CAPÍTULO 1 – CHEGADAS E RETORNOS

- Sakura! Esta é a verdadeira forma da carta! Tranque-a!

- Tá! Volte a forma humilde que merece, Carta Clow!!!

Tomoyo desligou o vídeo. Aqueles eram bons tempos... Sakura e ela iam atrás das Cartas Clow, sempre ajudadas por Shaoran, mais tarde por Meilin também. Mais tarde as cartas Sakura... Como as antigas aventuras faziam falta para ela!

Tomoyo estava no 3o colegial, assim como todo o resto de seus amigos. Porém, havia uma grande mudança: NINGUÉM mais se encontrava em Tomoeda. Tomoyo sabia que Naoko tinha conseguido se tornar uma escritora de histórias de terror com sucesso, tendo se mudado para Tokyo, onde encontraria um mercado melhor para seus livros.

Chiraru e Yamazaki. Tomoyo riu ao pensar neles. Yamazaki e Chiraru não mudaram nada, nada MESMO. Ambos decidiram se casar. Já tinham feito a cerimônia três vezes, mas Yamazaki sempre dizia não na hora do: "Aceita Chiraru Mihara como sua esposa?" e saía calmamente da Igreja. Tomoyo tinha recebido o convite da quarta cerimônia deles, que seria realizada em Maio. Os dois estavam para o interior, onde passavam as férias de Janeiro na fazenda dos pais de Chiraru.

Rika... Bom, Rika estava de noivado com o professor Terada. Ela tinha crescido e tomado ares de adulta, virando uma moça muito bonita. Agora nem dava para perceber muito a diferença de idade dela e do professor. Ambos estavam viajando. Tomoyo não estava certa, mas achava que os dois tinham ido para a França. Realmente formavam um casal encantador.

Mas não tanto quanto Sakura e Shaoran. Esse caso Tomoyo achou que nunca veria um igual. Ieran quis que Shaoran terminasse os estudos e fizesse a faculdade em Hong Kong, notícia que entristeceu e muito os jovens apaixonados. Então, Sakura decidiu que iria morar em Hong Kong, na casa de Shaoran. Convenceu seu pai, e, surpreendentemente, conseguiu convecer Touya também. Pelo que Tomoyo soube, Touya só ficou por causa de Yukito, na verdade, Yue, que precisava de sua energia. Agora, já fazia um ano que Sakura morava no exterior.

Por falar em exterior... Eriol tinha voltado para a Inglaterra no ginásio ainda. Ele e Tomoyo se falavam, mantendo uma correspondência fixa por carta. Ele estava planejando cursar a faculdade de música, assim como Tomoyo, e por isso teria que estudar para o exame. Devido a isso, ele disse que teria que mandar cartas com menos freqüência para ela. Tomoyo ficou triste, é verdade, mas ela TAMBÉM tinha de estudar. Então ficou por isso mesmo.

Suspirando, Tomoyo saiu da sala de vídeo conjugada ao seu quarto. Se jogando na sua cama enorme, ela pensou na vida que levava... Sua vida agora resumia-se a estudar, comer, dormir. Era uma rotina maçante, é verdade, mas tinha uma coisa boa: sua mãe trabalhava menos, deixando a empresa mais nas mãos dos empregados, ficando mais tempo em casa com Tomoyo, ajudando-a nos estudos. A empresa continuava a faturar como nunca.

Perdida em recordações, Tomoyo assustou-se com uma barulheira repentina. Parecia que vários caminhões descarregavam coisas muito pesadas, fazendo um estardalhaço ao colocarem-nas no chão, ou algo parecido. Com o barulho, Tomoyo desceu para o térreo, juntamente com dezenas de empregados, para ver o que estava ocorrendo.

Quase a casa inteira estava no jardim. Na mansão ao lado, que estivera desocupada durante uns três meses, haviam luzes ligadas e realmente, caminhões descarregando milhares de coisas. Acabava de entrar pela porta um pesado sofá, carregado por três ou quatro homens. Logo atrás caixas e caixas de papelão entravam. É, parecia que alguém ocupara a casa.

Depois de satisfeita a curiosidade, os empregados e Tomoyo voltaram para dentro da casa. Muito cansada, ela não quis comer nada, e trancou-se em seu quarto. Colocou o pijama e deitou. Por mais que a casa vizinha tivesse parado com o barulho, Tomoyo não conseguia dormir de jeito algum... Virava de um lado para o outro, sem uma posição que lhe fosse confortável.

De repente, uma melodia suave começou a invadir a casa. A música era tocada por um piano e vinha da casa vizinha, Tomoyo tinha certeza absoluta. Apurando os ouvidos, Tomoyo tentou prestar atenção à melodia. Era muito conhecida. Conhecida MESMO. Com um estalo, Tomoyo reconheceu a canção: "Yoru no Uta". A música que cantara quando Sakura capturou a carta Canção.

