Disclaimer: Death Note pertence à Tsugumi Ohba e Takeshi Obata. Utilizo seus personagens apenas por diversão. A fic não tem fins lucrativos, logo, não lucro nada com isso.
RACHADURA NO AQUÁRIO
Arashi Kaminari
Pensou bastante sobre o que havia escutado Raito reclamar continuamente nos últimos tempos. Não que fosse contra a idéia, mas as conseqüências dela o afligiam. Para o universitário, provavelmente, tudo ocorreria da forma cor-de-rosa-choque das novelas mexicanas: muito drama, muitas lágrimas, mas sempre um final feliz. Já ele, tendo a experiência profissional que possuía, sabia o quanto os acontecimentos poderiam se complicar.
Uma dúvida lhe batia de forma descompassada: temia mais por ele mesmo, pelo namorado ou pelos dois? Tentando equalizar a questão numa balança imaginária, não conseguia encontrar a proporção correta. Como se isso importasse...
"Vocë arrisca sua vida em cada caso que entra.
Por que não arrisca por uma felicidade que não é só sua?"
Quem havia dito o aguardava do outro lado da porta, enquanto L brincava com as chaves da prisão que era 'pintada' de quarto. Sua indecisão não permitia que atravessasse aquela porta e desse um passo adiante em sua vida. Temia – e muito – a mudança. Dava sua palavra que queria que o tempo parasse naquele momento...
Duas batidas hesitantes o tiraram de seus devaneios e, confrontando a realidade onde Watari lhe fazia uma pergunta muda ao estender um casaco, enquanto arqueava as sobrancelhas daquela maneira indefectível, aceitou o desafio de pisar em areia movediça.
oOo
L parecia tão perdido quanto um chocólatra dentro de uma fábrica de chocolate. Circulou três vezes pela área esportiva e deu apenas uma olhada de rabo de olho na social. A única seção que prendeu sua atenção foi a infantil – de onde ele não saiu até ver toda a coleção de blusas de um certo anime do qual era fã. Se tivesse do tamanho dele, com toda a certeza, ele levaria pelo menos uma.
"Não esquecer de comprar blusas personalizadas de Death Note para o senhor L", Watari anotou mentalmente.
Aproveitando a distração do rapaz, procurou verificar quais eram as melhores vestimentas para a ocasião a qual L estava se preparando. Um pouco de inovação e cores não iria nada mal – uma vez que o moreno era jovem e possuía um bom porte. "Aliás, qualquer coisa que compremos entrará em tal classificação", pensou Watari, visto que L só tinha blusas brancas e uma coleção de calças jeans – variadas em cortes, mas iguais em cor – no armário. Pareciam até segunda pele. Não poderia se esquecer dos calçados. Era uma vergonha o maior detetive do mundo ter apenas um par de tênis.
– Ryuuzaki. O que acha dessa camisa pólo azul?
– Preppy boy? (1)
– O senhor parece um adolescente reclamando. – o mordomo brincou, alfinetando-o com um breve sorriso.
– Não desgosto. Só prefiro nele a mim.
"Sem falar que eu já sou estranho sem usar essas roupas, imagine com elas então. Elas não foram feitas para vestir qualquer um. Definitivamente.", completou L para si mesmo.
Watari estreitou os olhos ao escutar o detetive. O problema era que L se achava inferior à Raito e não só a reação da família do rapaz... Interessante. Só esperava que o jovem tivesse percebido a questão, já que por mais roupas que L comprasse, a sensação de inferioridade não evanesceria; persistiria como um fantasma até o fim. Mas nada que um pouco de afeto não desse jeito.
oOo
– Estou sendo um mala, não?
Não conteve um sorriso. L sempre o fascinava com suas tiradas inesperadas, porém verdadeiras.
– Sinceramente sim. Mas eu gosto disso em você. – o ruivo respondeu, aconchegando-se mais nos braços do namorado, enquanto puxava mais o cobertor que os envolvia com suas mãos entrelaçadas.
– Isso é bom.
E realmente Raito tinha que concordar. Sentir a respiração cadenciada nas costas de sua orelha e a suave pressão que o queixo de L fazia em seu ombro era uma sensação muito boa.
Nos braços daquele moreno de cabelos desgrenhados e com andar tão peculiar, o rapaz tentava buscar em suas memórias alguma garota que lhe tivesse feito provar metade dos sentimentos que havia vivenciado por ele... Nenhuma. Nem com Takada havia conseguido tal proeza. Nem desejá-la como o desejava, ela havia obtido sucesso. Se havia sido bom para ela, Takada havia tido sorte, pois ao seu ver a relação deles não havia passado de passos mecanizados orquestrados por qualquer um, menos eles.
Ao lado de L, Raito acreditava que a justiça dos homens, um dia, deixaria de ser tão falha e que um mundo maravilhoso iria desabrochar. Saber que estavam juntos fazia seu dia nascer azul e parecia que o mundo inteiro queria acompanhá-lo naquela melosa melodia.
