O céu

A jovem olhou mais uma vez para a mala. Estava tudo lá, não faltava mais nada e ela já estava quase pronta para a viagem. Fazia realmente muito tempo que não ia para fora da cidade com seus pais. O que ela queria agora, mais do que nunca, era curtir as suas tão merecidas férias de verão.

Está pronta Sora?- Sua mãe perguntou enquanto carregava uma mala para o carro.

"Quase!"- Gritou fechando sua mala.

"Estão se apresse; sairemos em quinze minutos"

"Tudo bem mãe."
Sora correu até o telefone e rapidamente começou a discar um número. Esperou, chamou várias vezes antes de por fim cair na secretária eletrônica. Enquanto ouvia a voz monótona pedir para que deixasse o recado ela hesitou em gravar a mensagem, preferia falar para o próprio interlocutor. Quando ouviu o sinal porém teve de continuar:

"Oi, aqui é a Sora, eu sinto muito mais eu não vou poder ir ao parque como tínhamos combinado; minha mãe finalmente conseguiu tirar um tempo de folga e estamos indo viajar hoje. Espero que você compreenda. Eu..."

Parou por alguns segundos e respirou fundo antes de conseguir continuar. Nunca pensou que fosse tão difícil deixar uma despedida na secretária eletrônica.

"Vou sentir saudades."

Desligou o telefone. Sabia que sentiria muita falta dele, no fundo não queria ir viajar para lugar nenhum, tinha até um pressentimento ruim sobre aquilo.

"Bobagem, é só um final de semana. Nada de mal pode acontecer."- Murmurou para si própria.


A digiescolhida, como era chamada por muitos, olhava para fora da janela com os vidros totalmente abertos para que o vento batesse em seu rosto. Ela observava atenta a paisagem passando rapidamente. Sorriu ao pensamento infantil de que na verdade não seria o carro que estava a 120 km e sim as árvores que estavam apostando corrida em uma direção contrária. Realmente, andar de carro poderia se transformar em algo muito mais divertido; ainda mais se ela conseguia esquecer que agora já estava perto dos dezesseis anos e agisse como se tivesse apenas seis.

"Queria que ele estivesse aqui... Ia ser muito melhor"

Com esse pensamento se encolheu e afundou um pouco triste no banco esquecendo-se completamente de ser a juíza da "corrida" que acontecia no universo fora do carro.

"Você está bem Sora?"- Sua mãe perguntou preocupada olhando pelo retrovisor a mudança brusca do comportamento de sua filha.Seu pai fez o mesmo.

"Tô mãe."- Respondeu ainda com os pensamentos perdidos.

"Hey, dizem que se você fechar a janela e deixar só uma frestinha aberta, dá para sentir a mão da pessoa que você gosta em sua cabeça."

"Como voc..."- balbuciou espantada

"Eu apenas sei Sora."- Sua mãe sorriu e voltou a olhar para estrada.

Sora sorriu atrás e resolveu fazer o que sua mãe lhe sugeriu. Esticando um pouco o pescoço e se mantendo em uma posição ereta pode sentir o vento gelado afagar-lhe carinhosamente a cabeça. Sorriu um pouco mais porém logo abriu a janela inteira deixando a ilusão escapar carro a fora.

"O que foi?"
"Não é a mesma coisa..."

"..."
"Mas não tem problema." - ela falou- "Quando chegarmos eu vou me divertir e quem sabe até esquecer."

Sua mãe virou a cabeça para poder enxergar melhor a filha que estava sentada no banco de trás. Sora mesmo nunca soube porque porém sempre gostou daquele lugar do carro.

"Você é muito forte filha."- o senhor Takenouchi disse se virando também
"Arygatou"

"Quando chegarmos lá aposto que você vai..."

"MÃE CUIDADO!" –Sora gritou aterrorizada.

Não ouve tempo de frear, não ouve tempo de fazer nada. A senhora Takenouchi não conseguiu desviar do carro que vinha desgovernado na contra mão de encontro ao seu, assim como não pode fazer nada para evitar o carro que freada atrás dela, em uma tentativa inútil de não colidir também.