Tomoyo apreciava a música, calmante e bem tocada pelo vizinho. Ligeiramente mais feliz por ter um vizinho que apreciasse música, Tomoyo decidiu que iria levar uma cesta de boas-vindas para o novo morador amanhã de manhã. E, embalada pela canção da noite, Tomoyo adormeceu, com um belo e tranqüilo sorriso no rosto...

Quando os raios de sol conseguiram atravessar a cortina do quarto de Tomoyo, a garota abriu os olhos. Ainda espreguiçando-se na cama, ela se sentou. Olhou para as cortinas, em seguida saindo da cama para que pudesse afastá-las. Saiu na varanda. Uma bela manhã se iniciava diante de seus olhos. Ela sorriu, entrando novamente no quarto, se encaminhando para o banheiro.

Encheu a banheira, regulou a temperatura da água e tirou o pijama. Entrou e começou a tomar seu banho, sem pressa alguma. Se sentia feliz, mais do que o normal. Mas a que se devia essa felicidade? Tomoyo, por mais que tentasse, não conseguia se lembrar da noite anterior... Então um estrondo fez com que Tomoyo deixasse o sabonete cair no fundo da banheira. Pareceu à garota que alguma coisa tinha quebrado. Mas o barulho era meio...distante?

Então Tomoyo se lembrou da mudança do dia anterior, juntamente com a melodia do piano. Achara o motivo do ânimo. Lembrou-se da cesta também. Terminando rapidamente o seu banho, Tomoyo enxugou-se e, olhando no espelho, escolheu uma bonita roupa para vestir.

Tomoyo tinha seus dezessete anos. Seu cabelo negro tinha ficado comprido, igual ao de Nadeshiko, emoldurando sua face pálida, lar de seus belíssimos olhos violeta. Seu corpo tinha tomado forma, dando origem à um corpo bem feito, como que pintado a mão de maneira muito caprichada, atraindo muitos olhares, de admiração até inveja, embora a dona deste não percebesse. Continuava com um semblante sempre meigo e calmo, e com um sorriso doce irremovível do rosto. Olhou para seu extenso guarda-roupa.

Uma blusa canelada de gola alta violeta escuro tinha sido a escolhida. Por cima da blusa, ela colocou uma gargantilha dourada, sem nenhum pingente, realçando o brilho dourado do adorno. Para combinar com a blusa, escolheu uma saia até o joelho de algodão, muito confortável, estampada com várias flores em tons de roxo, violeta e vinho. Colocou uma meia-calça roxa escura e, para finalizar, prendeu o cabelo com uma faixa, também nos tons da roupa. Em seguida desceu para a cozinha.

Sorridente, Tomoyo preparou o seu café da manhã, sob o olhar dos empregados, estranhando a sua ação. Sentou-se na mesa da sala, saboreando vagarosamente cada pedaço do café. Assim que terminou, pediu para que as cozinheiras montassem uma cesta de café da manhã maravilhosa, com tudo do bom e do melhor, digno do consumo da família Daidouji. Depois, saiu para o jardim.

Enquanto caminhava na sua estufa, Tomoyo recolheu alguns exemplares de suas flores mais belas e alegres. Montou um bonito ramalhete, atando as flores com um laço. Voltou para a cozinha, onde a cesta já estava pronta, devido a eficiência das cozinheiras. Prendeu o ramalhete à cesta e se dirigiu a casa vizinha.

Depois de alguns minutos, ela estava parada em frente à mansão recém-ocupada. Aproximando-se da porta, Tomoyo podia ouvir vozes distintas no interior da casa. Tocou a campainha.

Uma voz feminina estridente começou a gritar, parecendo muito animada com o barulho da campainha ou algo do gênero. Então outra voz, dessa vez masculina, mandou a primeira voz ajudar um terceiro com a mudança no andar de cima. Parecendo meio que a contragosto, a primeira voz sumiu, subindo pesadamente pela escada.

Ela ouviu o barulho de uma chave girando na maçaneta, e em seguida a porta abriu. O rapaz que a abrira estava sorrindo. Vestia uma camisa de manga longa, azul escura. Usava também uma calça social preta, assim como seu cinto preto fino com adornos dourados, que estava preso à sua cintura.

As feições do rapaz também transmitiam paz e tranqüilidade, assim como a de Tomoyo. Ele usava o cabelo azul bem escuro curto, um pouco abaixo das orelhas. A cor de seu rosto era bem clara e suave, de um tom de pele muito bonito. Seus olhos abriram por detrás de um óculos de aro fino transparente e de lentes de cristal. Os olhos dele eram azul escuros, de um jeito que inspirava temor e ao mesmo tempo conforto.

