Disclaimer: Não me pertencem.

Nota: Fanfic pertencente ao projeto VK week 2018, no qual foram selecionados 7 temas para serem desenvolvidas fanfics do ship Sailor Venus/Kunzite. Como eu estou trapaceando, esta fanfic é dois em um: dois temas em uma fanfic só: constância (do dia 7 de outubro) e despedida (dia 8 de outubro). Não estou feliz, queria escrever as duas, mas no momento é o que pode ser feito. Aliás, no momento essa é a fanfic que posso entregar também.

A revisão foi feita agora, um pouco depois de escrever e deve ter vários erros. Peço desculpas desde já.


"Se quiserem que a mensagem dos deuses dirija a sua vida, procurem aquilo que se repete muitas vezes, pois é isso o que lhes transmitem, a lição cármica que devem aprender nesta encarnação. A mensagem repete-se até que a tenham transformado em parte de sua alma e do seu espírito duradouro."

[As Brumas de Avalon: O Gamo-Rei - Marion Zimmer Bradley]


Crystal Tokyo era tudo o que Venus tinha imaginado: mágico, próspero e seguro. Ela tinha uma vida quase eterna e acesso a qualquer coisa que quisesse. Era realmente o sonho que tinha sido vendido para ela há anos. Claro que ela sentia falta de uma ou outra coisa. Isto era uma das consequências de se lembrar das vidas passadas. Às vezes era apenas uma lembrança boa, outras vezes era uma ausência que não poderia ser preenchida. Talvez ela até tivesse desejado que o vazio fosse preenchido por ele, mas não daquele jeito. Ela confrontaria toda a ausência de bom grado desde que Serenity não estivesse em perigo. Mas ela era ela, as outras pessoas não tinham a mínima intenção de ser conformada como ela.

Endymion não tinha feito por mal. A única coisa que ele queria era trazer seus amigos de volta vida. O que ele não imaginava era quanto as almas deles estavam corrompidas e, independente das boas intenções de qualquer um dos envolvidos, os Shitennou estavam fadados a serem maus. Serenity descobriu, tarde demais, que a natureza dos Shitennou estava sendo influenciada mais uma vez. Quando Endymion trouxe seus guardiões de volta vida, ele rasgou o véu que protegia todos de Metallia e eles eram os mais vulneráveis. Inclusive Beryl tinha se erguido das cinzas com os cabelos flamejantes e conquistando apoio de setores que eles nem mesmo sabiam estar insatisfeitos.

Aquilo não importava muito para Venus. A única coisa que ela via era que Metallia estava mais uma vez atrapalhando o curso normal da vida. Ela tinha ficado eufórica com a possibilidade de ver o Kunzite que tinha conhecido em Silver Millennium ali em Crystal Tokyo. Mas, o que ela tinha conseguido era mais uma vez encontrar marionete sem vida sendo controlado pelos fios das forças do mal.

Agora o palácio estava sob ataque. Com muito custo Mars tinha conseguido convencer Serenity levar a Pequena Dama para um lugar seguro e, consequentemente, Endymion foi com elas. Ele queria ter ficado ali e encarado o problema que ele tinha criado, mas as senshi tinham decidido que aquilo já estava fora do alcance dele. Os Shitennou ainda não estavam totalmente sobre o controle de Mettalia, mas ainda sim eram um perigo eminente a eles. Talvez eles se salvassem dessa vez. Talvez ela pudesse fazer diferente. Talvez...


— KUNZITE! – a voz de Venus ecoou pela rua. Aquele era um local de encontro quando algo errado ocorria em uma das rondas. Ela não acreditou que seria tão fácil encontra-lo como o encontrou ali. Em um lugar tão aberto e público.

— O que é agora? – ele respondeu se virando irritado para a mulher – Eu pensei que nós estávamos entendidos.

— Este é o problema: você pensou. – ela respondeu se aproximando – Não tem nada resolvido aqui.

— Não é você que decide isto!

— Muito menos você sozinho vai decidir qualquer coisa! – ela retrucou.

— Isto não é assunto seu, Venus. – ele respondeu com um tom de voz controlado.

— Não é? – ela quase riu – Você quer que eu assista você se afundar mais uma vez e não fazer nada?

— Como eu já disse: não é da sua conta. – ele repetiu.

