OUT OF CONTROL
by Kitri
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Capítulo I
"This is just a nightmare
soon I'm gonna wake up
someone's gonna bring me 'round
This is your warning
4 minute warning
I don't wanna hear it
I don't wanna know
I just wanna run and hide"
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Ela acordou ao ouvir o toque insistente do telefone. Revirou-se na cama, sonolenta, buscando pelo aparelho provavelmente perdido entre as cobertas. Suspirou resignadamente, abriu os olhos e percebeu que ainda estava escuro. 'Maldição' pensou irritada. O toque persistia martelando em sua cabeça tonta de sono. Os olhos embaçados encontraram o relógio luminoso na cabeceira da cama. 'Três da manhã! ' Bufou estressada voltando a se aconchegar nos travesseiros. Resolveu fingir que nada interrompera sua maravilhosa noite de sono. Não se lembrava de ter tido muitas oportunidades de dormir ultimamente... Quem quer que fosse teria que esperar a luz do dia aparecer. O quarto voltou a ficar em silencio absoluto. Sorriu, mas sua felicidade durou pouco. O toque voltou segundos depois que parou. Tapou as orelhas com força enquanto tentava ignorar as chamadas, mas Eine kleine Nachtmusik penetrava insuportavelmente em seu cérebro tonto de sono. Naquele instante ela odiou Mozart.
- Tudo bem! – levantou-se jogando as cobertas com raiva no chão. Sentiu um arrepio percorrer todo seu corpo, mas ignorou. Se alguém estava ligando àquela hora da madrugada era porque devia ser importante.
Começou a procurar pelo aparelho pequeno revirando roupas e papéis perdidos pelo quarto. Encarou a bagunça desesperada, segurando os cabelos ruivos que lhe tapavam a visão enquanto engatinhava tateando um pouco às cegas. Praguejou uma ou duas vezes e tentou se lembrar quando se tornara tão desleixada. Ela costumava ser organizada... Tão organizada que chegava a ser irritante. Parou para pensar um minuto, a música martelando e impedindo o raciocínio. Tentou se lembrar onde tinha largado o maldito telefone. Estava quase desistindo quando resolveu uma última busca. Encarou aliviada a luminosidade que surgia em baixo de dois ou três livros de anatomia que ela empurrara mais cedo para baixo da cama.
- Ai está você! – disse se esticando para apanhar o celular – Pronto? – atendeu com a voz um pouco ameaçadora, mas quem poderia culpá-la? Eram três da manhã e ela tinha ido se deitar a uma.
- Srta. Evans? – ouviu uma voz formal do outro lado da linha. Tentou pensar em quem ligaria a essa hora para fazer brincadeiras sem graça, mas não conseguiu pensar em ninguém. Há muito tempo não tinha amigos piadistas.
- Sim? - ela sussurrou se jogando na cama e fazendo um esforço maior para acordar.
- Desculpe a inconveniência do horário, mas esse é o telefone que a ficha de emergência de Marlene McKinnon indica em caso de precisarmos de ajuda. Falo do hospital Saint Louis.
- Lene? – agora definitivamente ela estava acordada.
- Você é parente? – a voz prosseguiu de maneira calma.
- Não! Sou amiga... – Lily respondeu um tanto alterada, a palavra hospital ganhando proporções ameaçadoras em sua mente – O que... O que aconteceu? Oh meu Deus! Ela está bem?
- Há algum parente que podemos contatar?
- Não! – a garota respondeu aflita – Ela não tem parentes... Na cidade. – ela ia dizer outra coisa, mas mudou de idéia. Achou que explicar o problema de Lene com os pais para uma estranha, naquele instante, não fazia o menor sentido - Meu nome está ai por algum motivo, não? – concluiu de maneira pouco educada.
- Srta. Evans, sinto informá-la, mas sua amiga sofreu um acidente de carro...
O coração dela parou por alguns instantes antes de começar um ritmo alucinado. Lily buscou uma boa quantidade de ar enquanto tentava absorver a informação, o pânico paralisando todo seu corpo. Sentiu a vista escurecer por uns instantes e as mãos formigarem de maneira incômoda. 'Não pode ser!' ela pensou desesperada.
