Draco Malfoy era tudo o que um homem gostaria de ser: esperto, poderoso, influente, atraente, rico, cobiçado... Ocupava um cargo de prestígio dentro do Ministério da Magia que lhe rendia uma boa quantia de galeões ao ano. Além disso, sua posição na sociedade bruxa propiciava encontros com as mulheres mais bonitas da Inglaterra. Eram encontros passageiros, pois Draco Malfoy nunca se prendia muito tempo a uma única mulher. Acima de tudo, ele prezava sua liberdade.

O herdeiro dos Malfoy estava em seu escritório e lia atentamente uma carta. Seus olhos cinzentos passavam rapidamente pelo pergaminho escrito com aquela caligrafia que ele tão bem conhecia. Suspirou. Já era começo do mês? Ele sequer notara. Estivera muito ocupado nos últimos tempos. O trabalho o consumia e Malfoy só dava brecha para seus encontros amorosos. Fora isso, era trabalho em tempo quase integral.

Entretanto, a rotina fatigante de trabalho era quebrada pelos encontros no início de todo mês na casa de Blaise Zabini. Aquela sim era uma ocasião prazerosa ao contrário dos seus encontros que nos últimos tempos mais lhe davam dor de cabeça do que gozo. As reuniões na casa de Blaise eram sempre muito agitadas e divertidas. Antigos colegas da sonserina se juntavam para beber, jogar, conversar e, às vezes, praticar alguma orgia. Sim, Draco adorava as reuniões de início de mês.

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Aquele era o dezembro mais frio dos últimos dez anos. Draco olhava pela janela de sua mansão enquanto abotoava o casaco escuro. Há tempos ele havia saído da casa dos pais e comprado sua própria casa que ficava nos arredores de Londres. Era um local exageradamente grande para uma pessoa, mas ele não se importava. Havia crescido em uma mansão e não iria morar em uma casa menor depois de adulto. Draco tinha alguns elfos domésticos, mas era como se não tivesse. De fato, o jovem Malfoy só se lembrava deles quando ia comer ou tomar banho ou quando achava alguma poeira em um dos seus móveis caros.

Após colocar suas luvas de couro de dragão e amarrar o cachecol no pescoço, Draco deu uma última olhada no espelho. O que viu não lhe agradou muito. Apesar de continuar muito bonito, o loiro já demonstrava sinais de envelhecimento. Algumas linhas de expressão já começavam a aparecer. Bom, ele já não tinha mais dezessete anos, tinha?

"Acho que estou ficando velho..." – ele pensou ainda olhando para o reflexo no espelho.

Suspirou. Não, não deveria pensar nisso. Não quando estava indo para mais uma reunião na casa de Blaise. Passou a mão pelos cabelos platinados em um gesto nervoso. Depois se concentrou e aparatou.

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A casa de Blaise não era longe da sua, mas a falta de tempo dos dois sonserinos impedia que se encontrassem constantemente. Na verdade, eles se viam mais nas reuniões onde podiam colocar a conversa em dia. Fora isso, era um almoço aqui ou um jogo ali.

Estava muito frio naquela noite e Draco abraçou o próprio corpo a fim de se aquecer. A neve pelo caminho dificultava a locomoção e o homem demorou mais do que o normal para chegar à porta do amigo. Bateu duas vezes e esperou. Podia ouvir risadas no lado de dentro. Sorriu. Sim, as reuniões de Blaise eram sempre muito animadas. Pouco tempo depois, a porta se escancarou e um Blaise sorridente apareceu.

- Draco! Seja bem-vindo! – ele exclamou.

- Olá, Blaise! – o loiro cumprimentou retribuindo o sorriso que o amigo lhe dirigia. Draco Malfoy nunca foi de sorrir muito, mas aquele à sua frente era seu amigo desde os tempos do colégio. Fazendo uma comparação grotesca, Blaise Zabini era para Draco Malfoy o que Ronald Weasley era para Harry Potter.

- Entre, entre! A festa está animada! – Zabini disse puxando o amigo para dentro.

