Capítulo 1

Percepção

Os mugiwara haviam finalmente atracado numa ilha de inverno, cujo nome era Yuki no Yoru¹. Durante o percurso até um chalé qualquer, acabaram encontrando lojas de roupa, suprimentos, livros e armas. Além disso, cruzaram com alguns restaurantes diversos, chamando a atenção tanto do cozinheiro quanto do capitão, que insistiu intensamente para pararem ali, recebendo apenas um cala a boca como resposta e seguindo em frente, junto com os demais.

– Vocês são muito chatos – O moreno resmungou completamente aborrecido e entediado.

– Teremos bastante tempo aqui! O mais importante por enquanto é encontrarmos um local para ficar – Ele pareceu pensar por algum instante, então após algum tempo, gritou um sim animado, voltando a reparar nas pequenas casinhas ao seu redor, principalmente nas chaminés. Aquela fumaça realmente o contagiava.

– Ah, isso me faz lembrar minha casa! Realmente adoro o frio – Robin sorriu em resposta, acariciando a cabeça da pequena rena – E Nami! É melhor comprarmos algumas roupas de frio... – Ele olhou para trás e Zoro, assim como Sanji e Brook, tremiam.

– Não precisa, estou bem – Os dentes do Espadachim não paravam de bater, e mesmo tentando se aquecer, sua cara não era capaz de esconder: o homem estava congelando.

– Não quero gastar o dinheiro da Nami-swan! – Os olhos do loiro eram substituídos por dois enormes corações – E também, Robin-chwan fica linda com o meu terno! – Sanji havia emprestado a roupa para a morena. Afinal, ele a vira tremer, o fazendo ficar preocupado. E claro, assim ganharia mais pontos com uma das donzelas do bando.

– Minhas mãos estão congelando, minha pele parece que vai se partir! – Todos olharam para o companheiro e riram, já sabendo o que estava por vir – Apesar de ser um esqueleto e não ter pele! Yohohoho.

– Vocês falam demais – Nami jogara seus longos cabelos para trás e os olhara desafiadora – De qualquer forma, ficarão me devendo. E se não me pagarem logo, eu triplicarei a dívida.

– HAAAAI! NAMI-SWAN! – Um loiro todo empolgado se contorcia de admiração por ela – Ela é tão linda sendo bondosa! E mesmo no frio... Usa pouca roupa sem admitir estar congelando! MELLORINE!

– Isso porque ela está agarrada ao Chopper – Afirmara Usopp, debochando do amigo e fazendo o homem de cabelos verdes abrir um sorriso disfarçado.

– PARECE QUE CHEGAMOS! – Franky despertara a atenção de todos e antes que pudessem perceber, já estavam a admirar o local: uma casa de madeira de tamanho médio, com uma chaminé saindo dela e algumas janelas ovais fechadas ao redor da casinha. A porta era igualmente de madeira e retangular.

– Mas... Alguém mora aqui, não? – Robin apontara para a fumaça e Nami batera na porta sem qualquer tipo de restrição, chocando a todos.

– Você acha mesmo que alguém deixaria a gente entrar?! – Gritara Usopp, tentando se esconder atrás da ruiva – E sabe-se lá quem mora aí – A porta se abriu vagarosamente, revelando uma pequena garotinha de cabelos ruivos e olhos castanho-claros, deixando todos admirados com a fofura da mesma. Mas, por alguma razão, ela só teve olhos para o Chopper:

– Ah, cavalinho! – Ela o abraçou e nesse mesmo instante, Chopper voltou ao seu estado normal, deixando a garota ainda mais encantada – Pokémon! – Luffy começara a gargalhar junto com Franky e Usopp, constrangendo Chopper que logo enrubesceu e se afastou da menina, abraçando a perna da Nami.

– Desculpa, ele é tímido... Qual o seu nome, garotinha? – A doce menina sorriu e os mandou entrar após se apresentar como sendo Yuka Sasaki.

A tripulação adentrou o recinto e Brook, Sanji e Zoro logo se aproximaram da fogueira, esquentando seus corpos gélidos. Nami e Robin estavam tomando o café quente oferecido pela Yuka, enquanto Chopper e Franky vasculhavam o interior da casa.

– Vocês viram o Luffy?

– Deve estar na cozinha – Respondera um Usopp cansado, ele estava assistindo televisão ao lado dos três friorentos.

– Falando em cozinha, você bem que podia preparar algo para nós! A Yuka iria adorar, não é? – A menina assentiu, alegre – O Sanji-kun é um cozinheiro e tanto – A navegadora sussurrara, não podia falar esse tipo de coisa na frente do loiro, ele ia acabar tendo um ataque ou dando um dos surtos típicos dele.