Tomoyo reconheceu aquele rapaz de algum lugar. Puxando pela memória, ela falou de repente:

- Eriol!

Eriol sorriu, em seguida respondendo:

- Tomoyo. Parece que não mudei tanto, não?

A garota pousou a cesta no chão, em seguida abraçando fortemente Eriol. Ela encostou a cabeça no ombro do garoto, enquanto este afagava suavemente o cabelo de Tomoyo.

- Quanto tempo, Eriol, quanto tempo!!

- Sim, já faz muito tempo...

- E sobre os seus estudos?

- Eu te conto. Mas não acha melhor entrarmos?

Tomoyo apanhou a cesta e entrou, sendo seguida por Eriol, que fechou a porta atrás dela. Ele encaminhou-a para a sala de estar, onde o luxuoso sofá da noite anterior estava. A sala já estava decorada e limpa, parecendo que já fora arrumada. Eriol a convidou:

- Sente-se, Tomoyo, por favor.

Tomoyo ia se sentar, quando lembrou-se:

- Ah, Eriol! Esta cesta é para você! Eu trouxe de casa, como presente de boas-vindas. Mas eu não sabia que era você...

Ele sorriu novamente:

- Importa-se que o novo vizinho seja eu?

- Não, de jeito nenhum.

- De qualquer forma, muito obrigado pela cesta. Spinnel e Nakuru vão adorar – Eriol levou a cesta para a cozinha, mas tirando antes o ramalhete - Que lindas flores, Tomoyo! De onde são?

- São da minha estufa. Eu as colhi hoje de manhã.

Eriol sorriu, pegando um vaso entalhado em cima de uma mesa, colocando água e em seguida as flores.

- Irá ficar deslumbrante em cima do console da lareira. Ora, veja que anfitrião mau eu sou! Sente-se, vamos conversar um pouco!

Ambos riram e se sentaram. Então Tomoyo fez a primeira pergunta:

- O que faz aqui em Tomoeda, Eriol?

Ele sorriu. Pressentira que essa seria a primeira pergunta de Tomoyo. Sim, ele era Eriol, um jovem inglês aparentemente comum, mas com um pequeno detalhe: ele era APENAS a reencarnação do maior mago que já viveu, Clow Reed. Como conseqüência, ele conseguia prever, mesmo que sem intenção, as atitudes das pessoas. Poucas coisas o surpreendiam. Mas já havia ganho uma surpresa naquele dia: o abraço de Tomoyo. Tanto Clow como Eriol não esperavam aquela reação da garota.

- Achei que sua primeira pergunta seria essa. Bom, eu tenho um propósito, é verdade. Mas é uma explicação um tanto longa. Sinceramente, gostaria de lhe dizer isso hoje à noite. Espero ter terminado de arrumar tudo até à noite, quando pretendo chamar Yue e Kerberus aqui.

- O assunto é grave? – Tomoyo estranhou o fato dele ter de chamar os outros dois guardiães.

- Não, não, mas acho que facilitaria a minha explicação. Não quero esconder nada, apenas acho que seria mais fácil que você e eles estivessem aqui, porque é de interesse deles também. Entenda, não quero magoar-lhe.

Tomoyo confirmou com a cabeça.

- Então tudo bem. Mas tenho mais perguntas. E quanto aos seus estudos?

- Eu fiz a matrícula em uma universidade aqui. Vou terminar o colegial e fazer a minha faculdade de música aqui, em Tomoeda.

- Sério? Que bom, Eriol!

- E sobre Sakura? Tem falado com ela?

- Sim, falo com alguma freqüência. Pelo visto ela sente falta de Kerberus. Ela queria muito poder falar com ele, então pretendo dar a ele uma viagem até Hong Kong. E parece que anda criando cartas novas.

- Cartas novas? Que bom! Ela estava precisando de incentivos para acreditar em seu poder interior! Sabe que cartas ela criou?

- Não, infelizmente não faço idéia das cartas criadas, a não ser uma. Sei que foram mais de duas...e a de que sei foi devido ao irmão dela, lógico. A da coragem. A voz dela tremia no telefone.

- Touya sempre foi superprotetor de Sakura. Mas isso foi bom, conseguiu criar uma carta graças a isso.

Eriol sorriu. Depois disse:

- Sim. Aliás, voltando ao assunto aulas, quer que eu conte uma coisa agora ou depois do início delas?

- Agora. Mas eu posso adivinhar, depois do meu convívio com você. Posso estar muito enganada, mas acho que você se matriculou na minha sala, não?

Eriol sorriu. Formidável.

- Isso mesmo. Eu providenciei para que ficasse na mesma classe que a sua, Tomoyo. Já que você disse que estava tão sozinha, achei que era uma boa idéia.

