Drabble feita para a I Ship War - fórum Ledo Engano.
Tema: choro.
N/A: não importa em que época qualquer fic minha de Tom/Harry esteja. É pra imaginar Tom gatíneo. SEMPRE.
Pare
por Luna Fortunato
Passo. Pele. Pauta.
Dedilhar dos dedos sobre o piano, sonata após sonata, dó ré e mi, olhos fixados na partitura. A guerra existia lá fora e ele tocando o piano a tarde toda. A guerra matou seu pai, matou sua mãe e o matou duas, três, quatro vezes, mas ele tocava ainda assim. O toque dos dedos no marfim, o timbre do piano ressoando pela sala.
Cada vez que a guerra o matava, ele vinha. Quase parecido, quase cópia, como irmãos da mesma geração e mesmo sangue. Era vermelho, não era?
O sangue de todos era vermelho.
Não deveria haver confusão quanto a isso. Mas ele era especial e o garoto que tocava piano sabia disso. Quem o ouve falando imagina sangue dourado se infiltrando nas frestas, com resquícios de diamante. Quem o vê discursando para toda multidão nunca imaginaria que, na verdade, seu sangue era tão sujo e maldito quanto de qualquer um ali.
O garoto continuou tocando piano.
Pátria. Pérfido. Perversão.
Ele veio, sedento, faminto, querendo. Interrompendo o compasso, dedilhando insistente no dó mais grave. Olho negro. Vazio. Sem calor, sem conforto. O garoto continuou a tocar. Melodia atrapalhada, compasso se entortando, a matemática da música se quebrando a cada insistência do rapaz do sangue dourado. Quando o garoto tentava completar um acorde, o outro manchava o som escolhendo teclas aleatórias. O garoto tentou de novo.
Pare. Pulso. Prosopopeia.
O piano murmurou apenas a melodia distorcida.
Paliativo. Prepotência. Pare, por favor, pare.
O garoto desistiu. A melodia tortuosa lhe feria os ouvidos, as esmeraldas dos seus olhos estavam úmidas de dor e contradição.
Pare.
Ele nunca parou.
E por mais que doesse admitir, o outro nunca quis que ele parasse.