— Kunzite, seja sensato. – ela falou, tentando controlar a irritação – Você não pode cometer os mesmos erros de novo e esperar que o resultado seja outro.

— Não é um erro... – ele falou com calma – Eu tenho que ir...

— Você não tem que ir coisa alguma! – ela o cortou – Desde o Silver Millennium você tem o costume de 'ter que ir' bem na hora que você sabe que está errado!

— Eu não estou errado. – ele retrucou – Eu aqui junto com você é um risco que eu não...

— Não, só está do lado errado de novo! – ela explodiu – Estou me lixando para os riscos!

— Eu matei meu mestre. – ele disse com o olhar vidrado.

— No passado, sim. – ela respondeu – Isto foi antes de você lembrar de tudo. Antes de ver o brilho do Cristal de Prata. Isto foi em outra vida. Não nesta.

— Ter acontecido no passado não diminui o peso da minha falta.

— Sair correndo para os braços da Beryl de novo, e sabendo de tudo, não vai aliviar sua culpa. – ela falou irritada – Vai só aumentar!

— Venus... Eu não estou correndo para os braços de ninguém. – ele falou a encarando – E não há qualquer possibilidade de eu fazer o que você quer.

— Então por que você apareceu aqui, neste tempo? – ela perguntou a queima-roupa – Só para acenar para mim e dizer que sabe de tudo, mas mesmo assim vai repetir o passado? Pela terceira vez?! Era melhor não ter me contado nada!

— Venus...

— Você está escolhendo aquela mulher de novo. – ela falou – Pelo menos da última vez você não tinha noção de nada, só teve conhecimento do que estava acontecendo no final e não tinha mais nada a fazer. Desta vez, você sabe de tudo e mesmo assim está indo com ela.

— Eu pensei que talvez... – ele começou a falar e levantou a mão como se fosse tocá-la – Talvez...

— Que algo podia ser feito? Claro que sim! – ela falou com veemência – Algo sempre pode ser feito, Kunzite!

— O que pode ser feito? – ele perguntou – Lutar contra o fluxo? Eu não tenho forças para isto.

— Vem comigo. – ela pediu.

— Meus irmãos... – ele respondeu – Eles têm pouca ou nenhuma noção do que está acontecendo.

— Vem comigo e nós os resgatamos depois.

— A rainha Beryl não vai permitir... – Ele estava hesitante.

— Kunzite, pare de tentar arrumar desculpas! – ela falou exasperada – Não pense em nada disso e vem comigo, por favor! A gente descobre um jeito de acabar com o domínio que a Beryl tem sobre você... O Cristal de Prata pode fazer isso...

— Ela não tem domínio sobre mim, Venus. – ele falou com cuidado.

— O que? – ela parecia genuinamente confusa.

Ele levantou a mão de novo e deslizou o polegar pela bochecha dela.

— Eu escolhi por livre e espontânea vontade seguir a rainha Beryl em Silver Millennium. – ele respondeu – Eu acreditava que era a melhor opção para o Golden Kingdom.

— Você escolheu segui-la há mais dois mil anos atrás. – ela falou – Antes você acordou sem as suas memórias, porque você só lembrou disto tudo quando viu o brilho do Cristal de Prata. Naquela vida, sem memórias, você decidiu seguir uma mulher que nunca tinha visto para coletar energia de outras pessoas e lutar contra eu, por exemplo, por livre e espontânea vontade?

Ele a olhou sem falar nada e, antes que ele conseguisse formular alguma resposta, ela continuou a falar:

— Não, não é? – ela o segurou pelas mangas do uniforme – Você se lembrava de algo desta reencarnação além de estar seguindo as ordens dela?

— Quando me aliei a ela, em Silver Millennium, eu... Minha alma é dela. – ele falou devagar – Ela...

— E nesta vida? – ela continuou – Você está aqui na minha frente falando que não pode ir contra o fluxo. Que não tem forças. Não acho que você seja só um covarde com dificuldades de enfrentar a Beryl.

— Eu não posso...

— Em outras palavras, ela tem domínio sobre você nesta vida. – ela completou – Me deixa te ajudar. Tenho certeza que a princesa vai te ajudar se eu pedir.

— Eu não posso. – ele murmurou de novo.

— Kunzite, você está desistindo quando ainda tem como lutar. – ela argumentou.