Quem sorriu desta vez foi Tomoyo.

- Claro! A propósito, as nossas cartas realmente vão diminuir, né?

- Acho que sim. Afinal, para que dar trabalho ao carteiro?

Ambos riram. Então ouviram um barulho no andar superior. Tomoyo olhou para a escada, assustada. Eriol virou os olhos para cima, como se pudesse ver através do teto, simplesmente falando depois:

- Nakuru! Você sabia o quanto Spinnel gostava desse abajur. Era o preferido de leitura dele.

Os dois ouviram passos, e logo Nakuru e Suppi apareciam na escada.

-Não foi minha culpa, Eriol! O Suppi derrubou a minha caixa no chão, e eu tropecei nas minhas lindas e valorosas jóias! Aí eu derrubei o abajur do escritório! – Nakuru se defendia antes mesmo que alguém a acusasse.

Ela continuava com sua cara de sempre, com seu semblante alegre, além de seus famosos olhos castanhos. O cabelo dela estava diferente, cortado tipo em "V". Havia uma expressão de indignação no rosto dela, como se quebrar um abajur fosse uma grande calúnia. Continuava usando roupas mais justas do que as de Tomoyo, sendo que nesse exato momento usava uma saia curta preta, assim como suas meias três quartos, com uma blusa vermelho sangue. Exibia uma bonita pulseira, dourada também.

- Não foi não! Você que é desastrada e se enroscou no tapete, derrubando o abajur! – Suppi retrucou. O guardião estava em sua forma falsa, sendo que mais lembrava um bichinho de pelúcia roxo, com as orelhas, olhos e asas azuis. Sempre com a cara de inteligente, brigando com Nakuru.

- Não foi!

- Foi sim!

- Não foi, não foi, não foi!

- Foi sim, eu sei que foi!

- Será que vocês dois podem parar de brigar na frente das visitas?

Nakuru e Suppi voltaram a cabeça para o sofá, onde estavam Eriol e...

- TOMOYO!!!!! – Nakuru correu e abraçou a garota – que bom ver você, que bom! Faz bastante tempo, hein? Nossa, como você tá bonita!!! Ah, você tem visto o meu Touya? Como ele vai?

- Bem, muito bem! Ah, obrigada pelo elogio! Mas você também está diferente, Nakuru. Ah, bom dia Spinnel!

- Bom dia, senhorita Tomoyo. Prazer em revê-la.

- Igualmente, Spinnel.

- Ah, sai pra lá Suppi! Você notou? Eu achei que o meu cabelo ficava mais bonito assim, sabe?

- E ficou! Eu acho que seu cabelo comprido é mais charmoso assim.

As duas garotas continuaram rindo e conversando, enquanto Suppi "pousou" no braço do sofá, ao lado de Eriol.

- Mestre Eriol? Já contou à ela?

- Não, Spinnel. Vou chamar Yue e Kerberus aqui hoje a noite. Acho bom que eles escutem também – então se virou para Nakuru – já acabaram de arrumar a casa?

- Não, ainda não. Por quê?

- Nakuru! – Suppi bronqueou com a garota – esqueceu do jantar? Tá com a cabeça na lua?

- Não, no Touya...

- Vocês dois, escutem. Subam já e terminem o serviço lá em cima. Não quero brigas e reclamações. Spinnel, você deixa o seu abajur na mesa do escritório, eu vou olhar mais tarde. Nakuru, arrume o que quer que seja que você tropeçou, seus adereços ou o tapete. Certo? – ordenou Eriol

- Certo – responderam os dois imediatamente – Tchau Tomoyo!! – e subiram pela escada, se provocando no meio do caminho.

- Esses dois... Bom, lamento pela briga deles, Tomoyo.

- Imagina, Eriol. Você não tem culpa.

- Você virá ao jantar esta noite?

- Claro!

- Ótimo. Agora vamos arrumar a casa. Eu tenho que ajudá-los lá em cima. Me desculpe.

Tomoyo sorriu.

- Tudo bem. Mas eu gostaria de ajudar também. Por favor.

Tomoyo segurou as mãos de Eriol entre as suas, olhando profundamente nos olhos do rapaz. Ele estranhou esta reação também.

- Está falando sério?

- Sim. Veja só. Seríamos quatro e nos dividiríamos por piso, levando a metade do tempo para acabar e tendo mais calma para fazer o jantar. O que acha?

Eriol analisou a garota que emanava alegria à sua frente. Aquilo seria resultado da sua solidão forçada ou... Não, estava imaginando coisas. Tomoyo sempre foi muito educada e gostava de ajudar as pessoas, em qualquer coisa que fosse. Era isso. E o recente acontecimento com Kaho incitava sua mente a pensar daquele jeito.

- Hum... Tudo bem.

