Observei a folha se desprender da árvore, girar, girar, girar enquanto caía, até deitar-se suavemente sobre o chão coberto de neve. Então ergui meu rosto para o céu branco e delicado, me perdendo no nada de minha mente vazia, do ambiente que, por um raio de no mínimo um quilometro, era perfeita e completamente deserto. Deitei no chão, como se aguardasse alguma coisa, ou nada. A única coisa que atingia eram gotas finas, contrastando com a neve que outrora caia e, quando meu corpo tocou o chão, senti o gelo derreter até que pudesse sentir a terra fria e morta abaixo dele. Não era desconfortável, eu poderia dormir até.

O som de passos vacilantes não me sobressaltou, apesar de eu saber que não deveria haver ninguém por aquelas bandas, muito menos naqueles dias. Continuei em completo silêncio, imóvel, até ouvir o som de dentes batendo ao meu lado. Então me levantei, sem pressa, e puxei a pequena criança para meu colo, passando meus braços ao seu redor para aquece-la. Em segundos, ela parou seus calafrios sossegaram.

Não era preciso mais nada, além daquele lugar deserto, do silêncio, da neve e do contato, não físico, mas emocional, para que nos sentíssemos em casa. Estávamos completamente satisfeitos. Eu e a minha razão de viver. Era adorável que isso fosse assim, tão simples e descomplicado, e ainda mais adorável que precisássemos ser isolados para que nossa união fosse completa.

Descansei minha cabeça no topo da dela, aprovando e desaprovando, ao mesmo tempo, seu cheiro. Deliciosamente humano, desumanamente doce. Mas ainda assim, perfeito.

Ela colocou sua mão sobre o gelo, e eu coloquei a minha ao seu lado. O contraste era lindo, embora cruel. A neve era da cor dela, chocando-se com a minha pele morena, horrivelmente pálida por falta de sol. Sorri quando ela ergueu o rosto para poder me enxergar melhor, torcendo-se em meu colo. Eu sempre sorriria para a minha boneca.

-Eu amo você, Jake.

Voltou a olhar para o horizonte branco. Ela não precisava de respostas, apenas precisava falar, e eu sabia disso. Por isso continuei em meu silêncio, sentindo seu corpinho absurdamente forte, apesar de delicado, se pressionando contra o meu, em busca de roubar um pouco do calor que eu tinha em excesso. Meus braços a trouxeram um pouco mais para perto, aconchegando-a e a aquecendo. A neve reluzia ao nosso redor. Puxei a touca dela, ocultando seu rosto da garoa gelada.

Deixei que Nessie adormecesse em meus braços enquanto tentava encontrar um meio de verbalizar o quão simples era o momento, e o quão delicioso. Quando percebi que a sua respiração estava uniforme, ajeitei-a em meus braços. Era hora de entregar o meu tesouro nos braços daqueles que a amavam tanto quanto eu. Mas eles não precisavam leva-la ver a neve para faze-la dormir, eles não precisavam do silêncio e da solidão para completar-se com ela, entrar em sintonia.

Escondi o meu amor com cuidado em suas roupas quentes e delicadas, apoiando-a contra meu peito como se não pesasse nada, mas fosse o tesouro mais precioso de todo o universo. Ela era meu bebê, meu amor, meu destino e meu sentido. Minha Nessie. Beijei sua testa antes de atravessar o portal da casa e abandona-la nos braços de seus pais.