Segunda feira, tava inspirada e não tinha nada pra fazer. Adicione aí um pedido da Fafa [aliás, essa é a segunda fic que eu posto por causa de você], e eis aqui o resultado.
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"Ínfimo. Tanto quanto a areia no chão de concreto, depois daquelas tardes laranjas beira mar. Estéreo, o sol se põe. Inalcançável como a possibilidade delirante de teus olhos, ah, teus insanos olhos que viviam a brincar de me ler, me decifrar. Soubeste assim que sempre te quis? Neles descobri minha morada, a cor da eternidade e o perfume que me embriagava de maneira desigual. Já é, já foi, e sempre será.
Lembro, frações daquele mês de agosto. Teu corpo em mim pousava. Tua voz em meus ouvidos trazia sonho e riso, enquanto o gosto de você vinha só de lembrar. Mas, lembro mesmo são dos vários flashes onde só suas orbes pra mim existiam, fixamente castanho-avermelhadas, enquanto as cores além da sua cabeça variavam, lá atrás. Suas roupas espalhadas pelo chão e as batidas ritmadas de nossos corações, em contraste com nossas respirações, descompassadas do nosso amor louco e único e cheio de cores, sons, cheiros, gostos, mas composto somente de um olhar.
Rosas. Metáforas foram feitas aquele dia sobre teu corpo em relação à elas... Lembro bem, até porque não era normal aquela tonalidade vermelha no céu. Teu corpo, alvo e malicioso, na graça do florescer da extensão do prazer que rodeavam meus olhos, entupiam meus poros e a linha do meu escutar. Sua imagem, olhos fechados, boca cor do céu, juras que iam além dele. Pequenas, se comparadas. Infelizmente você foi mais longe que minha capacidade de compreensão.
Maldita a linha que ficou entre nós. Vermelha.
Não evito mais o encontro do mar com a costa, da água com a areia; descobri que independente da geografia seu fantasma não vai embora. Ele me abraça da mesma maneira infantil com que você pulava em meu colo, mesmo que mais pesado. Roça onde sabe que tenho cócegas, me faz rir, fazendo dessa nostalgia muito mais real do que qualquer outra, cativada por qualquer ser ainda presente. Ele sabe ser tão cruel quanto você sempre foi, se não mais. Você algum dia soube o quanto me irrita essa tão presente falta? Essa... Essa certeza de que não me abandona, de que você pousou pra ficar, mas não está. E essa dúvida, me diz? Existe volta?
Possibilidades não me cessam. Sair mundo a fora, aleatório, deixando teu maligno fantasma me guiar... Sempre soou bem. Europa cheia de desfiladeiros, América surpreendente, Oceania selvagem... Idéias. Te encontrar no final, marcando um novo começo sem data ou horário ou mesmo aquele maldito mês de Agosto, somente o número de vezes que meu coração vacilou ao teu olhar... Final feliz. Mas isso não é amor, é poesia, e as coisas não funcionam assim.
Porém, voltando à realidade da nossa varanda, olhando os postais escritos mas nunca enviados, a barraca deixada ao léu no gramado, as roupas penduradas no varal e a oscilação das águas, emanando esse cheiro que vem há tanto substituindo o seu, reconheço que de nada adianta tudo isso. Europa? América? Oceania? Essa terra onde passamos nossos últimos "nós"? Eu venho de lugar nenhum, esta casa plena e branca só é em mim, e eu não existo. E mesmo assim você me tem; quer prova de amor mais bonita? E, mesmo assim, você não me quer. Estou trancado a oito chaves num sótão da terra dos que nada possuem, esperando para poder te olhar. Sim, te olhar novamente, porque ainda sim é pra linha dos teus ínfimos, estéreis e vermelhos olhos que eu miro para achar libertação."
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