Tudo aconteceu em apenas três dias. Em três dias os pais de Olívia contaram sobre a decisão de voltar à Londres, arrumaram as coisas e foram. Há três dias Olívia estava com os amigos no jardim da dourada Escola de Magia Castelobruxo, todos em seus uniformes verde claro conversando enquanto observavam um Caipora entrando na floresta, eles eram os guardiões do 'templo', ainda assim dificilmente eram vistos. Nesse dia ela foi chamada à sala da diretora, sentados à mesa, que mais parecia um altar de sacrifício, estavam seus pais. Lá ela recebeu a notícia: seu pai, inglês, recebeu uma oferta de trabalho no Ministério Inglês, eles precisavam de bruxos experientes para lidar com a guerra ré pajé e bruxa que estava acontecendo na Europa, e o motivo extra era que seu pai estava preocupado com seus avós, estes viviam na Londres ré pajé e eram o que os seguidores de Grindelwald chamavam de simpatizantes, ambos eram idosos demais para se defenderem sozinhos – ou assim seu pai dizia – e idosos demais para se adaptarem a outro país – ou assim eles afirmavam —. Desse modo ficou decidido, sem a aprovação de Olívia, claro, todos iriam para Londres e como o Ministério tinha uma certa urgência, não havia tempo a perder. Eles morariam em uma casa próximo à Mansão dos avós e Olívia seria transferida para a Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts, onde seu pai estudara, devido ao excelente desempenho escolar – e talvez a influência da família da mãe de Olívia no Congresso Mágico – Castelobruxo aceitou desconsiderar os próximos últimos dois meses de aula e declarar em documentos a aptidão para iniciar o quinto ano sem muita dificuldade.
Durante a viagem Olívia descobriu que as aulas em Hogwarts começam todo dia primeiro de setembro, o que significava que suas férias entre o quarto e quinto ano seriam a semana passada no navio mais um dia, noticia frustrante para acrescentar ao bolo de notícias ruins recebidas em tão pouco tempo.
A semana passou mais rápido do que Olívia imaginou e quando se deu conta o navio já estava aportando.
— Faz muito tempo que não trazemos você aqui, não é? – Recostada na murada ela toma um susto, ao virar seu pai está ali com um sorriso no rosto.
— Sim, faz mesmo. Nem me lembro mais de como o vovô e a vovó são – Sua voz soa distante, até mesmo para si.
— Devem estar tão excêntricos quanto eram antes ou, conhecendo eles, mais ainda. Eles têm o dom de se superarem. – Seu pai recosta também e ela fica observando, em silêncio, os fios loiros com leve tons de grisalhos balançarem ao vento do mar. – Eu sei que não foi justo. Sei que é isso que está pensando. Não fomos justos com você, tirá—la do Brasil, de sua escola e de seus amigos para vir conosco, mas garanto que, talvez não agora ou não em um futuro próximo, você vai entender.
— Eu entendo pai, mas o mundo ré pajé está no meio de uma guerra cujo centro é a Europa, não acha que teria sido mais seguro para todos levar o vovô e a vovó para o Brasil, precisa mesmo desse trabalho? Lá está em uma situação melhor que aqui. – Os olhos amarelos dela procuraram os dele, tão iguais.
— Meu país precisa de mim e seus avós estão em uma idade avançada, querida, e eles não saem mais de onde estão, principalmente em meio a uma guerra. – Ele deu um sorriso brincalhão característico. – são dois cabeças duras. Além do mais uma guerra trouxa não os preocupam, bruxos têm seus meios de serem pouco afetados por elas – Seu pai voltou os olhos para frente, ficando sério novamente – O preocupante é Grindelwald e por mais incrível que isso possa parecer, o lugar mais seguro para nós é na Inglaterra.
— Acho pouco provável que ele vá até o Brasil para nos atacar, mas nem um pouco que ele vá à esquina para fazer isso. – Olívia franziu os rosto e apoiou o queixo nas mãos, parecendo uma criança emburrada.
— Querida, Grindelwald faz mais visitas à América do que é seguro pensar, porém ele não entra na Grã—Bretanha. Ainda não sabemos o motivo exato disso, mas já faz um tempo desde a última vez que ele foi visto por aqui. Ainda assim não podemos subestimar os seguidores dele, são perigosos somente não pelo ódio que propagam.
— Mamãe me contou que você já foi um Auror, pretende voltar a ser? – Olívia pensou em como seria ter um pai Auror, apesar de achar uma profissão interessante, ela não conseguiria ficar em paz sabendo que ele estaria correndo perigo.