- ... Precisamos que você venha ao hospital para conversar com os médicos e resolver a parte burocrática... Sei que é difícil pra você nesse momento, mas alguém precisa...
O barulho estranho de sucção que ela fez deve ter assustado a mulher no outro lado da linha. A atendente parou de falar por alguns instantes.
- Srta. Evans?
- Como... Como ela está? – perguntou assim que encontrou sua voz.
- Não posso adiantar nada por telefone. – a funcionaria informou mecanicamente – Foi um acidente grave, precisamos que venha até o hospital...
Ela sentiu as lágrimas naquele instante. As mãos trêmulas apertando o celular de maneira compulsiva. 'Por favor, meu Deus! Ela não... ' foi tudo que conseguiu pensar.
- ... Srta. Evans? – ouviu ser chamada novamente.
Respirou tentando buscar equilíbrio. Ela queria que sua respiração normalizasse, queria que seu coração parasse de tentar saltar pela sua boca e, acima de tudo, queria que seu cérebro voltasse a pensar claramente. Lene precisava dela... Não era um bom momento para entrar em colapso.
- Já estou a caminho.
A cabeça funcionava a mil por hora depois da breve pausa. Ela tentava reter a lista mental que era produzida em flashes, mas sem muito sucesso. 'Me vestir... Chave de casa... Documentos... Chave do carro... '
Não foi fácil encontra algo para se vestir naquela bagunça, por isso não deu a mínima para as combinações exóticas que estava fazendo. Procurou pela bolsa enquanto escovava os dentes rapidamente. Suspirou aliviada quando encontrou tudo que precisava. As mãos tremiam tanto enquanto tentava encaixar as chaves na fechadura, que achou melhor deixar o apartamento aberto. O elevador não foi rápido o suficiente, então se viu correndo quatro lances de escada. Estava frio e ela não se agasalhara adequadamente. Sentiu os dedos rígidos com a baixa temperatura, mas disse a si mesma que não tinha tempo para voltar. Dirigiu acima do limite de velocidade... Muito acima na verdade. Tinha gelo na pista, mas ela achou que o momento não permitia cuidado. Buscou na memória o local onde ficava o hospital. Já havia feito um trabalho por lá... Não era muito longe. Chegou em menos de vinte minutos e largou o carro em estacionamento proibido. Entrou correndo no hospital assustando umas poucas pessoas que lá se encontravam.
- Lily Evans! – ela anunciou seu nome na recepção tentando controlara a respiração descompassada.
- Sim! Sim... Srta. Evans... Estávamos esperando por você. – a recepcionista baixinha e loira anunciou calmamente – Me acompanhe, por favor.
Lily achou que a tranqüilidade daquela mulher era insuportável, mas sabia que não fazia sentido ela se preocupar... Não era a amiga dela que estava correndo risco de vida. Além disso, esse era o trabalho comum que ela provavelmente já estava cansada de executar. Conduzir parentes e amigos de vítimas não parecia ser a melhor das funções. Ela resolveu se concentra no que ainda estava por vir, nas notícias que receberia aquela noite. Não reparou quantos corredores ela percorreu nem em que andar do prédio ela parou. Esperou quando a mulher disse a ela que o doutor a veria em instantes e estava tão nervosa que não o viu se aproximar.
- Srta. Evans?
Ela pulou de susto ao ouvir ele chamar. Encarou o médico de meia idade que se aproximou calmamente carregando um sorriso de desculpas nos lábios. Ele fez um sinal para que ela o acompanhasse até o consultório. Lily observou o ambiente com certa repulsa. Sabia que em breve aquilo seria bem próximo ao seu local de trabalho, mas naquele instante aquele lugar não passava de uma impressão ruim... Algum lugar que ela se lembraria com muito pesar. Ouviu o médico pedir que se sentasse. Ela assim o fez sem muita consciência do seu corpo e de suas ações naquele momento. Parecia estar no piloto automático e não tinha mais forças para retomar o controle sobre si mesma.
- As notícias não são boas... - ela o ouviu dizer, o coração descompassado, os olhos rasos de lágrimas.
