BRIGHT STAR

"Bright star, would I were stedfast as thou art-
Not in lone splendour hung aloft the night." *

(John Keats)

1 - Visões

Não havia queimaduras. Nenhuma queimadura. Minha pele estava isenta de todas as inúmeras deformações que eu vira há apenas alguns minutos. Cri que ele havia penetrado a minha mente outra vez.

— Você não pode continuar simplesmente ignorando isso, Mel.

— Foi só um sonho — menti — um pesadelo.

— Harry também achava que eram só pesadelos.

— O caso de Harry é diferente, Mione.

— Ou não.

— Ao que eu saiba, não tenho ligação alguma com aquele lá. A única vez que o vi foi no Ministério, no dia da morte do Sirius. E ele nem sequer olhou para mim, nem deve ter ciência da minha existência.

— Não que a gente saiba.

— Vamos tomar café. Lavender Brown já está olhando demais pra cá e eu não quero sacar a minha varinha pra ninguém hoje.

Hermione riu.

— Você é muito nervosa, Mel.

O Salão Principal me pareceu mais ruidoso que de costume, ou talvez fosse a minha cabeça que estivesse intolerante. Sentei-me, cansada, ao lado de Ron.

— Bom dia pra você também — ele disse de boca cheia.

— Bom dia, Ron — respondi, com um bocejo — bom dia, Harry.

— Tudo bem? — indagou o último.

— Mel teve outra visão.

— Foi um sonho.

— Como é?

— Outra visão, Harry, outra daquelas visões.

— Como foi a de hoje?

— Eu estava sendo carbonizada.

Ron engasgou ruidosamente.

— Ca-carbonizada?

— O fogo consumia o meu corpo inteiro. Muito desesperador, sabem?

— E eu achava que tinha pesadelos legais.

— Não é pesadelo, Ron — protestou Hermione — eu acho que Voldemort também está invadindo a mente da Mel.

Meu amigo contraiu o rosto.

— Não seja idiota — repreendeu Mione — o que tem dizer o nome?

Ele começou a protestar, mas ela ignorou.

— Harry, você não acha possível?

— Não sei. Não consigo pensar em uma possível ligação, mas...

— Foi o que eu falei a ela.

— ...Mas as suas visões estão de acordo com o que Voldemort faz, segundo Snape.

Como Ron, estremeci.

— Ele — Harry prosseguiu — costumava ou costuma invadir as mentes das pessoas para torturá-las, fazendo com que acreditem e vivenciem dores físicas e emocionais, entende?

— Certo, ele é um poderoso Legilimens, aquele lá. Mas ele não precisaria de um feitiço para invadir a minha mente? Isso não se faz assim, à distância.

— A menos que você também tenha com ele uma ligação.

— É o que eu estou tentando dizer há dias.

Olhei para Hermione, depois para os garotos, esperando que alguém desmentisse a minha amiga, mas Harry apenas assentiu. Ron já tinha os pensamentos dispersos em algum ponto do Salão Principal.

— Talvez Hermione esteja certa. Não acha bom falarmos com Dumbledore?

— Não, isso não. Ei, McGonagall está vindo com os horários.

Hermione fora aprovada em todos os N.O.M.s, é claro, e seguiu satisfeita para a sua aula de Runas Antigas, acenando-nos um "até breve". Depois as notas de Neville foram julgadas, enquanto eu terminava o meu mingau de aveia.

— Srta. Melvina Liadan, vamos ver as suas notas... "Excede Expectativas" em Defesa Contra as Artes das Trevas e Feitiços, certo. Herbologia tudo bem, Transfiguração... "Ótimo" em Astronomia e Poções. Agora você, Potter.

O salão comunal estava banhado pelo sol, o que me trouxe certo alívio, um quê de vivacidade.

— Legal que vocês vão poder continuar em Poções — comentei, atirando-me preguiçosamente a uma poltrona — daremos ótimos aurores, não acham?

— Esse Slughorn deve ser legal — Ron comentou — por aceitar nossas notas. Vai inclusive nos emprestar os livros até que possamos comprar!

— Não é que ele seja legal — Harry respondeu — é que qualquer coisa é melhor que Snape. Quem é que consegue tirar um "Ótimo", além dos queridinhos dele e Hermione?

— Melvina.

