Algo que me veio à cabeça enquanto pensava no Coringa... Somente 2 oneshots ;]


Ele esticou as mãos em direção ao vazio. Seus dedos tocaram o nada, sentiram o beijo gelado da escuridão. Um conforto tão grande em contraste ao calor abafado do inferno... Ele não olhou para trás, não havia nada digno de ser encarado, somente o fogo crepitando logo ali às suas costas e em cada canto da cidade.

Enquanto o vento fustigava suas pálpebras fechadas, sua boca entreaberta e todo seu corpo, ele cogitou deixar-se abraçar. Parado na borda de algum prédio imundo, ele realmente pensou em deixar-se voar. Era aquela sensação o impelindo. A do ar frio e da liberdade passando entre seus dedos, esvoaçando em seus cabelos. Ele respirou, deixando o oxigênio entrar lentamente em seus pulmões, confortar cada partícula de seu corpo. Então riu suavemente.

Seu riso ecoou fraco no ar do outono, e ninguém pôde ouvi-lo. Um som baixo, pequeno, tranquilo. Seus olhos se abriram finalmente, as íris largas na escuridão da noite. Não havia nada o impedindo de descer aqueles 8 andares pelo lado de fora. Talvez fosse divertido.

Ele inspirou novamente e olhou para os céus. Não via nenhum Deus na imensidão negra. Somente uma mancha borrada contra as núvens disformes. E então ele se lembrou. Lembrou-se porque não era ainda hora de experimentar aquela sensação que nunca provara.

Ele deu um passo para trás e desceu do parapeito. O morcego embaçado o encarava do alto e o homem o cumprimentou com um aceno de cabeça. Ainda não era hora e o morcego o lembrara que havia muito a ser feito. O inferno também podia ser divertido, afinal.