- Obrigada! Você não faz idéia do bem que me faz estar aqui! É maravilhoso passar a manhã na companhia de pessoas tão gentis! – Tomoyo se inclinou e deu um beijo na face do rapaz – eu vou chamar os dois lá em cima para dividir os cômodos! – inclinou a cabeça em sinal de respeito, subindo a escada calmamente depois.

Eriol passou a mão na sua face, no lugar onde Tomoyo o tinha beijado. O que foi aquilo? Parecia que realmente tinha ficado muito tempo sozinha, mas agora a coisa tinha mudado. Eriol se levantou e caminhou até a escada, quando ouviu o barulho dos passos.

Nakuru, Tomoyo e Suppi desciam a escada. Ela já havia explicado tudo aos dois.

- Por onde começamos? – perguntou Tomoyo

- Olha, eu fiz um mapa para não me perder – disse Nakuru, rindo – mas, de verdade, eu e o Suppi já fizemos metade do segundo andar. Falta a outra metade, a...

- É óbvio que falta a outra metade, Nakuru! – atiçou Suppi

- Seu chato! Deixa eu falar! – Nakuru puxou as orelhas de Suppi, enquanto Eriol e Tomoyo riam – bom, o jardim, a cozinha e a piscina. O resto é menos importante, e pode ser arrumado durante a semana, antes que as aulas comecem.

- Certo. O que sugerem? – perguntou Eriol

- Bom, Suppi e eu já estamos entrosados lá em cima, deixa o segundo andar pra gente! – Nakuru agarrou Suppi pelas orelhas – não é Suppi-chan?? Ah, deixa a piscina com a gente! É a parte mais legal!

- Tudo bem – respondeu Tomoyo – Eriol, estamos encarregados da cozinha e do jardim, certo?

O garoto confirmou com a cabeça, se virando para Nakuru e Suppi depois:

- Certo. Mãos a obra! – e cada um se dirigiu para seu "posto de trabalho", sendo que Nakuru e Suppi subiram as escadas enquanto Tomoyo e Eriol iam para as estufas e o jardim do lado de fora da casa. Nakuru olhou para trás, com um brilho malicioso nos olhos.

- Acho melhor fazer o jardim primeiro, antes que escureça. Aí vamos para a cozinha, aproveitando para fazer o jantar. Que acha, Eriol?

- Esplêndido. Vamos começar pela primeira estufa.

Entraram. Os dois jovens começaram a colocar as sementes certas nos vasoso certos, e agrupá-los nas fileiras certas, seguindo a futura cor das flores. Tomoyo fez placas para indicar aonde ficariam cada flor e de que cor, para terem uma noção melhor. Enquanto isso, Eriol ligava o sistema de irrigação. Fizeram o mesmo procedimento nas três estufas seguintes, sempre rindo, conversando e brincando. Foi uma manhã deliciosa para ambos. Na quarta e última estufa, Eriol teve alguns problemas.

- Problemas aí, Eriol? Eu já acabei aqui, estou indo!

- Seria ótimo. Acho que a válvula está enferrujada.

- O último vizinho não usava esta estufa, nem entrava aqui. Acho que a válvula deveria ser trocada, não?

- Sim, sem dúvida, mas vou fazer isso amanhã. Creio que deve funcionar, afinal, a casa só ficou desalugada durante três meses!

- Como você soube?

- Peguei os detalhes na imobiliária.

- Muito esperto! Este é o nosso Eriol prevenido!

- Obrigada. Mas agora... deixa eu ver. Se eu soltar aqui, a água pode escorrer por um outro cano, irrigando do mesmo jeito. Hum...

Eriol abaixou-se, com Tomoyo ajoelhada no chão ao lado dele. Ele pegou uma ferramenta, quebrando um anel metálico que prendia a bifurcação de dois canos. Só que os canos se separaram, jogando água para todos os lados, molhando completamente ambos os jovens.

- Parece que era o anel errado – murmurou Eriol, encharcado, para Tomoyo. Ele sorria, assim como ela.

- Acho melhor irmos comprar uma válvula nova, não?

- Sem dúvida alguma. Mas acho que se ficarmos aqui vamos pegar um resfriado...

Ambos se olharam. O cabelos dos dois, molhado, escorria sobre seus rostos. Então os dois começaram a rir, muito. Os dois estavam debaixo de um chafariz dentro da própria estufa de Eriol! Ambos sorriram:

- Eriol, você não faz idéia de como eu estou feliz pelo seu retorno...

- E você não sabe como estou feliz por ter retornado... – Eriol realmente estava feliz, mesmo com aquele assunto pendente...

- TOMOOOOOYO!!!!!! EEERIOOOOOL!!!!!

Os dois se entreolharam. Eriol falou:

- Nakuru. Já é hora do almoço, vamos lá fora.

