"Caro James Potter,

Ha, você abriu esta carta. Na pressa de saber o que eu tinha a dizer, nem deve ter percebido que ela continha feitiços, não é? Bom, parabéns, você é o feliz proprietário de tentáculos venenosos! Eles devem estar brotando do seu pescoço agora, creio.

E agora, onde foi parar aquela história de que 'a Lily não sabe brincar', hein? Eu sei brincar, Potter. Sei fazer isso muito bem.

Mas, certo, não foi por isso que escrevi esta carta. Eu a escrevi porque..."

James levantou-se da cadeira e amassou a carta, enfiando-a descuidadamente no bolso da calça.

Quem Lily pensava que era? Quem era ela para colocar tentáculos venenosos em seu pescoço? Ele estava apaixonado por ela e faria de tudo para provar que a recíproca era verdadeira, mas aquilo já era DEMAIS. Tentáculos? De onde diabos ela tinha tirado aquela idéia?

E eles coçavam, ainda por cima.

Ah, mas ela iria ver só uma coisa...! O menino desceu correndo as escadas de seu dormitório, e alguns calouros que estudavam no Salão Comunal deram gritinhos – bom, não era todo dia que aparecia um garoto com tentáculos por aí. Ele já conseguia até ver os apelidos: garoto-polvo, James Lula Potter, tentásticlo... Os adversários de quadribol iriam se deleitar.

Ei, espere um pouco. COMO ELE IRIA PRATICAR QUADRIBOL COM AQUELAS COISAS SE SACUDINDO NO SEU PESCOÇO? Oh, Lily estava ferrada.

Muito ferrada.

– LILY EVANS! – berrou ele, embarafustando na direção da ruiva, que conversava com a colega de dormitório. Ela levantou os grandes olhos amendoados, pestanejando na direção dele.

– Oh, olá, Pot... – começou ela, com o esboço de um sorriso começando a se formar em seu rosto.

– O QUE DIABOS É ISSO?

Lily parou por alguns instantes e vincou a testa, como se não tivesse entendido o motivo de tanta gritaria. Ao ver que ela não respondia, James continuou com seu acesso de raiva:

– QUEM VOCÊ ACHA QUE É PARA ME TRANSFORMAR EM UM POLVO? – ele berrava cada vez mais alto, fazendo algumas pessoas se afastarem do lugar onde estava; Lily só o encarava, pasma, o queixo caído. – VOCÊ DEVE TER ACHADO DIVERTIDO FAZER ISSO, NÃO É? É CLARO, JAMES, O METIDO DA ESC...

– James? – chamou a menina, em voz baixa.

– QUE FOI?

– Acho que eles precisam de água.

– EU... – continuava o garoto, mas interrompeu-se ao ouvir as palavras de Lily. – O quê?

– Os tentáculos... Precisam de água. Veja, eles estão ficando murchos.

Ela apontou. Realmente, os tentáculos que se retorciam para todos os lados estavam sem força, e começando a ficar grudentos. Mas é claro que James não tinha cabeça para perceber algo como aquilo – para ele, Lily estava apenas tirando sarro dele.

Mais do que já tinha feito? Impossível, eu diria.

– CALE A BOCA!

– Mas el...

– CALE A BOCA, CALE A BOCA, CALE-A-SUA-BOCA! – ele pegou um jarro de plantas que estava sobre uma mesa (um segundanista enchera-o de água, praticando o Aguamenti) e despejando a água sobre a própria cabeça. A cena teria sido cômica, se ele não estivesse tão nervoso. – VOCÊ NÃO TEM O DIREITO DE DIZER NADA, EVANS!

– Ah, então agora eu sou a Evans? Pensei que fosse Lily, "o lírio mais branco dos Campos Elísios", ou algo do gênero.

O garoto encarou a ruiva. Agora, eles estavam sozinhos no Salão Comunal, pois todos os outros grifinórios tinham ficado apavorados com James, o fantástico menino-polvo, e ido embora. Ele fechou os olhos e respirou profundamente três vezes, sorvendo a maior quantidade de ar que conseguiu. Abriu os olhos, e ela batucava no tampo de uma mesa com as pontas dos dedos, descontraída.

Céus, como ela era maligna.

– Você vai tirar essas coisas do meu pescoço.

– Ah, você se acalmou? – surpreendeu-se ela, levantando o olhar. De repente, encarando as íris verdes de Lily, ele não sentia tanta disposição para brigar.

Droga, droga de paixão adolescente.

– Você vai tirar essas coisas do meu pescoço.

– Olá para você também, Potter. Como foi seu dia?

– VOCÊ VAI TIRAR ESSAS COISAS DO MEU PESCOÇO!

– Ah, o meu foi ótimo, obrigada por pergunt...

AGORA, EVANS!

– Você está muito nervosinho, James, tente se acalmar. Assim, os tentáculos vão entrar em depressão.

– OS TENTÁCULOS QUE SE DANEM! LILY EVANS, SE VOCÊ NÃO TIRAR ESSAS COISAS DE MIM, EU JURO QUE...

Ela suspirou, o rosto assumindo uma expressão entediada.

– Onde está a carta? – perguntou, finalmente. James a encarou por alguns segundos, desconfiado, e tirou a bolinha de papel do bolso, desamassando-a.

– Na borda inferior, lado esquerdo – orientou a menina, observando-o como se ele fosse um espécime em extinção.

Ele leu.

Grisalia Darfictus? – leu, com dificuldade. Ela tirou a varinha de dentro das vestes.

Grisalia Definios, Potter – corrigiu, fazendo um meneio com a varinha; os tentáculos desapareceram. James respirou aliviado, esfregando o pescoço, e voltou a encará-la.

– Sério, Evans, o que deu em você? Como você acha que eu conseguiria pegar o pomo com essas... essas... coisas, no meu pescoço? Porque com certeza elas não o pegariam por mim.

– Sabe que teria sido uma boa idéia? – comentou Lily, guardando a varinha e se levantando. – Aposto que, se eu não estivesse aqui, você teria conseguido fazê-los desaparecer, sozinho.

– Como assim?

– A carta, Potter – gemeu ela, já saindo pelo buraco do retrato. Ele percebeu que ainda segurava o papel com a mão esquerda, e procurou o ponto onde havia parado de ler.

"...Eu a escrevi porque, bem, você venceu. De nada adiantou aquela coisa de 'eu te odeio', quando na verdade o que acontecia era o contrário.

Potter, eu gosto de você. Consegue imaginar o tamanho do parasita que deve ter tomado meu cérebro para me obrigar a dizer uma coisa dessas?

Haha, brincadeira. Será que nós não poderíamos sair, um dia desses?

Assinado,

Lily Evans.

P.S.: desculpe pelos tentáculos! O contra-feitiço está anotado no fim da folha."

Grisalia Definios