As únicas coisas que eram possíveis de distinguir naquele trágico acidente eram os ferros contorcidos, as chamas e a fumaça e... sangue. Um rio de sangue humano se espalhando pela estrada.


A garota abriu os olhos lentamente um pouco tonta. Os olhos percorreram incessantemente as paredes brancas e cada centímetro daquele quarto atentos para que nenhum detalhe escapasse. Aquilo foi inútil, não conseguia saber que lugar era aquele.

Apoiou os braços para que pudesse a sentar-se na cama, com esforço conseguiu, sentindo uma dor se espalhar por todo corpo. Retirou a mascara que estava em seu nariz que, supostamente, ajudava-a a respirar e nada sentiu. Olhou para o objeto metálico no qual estava pendurado um saquinho com um líquido transparente que lhe era injetado diretamente pela veia e retirou a fita adesiva que a prendia a ele. Finalmente optou por sair dali e caminhar, ver se encontrava alguém que pudesse ajuda-la.

Um pé de cada vez desceu da cama. Olhou para mais três pessoas que dividiam o mesmo quarto e pareciam dormir tranqüilamente. Sentiu um frio percorrer-lhe o corpo; aquela camisola de "saco de batatas" nada esquentava.

Cambaleou para fora daquelas quatro paredes abrindo a porta com cuidado. Olhou em volta e viu que aquele lugar era realmente grande. Talvez fosse melhor voltar para o quarto e ver se vinha ajuda-la

Quem entra na chuva é para se molhar. Resolveu continuar sua exploração por aquele lugar tão estranho. Olhou para outras pessoas que pareciam cansadas com a mesma camisola cinza, independente do sexo a roupa era a mesma. Aqueles que pareciam um pouco mais sadios- só um pouco pois eles também pareciam estar esgotados- usavam roupas brancas e caminhavam de um lado para o outro muito apressados e olhando para um relógio pendurado na parede.

Ela logo conclui que aquilo deveria ser uma hierarquia; as pessoas de branco deveriam mais importantes do que as que se vestiam de cinza. Por um momento ela desejou estar de branco também, talvez assim ela soubesse onde estava.

"Ei garota."- Uma moça de cabelos negros e curtos, vestida de branco, lhe chamou- O que você está fazendo aqui?

"E-eu não sei moça."- Respondeu com um pouco de medo e perguntou- "Que lugar é esse?"

"Um hospital."- Respondeu um pouco surpresa- "Como é o seu nome?"

A adolescente abriu a boca porém nada disse. Ficou pensando, tentando extrair qualquer coisa que a fizesse lembrar. Qualquer coisa... Não conseguiu.

"E-eu não sei."- Tornou a responder insegura.

" Deixe me ver"

A mulher pegou seu pulso onde havia uma pulseira com o seu nome. Abriu a boca espantada e ficou a olha-la sem saber o que dizer. De repente sorriu e virando para sua amiga gritou:

"Maya, venha ver! Corre!"

"O que foi Miya?"- Perguntou ao se aproximar, ficou encarando a garota a sua frente e de repente também gritou chamando todos os outros que estavam vestidos de branco como ela. "Alan, Akane, Miiko, Toya, Yuri, Yuki, Nobuko, Naoko Kamiya venham ver!"

"Kamiya"

A garota teve a impressão de já Ter escutado aquele nome em algum lugar... A muito tempo, porem não se lembrava.

"Como pode? Ela estava em coma!"- Exclamou outro espantado.

Os homens e mulheres de branco fizeram um circulo em volta da garota e ela fez a única coisa que alguém assustado poderia Ter feito: fugiu.

Não conseguiu ir muito longe pois logo foi pega e arrastada por dois outros homens que eram muito mais fortes do que ela.

"Fique calma Sora"- Um deles disse.

Ela porém não se acalmou, continuou a gritar cada vez mais alto, como uma louca. Gritou com toda a força ao ver um liquido sendo injetado por meio de uma agulha diretamente em suas veias. Logo não teve mais forçar para gritar, seu corpo começou a amolecer, e embora ela lutasse contra, já não conseguindo fazer mais nada acabou por deixar seus olhos se fecharem lentamente.