Assim que entrou, Draco pôde sentir a diferença de temperatura. Imediatamente sentiu calor e retirou o casaco que agora parecia incomodá-lo. Mandou um elfo guardá-lo advertindo-o que aquela peça havia sido muito cara e ele deveria pagar com a vida caso a estragasse. O elfo engoliu em seco e respondeu em tom baixo que teria muito cuidado. Zabini riu e encaminhou Malfoy até a sala de estar onde as risadas eram mais altas.

- Pessoal! Vejam quem chegou! – gritou Blaise segurando o ombro de Draco.

- Draco! Há quanto tempo! – Pansy Parkison exclamou alegre indo abraçar o loiro.

Draco retribuiu o abraço e, ao se afastar, pôde ver muitos rostos conhecidos. Dentre eles Crabbe e Goyle que também pareciam contentes com a chegada do Malfoy.

- Atrasado como sempre, Malfoy. – disse Petrus Vanden que na época de Hogwarts era dois anos mais velho do que o loiro.

- E você sempre com essa arrogância, Vanden. – Draco rebateu, mas não parecia irritado.

Draco então se acomodou em um sofá e pegou uma bebida que um dos elfos de Blaise oferecia. Logo estava conversando com seus antigos colegas, rindo das piadas e falando mal dos grifinórios.

- E vocês se lembram daquela sabe-tudo intragável? Como era mesmo o nome dela? – alguém perguntou.

- Hermione Granger. - outra pessoa respondeu.

- Isso! Que fim ela levou?

- Ouvi dizer que ela se casou com o Weasley. – uma terceira pessoa disse.

- Coitada! Hoje deve ter uns dez filhos e nenhum dinheiro para sustentá-los!

Todos riram.

- Hei, Malfoy! Você não tinha tido um caso com ela em Hogwarts?

Draco se remexeu inquieto.

- Não.

- Não foi isso o que eu fiquei sabendo... – Petrus falou.

- Não me interessa o que você ficou sabendo. – Draco respondeu tomando um generoso gole da sua bebida.

- Parem com isso vocês! – Pansy se meteu na conversa – Draco jamais se misturaria com uma sangue-ruim!

- Mesmo porque Lucius Malfoy o deserdaria. – Petrus disse rindo.

Mais uma vez Draco se remexeu inquieto.

- Acho melhor falarmos mal de outra pessoa. – Blaise disse percebendo o incômodo de Draco.

- Certo. Que tal falarmos mal de Harry Potter?

Todos concordaram entusiasmados e a conversa rumou para como a cicatriz de Harry Potter era nojenta.

Draco estava ali, mas também não estava. Ele sequer prestava atenção na conversa dos amigos. Sua mente divagava para uma época longínqua em que ele ainda estudava em Hogwarts. A época em que ele havia se envolvido com Hermione Granger.

Tudo havia começado com uma aposta estúpida entre dois adolescentes. Blaise desafiara Draco a seduzir Hermione. Draco dissera que não, que ele jamais tocaria em uma sangue-ruim ainda mais amiga do Santo Potter. Blaise o provocara e Draco acabou cedendo. No início, a jovem Granger não parecia interessada em Malfoy. Entretanto, com o passar do tempo, as investidas de Draco pareciam ter surtido efeito e a melhor amiga de Harry Potter deixou-se levar. Malfoy acabara descobrindo que Hermione não era tão ruim assim. Quando não estava falando dos estudos, ela até podia ser uma companhia bastante agradável. Sua inteligência o fascinava. E ela era tão disciplinada que o loiro pensou que nem com todo o esforço do mundo ele conseguiria ser como ela.

O que havia começado com uma simples aposta estava se tornando algo mais sério. Draco já havia conseguido levar Hermione Granger para cama e mesmo assim não a abandonara. Blaise começou a ficar preocupado, mas Draco sempre dizia que ele estava apenas se divertindo. Entretanto, aquela diversão já estava durando bastante tempo. Foi então que rumores começaram a correr pelo castelo e Draco Malfoy se viu obrigado a abandonar Hermione Granger. Ele era Draco Malfoy no final das contas. Tinha uma reputação a zelar e Hermione Granger era apenas uma sangue-ruim. Ele sequer deu-se ao trabalho de encontrá-la. Terminou tudo por carta mesmo. No começo ele sentiu remorso, afinal, Hermione era boa de cama. Contudo, esse remorso logo desapareceu e pouco depois ele estava com uma sonserina um ano mais nova. Após a formatura, Draco nunca mais viu Hermione.