– Tudo o que minha deusa quiser! – Ele saiu pulando alegremente pela casa, já esquecendo o frio anterior e sonhando acordado com a Nami ao seu lado, onde ele preparava um café da manhã especial e levava na cama para ela, podendo ouvir dos lábios da sua donzela o seguinte desejo: "esqueça o café, eu quero você, Sanji-kun", tendo um rápido sangramento nasal, chamando a atenção do Luffy, que logo fez uma observação muito importante:

– Tá saindo sangue pelo seu nariz – O loiro se recompôs e limpara o sangue, lavando as mãos logo em seguida.

– Luffy... Está tudo bem com você? – Geralmente, numa hora dessas, ele estaria comendo algo. Mastigando qualquer coisa. Talvez até, acabado com tudo da geladeira.

– Aaaaaah – Ele suspirou – Não sei – Luffy apoiou a cabeça na mesa e ali ficou, trazendo preocupação para o Sanji.

– Quer falar sobre isso? – O moreno pareceu pensar um pouco e durante esse tempo, Sanji preparava as vasilhas e o alimento necessário para a comida, a fim de agilizar as coisas na cozinha – E então? – Dissera de costas, estava cortando alguns tomates no tabuleiro e preparando uma salada para acompanhar o prato principal.

– Certo, vou tentar explicar – Luffy erguera a cabeça e escondera o rosto com o chapéu – Eu... Hm... Tenho admirado uma pessoa. E ela é uma amiga preciosa para mim. E sempre foi assim! Mas... – Sanji não acreditava nas palavras vindas da boca do rapaz, aquilo realmente o surpreendera, tanto que até cortara o dedo após ouvir o termo "preciosa". Porém, tentou disfarçar: se Luffy soubesse, desistiria de desabafar com o amigo – Ultimamente, tenho achado estranho ficar ao lado dessa pessoa.

– Estranho? – O moreno virara o rosto e dissera um audível sim.

– É como se... Eu não sei como explicar! Sabe, tem a carne... E a carne sozinha não é tão boa. Aí, quando você coloca o tempero, ela fica especial! – Luffy coçara a cabeça, achando que aquilo soou um tanto quanto estranho – Não é isso! O que eu estou tentando dizer é que de repente, parece ter surgido algo a mais! E isso está me incomodando – Sanji tentava firmemente abafar o riso – Ah, eu sei lá! Eu sei que essa sensação estranha tem aparecido muito ultimamente e... – O loiro finalmente se soltara, a barriga doendo de tanto rir e o corpo jogado no chão – OE, SANJI! PARE DE RIR! – O moreno abaixara a cabeça e começara a batê-la contra a mesa várias vezes, repreendendo-se mentalmente por ter se aberto com o companheiro.

– Desculpa, - O loiro se levantava, ainda tentando recuperar o fôlego – Luffy, eu sei muito bem o que você tem – Dessa vez, Sanji o encarava abertamente.

– Estou possuído?

– Não

– Estou prestes a virar uma sereia?

– Não. E SÉRIO, DA ONDE VOCÊ TIRA ESSAS IDEIAS? – Sanji arregaçara as mangas e com um sorriso vitorioso no rosto, finalmente revelara o problema de Luffy:

– Você está apaixonado.

– E depois fala das minhas ideias – Sanji arregalara os olhos e se aproximara do Luffy, o agarrando pela gola.

– Como é?! Nunca compare as coisas que digo com o que você diz! E acredite ou não, você está apaixonado! – O jogou na cadeira e começou a servir os pratos.

"Apaixonado...?" Luffy estava pronto para cogitar essa ideia. Entretanto, o cheiro delicioso da comida invadiu suas narinas, fazendo o assunto dispersar-se e a barriga roncar.

– Nami-swan! Robin-chwan! Yukawaii! – Berrou um homem apaixonado – A janta está servida! Hoje teremos... Yakisoba! – Logo todos estavam reunidos na cozinha, alguns comiam em pé e outros puderam se sentar à mesa.

– Yuka, você mora sozinha? – Perguntara Robin, intrigada com a delicadeza e a atenção da menina, já parecendo uma pequena adulta.

– Moro com meu papa! Ele foi caçar – A cada garfada, a menina se derretia, toda encantada com a comida preparada pelo Sanji – Isso aqui é realmente delicioso! – Robin concordara.