- E a água? Vamos afogar as plantas!

Eriol sorriu. Esticou a mão para o cano. Tudo brilhou, e em seguida não havia mais chuva nenhuma, causada por cano quebrado algum.

- Então você podia...

- Mas aí não tinha graça. Eu tenho que usar as minhas habilidades, sem a magia. Tudo compensa pelo seu sorriso – disse o rapaz.

O grito veio de novo, mais forte. Os dois se levantaram, saindo da estufa quatro. Nakuru e Suppi estavam bem na frente deles.

- Aaaah...vocês estava aí! – Nakuru tinha o brilho diferente nos olhos – mas o que fazem molhados desse jeito?

- O cano de irrigação da estufa estourou. Acho que vamos a cidade comprar um novo amanhã. Dei um jeito com magia hoje.

Tomoyo confirmou com a cabeça. Então Eriol disse:

- Está na hora do almoço, mas acho melhor que tomemos um banho antes. Concorda, Tomoyo?

- Sim, claro! Mas eu preciso pedir para as minhas empregadas pegarem roupas secas e...

- Não se preocupe! Eu te empresto! E vamos logo porque eu quero comer! - Nakuru puxou Tomoyo pela mão.

Os quatro foram para o interior da casa, se arrumarem para o almoço e continuar a arrumação da mansão de Eriol. Da casa de Tomoyo, Sonomi assistiu a tudo, muito feliz por Tomoyo. Fazia tempo que ela não ria nem se divertia assim... Era bom ver que alguém conhecido dela se instalara em Tomoeda...

Nakuru guiou Tomoyo para um dos lindos banheiros da casa de Eriol, enquanto Suppi e Eriol foram para um outro banheiro. Nakuru explicou pra que cada torneira servia, qual o melhor sabonete, o melhor jeito de lavar o cabelo e mil coisas a mais. Ela levou as roupas molhadas de Tomoyo para a lavanderia, no subsolo. Suppi fez o mesmo processo com as roupas de Eriol.

Tomoyo se deliciava no banho de espuma que Nakuru tinha ensinado para ela. Enquanto tomava o seu segundo banho naquele dia, pensou na guinada que sua vida dera para cima, definitivamente. Era tão bom ter alguém que era conhecido por perto, para conversar, rir, relembrar o tempo da transformação das cartas Clow para Sakura, enquanto Eriol provocava os incidentes... Então, Tomoyo começou a cantar. Uma canção alegre, do tempo de infância dela, junto com Sakura, Shaoran, Eriol, Meilin e todo o resto do grupo.

Do outro lado da casa, Eriol escolhera o mesmo tipo de banho que Tomoyo escolheu. Ele gostava de ficar afundado em montes de espuma, era bom para pensar... E ele realmente pensou em como sua vida mudaria dali para diante. Não, já mudara. Ele estava acostumado com a companhia de Nakuru e Suppi, mas ter a companhia de outra pessoa normal a não ser Kaho com ele era muito bom. Ele apreciava cada momento, muito melhores agora do que antes. Embora morasse num país lindo, criado lá desde que nascera, o Japão era sua casa e seu lar, algo o atraía nesse país. E não pensava em ir embora, agora que sua vida estava com mais ânimo e felicidade renovados. Então ele ouviu: uma melodia alegre, muito animada, cantada por ninguém menos que Tomoyo. Eriol reparava no dom que Tomoyo possuía para cantar .

Tomoyo saiu da banheira, vestindo a roupa que Nakuru deixara. Era bem diferente do tipo de roupa que Tomoyo usava. Ela pôs o short preto colado ao corpo, colocando por cima uma blusa rosa claro, de manga três quartos, que ao chegar na cintura, se abria para os lados, formando uma espécie de cauda atrás. Depois prendeu o cabelo no alto, deixando duas mechas soltas na frente. Aquela roupa era conhecida de Tomoyo... Então ela se lembrou: a carta Luta! Nakuru copiara mais ou menos o design da roupa.

Eriol colocou uma roupa idêntica a anterior, com a exceção da camisa ser branca, com um colete preto. Ele recolocou os óculos, arrumou o banheiro e se dirigiu para o outro lado do andar.

Enquanto caminhava, a melodia ia ficando mais forte. Aproximou-se do banheiro onde Tomoyo estava, esperando que a garota saísse. Encostou-se na parede do lado oposto, olhando para a porta fechada. Tomoyo continuava cantando. Arrumou o banheiro e terminou a canção na hora em que abriu a porta.

Eriol bateu palmas. Tomoyo assustou-se de início, pois não percebera a presença do rapaz ali. Ele sorriu e disse:

- Você ainda tem a voz maravilhosa de sete anos atrás, não?