- Pensando em que? – ele ouviu uma voz perguntar-lhe.

Draco acordou do seu devaneio e mirou a dona da voz. Era uma mulher alta, loira com expressivos olhos azuis. Lembrava-lhe vagamente alguém, mas, no momento, ele não pôde perceber quem. A mulher lhe sorriu mostrando dentes muito brancos e alinhados.

- Eu sou Madeline Vanden, prima de Petrus Vanden. – ela lhe disse estendendo-lhe a mão.

Draco a cumprimentou.

- Draco Malfoy. – ele respondeu.

- Sei quem é você. Todo mundo sabe quem é Draco Malfoy.

- Fico lisonjeado. – o loiro disse com um sorriso sedutor.

- Estava pensativo. Quer que eu volte depois?

- De maneira alguma. Apenas pensava em como essa festa está chata.

Madeline sorriu.

- Será que posso ajudar?

Minutos depois os dois saíam da festa indo para a casa de Draco.

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Draco acordou no dia seguinte sentindo seu corpo pesado. A noite anterior havia sido agitada e Madeline havia se mostrado um tanto... exigente. O loiro então se lembrou das noites que havia passado com Hermione Granger.

"Por que diabos estou pensando nisso agora?" – ele se perguntou.

Lentamente, ele se levantou da cama. Sentiu todos os músculos doerem. Madeline ainda dormia e Draco achou melhor não acordá-la. Caminhou até o banheiro e tomou um banho. Os músculos relaxaram um pouco, mas Malfoy ainda sentia-se cansado. Desceu para o café-da-manhã. Imediatamente, os elfos colocaram a mesa e trouxeram-lhe o Profeta Diário. Ao ver a foto da primeira página, Draco cuspiu o suco que bebia.

A foto mostrava Harry Potter em uma das festas beneficentes que sempre organizava. Ao seu lado esquerdo estava um ruivo alto e sardento. Mas foi a pessoa ao lado direito de Potter que chamou a atenção do homem loiro. Lá estava Hermione Granger, linda e sorridente. O tempo pareceu não afetá-la ao contrário dos seus dois amigos que já demonstravam sinais de envelhecimento assim como Draco. A morena tinha os mesmo olhos brilhantes e os mesmos cabelos cheios da época do colégio. Draco não pôde deixar de sorrir ao vê-la.

- Você não envelheceu nada, hein?! – ele murmurou.

- Quem não envelheceu? – uma voz ao seu lado perguntou. Madeline havia acordado e descido para tomar café com Draco.

- Potter. – o loiro respondeu mecanicamente – Ele continua com a mesma cicatriz horrenda de sempre.

Madeline riu servindo-se de um pouco de leite.

- Oh, sim. Aquele Potter continua o mesmo. Ele e seus amiguinhos.

Draco meramente concordou. Ainda olhava para a foto de Hermione.

- Está tudo bem? – Madeline perguntou.

- Sim. – Malfoy respondeu em tom de quem não queria conversa.

O café seguiu-se silencioso.

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Draco estava extremamente irritado. Havia passado o dia inteiro pensando na foto de Hermione Granger fazendo com que sua atenção se dispersasse. Para compensar sua falta, o homem gritava com todos os funcionários que podia e chegara até mesmo a demitir um. O frio também não ajudava e, no final do dia, Draco estava caminhando para casa com todas as pessoas tentando não cruzar o seu caminho.

Ao chegar à mansão, um elfo viera lhe falar quem Madeline havia deixado um recado convidando-o para jantar. Draco grunhiu. O mal daquelas mulheres era que elas achavam que só porque ele passar uma noite com elas, já estavam tendo algum tipo de relacionamento. Ele era Draco Malfoy. O único relacionamento sério que ele tinha era com o dinheiro. Depois vinham seus pais e seus companheiros. Mas mulheres? Mulheres só lhe davam trabalho. Não, ele não iria jantar naquela noite. No dia seguinte mandaria um buquê de rosas com um pedido de desculpas. Sempre funcionava. Por hora, ele queria ficar sozinho.