— Não, não tenho vontade de voltar a ser Auror, você e sua mãe não me deixariam em paz – Ele sorriu e deu uma piscadinha, arrancando uma risada dela – Talvez eu vá para área de inteligência ou talvez para controle de magia ou quem sabe eu possa ser um Inominável.
— O que um Inominável faz? – Olívia viu a rampa de desembarque ser baixada e sabia que a qualquer momento a mãe apareceria dizendo para recolherem as bagagens.
— Não sei bem, mesmo se soubesse, não poderia te falar. O nome não é à toa – Ela fez expressão de irritada e ele virou andando para as cabines, sua risada aflorando sempre o melhor nela.
Olívia o decidiu segui—lo, quando estava chegando à cabine deles sua mãe apareceu na porta usando um vestido azul marinho até abaixo do joelho e cabelos castanho escuro feito. Estava linda. Como sempre.
— Queridos, já arrumei as coisas de vocês, temos que nos apressar. – Sempre ativa ela já havia trazido todas as bagagens até a porta e, com certeza, só não saiu com tudo para os ré—pajés não a virem levitando bagagens pelo navio. – Anthony, seus pais estão esperando no porto ou em casa?
— Pedi para ficarem em casa, vamos aparatar lá após o desembarque. – Todos pegaram suas coisas e foram, após a alfandega seguiram até um beco escondido onde desaparataram para a Mansão Fawley.
As fotos não faziam jus à mansão. Esse foi o primeiro pensamento de Olívia ao pôr os olhos na incrível estrutura que não eram um branco, mas também não era um bege, com detalhes em dourado envelhecido. Sua avó, saiu pela porta mais parecendo uma menina, vestida com uma túnica colorida e os cabelos brancos e longos soltos nas costas, cordão com um dente de alho como pingente e óculos de grau berrante escorregando pelo nariz como se ela estivesse lendo algo interessante antes de escutá—los chegando. Logo atrás dela estava seu avô, com uma calça caqui, camisa branca e suspensórios vinho, seu óculos pendurados no pescoço, a aparência de normalidade era quebrada pela calça caqui dobrada até os tornozelos e uma pantufa peluda rosa choque parecendo caber perfeitamente em seus pés.
— Anthony, querido. Finalmente você chegou! Já estava ficando preocupada. – minha avó o abraçou apertado. Totalmente não característico dos modos ingleses. Olívia não conseguiu segurar o pensamento irônico. – Olívia, como está linda, seus olhos são iguais aos do seu pai, e seu cabelo escuro está tão bonito quanto o meu era na sua idade – Olívia sabia que ela tinha dito somente para provocar sua mãe, uma vez ela escutou seus pais conversando, sua mãe e sua avó tinham um relacionamento de alfinetadas carinhosas, elas se gostavam, mas se divertiam implicando uma com a outra.
— Obrigada vovó, a senhora está muito bem também – O comentário foi feito mais que por educação, sua avó exalava energia de uma jovem.
— Ora, bobagem... – Ela balançou uma mão frente ao corpo como se espantando uma mosca invisível — Eu sei que estou velha – e riu, como seu pai fazia. Foi refrescante. – Amélia, engordou querida? Não me diga que está grávida!
— Não estou grávida Senhora Fawley, apesar de ainda tentar – Sua avó levantou uma sobrancelha e soltou uma gargalhada antes de abraçar a mulher morena e esguia a sua frente.
— Impertinente, está mais bonita que da última vez em que a vi. – A idosa afrouxou o abraço e sussurrou alto o suficiente para até os mortos ouvirem. – Se quiser, tenho um poção excelente que ajuda nessas coisas, quando era mais jovem eu também tinha dificuldades em engravidar.
Amélia mostrou—se surpresa.
— Nunca imaginaria, a senhora tem 9 filhos – Sua surpresa fez surgir uma risada abafada e uma piscada de olho – Ahh, não, não. Não, obrigada. Nada de poção. – As duas cruzaram os braços e foram andando em direção a casa ocasionalmente uma soltava um som indignado.
— Pai, como o senhor está – Pai e filho estavam se abraçando e batendo nas costas um do outro, de um jeito que somente homens fazem.
— Muito bem, meu filho. Com meu laboratório trabalhando a todo vapor! – O senhor soltou o homem mais novo e pousou os olhos nela. Olívia abriu um sorriso e quando viu, estava presa nos braços robustos de um idoso igualmente robusto. – Está tão grande e bonita, uma mistura certa entre seu pai e sua mãe.
— Obrigada vovô. – e não disse mais nada, por não saber o que falar, até ele soltá—la – O senhor tem um laboratório?! Pesquisa sobre o que?