Harry enrubesceu e eu também, mas disfarcei com um sorriso descontraído.

— Mas você gosta de Poções, não gosta, Mel?

— É, eu gosto.

— Justifica-se.

— Quem em sã consciência pode gostar de uma aula de Snape?

— A matéria é legal — defendi-me — e, como aurores, precisaremos dela.

— Eu só não entendi porque você continua em Astronomia.

— Porque eu gosto.

— Harry, ela é louca.

— Acho que você ainda não se acostumou com a Hermione, colega.

Ficamos conversamos molemente, e eu, particularmente, apreciando o gostoso sol da manhã que entrava pela janela e incidia sobre a minha poltrona. Cochilei, porque dormira mal, e acordei assustada com Ron me sacudindo sem muita delicadeza.

— Então, vamos indo?

— É o que?

— Pra aula — Harry falou rindo — as férias acabaram, Mel.

— Juro que eu queria matar essa, meninos...

— Em circunstâncias normais eu não quereria — comentou Ron — Defesa Contra as Artes das Trevas é uma matéria legal, mas…

Levantei-me prontamente, esfregando os olhos.

— Achei que fosse História da Magia.

Ron arregalou os olhos.

— Você vai continuar em História da Magia?

— Não, eu só... Eu só estou confusa com essa nova rotina de estudos.

Encontramos Hermione na fila do corredor da sala de Defesa Contra as Artes das Trevas, e ela parecia muito satisfeita com a sua carga de deveres. Eu só fazia bocejar, e começava a contagiar Ron.

— Para dentro.

Sobressaltei-me, como quando fui acordada pelo meu amigo minutos atrás, mas desta feita foi absolutamente mais desagradável, porque a voz de Snape era naturalmente intimidadora. Entramos. A sala estava sombria como nunca, iluminada por velas que desprendiam um cheiro mórbido de funeral, combinando com os horrendos quadros de pessoas gravemente feridas. Ron silvou baixinho. Acomodamo-nos, eu ao lado de Hermione, como sempre, e Harry e Ron atrás de nós.

— Não pedi a vocês para apanharem seus livros. Quero conversar com os senhores e exijo sua total e absoluta atenção.

Hermione e eu guardamos os exemplares de Frente ao Irreconhecível em sincronia. Snape começou a falar sobre os seus métodos de ensino, bem como sobre os professores anteriores a ele. Senti vontade de rir ao relembrar Umbrige, cujo laço preto parecia uma mosca na sua cabeça de sapa, era o que Harry dizia.

— ...uma boa representação de quem, por exemplo, sofre a Maldição Cruciatus.

O quadro apontado por Snape retratava uma bruxa evidentemente sofrendo a maldição da tortura. O rosto dela foi a última coisa que vi.

Um bosque iluminado por fracos raios de sol que entravam pelas copas das árvores. Alguém me conduzia pela mão, mas eu não podia ver o seu rosto. Ele — era evidentemente um homem — enlaçou com mais força as nossas mãos, como se temesse que eu tropeçasse em algum galho.

— ...O que lhe dá uma fração de segundo de vantagem.

Estava de novo na sala de Defesa Contra as Artes das Trevas, e notei que Hermione terminava uma frase. Snape contestou-a depois, e com algum esforço percebi que a conversa era sobre feitiços não verbais.

Dividimo-nos em duplas, eu com Hermione. Ela era genial, obviamente, mas o mínimo que eu podia fazer, sendo sua melhor amiga, era me esforçar para acompanhá-la, o que sempre me rendia ótimas notas. De fato, admirei-me quando consegui bloquear um seu feitiço não verbal, usando da mesma forma o feitiço escudo. Sorrimos uma para a outra.

— Vi que você ficou estranha — cochichou-me — você teve alguma visão de novo?

— Tive — admiti — mas essa não foi ruim.

— Não tinha fogo?

— Nada. Na verdade, foi bem bonita, porque eu estava...

— Penso ter dito que os feitiços eram não verbais — disse às minhas costas a voz fria de Snape — a senhorita sabe o que significa não verbal, Srta. Liadan?

— Sim, senhor — balbuciei, com os olhos nas minhas mãos, que apertavam com força a varinha.

— Então por que é que eu ainda ouço a sua voz impertinente?

— Desculpe-me.