- Ah, obrigada – Tomoyo se inclinou

- Essa roupa ficou muitíssimo bem em você, Tomoyo! É da Nakuru?

- Sim, é. Ela me emprestou – Tomoyo se sentia ligeiramente desconfortável dentro daquela roupa – mas é muito diferente do tipo de roupa que costumo usar.

- Você poderia usar roupas assim. Você fica muito mais bonita.

Tomoyo corou. Nesse exato momento, Nakuru e Suppi subiram as escadas correndo, ofegantes.

- E-eu...j-já pus a su roupa para...para...secar, To-Tomoyo!

- Obrigada Nakuru! – a garota agradeceu sorrindo – E obrigada pela roupa, também.

- De nada, Tomoyo! Você ficou muito bem!

- Obrigada.

- Desta vez, eu concordo com a Nakuru. A sua beleza é realçada deste modo – Suppi comentou, daquela maneira culta e elegante característica dele.

- Ah, deixem disso – pediu Tomoyo

- Certo. Vamos almoçar então? – Eriol perguntou

- Vamos!!!! – Nakuru deu um pulinho no ar – vamos comer algo diferente hoje? Eu não queria comer coisas iguais... – Nakuru sempre odiara coisas iguais e chatas.

- Mas não temos tempo hoje! Ainda temos que limpar a piscina, lembra?

- Mas não dá tempo nem de comer algo? – Nakuru suplicou

- Não seja por isso. Eu vou ligar e pedir para as minhas cozinheiras trazerem comida para nós. É o mínimo que posso fazer para agradecer essa manhã maravilhosa na companhia de todos vocês!

Os quatro sorriram. Nakuru pulava.

- Muito gentil da sua parte, Tomoyo – observou Eriol

- Imaginem! Aonde encontro um telefone?

- Ali – Suppi apontou uma mesa no corredor, com um bonito telefone preto, com os números dourados, além do fio.

- Obrigada – Tomoyo se dirigiu para lá, pegando o telefone e discando rapidamente o número da sua casa. Ela cumprimentou a cozinheira, fez o pedido, agradeceu e desligou.

- Vão trazer comida francesa. Tudo bem?

- Divina idéia – falou Eriol

- Ma-ra-vi-lho-so!!!! – exclamou Nakuru

- Ótimo para mim – terminou Suppi

Os quatro desceram e foram para a sala de jantar, onde arrumaram a mesa para o almoço. Depois de alguns minutos, a campainha tocava.

Nakuru saiu correndo e atendeu, antes que alguém pudesse falar. Voltou com um embrulho imenso, seguida de duas cozinheiras da mansão dos Daidouji. Colocaram tudo na mesa e se despediram.

- Uau! Que banquete!

- Eu achei que pediu para elas trazerem o almoço, não o nosso jantar de hoje. – brincou Eriol

- Elas sempre são exageradas. – comentou Tomoyo – bom, vamos comer!

Os quatro agradeceram a comida e começaram a degustar aquele maravilhoso banquete. Nakuru repetiu umas três vezes e ainda sobrou. Finalmente, todos acabaram e voltaram a trabalhar.

Tomoyo e Eriol começaram por organizar os armários. Conforme Eriol ia pedindo as coisas, Tomoyo entregava o objeto desejado e anotava num caderno, para dar a futura cozinheira. Depois montaram o fogão, ligaram o gás, arrumaram o escorredor de pratos, abriram o registro para encher o filtro, ligaram a chave geral da cozinha e testaram todos os eletrodomésticos.

Quando estavam encaixando o final da prataria na cristaleira da sala de jantar, ouviram um barulho imenso do lado de fora. Os dois saíram correndo para o jardim, Eriol com uma flanela na mão e Tomoyo com uma baixela de prata. Quando olharam para a piscina...

Nakuru e Spinnel estavam dentro da piscina, encharcados, brigando. Os dois pararam com a discussão quando Eriol e Tomoyo saíram para o jardim.

- O que aconteceu? – perguntou Eriol

- O Suppi é tãão desastrado! Ele colocou a escada na beirada, eu tropecei e caí. Mas eu puxei ele junto!!

- Nada disso! Você deixou o trampolim bem no meio do meu caminho, para que eu caísse, só que você não conseguiu o seu intento e me empurrou! Aí, desastrada do jeito que é, escorregou também!

Eles continuaram brigando, mas Eriol interveio e eles pararam. Ele permitiu que eles usassem magia para se secar e voltaram para dentro da casa.

Na cozinha em ordem, Tomoyo abriu um livro de receitas:

- Temos pouco tempo, já são três horas. Que horário escolheu para o jantar, Eriol?

- Oito e meia.

- Certo. Vamos dividir as tarefas. Uma pessoa vai se encarregar dos pratos principais, outra das sobremesas e uma das entradas. A última fica com a preparação da mesa e vai ter de convidar as pessoas que virão, óbvio. Como querem dividir?