— Ahh isso? Sou especialista em poções, em outras áreas também, mas sei muito sobre poções – o senhor voltou a caminhar para casa ao lado de Olívia – Se quiser te mostro amanhã.
— Eu vou adorar ver seu laboratório! – A casa cheirava a carne ensopada com batatas e a bolo de chocolate. – O cheiro aqui está ótimo.
— Sua avó fez almoço ela imaginou que vocês estariam com fome. Posso ver que ela certou
O restante do dia passou rápido, eles ficariam na casa dos avó de Olívia até que ela fosse a Hogwarts, depois seus pai arrumariam a casa próximo à dos idosos para ficar. Após a janta, todos estavam reunidos na sala de estar conversando sobre amenidades e pondo o tempo distante em dia, Olívia criou um carinho muito grande por seus avós, eles eram um pouco excêntricos, bem menos do que ela imaginava, mas eram boas pessoas e se importavam de verdade com todos.
— Sua mãe comentou que vai estudar em Hogwarts. – A avó comentou enquanto arrumava os ingredientes para uma poção que o avô estava fazendo – Eu e seu avô nos conhecemos lá. Eu era da Lufa Lufa e Darius eram da Corvinal. Seu pai estudou lá também e acabou se tornando um Lufano como eu – Olívia não fazia a menor ideia do que a vó estava falando, e talvez isso tenha ficado muito óbvio pela expressão dela a ponto de sua avó perguntar. – Não conhece as casas de Hogwarts?
— Casas? Como assim?
— Casas, os alunos são separados por casas, de acordo com a personalidade e aptidão curricular. Mais personalidade. – Com a voz confusa voltou a completar — Em sua antiga escola não havia casas?
— Não, éramos separados por turma, mas isso variava de matéria para matéria.
— Vou te explicar o esquema de casas – Seu avó comentou levantando os olhos da poção que tomava uma cor prateada – São quatro ao total e a seleção é feita assim que entra na escola, ou seja, no primeiro ano.
— No seu caso no quinto – Sua avó sentiu a necessidade de completar.
— Isso mesmo. Tem a LufaLufa, que a sua vó e seu pai pertenciam. Os selecionados para ela são os bondosos e amigáveis, mas também podem ser bruxos muito fortes como meu filho e minha esposa – Completou sussurrando — Nunca irrite a sua avó ela pode assumir a personalidade de um Dragão Negro das Ilhas Hébridas. – E depois voltou a aumentar o tom – Enfim... Tem a minha querida Corvinal, os membro delas tendem a ser inteligentes e criativos – ele disse com um tom de voz orgulhoso – mas isso não significa que somos comedores de livros, apesar de na maioria das vezes nós sermos, os corvinos tem uma aptidão ímpar para áreas do saber, somos curiosos por natureza e muito espirituosos.
— Tem a Sonserina, conhecida por possuir os bruxos mais ambiciosos – Sua avó disse e olhando para o rosto de Olívia completou – ambição não é algo necessariamente ruim quando controlada, eles são astutos e perseverantes se querem algo, vão até o fim.
— E por fim temos a Grifinória, lar dos corajosos, alguns até ao ponto de serem idiotas – Seu avó comentou rindo – Mas eles são amigos fieis, estão sempre dispostos a ajudar as pessoas que são importante para eles. São enxeridos. Por natureza. Imagino que consegue evitar tanto quanto eu consigo ficar uma semana sem um livro, ou seja, não muito – Riu, parecia demostrar bastante carinho pela casa, ou por alguém de lá. – Quando se é selecionado, se ganha uma nova família.
— O melhor amigo do seu avô era um Grifinório. – A avó falou, parecendo saber o que se passava na cabeça da jovem. – Ele foi nosso padrinho de casamento.
— Ahh, entendi. Parece que só faltou um Sonserino por aqui. – O humor no tom era perceptível – E como é a Escola? – Olívia estava se sentido cada vez mais empolgada
— É um castelo enorme e magnífico, localizado em algum lugar da Escócia – Dessa vez foi seu pai quem falou – Chegam lá através do Expresso Hogwarts. Por falar nisso temos que fazer suas compras escolares. Há anos não vou ao Beco Diagonal, temos quer ir amanhã, já que depois de amanhã vocês estará embarcando para Hogwarts.
— Eu vou junto, tenho que comprar um ingredientes para repor meu estoque. – O senhor comentou apagando o fogo da poção pronta.
— Vamos ter que acordar cedo amanhã? – Olívia não poderia se dizer uma pessoa da manhã.
— Vamos mocinha, melhor ir para a cama. – Seu pai levantou e todos começaram a recolher as coisas para irem dormir.