Cerrei os dentes, sentindo ir embora a alegria estranha de segundos atrás. Meu rosto queimava violentamente, e Hermione sabia que aquilo acontecia quando eu estava com raiva. Ela pediu silenciosamente que continuássemos com a aula.

Outra vez o bosque iluminado pelo sol surgiu quando a varinha de Hermione sumiu dos meus olhos. Ainda caminhávamos de mãos entrelaçadas, pisando folhas e madressilvas. Eu queria levantar a cabeça para contemplar o rosto do rapaz, mas os meus olhos iam molemente pelo chão. Ele apontou um roedor que nos observava cautelosamente e riu. Sua risada era leve e contagiante, fez-me rir também. E ri continuamente, finalmente erguendo a cabeça e encarando os seu rosto, que era decididamente jovem e bonito. Os orbes sensacionalmente azuis sorriram para os meus. Pisquei perante a sua luz, pisquei lentamente, e, quando tornei a abrir os olhos, estava envolta pela escuridão da sala de Defesa Contra as Artes das Trevas. Estava envolta pela escuridão dos olhos de Snape.

— Você pode acompanhar o seu amigo no sábado, Liadan.

Percebi que Hermione olhava para mim com reprovação, ao contrário de Ron, que me lançava um meio sorriso satisfeito. O resto da sala ia aos poucos voltando às atividades, mas alguns ainda olhavam em minha direção, assustados.

— Você realmente não devia ter dito aquilo, Harry — censurou Hermione, enquanto seguíamos para os jardins, onde passaríamos o intervalo — e você, Mel, você não devia ter rido.

— Eu ri? Eu ri de verdade?

— Como assim, você riu de verdade?

— Eu não sei, eu... O que o Harry falou?

Ron, que parecia entusiasmado com a história, respondeu-me:

— Harry deu uma tirada brava em Snape. Você não ouviu? Do que você estava rindo, então?

— Eu estava rindo?

— E bem alto. Você chamou a atenção da sala inteira e tudo o mais. Eu peguei uma detenção pelo desacato, você pela risada de, como eu posso dizer, apoio a mim.

— Eu sinto muito, eu não quis rir. Eu realmente não estava ali, eu...

— Você teve outra visão — afirmou Hermione enfaticamente.

— Caramba, a segunda?

— A terceira, Harry.

— Isso é preocupante, você deveria procurar Dumbledore.

— Harry, você realmente acha que aquele lá vai me proporcionar uma visão bonita, na qual eu estou rindo?

— Persuasão, como ele fez com Ginny.

Mas, felizmente, fomos interrompidos por um garoto que entregou ao Harry um pergaminho de Dumbledore, cujo conteúdo era a convocação a uma reunião em sua sala, no sábado à noite.

— Acho que você vai ter que ir sozinha à detenção, Mel — lamentou Hermione.

E eu lamentei ainda mais.

Findo o almoço, encaminhamo-nos às masmorras. Horace Slughorn era jovial e divertido, o que deixou aquela já tão nossa conhecida sala de Snape com um ar diferente. Ou seria por causa dos caldeirões a exalarem cheiros quentes e gostosos? Hermione descreveu com destreza a poção de brilho perolado, que se chamava Amortentia, a poção do amor mais poderosa de que se tinha notícia. Ainda segundo a minha amiga, ela exalava um cheiro diferente para cada pessoa que o sentia, de acordo com aquilo que a atraía. Aspirei e senti cheiro de madressilvas.

— Poção do amor mais poderosa do mundo? — cochichou Ron — Snape sabe disso e continua eternamente encalhado?

Harry riu, mas Hermione fez um gesto aborrecido para que se calassem. Slughorn explicou-nos sobre Felix Felices, a sorte líquida, a poção que traria horas e até dias perfeitos a quem a bebesse. Uma das mais difíceis, certamente. E como era rara e atraente, ele prometeu um frasquinho dela a quem fizesse com mais destreza a poção do Morto-Vivo. Trabalhei tranquilamente, ao contrário de meus colegas. Não que desprezasse o frasquinho de Felix Felices, mas não precisava dele. Eu já fabricara aquela poção no ano anterior, mas a mantinha em segurança, para uma situação que fosse realmente necessária. Deu-se que Harry foi o vencedor, com a poção mais perfeita. Hermione estava indignada, e eu também ficara um tanto curiosa, para falar a verdade, porque Poções nunca fora uma especialidade de Harry.

