N/A: Escrevi isso durante um super-surto que tive quando eu assisti o episódio 11 do anime. Sério, eu achando que não ia gostar do anime porque dois dos meus quatro personagens preferidos morrem e os outros dois não aparecem... Me arrependi vergonhosamente do mimimi que dei.

Disclaimer: Gantz não me pertence, e sim à Hiroya Oku, Studio Gonzo, Shueisha, etc. Apesar de eu estar criando um belo de um plano pra roubar o Sakata pra mim -Q


Hidden Side

"Dói... Dói... Muito..."

Sentia todo o corpo formigar e a cabeça zunir, doendo. Não podia ouvir, quanto menos ver. Mesmo que fora imerso na água, parecia que estava seco. Não sentia mais os toques, o refrescar... Só a dor.

Tremia de medo, de angústia, de arrependimento e, mais uma vez, de dor. Tudo o que queria era voltar restaurado para o quarto e continuar sua vida. Completar os dez pontos que lhe restava.

Mas ele sabia que suas chances de voltar eram remotas. Havia mais daqueles aliens, e ele sabia que não iria durar o suficiente até todos serem derrotados.

"Não quero morrer... Vai... Vai logo... Katou."

Masaru Katou. Deixara bem claro que o achava um hipócrita. Mas sabia que não era, que ele só tentava ver uma esperança em tudo, algo que nunca conseguiu. Talvez a hipocrisia fosse algo para se admirar, enganar a si mesmo para ver uma verdade maior. Era o que tentava fazer agora, acreditar que ainda havia uma esperança para sobreviver.

E quem era a esperança? Ele. Porque mesmo após tudo o que disse a ele, sabia que o rapaz tinha um coração mole demais para deixá-lo morrer, e que iria fazer de tudo para salvá-lo.

- Katou, o pescoço dele... Tá quebrado. - o que parecia uma voz vibrou em sua cabeça, mas ele demorou para conseguir interpretar aquelas vibrações.

A dor foi substituída por um calafrio, forte o suficiente para quase sufocá-lo, substituindo-se por uma gélida sensação.

"Muito... Muito frio..."

Logo que o que disseram fora processado na sua cabeça, o coração apertou-se. Quanto mais lutava, mais via que a situação piorava.

"Perdi o pescoço... Não sinto... Nada."

Seu corpo pareceu queimar, e por um momento, pareceu que havia uma barreira que o impedisse de dizer qualquer coisa.

"Já é a segunda vez... Eu... Pescoço... Uma vez... Pescoço... Uma vez..."

Lutava para quebrar a tal barreira, mas as palavras saíam repetidas, distorcidas, cheias de remorso.

Forçando a mente para tentar fugir daquele escuro que tomava seu redor, logo via imagens de sua morte na sua cabeça.

"Eu mesmo... Pescoço... Eu mesmo..."

Um ano atrás. O topo de um prédio. Um garoto, tão semelhante a ele, mas tão diferente do que é agora. As lágrimas jorravam como se dependesse disso para viver, mesmo que aquele fosse o sinal de sua morte. Então fechou os olhos e pulou do edifício. Logo encontrou-se de cabeça com o chão, e o pescoço quebrou-se como se fosse de isopor.

A escuridão o tomou novamente, envolvendo-o. A partir daquele momento soube que não tinha como fugir da escuridão, que não havia mais esperanças, que todos o abandonaram ali, até mesmo o rapaz cuja confiança em sua vida fora depositada. Desistiu de lutar contra aquela dor, contra aquele sofrimento.

"Eu... Vou morrer, já era... Vou morrer... Eu vou..."

E no meio de todo o formigamento, sentiu lágrimas quentes desabando da face, como se queimasse a pele. Sentia medo. Sentia uma grande vontade de ser protegido da escuridão em que estava. Como uma criança, como o garoto de catorze anos que, no fundo, sempre foi.

"Não quero... Não quero morrer... Não quero... Não quero morrer, não quero..."

Mas aquilo era inevitável... O que restava a ele?

Talvez morrer com o coração em paz. Morrer sabendo que haveria um descanso para o garoto que tanto queria voltar a ser feliz, mas que sempre era interpretado errado.

Então começou a soltar toda a angústia que estava guardada em seu coração.

"Não é que... Eu não gostava das pessoas... Eu não gostava do mundo em si... É que... Tudo é uma bagunça..."

Era o mundo que fazia as pessoas odiá-lo, o mundo o fez sofrer junto com as pessoas nele, e ele não compreendia o porquê. Por isso, após a morte, odiou o mundo da mesma forma que o mundo o odiou quando vivo.

Aquela confusão, tudo aquilo que ele passou... Tudo culminou no que ele era.

As lágrimas agora pareciam penetrar seu rosto, e ele tremia mais do que antes. Mas toda a dor, tanto no seu corpo quanto no seu coração pareciam sumir lentamente.

"Sempre achei isso... Só que tinha... Tinha que ser certinho..."

Ele era um bom garoto, mas ninguém percebia. Ele já fora o orgulho da família, um exemplo para as pessoas, mas depois percebeu que deveria seguir as regras do mundo, ou acabaria perdido para sempre.

Ainda o odiando, seguindo suas regras...

"Uma bagunça... Por isso... Por isso não conseguia ser certinho..."

...Aquela angústia e sofrimento, enquanto estava preso, não podendo ser ele mesmo...

A respiração falhava, mas ainda se esforçava para continuar vivo até ter a paz que tanto queria.

"Eu... Eu não quero... Não quero morrer... Não... Mamãe... Mamãe..."

De certo modo, mesmo aceitando sua morte, não queria morrer. Queria voltar aos braços da pessoa que o deixava feliz, que o ensinou a ser o garoto que todos amavam.

"Eu tenho que me desculpar... Mamãe... Desculpa, mamãe... Eu me esforçei muito... Muito... Mamãe... Desculpa!"

Desculpava-se por não ter sido aquele filho que era motivo de seu orgulho. Por não ter resistido ao mundo, e por ter se tornado o tipo de pessoa que ela mais odiava.

Um psicopata.

"Que medo... Medo... Mamãe... Que medo, mamãe..."

O que ele sempre tivera. Medo. Há um ano deixou de senti-lo, e agora aquele sentimento voltou, mais forte do que nunca.

E mesmo que chamasse sua mãe, sabia que ela não poderia estar lá, naquele lado violento e obscuro do mundo, tentando ajudá-lo. Ela não poderia estar naquele abismo, para tirar ele de lá.

"Frio... Mamãe, eu vou morrer..."

As lágrimas não podiam mais esquentá-lo, e agora aquela sensação mórbida espalhava-se por todo o corpo.

Logo não sofreria mais.

"Mamãe... Só cem pontos... Eu tinha juntado noventa pontos até agora... Só faltavam... Só dez pontos... Aí ficaria livre pra sempre... Mas..."

Ele esteve tão perto de seu real objetivo... Mas então caiu, não podendo mais alcançá-lo.

Já não sentia mais seu corpo, e nem o frio que tanto o tomou. Sua respiração falhou, a morte o envolveu, e o coração parou de bater.

O inocente e confuso garoto partiu do mundo que odiava, descansando em paz.