"O que faremos agora Maya?"- Perguntou Miya se referindo a Sora.

"Assim que a policia liberar os outros objetos que estão inteiros veremos se a garota não tem algum número de telefone para quem possamos ligar."

" Espero que alguém queira ficar com ela... Seria muito duro viver em um hospital. Até para nós que estamos aqui há oito anos... é um ambiente impossível de se acostumar."

"É difícil Miya."- Maya suspirou cansada batendo os dedos na parede- "Ela irá completar dezesseis anos. Geralmente os casais adotam crianças lindas e saudáveis e não uma adolescente com.. digamos... problemas."

"Sora, quer dizer 'céu' não é mesmo?"- Miya perguntou para a amiga.

"Acho que sim."- Respondeu virando-se de costas e olhando a ficha de um outro paciente.

"Espero que o 'céu' encontre um 'sol' ou, até mesmo, uma 'lua' para brilhar para ela."

"Hai"


Novamente a jovem abriu os olhos e pela Segunda vez vasculhou o ambiente. Percebeu entretanto que o quarto em que estava havia mudado e ela era a única por lá. Tentou levantar-se porém não conseguiu; o efeito do tranqüilizante não havia passado ainda. Esforçou-se para controlar o próprio corpo e, quando finalmente conseguiu mover o braço esquerdo, tentou segurar um copo com água em cima da mesinha ao lado de sua cama porém acabou derrubando-o.

Logo o casal de adolescentes que havia adormecido no sofá do quarto acordou espantado. A primeira a se aproximar de Sora foi a garota de cabelos castanhos com um belo sorriso no rosto. Seu amigo loiro a seguiu receoso porém nada fez.

"Ohayou Sora!"- Disse a menina com grande alegria na voz.

" Ficamos preocupados com você."- Completou o menino agora sorrindo.

Sora não sabia ao certo o que dizer. Não sabia a quem estavam se referindo porém não demorou muito para concluir que o assunto era com ela. Queria responder, talvez eles pudessem tira-la dali porém se quer sabia o nome deles! Olhou para os crachás de identificação e resolveu arriscar.

"Olá Hirari e Takeru."

"Que brincadeira é essa Sora?"- Kari perguntou sorrindo nervosa.

"Como assim?"
"Não seja boba, não precisa fazer essas brincadeiras."- Tk completou mais calmo que sua amiga.

"Eu não estou brincando... Vocês podem, por favor, me tirarem daqui. Não sei onde estou."

"TK..."- Kari chamou baixinho o nome dele com lágrimas nos olhos "Ela não está brincando."

"Por favor, me tirem daqui."

Os olhos de Sora imploravam por ajuda, ela queria muito ir embora. Para qualquer lugar que não fosse aquele. Kari apertou as mãos de TK quando sentiu as lágrimas aumentarem em seus olhos. Tk se limitou a colocar uma de suas mãos sobre os ombros dela.

" Você... tem outras visitas Sora."- TK afirmou enquanto levava Kari para fora do quarto.

"Vocês não podem me ajudar?"- A voz chorosa e desesperada dela perguntou enquanto os viu sumir porta a fora.

Tentou se levantar mais uma vez para ir atrás deles e, embora o tranqüilizante estivesse perdendo o efeito, o máximo que conseguiu foi sentar-se na cama.

"Sora?"- Outra garota de cabelos cor-de-rosa chamou-a com a voz chorosa e lágrimas escorrendo pelos olhos.

Sora olhou para a porta onde a menina entrava com mais dois garotos; um com um laptop em baixo do braço e o outro com roupas bem esquisitas com mais ou menos uns treze ou quatorze anos.

"Eu sinto muito pela sua mamãe Sora..."- Mimi falou enquanto segurava na mão de Sora.

"O que... O que é uma mamãe?"- A dona do amor perguntou confusa.

Mimi começou a chorar mais alto e abraçando sua amiga começou a soluçar. Daisuke e Izzy olharam atônitos para ambas as garotas sem saber o que dizer.

"Por favor... pare de chorar." – Pediu enquanto retribuía o abraço.

"Eu.. não consigo..."

"Olha só... eu não me importo de Ter perdido nada. Você não deveria se importar por mim."- Sora sorriu tentando animar a desconhecida.