À mesa do jantar, Harry nos contou sua façanha. Aconteceu que ele seguiu umas instruções adicionais do antigo dono do livro, um gênio que escrevera ,em todas as páginas, anotações brilhantes. Pedi-o emprestado ao meu amigo e dei uma folheada. Era impressionante. Cobicei-o imediatamente, mas Harry, muito sorridente, disse-me que era já uma expert em Poções e não precisava daquilo. Entrementes, folheamo-nos um pouco mais, enquanto Ron se concentrava no jantar e Hermione fazia o mesmo, mas muito aborrecida. E nossos olhos verdes ao mesmo tempo se ergueram das páginas gastas e se encontraram.

Esse livro pertence ao Príncipe Mestiço?

Rimos, curiosos. Harry fechou o livro e guardou-o na mochila. Viemos realmente a conversar sobre esse assunto apenas no sábado.

— Pode ser uma garota — Hermione comentou, ainda um tanto contrariada — acho que a letra é bem feminina.

— Chamava-se o Príncipe Mestiço — disse Harry — quantas meninas são príncipes?

— Milicent Bulstrode?

Harry riu da minha indagação, mas Ron praticamente perdeu o ar. Mione, porém, lançou-me um olhar extremamente rancoroso. Ela decididamente odiava aquele livro do Harry, e eu o achava absolutamente interessante.

— Caramba, mas esse cara é muito inteligente — eu disse, puxando o Estudos avançados no preparo de poções para mim — ou era. Será que faz muito tempo que ele deixou Hogwarts?

— A julgar pelo estado do livro, sim.

— Ou não, Ron. Talvez o livro tenha sido bem manuseado, e decididamente foi, uma vez que são raríssimas as páginas que não contêm anotações. Esse cara realmente... Não, eu conhecia segredos de poções que provavelmente nem Slughorn ou Snape conheciam. Receitas ultrassecretas elaboradas pela minha família há séculos. Sabe, pensei que só eu conhecesse, mas o Príncipe me desarmou. Ele conhece tudo, tudo. E eu, por minha vez, gostaria de conhecê-lo.

— Ah, pronto! — Ron exclamou, jogando as mãos ao ar — Ela está apaixonada pelo Príncipe Mestiço, Harry.

Harry riu e guardou o livro na mochila.

— São cinco para as oito. É melhor eu ir andando ou vou chegar atrasado no Dumbledore. E você, Princesa Mestiça, vai chegar atrasada no Snape.

— Caramba! — exclamei, erguendo-me da poltrona de uma vez — A detenção, eu quase me esqueci. A gente se vê, pessoal. Boa sorte na sua aula com Dumbledore, Harry.

— Boa sorte na sua detenção.

— E vem cá, as detenções dele são muito ruins, é? Nunca peguei uma, então...

— Não são agradáveis, é claro, mas nada comparado a Umbridge. Ele provavelmente vai fazer você empilhar livros poeirentos ou mexer em frascos com líquidos duvidosos, enquanto lhe atira uma quantidade numerosa de ironias, até você perder a paciência.

— Conselho: Não perca — acrescentou Ron.

Ri para os meus colegas e me despedi. Hermione respondeu com um aceno simples.

Desci rapidamente todos os lances de escadas, tentando não esbarrar nas pessoas. Eu não parava de pensar que gostaria de ficar no salão comunal rindo com Ron, ouvindo o ruído da pena de Hermione sobre o pergaminho ou lendo o livro de Poções de Harry. Ou talvez fosse bom dar uma passada na Torre de Astronomia, já que a noite era agradável e o céu deveria estar limpo. Mas eu tinha de descer todos os lances de escadas, distanciar-me das torres e me trancar em uma masmorra para responder a uma falta que não cometera. Ao menos não intencionalmente. Bati à porta e sorvi uma boa lufada de ar. Esperava que Harry estivesse certo quanto aos castigos.

— Boa noite —eu disse imediatamente — peço desculpas pela demora.

— Você não está atrasada, Liadan.

Senti um pouco de alívio. Não havia começado aquela detenção tão mal quanto imaginava.