"Cada um luta como pode." – ele respondeu, agora com as duas mãos sobre o rosto dela – E você sabe que esta não é a sua luta.

— Como não é minha luta? – ela perguntou, o afastando dela – Suas lutas costumam ser contra mim, esqueceu?

— Eu não pretendo lutar contra você desta vez.

— Até a Beryl mandar você fazer isto. – ela concluiu a contragosto – Você vai tentar novos resultados fazendo as mesmas coisas de antes.

— Não são as mesmas coisas de antes. Nós não tivemos esta conversa antes. – ele respondeu.

— Para que ter esta conversa frustrante? – ela bufou – Para eu te ver morrer de novo e dessa vez estando tão perto de mudar as coisas?

— Você fala em me ver morrendo como se não tivesse participação ativa. – ele falou quase com humor.

— Eu só achei que seria meio pesado falar que você está me obrigando a te matar de novo. – ela retrucou, sentindo um gosto amargo na boca.

— Não deixa de ser uma solução. – ele murmurou.

— Se você quer que eu arrume uma solução, você vai ter que vim comigo para Crystal Tokyo. – ela falou – E deixar a gente te ajudar.

— Eu acredito que estou fora do alcance de qualquer ajuda. – ele falou.

— Não seja bobo. – ela voltou se aproximar dele – É impossível você estar fora do alcance da minha ajuda.

— Eu não vou, Venus. – ele sussurrou, acompanhando apenas com o olhar ela se aproximar cada vez mais até os corpos estarem colados.

— Por que você veio até mim então? – ela perguntou com os braços no pescoço dele. Ela queria, de qualquer forma, carregá-lo com ela.

— Eu queria te ver pelo mens uma vez sem ser em uma batalha. – ele respondeu com cuidado.

— Eu não quero ter que te matar de novo. – ela murmurou.

— Você vai ter que fazê-lo. – ele respondeu com suavidade – Quando chegar a hora, faça isto.

— Não seja estúpido! – ela respondeu irritada, ela não queria perdê-lo de novo – O que eu preciso fazer é te convencer que existe outro caminho para seguir.

— Não me faça pedir por favor, Venus. – ele murmurou com os lábios grudados na fronte dela. – É melhor você ir agora.

— Sério? – ela perguntou, irritada – Você me deixou te encontrar só para essa troca de palavras inúteis?

— Só porque você não conseguiu o que quer não quer dizer que é inútil. – ele continuava a murmurar contra a pele dela.

— Qual é a utilidade dessa conversa? – ela perguntou a queima-roupa.

Queria muito olhá-lo nos olhos, mas ao mesmo tempo não queria se afastar, não queria que os lábios dele parassem de acariciar a pele dela. Só que ele não respondeu e aquilo a incomodou. Como muita relutância ela pendeu a cabeça para trás e, mesmo se fosse a intenção dele (o que não era), ela conseguiu ler a resposta no olhar dele.

— Oh... Uma despedida. – ela sussurrou enquanto ele balançava a cabeça devagar – Você queria se despedir.

A essa altura do campeonato ela deveria saber que o livre arbítrio era um engodo. Um brinquedinho que os deuses jogaram para os mortais – ou quase-imortais – só para fazê-los acreditar que ainda tinha jeito. Uma esperança a mais para a vontade de resistir ser mantida, um sonho a ser seguido ou aquele brilho do olhar. O destino sempre esteve traçado. Os fatos são constantes, se repetem sempre. Tudo faz parte de um ciclo vicioso e nunca muda. O destino é o mesmo seja lá quantos vezes se nasça. Seja lá quantas decisões sejam tomadas de formas diferentes.

— Você está partindo o meu coração. – ela murmurou com os olhos fechados. Não queria ver mais nada.

— Não seria a primeira vez. – A voz dele estava tão baixa quanto a dela.

— E parece que não vai ser a última. – ela retrucou com um tom amargo – Porque nós vamos estar sempre assim... Nos ferindo.

Kunzite venceu a distância antes imposta por ela e colocou os lábios contra os dela dessa vez. Ela aceitou sem resistência. Era suave, era doce. Era o que todo fim tinha de ser. Era aquilo que ela queria que fosse o fim, mas no fundo ela sabia que tudo ia se repetir... E o próximo contato entre eles seria violento. Traria morte.


Nota: Bem... É isso.