Mimi tentou segurar o choro. Estava sufocando por dentro, precisava sair dali e foi o que fez... não agüentando saiu do quarto ainda soluçando. Izzy a seguiu.

"Por favor não vá..."- Sora pediu ainda mais angustiada enquanto via Mimi e Izzy saírem do mesmo jeito que TK e Kari.

"Sora... Você vai ficar bem. Num esquenta."- Davis tentou acalma-la se aproximando dela também.

Sora ficou encarando-o por um bom tempo, na verdade ficou olhando para o óculos de natação que parecia tentar disfarçar a bagunça no cabelo do garoto.

"Eu..."- Sora estendeu a mão para tentar pegar os óculos como uma garotinha curiosa.

"O que você quer?"- Perguntou confuso e assustado ao mesmo tempo.

"..."

Ignorou a pergunta e se esforçou mais ainda para pegar os óculos. Vendo que não conseguia deixou o corpo cair para trás novamente, cansada.

"É isso?"- O novo líder dos digiescolhidos perguntou apontando para os óculos de natação.

Sora afirmou com a cabeça. Davis tirou os óculos e entregou a Sora.

"Obrigada, Obrigada, obrigada." Ela agradeceu, seu rosto antes tão abatido agora havia se iluminado como uma criança ao ganhar um brinquedo novo.

Daisuke enxugou os olhos antes que as lágrimas escorressem. É incrível a necessidade dos homens, principalmente adolescentes, esconder qualquer sinal de choro ou sofrimento.

"Você está bem?"- A digiescolhida perguntou ao perceber que tinha algo estranho com ele.

"Não muito, eu vou procurar a enfermeira!"- Desculpou-se.

"Tá bom."- Disse abaixando a cabeça e olhando para os óculos de natação.

Davis saiu do quarto e descendo as escadas foi até a recepção onde os outros digiescolhidos estavam, chorando como se fosse um bebê. Era verdade que ele não tinha nenhuma intimidade com Sora, ele apenas a conhecia porém não pode deixar de sentir pena ao ouvir a pergunta. "Você está bem?". Inferno! Era ela quem estava internada no hospital mal sabendo o próprio nome. Era ela quem havia perdido os pais. Era ela quem precisava de ajuda.

Chegando na recepção viu o grupo reunido. Como as visitas eram muito controladas era preciso fazer um revezamento para que todos pudessem ver a amiga.

Kari chorava sem parar no ombro de Tk; Sora foi quase como uma irmã mais velha para ela. Mimi estava sentada no chão sendo consolada por Izzy e Joe que havia acabado de chegar. Yolei e Ken estavam apenas sentados na poltrona de cabeça baixa. Matt andava de um lado para o outro extremamente nervoso, já havia ido ver Sora porém ela estava dormindo. Cody não conseguiu ir para o hospital e Tai simplesmente não havia chego ainda.

"Onde está seu óculos Davis?"- Kari perguntou levantando os olhos avermelhados para olhar o amigo.

"A Sora tá com ele. Parece que ela lembrou do Tai."

"Onde está o Tai agora Kari?"- Mimi perguntou entre os soluços.

"Eu não sei."- Kari respondeu enxugando os olhos- "Ele disse que já vinha"

"Yolei é a sua vez de ver a Sora."- Davis entregou o cartão para a garota porém essa recusou, ela não iria conseguir entrar no quarto sem desatar a chorar.

"Ken?"

"Eu não posso."

"Droga. Empresta isso Davis."

Matt pegou o passe das mãos de Davis e subiu.

"Ele está realmente muito preocupado com ela."- Yolei comentou.

"Eles são namorados não são?"- Davis perguntou.


Oi Gente! Essa é a primeira fic que eu escrevo de digimon! O cap 1 e 2 já estão prontos e eu tenho uma palhinha do cap 3 e 4. Espero que eu consiga pelo menos 2 Reviews... ".. Bjs pra vcs

Ops: Vcs podem deixar sugestões ou até criticas... E se alguém souber o significado do nome do Tai ou do Matt me passe por favor pq foram um dos poucos q eu não achei... obrigada