— Estou admirado em tê-la aqui essa noite, Liadan. Sempre tão bem educada, apesar das péssimas companhias. Você certamente foi a minha melhor aluna.

— Mas, senhor...

— Não me interrompa.

Assenti, nervosa por querer falar e pelo modo de como ele andava em volta de mim.

— Uma exímia preparadora de Poções, indubitavelmente. Jamais corrigi um N.O.M tão competente, Liadan. Você deve saber que obteve a mesma nota que a sua amiga, mas o seu exame faz o dela parecer medíocre. Enquanto Granger resolveu corretamente cada uma das questões com respostas decoradas de seus livros, você propôs modos diferentes de chegar aos mesmos resultados, não é verdade? De fato, bem mais de uma vez tive de interromper as correções ao encontrar o seu trabalho. Sabe por que, Liadan? Porque precisei pegar ingredientes e testar. Simplesmente pelo fato de que suas sugestões fugiam completamente ao meu conhecimento. E nunca deu errado.

— Eu não sei o que...

—Eu estou te falando isso para que você entenda a minha indignação. Se fosse um xucro como Ronald Weasley, eu aquiesceria. Mas você, que é tão culta, tão dedicada. Estou sinceramente decepcionado.

— Certo. Agora me escute, por favor.

— Esteja à vontade.

— Estou tão admirada quanto o senhor, porque nem sei exatamente o que aconteceu. Sei que eu acabei por rir em momento indevido, mas não me lembro. Eu sei que é difícil de acreditar, mas foi como se eu tivesse apagado. Eu... — minha voz embargou e lacrimejei — Eu desprezo uma atitude como essa. Nunca fui de rir das pessoas, sinto aversão aos adeptos a essa prática. E eu não faria isso, mesmo que achasse engraçado, porque julgo fundamental o respeito. Não sei por que, nem como, nem em que circunstâncias me veio aquela risada. Não faço ideia.

— Você diz que teve uma espécie de desmaio?

— Praticamente. Lembro-me que eu estava treinando com Hermione, depois o senhor já estava à minha frente, decretando-me a detenção. E o ínterim entre este e aquele momento, é como se não tivesse existido.

— Isso já aconteceu outras vezes?

— Desde a minha infância — menti — eu perco parte das conversas, entende? Mas não há de ser nada.

— Normal não é.

— Eu só quero que o senhor saiba que não tencionei nada.

— Eu acredito. Até porque, Liadan, a sua risada não foi jocosa, não possuía malícia. Ao contrário, foi inocente, espontânea. Eu só necessitava de uma explicação plausível para acreditar nisso.

— Assim eu fico mais tranquila.

— Já pode voltar ao salão comunal.

— E a detenção?

— Não é justo que pague por uma falta que não cometeu. Boa noite, Liadan.

Os olhares que Ron e Hermione lançaram a mim foram inquietos.

— Já?

— Eu não tive de cumprir nenhuma detenção — falei com simplicidade.

— Quê? Como assim?

— Falei a verdade, Ron, e Snape a aceitou.

Dessa vez Hermione quase se ergueu da poltrona que ocupava.

— Você falou a verdade? Você falou que Voldemort está invadindo a sua mente? Falou isso para o Snape?

— Claro que não! Disse que apenas apaguei, não falei nada sobre as visões.

— Ele não achou isso estranho?

— Achou, e penso que vai investigar.

— Eu acho que não — sugeriu Ron — Snape não é do tipo que se importa com grifinórios. Pra falar a verdade, ele até deve ter ficado satisfeito.

Contei a eles todos os detalhes, excetuando-se parte dos exames medíocres. Ron fez algum comentário aleatório e Hermione ficou pensativa.

— Estou achando isso realmente estranho — falou — Snape dispensando um aluno de uma detenção...

— Acho que ele acreditou em mim.

— Mesmo acreditando, Mel, ele não dá o braço a torcer.

— Mione está certa.

— Bom, melhor assim, não é? Eu vou dar uma passada na Torre de Astronomia, aproveitando que a noite está... Está absolutamente linda!

Percebi que Ron e Hermione se entreolharam rapidamente, mas fingi que não. Um dia eles se acostumariam com a minha paixão por Astronomia.

*"Fosse eu imóvel como tu, astro fulgente,
Não suspenso da noite com uma luz deserta."