- Eu proponho – sugeriu Suppi – que você cuide das sobremesas, Nakuru das entradas, Eriol dos pratos principais e eu ligo para os convidados e ponho a mesa, porque eu acho que não iria melhorar nada se cozinhasse...

- Certo – aprovou Eriol – lembrem-se todos que temos de acabar isso o mais rápido possível para dar tempo de nos arrumarmos.

Os três concordaram com a cabeça e começaram suas tarefas. Suppi ligou para as pessoas que Eriol queria convidar, muito poucas, mas sendo que se tratava de Yukito, Kero e Touya, o jantar tinha sua razão de ser, principalmente porque o primeiro da lista comia muito. Os três viriam juntos. Depois arrumou a mesa. Uma longa toalha de linho branco foi posta sobre a mesa de mogno, com um lindo castiçal dourado no centro. Suppi escolheu o conjunto de pratos e colocou-os na mesa, acompanhados dos talheres, copos e tudo mais. Fez um lindo arranjo de flores no centro.

Tomoyo estava entretida na decoração da torta. Fizera uma torta linda, de dar água na boca. Além da torta, a garota fez um pavê e mais um bolo, para que ninguém colocasse defeito, ou para que não faltasse sobremesa para ninguém. Ela estava muito contente, lembrando-se do tempo em que Kero engolia seus doces antes que alguém pudesse dizer "era o meu pedaço!". De maneira geral, era Sakura quem falava esta última frase. Sakura... Tomoyo suspirou ao pensar na amiga.

Eriol olhou de relance para Tomoyo, tentando identificar o porque do suspiro. Ao olhar para os seus doces, ele compreendeu. Mas não deixou por menos! Ele fazia jus as sobremesas da garota. Um prato mais bonito que o outro, sendo que fizera vários tipos de comida, misturando tanto a do ocidente como a do oriente. Destacavam-se a maravilhosa travessa de sushi, cheia de adornos criados por Eriol e seus bolinhos de arroz. Os bolinhos eram muito diferentes do usual, com formatos variados.

Nakuru estava indo com as entradas. Não era uma especialista na cozinha como Eriol ou Tomoyo, mas se virava bem. Além do mais, era para Touya que estava cozinhando! Seu "Touya-kun" finalmente provaria a deliciosa comida que ela preparara! Se empolgou demais, acabando por criar um couvert muito original, mesmo que sem querer. Então, por volta de sete horas, mais ou menos, todos se jogaram no sofá da sala, exaustos.

- Foi um bom trabalho. Meus parabéns para todos – Eriol agradecia ao esforço dos três, sorrindo com os olhos por detrás dos óculos, que quase caíam do seu rosto, mas o garoto não tinha forças para arrumá-lo naquela hora – Se não fosse por vocês, não teria acabado nunca. E claro, Tomoyo, sua ajuda foi de grande valia. Muito obrigado.

- Imagina. Eu agradeço a vocês por tudo. Agora eu tenho três companhias maravilhosas, antes estava sozinha. Agora sei que posso contar com vocês...Sempre – o penteado de Tomoyo tinha se desfeito, mas continuava linda como sempre – Estou muito feliz por ter vocês de volta aqui.

- Nós também estamos muito contentes por termos voltado – disse Suppi – gostamos desse país e garanto que nosso mestre não pretende ir embora de seu segundo lar tão rápido. Me engano, Mestre Eriol?

- Claro que não, Spinnel.

- Ah, Eriol! Era óbvio isso! Você tem que ficar no Japão mais tempo! – Nakuru frisou a palavra "tem". O brilho esquisito estava de volta aos seus olhos.

- Anh, acho melhor nos aprontarmos para o jantar – falou Eriol – vamos lá.

- Eu vou para casa, encontro vocês um pouco antes para acertamos os detalhes. Nakuru, eu te trago a roupa limpa e passada amanhã.

- Claro!

- Tchau, então – Tomoyo deu um forte abraço e um beijo em Nakuru, deu um aperto "de mão" em Suppi e também um beijo em Eriol – até à noite! – e foi embora.

Nakuru subiu, indo para o banheiro. Suppi retornou ao seu quarto. Ele não precisava se aprontar. Mas Eriol ficou parado no meio da sala. Era a terceira ou quarta vez naquele dia...

FIM DA PRIMEIRA PARTE

Espero que tenham gostado do meu fanfic! Qualquer dúvida, sugestões, críticas, elogios, comentários fúteis...Tudo pode ser enviado para mim! Meu e-mail é mari-chan.mlg@bol.com.br! Até o próximo capítulo!

Beijos para todos que tiveram paciência para ler o meu fic,

Mari-chan