N/A: Essa se chamava originalmente Pensamentos, mas aí tive um pequeno conflito de títulos, haha, e acabei renomeando.


A Dama

Dizem - não com palavras, mas dizem ainda assim - proibido à damas como eu um olhar de lascívia. Porque eu não sou uma mulher, não mais. Sou uma professora. E às professoras é reservado tão somente a sala de aula e o sóbrio profissionalismo. É verdade, a sobriedade em mim excede o aparente, está fundido à minha alma, coisa de berço.

E esperam mais, esperam demais. Esperam motivados por meu comportamento, pela minha postura, que eu mantenha meu comportamento e minha postura. É verdade, é realidade, a minha coragem. Minha firmeza em lutar por aquilo que acredito, por cada aluno meu, pelos amigos e por essa escola, eu não nego. Porque é essa a minha família. Eu não tenho mais ninguém. O tempo me tirou o que ele próprio tinha dado, minha mãe, meu pai, irmãos cujo sangue era o mesmo que agora só eu carrego pulsante dentro de mim. Ninguém mais. Toda a minha família é uma família de coração, uma família que me conhece superficialmente e me toma por... polida e formal, e apenas isso, salve talvez você. Pois sim. Polida e formal.

Mas quem vê que também sou humana? (Talvez você). Que por vezes meu coração incha-se de alegria ou agoniza de dor? (Vê, será?) Quem vê que por vezes o meu corpo anseia por outro corpo?...

Você vê, Albus, que meu corpo grita pelo seu? Você pode ver? A minha coragem não é grande o bastante para pronunciar com esses lábios, alto e claramente, que eu te quero, não é. Mas talvez, do outro lado do tabuleiro de xadrez, você, agora mesmo possa ver... enquanto me fita com esses olhos azuis tão brilhantes, misteriosamente indecifráveis... que tudo o que eu quero, tudo que eu sempre quis, é perder meus dedos, minha respiração e minha sensatez nesses seus cabelos brancos.

Me ame. Me ame. Me... ame.

- Xeque.