Após uma conversa calorosa e estômagos completamente cheios e satisfeitos, a tripulação permanecera na sala, esperando ansiosos a chegada do pai da Yuka, ela realmente parecia gostar muito dele e pela descrição dela e os vários elogios tecidos, parecia ser um grande homem.

– Nami! – A garotinha dissera, pulando – Posso pentear o seu cabelo? – Sem nem pensar duas vezes, Nami sentou-se na frente da Yuka, deixando-a à vontade.

– Estou em suas mãos! Deixe-me bem bonita, em? – As duas riram e a menininha começou a fazer uns penteados bem lindos, muitas vezes desmanchando e começando outro. Segundo ela, havia aprendido tudo lendo revistas de moda.

As duas brincavam de salão de beleza e o resto assistia à televisão. E todas às vezes que Yuka perguntava como o cabelo da Nami estava ele se surpreendia: achava impossível alguém como ela ficar ainda mais bonita. Coques, tranças... Tudo combinava com ela. E mais uma vez aquela sensação estranha lhe invadia, trazendo as palavras do Sanji consigo

"E acredite ou não, você está apaixonado!"

O garoto estava prestes a enlouquecer e talvez o cozinheiro tenha percebido isso, porque Luffy sentira uma mão tocar o ombro dele e quando olhou, era Sanji o chamando para uma conversa em particular. E ninguém pareceu se importar com isso: Sanji e Luffy viviam juntos, por causa da comida preparada por ele. Mesmo sendo o capitão quem sempre procurava por ele.

– Eu irei te ajudar – Sanji acendera o isqueiro e começara a fumar, tragando vagarosamente o cigarro, aproveitando silenciosamente aquele prazer – Se o assunto é mulher, é comigo mesmo. Ainda mais quando se trata dela.

– Dela? – Luffy não percebera, mas os olhos dele arregalaram um pouco ao saber que o Sanji já tinha uma suspeita.

– É a Nami, não é? – O moreno fizera um bico e enrubesceu por completo.

– Não.

– Está na sua cara – Ele jogou o cabelo para o lado e fechou os olhos – Será um trabalho difícil...

– Mas a Nami só te dá o fora – Sanji ouviu seu coração se partir em mil pedacinhos.

– Não precisa ser tão direto! – Ele agarrara Luffy mais uma vez pela gola – Se você a machucar... – E então se lembrou com quem estava falando – Ah, esquece, você nunca faria isso – Os dois olharam para o céu, certos de que uma nova aventura estava para começar.

– Obrigado, Sanji! – O cozinheiro jogara o cigarro pela janela e sussurrara um "não há de quê".

O cigarro era um dos maiores prazeres do Sanji, assim como as donzelas daquele navio: Nami e Robin. E ao contrário do cigarro, ele nunca as descartaria. As duas eram únicas e muito especiais. E era sim, um alívio muito grande para ele saber que Nami poderá estar em boas mãos futuramente. Caso o destino assim quiser.

Luffy e Nami... Eles tinham uma boa história. E agora, provavelmente, ela só aumentaria. Seria realmente muito bom se o rapaz fosse o responsável por isso.

– Você está chorando? – Sanji balançara a cabeça negativamente, mesmo estando chorando.

– É só que... Você está virando um homenzinho! Estou orgulhoso – Sanji dera leves tapinhas nas costas do moreno, que deu um sorriso fraco em resposta.

– Sinto muito... – O loiro fechara os olhos e balançara a cabeça de um lado para o outro vagarosamente.

– Não sinta! Não é culpa sua, acontece... E não é ruim gostar da Nami, é uma honra! Além disso, têm muitas outras mulheres por aí!

Luffy aquiescera e Sanji sorrira maliciosamente.

– Amanhã mesmo começaremos com o dever de casa... E vamos para a sala, já demoramos bastante por aqui – Sanji o envolvera camaradamente, feliz por ter tido esse tipo de conversa com Luffy e perceber que o mesmo confiava nele.

É verdade, talvez tenha perdido uma das suas damas. Todavia, perceberia mais tarde, havia ganhado momentos inesquecíveis.

"Os ventos que às vezes tiram algo que amamos, são os mesmos que trazem algo que aprendemos a amar... Por isso não devemos chorar pelo que nos foi tirado e sim, aprender a amar o que nos foi dado. Pois tudo aquilo que é realmente nosso, nunca se vai para sempre".

Bob Marley

NOTAS DO AUTOR:

¹ - Noite de Neve (sim, é esse o nome da ilha IUAHSIUAHSHASAIUAS)

- Algumas fics colocam frases no início ou final. Aí resolvi colocar também. Mas, somente alguns capítulos terão frases

Pronto, era isso.

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