PARTE I

"Fazia muito frio naquela noite. Um vento gelado, que penetrava até os ossos vinha do deserto e soprava na cidade. Aquele Halloween transcorria surpreendentemente calmo no Laboratório de Criminalística de Las Vegas. Parecia que os criminosos faziam de conta que eram normais, naquele dia.

"Oxalá, todos os dias fossem de Halloween", pensava Grissus, o supervisor do noturno, do laboratório, recostado na cadeira de sua mesa. Esse trabalho parecia talhado para ele, noturno e tendo de descobrir criminosos. Nada melhor para um vampiro de mais de quinhentos anos, solitário, podendo ler os pensamentos dos humanos, e assim elevado à posição de gênio, no laboratório, por desvendar casos, com certa facilidade.

O restante da equipe, compunha-se de Katrina, uma agitada vampira, um pouco mais nova que Grissus, muito animada e espevitada, que era muito amiga do supervisor, não certamente, por afinidades, mas por serem os únicos vampiros da região.

Sara, uma bruxinha morena, muito bonita, por quem Grissus nutria um amor secreto e platônico; embora ardesse de um feroz desejo por ela, como só os vampiros são capazes de arder.

O restante da equipe era formada por três rapazes, inteligentes e capazes, mas ainda assim, mortais comuns. Atendiam pelos nomes de Warrick, Nick e Greg.

Ninguém no laboratório sabia da real identidade de Katrina e Grissus, a não ser o doutor Robbins, que arrumava sangue para a dupla. Grissus há décadas, não matava pra comer, embora, às vezes, Ecklie o tirasse do sério, e lhe desse vontade, de morder seu pescoço.

Ecklie era o diretor do laboratório, e às vezes, Grissus observava furioso, o jeito prepotente e arrogante, com que o diretor tratava Sara. Era a custo que conseguia se controlar. Katrina o ajudava nessas horas, não por ser boazinha, ou gostar de Ecklie. É que sabia que o amigo, se consumiria em remorso eterno se fizesse algo de mal ao outro. "Vampiro com consciência, é dose!", ela pensava rolando os olhos.

Ele e Katrina sabiam que Sara era uma bruxa, mais ninguém; bem que Grissus queria contar de sua condição, mas tinha receio de que se ela soubesse que ele era um vampiro tão velho e que não poderia nem sonhar em passear ao sol, sem se incendiar, fugiria correndo dele.

Grissus podia ler o pensamento de qualquer um, mas evitava os pensamentos de Sara, para dar-lhe certa privacidade. Às vezes, contudo, não refreava a curiosidade, e invadia sua intimidade, principalmente se a conversa era sobre ele. E mais de uma vez, corou ao saber dos pensamentos dela.

Naquela noite percebeu de rabo de olho, que ela estava muito bonita e muito triste. Ele gostaria de saber o motivo e se pudesse, ajudá-la.

- O que você tem, Sara? Sinto você tão triste! Posso ajudá-la de alguma maneira?

- Não há nada que você pode fazer! Queria ter um amor... Um namorado, que me aquecesse em seus braços... Segurasse minha mão, para me dar confiança!

Grissus olhou-a com tristeza e depois pousou seus olhos azuis no chão. Ao olhar para ela, soube que ela queria bem mais que pegar na mão... Mas ele era frio como um peixe, como poderia aquecer alguém?

Em seu peito não batia um coração, não no sentido convencional. Mas a verdade é que ele nutria pela bruxinha, uma paixão avassaladora, como jamais sentira em séculos de existência.

Outra razão para Sara, se sentir infeliz é que não estava se saindo muito bom, como bruxa: duvidava que aquele negócio fosse pra ela. Vivia fazendo trapalhadas, com suas poções e feitiços. Não sabia como não tinha explodido o laboratório, ainda.

Ela contava com ajuda e os conselhos de Lady Heather uma bruxa mais velha. Esta sim, uma grande bruxa, dona de sua própria vassoura!

Foi seu aconselhamento seguro, que possibilitou Sara trazer Grissus ao seu estado normal, quando ela, querendo ajudá-lo num caso, o transformou, inadvertidamente, num desajeitado e gordo ganso. A bruxa novata não tinha idéia de como reverter o feitiço. Lady Heather, ensinou-lhe e conheceu Grissus naquela ocasião.

Ficaram encantados com o intelecto, um do outro; e desde então, tinham uma grande amizade, usada sempre que Grissus precisava de conselhos, e Heather tinha algum problema com a lei.