Velhos conhecidos da história
Era um dia de calor ardente, Bobby estava inclinado sobre um carro anos 70, do tipo que gângsteres usavam.
O belo moreno tinha cabelos lisos até o meio do pescoço, e a sua franja, já bem grande, caia sobre seu rosto pálido um pouco bronzeado pelo sol. Seu rosto suado era manchado pela graxa de vez em vez quando tentava enxugar o suor com a mão, enquanto ele se metia cada vez mais pra dentro do automóvel. Vestia um jeans surrado e uma camisa de botão cor de vinho, que estava aberta, mostrando seu abdômen magro e bem definido.
Do outro lado da cidade, em uma parada de estrada, um rapaz loiro era possuído por uma fumaça preta, e voltava a sua taberna de modo diferente.
O loiro tinha cabelos encaracolados dourados que iam até sua nuca, e uma madeixa pequena que descia um pouco mais além era presa por uma fita de seda vermelha. Seus olhos tinham cor de mar, uma mistura de verde com azul e os lábios carnudos lhe davam, com as outras características, um aspecto monumental. Era magro, não muito alto, e não era musculoso e nem muito forte, mas tinha o olhar, o rosto, a cor de um anjo. Tinha a beleza de um anjo, de uma criatura acima das outras, pelo menos em seu encanto.
Ele já não era mais o mesmo desde que aquela fumaça preta o havia possuído, mas poucos perceberam a diferença em um primeiro momento. Mas, aos poucos, a mudança foi sentida. Seu jeito não era mais o mesmo, ele havia mudado, o quanto ele havia mudado, ainda estavam por ver.
Ele andava, sorria, conversava e agia de modo diferente. Não se sabe por quê, pelo menos os que estavam ao seu redor e até ele mesmo não sabiam, ele andava mais seguro, mais impetuoso, e até mais belo que antes. Sua personalidade tinha se tornado mais condensada, mais presente, mesmo que falasse menos do que seu antigo eu - o antigo eu de Denis – (mesmo que ele já falasse muito pouco) falava só o necessário; e seu sotaque diferente dava um tom de profecia a suas palavras, um tom charmoso de estrangeiro distante e de quem conhecia muito do mundo em pouco tempo.
Denis trabalhava numa taberna de beira de estrada, e foi nesses dias de calor intenso que conheceu um futuro caçador, por aqueles tempos, nem tanto:
- Bom dia, chefe! – disse uma garota ruiva, se aproximando do balcão e dando um pulo e nas pontas dos pés cumprimentou seu querido chefe, e também seu desejo de consumo.
- Dia, Clarisse! – falou o loiro, dando um sorriso, sem olhá-la, secando alguns copos.
A garota ruiva de uns 17 anos, não deixou de fitá-lo enquanto ia para trás do balcão e pegava seu avental preto com linhas roxas, escrito Adventure Spirit. Fitando-o, foi até ele com o cenho enrugado, fitando-o admirada, sem pudor:
- Nossa, chefinho! Você está diferente...- disse ela, mordendo os lábios, quase passando a mão no seu rosto.
- O que foi, Clarisse? – disse ele, se esquivando, sorrindo como se estivesse tentando disfarçar a situação embaraçosa.
- Nada, chefe...- disse ela um pouco desconcertada com a ação do loiro. – Mas você está diferente, sim. Não sei o que é. – sublinhou ela, ainda mordendo os lábios, curiosa.
- Não vejo nada de diferente em mim, Clarisse. - falou, sério. – São os seus olhos. – disse em um tom um pouco malicioso, com um grande sorriso em sua direção que a fez ficar ligeiramente ruborizada.
- Ok, ok. – e saiu em direção à cozinha, enquanto ele ria rouco e um pouco desdenhoso.
Enquanto fingia trabalhar, Denis, ou melhor, o demônio que havia tomado seu corpo planejava o que ia fazer naquele dia, fazia uma lista mental e, deixando um recado na copa atrás do balcão, sumia.