Ela não precisava dos detalhes. Podia entender tudo na primeira constatação. Faltavam apenas quatro semestres para concluir o curso de medicina. Ela queria que ele parasse de explicar... Queria sair correndo dali e chorar... Gritar pra todo mundo o quanto a vida era injusta... Mas ela não o interrompeu... Em nenhum instante. A cada detalhe ela se sentia mais e mais pressionada com a gravidade da situação. Lily pensou que fosse perder o juízo... Lene era muito mais que uma amiga, ela era uma irmã.
- Você está bem? – o médico chamou sua atenção – Acha que posso terminar?
- Preciso vê-la. – ela sussurrou nervosa, a voz embargada.
- Acho que ainda não seja possível...
- Preciso vê-la agora, por favor! – insistiu.
- Vou ver o que posso fazer... – o médico falou retirando os óculos – Aguarde um minuto lá em baixo, vou tentar colocar você pra dentro.
Ela assentiu e saiu. Tentou voltar à entrada do hospital, mas não conseguiu encontrar logo na primeira tentativa. Perdeu-se umas três ou quatro vezes antes de achar o local onde estivera mais cedo. Percorreu o olhar pela sala praticamente vazia procurando algo com o que se distrair. Sentia os olhos molhados e as lágrimas circundando o rosto de maneira impiedosa. Encostou-se em uma janela e encarou as ruas cobertas de neve. Começava a clarear. Suspirou cansada e voltou a analisar o ambiente melancólico. Seus olhos pararam ao vislumbrar uma figura masculina parada na recepção. Parecia que a calma da recepcionista tinha encontrado seu triste fim. Ela demonstrava-se bem atrapalhada ao lidar com novo visitante... E Lily sabia bem o porquê do nervosismo... 'NÃO!' Ela pensou horrorizada. 'Por favor! Por favor! Alguém ai em cima precisa ter pena de mim! ' Buscou ar com um pouco mais de intensidade pela segunda vez naquela noite. Ela já tinha noticias ruins o suficiente para aguentar... Não precisava de mais nada para acabar com seu dia. Já faziam cinco anos... Cinco patéticos anos que eles não se viam e ela não podia deixar de pensar... 'Por que hoje?' Ela buscou qualquer lugar que pudesse se esconder. Qualquer um. O plano era que ele não a visse. 'Talvez não seja ele... ' Ela buscou alguma saída. É claro que era ele. O cabelo era inconfundível. As mãos que foram de encontro a ele também. Aquela mania estúpida e peculiar... Que a irritava e a encantava ao mesmo tempo. Ela procurou alguma entrada qualquer. Encarou a placa que dizia lanchonete... Ela estava quase lá quando...
- Srta. Evans! – a voz do médico que a atendera mais cedo soou baixa, mas ecoou na sala vazia e silenciosa.
Ela fechou os olhos por alguns segundos. Tentou se convencer de que aquilo era apenas um sonho ruim. Logo, logo ela iria acordar e tudo aquilo iria acabar. Abriu os olhos verdes vagarosamente e encontrou os dele analisando-a com surpresa e curiosidade. O mesmo tom chocolate de sempre... Quentes e doces... Mas eles logo se tornaram frios e furiosos. Ela tentou não se sentir intimidade com a expressão de escárnio que seu rosto adquiriu em instantes... Ela tentou não corar com a breve analise que ele fez de sua pessoa destruída naquele momento, mas tudo que ela conseguiu, foi desviar o olhar e encarar a parede branca atrás dele...
N/A: Hei! Não sou muito nova por aqui, na verdade, nem um pouco nova. Sou apenas alguém recomeçando. Bom, não tenho muito dessa fic escrita, mas estou de férias e com muitas idéias na cabeça. A idéia é que ela seja bem longa e que esteja terminada até o final desse ano. Eu vou continuá-la se tiver leitores... Então deixem reviews, por favor...
A música do inicio do capítulo é '4 Minute Warning' do Radiohead. Como todos sabem, mas nunca custa relembrar, é que essa fic não possui fins lucrativos e que nenhum dos personagens me pertence... Bom... Realmente espero que alguém goste e acompanhe. Beijos e até a próxima. Kitri.
