Gestos Discretos

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.: As palavras continuavam a persegui-la como espelhos de si, ecos das verdades por ela já ditas.

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Agarrava forte a almofada que tinha entre os braços ouvindo distraída a amiga que estava sentada logo ao fundo da sua cama.

- Dá-lhe espaço Ginny. Dá espaço a ti própria. Não deixes que ele te prenda, afinal existem muitos mais rapazes por aí. Diverte-te, descontraí e quem sabe ele não passa a olhar para ti de uma outra maneira.

Olhou atónita para Hermione que a encarava séria. De onde tinha vindo aquela conversa? Ginny olhou para ela confusa.

- Harry Potter, Ginny! Eu estava a falar dele. – Disse impaciente. – Pensa no que eu te disse.

Os seus olhos acompanharam Hermione até à porta e ficaram a encarar o vazio durante muito tempo. Ela sabia que a amiga tinha razão, assim como sabia perfeitamente que existiam outros rapazes por aí. Mas o que podia ela fazer se nenhum outro se comparava com ele, se nenhum outro era tão perfeito, para ela, como o famoso Harry Potter?

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.: A neve caía criando um cenário de contos de fada, quando o gelo trouxe calor ao toque.

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A sua respiração congelava no ar em pequenas nuvens ausentes, os seus pés marcavam a neve branca ainda inexplorada, distantes. Naquele momento, divagava entre recordações aleatórias, longe demais até para ouvir.

Foi, talvez, num desses momentos que um pare de olhos verdes a trouxe de volta à realidade. Sentiu-se parar, os joelhos demasiado fracos para continuarem a suportar o peso do seu corpo.

- Olá Ginny.

Foi tudo o que ele disse ao passar por ela.

Depois, sem saber porquê, ou quando o fez, ela sentiu a sua mão ir de encontro ao cachecol dele, que lhe caia pelas costas. O seu coração batia louco no seu peito e os seus dedos percorreram suavemente a lã, fazendo com que ela se perguntasse se aquele gesto teria ainda o mesmo valor se ele soubesse. Ali, ela aprendeu a amar os gestos discretos, aqueles que seriam um segredo apenas dela, algo partilhado pelos dois.

Quando finalmente ele se afastou o suficiente para que os dedos finos deixassem de tocar o tecido, um sorriso infantil dançava nos lábios dela. Talvez, Ginny se tivesse apercebido do brilho diferente que nasceu nos olhos verdes.

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.: Porque, em algum ponto da história os gestos recatados foram insuficientes e as emoções falaram mais alto.

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Ginny pousou suavemente a cabeça no peito nu dele, agora confortável o suficiente para dormir. Sentia a mão dele acariciando os seus cabelos ruivos, ou traçando, docemente, linhas imaginárias na sua pele. Um suspiro de satisfação deixou os seus lábios, sendo percebido pelo rapaz de cabelos escuros que apenas sorriu ao ouvir o som, tão agradável aos seus sentidos.

- Cansada? – Troçou.

- Não, apenas demasiado feliz. – Disse Ginny sorrindo para ele, com um dos mais belos sorrisos que ele alguma vez vira.

- Dorme. Amanhã vai ser um dia longo. – Aconselhou-a, levando um dedo ao nariz dela, como se ela fosse uma criança.

Assim, Ginny deixou-se ficar nos braços do único homem que ela alguma vez amara, enquanto Harry velava o seu sono, demasiado feliz, mas com medo de que ao fechar os olhos o anjo nos seus braços não passa-se apenas de uma recordação.

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Eu amo-te.

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Rasgo de inspiração num dos piores dias da minha vida.

Eu sei que não está nada de especial, mas deixem reviews, se quiserem...

Anna