ânsia de quebrar o nariz capitão idiota.

- Tenho boas novas. - falou o velho retirando o casaco de lã pesado e entregando ao seu secretario fiel Weasley.

- Qual é bomba desta vez, meu tio? - perguntou Draco com o costumeiro sorriso desdém.

- Bem, o ministério decidiu que está na hora de atacarmos a Ruhr, e tomarmos aquele lugar das mãos protetoras do eixo.

Draco não escondia o contentamento. Depois de semana de inatividade iria voltar para o campo de batalha. Voltaria à ação e mostraria para aqueles macacos que era o vencedor daquela guerra.
Robert estava feliz, porém demonstrava sempre calma. O céu era o único lugar que o fazia se sentir vivo desde da morte de sua amada Mary.

- Não podia ter trazido noticia melhor, meus homens já não agüentavam mais aqueles malditos treinamentos e as noites de sexo e farra no bordel de madame Carmem! - disse Draco com o mesmo cinismo de sempre.

- Então, literalmente, você vai despejar bombas em cima daqueles palhaços inúteis. - falou Sir Weasley, sorrindo. - Vai com calma menino, a RAF já perdeu muitos aviões...

- Eu sei disso, Weasley, mas sob o meu comando nenhum jovem sairá ferido, ou senão meu nome não é mais Malfoy e sim Weasley! – concluiu, sarcástico, pegando o quepe e saindo da sala.

Sir Alan não pode deixar de sorri. Draco era polêmico, selvagem, intrigante, habilidoso e extremamente antipático, mas mesmo assim gostava do sobrinho. Ele tinha a personalidade forte como Lúcio, porém não tinha sequer resquício do mau-caráter tão presente naquele homem vaidoso e até mesmo cruel.

- Um dia Draco vai acabar pagando pela a língua dele... - falou Robert, cansado. - Nós não nos damos bem, ele é impulsivo, não me obedece... ai se tivesse coragem, eu iria mandá-lo preso por desacato à autoridade.

-Ele é o seu irmão, - falou Sir Weasley - pode até ter seus defeitos, mas não é maldoso.

- Eu sei, e é isso que mais me prejudica. - falou ele com meio-sorriso. - No fundo eu gosto dele...

Continua...