Tomou um banho demorado e depois se jogou na cama. Havia ordenado aos elfos que ninguém o incomodasse. Trancado em seu quarto, ficou observando a neve cair lá fora. Aos poucos, seus olhos foram pesando e a última imagem que lhe veio à mente antes de cair no sono foi Hermione Granger com seus dezoito anos.

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Aos poucos foi despertando. Sentiu então algo mole em suas costas. Aquele era o seu colchão? Estava mole demais... Lentamente, Draco abriu os olhos. Sua visão ainda estava embaçada e demorou um pouco para perceber que aquele quarto não era o seu. Será que havia ido até a casa de Madeline e não se lembrava? Não. Aquele quarto era simples demais para uma mulher com dinheiro como Madeline. Ele jamais se envolvia com mulheres que não fossem da alta sociedade. Teria sido seqüestrado talvez? Era uma possibilidade, embora ele não soubesse como alguém conseguiria seqüestrá-lo sem que percebesse. Draco Malfoy sempre havia sido bom em duelos. Afinal, o que estava acontecendo. Levantou-se a fim de observar melhor o quarto. Tudo ali era simples demais para o seu gosto. Percebeu que os móveis eram de boa qualidade, mas, ainda sim, todos simples. Confuso, Draco resolveu sair daquele lugar. Talvez encontrasse alguém que pudesse lhe explicar como viera parar ali.

O corredor não era muito comprido e o chão de tábua corrida estava ligeiramente empoeirado. Desceu com cuidado os degraus da escada que rangeu com o peso do homem.

"Alguém precisa dar um jeito nisso." – ele pensou.

Um aroma gostoso vinha da onde parecia ser a cozinha. Receoso, Malfoy abriu a porta e se surpreendeu com o que viu. Sentados à mesa redonda no centro da cozinha, estavam um menino e uma menina.

- Bom-dia, pai. – a garota cumprimentou.

Levou algum tempo até Draco processar aquela informação. A menina havia chamado-o de pai?

- Des-Desculpe. Do que foi que você me chamou? – ele perguntou.

O garoto, que até então não havia se manifestado, desviou os olhos da revista que estava lendo e arqueou uma sobrancelha.

- Você está se sentindo bem, pai? – ele perguntou.

Malfoy arregalou os olhos ainda mais surpreso. Por que diabos aqueles dois estavam chamando-o de "pai"? O homem observou com mais atenção o casal à sua frente. Sim, aqueles dois se pareciam com ele definitivamente. A menina, que parecia ser mais velha, tinha os mesmos cabelos platinados, os mesmos olhos cinzentos, a mesma pele pálida e o mesmo ar arrogante que ele. De fato, a garota era a versão feminina de Draco Malfoy. O garoto, que parecia ser um pouco mais novo do que a garota, tinha os cabelos castanho-claros quase beirando o loiro, os olhos cinzentos como os da irmã e a pele um pouco mais morena. Mesmo assim, ele ainda era muito parecido com Draco.

A porta atrás dele se escancarou e um garotinho entrou correndo passando rapidamente por Malfoy que se assustou.

- Papai! Papai! Me ajude! A mamãe quer que eu tome banho! – o garotinho dizia enquanto balançava os braços freneticamente.

Ótimo. Mais um fedelho chamando-o de pai. Draco mirou com atenção o garotinho. Das três crianças, ele era o menos parecido com ele. O menino tinha a pele mais morena, os olhos castanhos e os cabelos castanhos ligeiramente ondulados. De fato, aquele fedelho lhe lembrava muito alguém, mas quem? Foi quando a porta se abriu que ele teve sua resposta.

- Você não vai escapar do banho, Andy. – a mulher disse.

Draco estava boquiaberto.

- Hermione Granger?! – ele perguntou chocado.