– Então você já pensou em fazer amor comigo.
O universitário arregalou os olhos. Havia dito aquilo em voz alta?
– Não se preocupe. Não vou escarnecer. Agora, a melodia está mais para Barry White ou para Simply Red?
Já que estava na chuva, por que não se molhar?
Relaxou e encostou sua cabeça no ombro do mais velho, descansando o pescoço.
– Eu não disse isso pensando em um artista específico, nem em composições... Mas se fosse para imaginar, acho que seria ao som do Barry.
– Boa escolha. – L retribuiu com um de seus tímidos sorrisos, que reservava somente ao ruivo.
O mais jovem virou o rosto e inclinou-se um pouco para 'roubar um selinho' do namorado. O moreno estalou o beijo; o que os fez estalar outros na seqüência.
E novamente o detetive havia o ludibriado e a sua nova tentativa de fazê-lo aceitar ser apresentado à sua família foi prontamente esquecida.
oOo
Sua ansiedade o fez chegar mais cedo ao local marcado: a lanchonete que costumava freqüentar às vezes com os colegas de classe depois das aulas. Sentou-se ao fundo como o usual e logo uma atendente foi anotar seu pedido, com um olhar expressivo até demais. Respondeu que estava esperando uma pessoa e percebeu que um tanto da animação dela amainou. "Menos mal", pensou.
L não estava atrasado, mas a angústia da espera o fazia contar cada movimento do ponteiro do seu relógio de pulso. O último encontro decente que havia tido, havia ocorrido há duas semanas e desde então, só se falavam rapidamente ao telefone antes de dormir – não diariamente – e o encontro do último sábado, quando ficaram enrolados num cobertor na varanda do apartamento do detetive.
Tamborilou os dedos num gesto irritadiço. Cinco da tarde em ponto e nada do namorado. Sem mover-se muito, deu uma rápida checada no ambiente à procura dele...
– Ou você está muito desatento ou o Watari fez um ótimo serviço.
Voltou sua atenção ao dono da voz que se direcionava à sua pessoa.
Embasbacado.
Se houvesse palavra melhor para descrevê-lo, ele aprenderia depois, porque não encontrava palavra que coubesse melhor naquele momento.
Diante dos seus olhos, um novo L. Os cabelos ainda rebeldes, porém mais ordenados; uma calça de lavagem mais justa e uma blusa de corte canoa e mangas longas cinzas. Nos pés, um tênis esportivo, que moldava sem opulentar o tamanho do pé.
– Ficou muito estranho?
– Não... Só está... diferente.
Mal L se acomodou, a atendente apareceu novamente. Entre sorrisos irritantes e algumas brincadeiras, o detetive conseguiu fazer o pedido pelos dois e se livrar dos olhos caçadores daquela que o ruivo já estava apelidando de 'praga'.
Quando percebeu que estavam a sós é que Raito reparou em como L estava se portando. Ele não havia andado envergado e estava sentado como uma pessoa comum. Um feito admirável.
– Espero que não se importe com o que eu pedi. Se é que você sabe o que eu pedi...
Então ele havia percebido seu fuzilamento visual à garota. Nada anormal, levando em consideração quem ele era.
– Doces. Provavelmente chantilly e algo de baunilha.
– Essa não conta. Você conhece meus hábitos alimentares.
"Qualquer um que passe duas horas com você conhece", pensou consigo mesmo.
– Algum problema?
– Hã!?
– Você está aí parado, me olhando com esses olhos oblíquos.
– Gravando a minha surpresa ao ver seu novo visual.
L não corou. Não era do seu feitio. Porém Raito percebeu falta de jeito do namorado ao observar como o moreno havia piscado os olhos. Não que tivesse algo realmente diferente no ato... Ele apenas sabia.
A sorridente atendente logo retornou, equilibrando seus pedidos numa bandeja vermelha. O universitário a esperou sair para retomar a conversa.
– Não que eu não tenha gostado, mas por que a mudança?
Sentiu o rapaz mais velho se retrair, sem demonstrar o desconforto com a pergunta facialmente. L tomou mais um gole de seu chá inglês, parecendo ponderar sobre o que iria responder.
– Nos últimos tempos... Yagami-kun tem insistido na questão... de me apresentar aos seus pais...
Seu coração batia na boca.
– Não que eu ache vá dar tudo certo, mas eu gostaria de tentar – "Será que ele tem idéia da revolução que ele liberou dentro de mim com essas palavras?", Raito se perguntou internamente – por nós. – "Não, ele não tem. Deus, como quero beijá-lo."
Arashi Kaminari, 16 e 17 de julho.
Nota da autora:
Mil perdões pela demora a postar, mas como vocês podem ver, o capítulo já estava escrito há tempos, o problema era postar mesmo. Gomen.
(1) Gíria americana/inglesa: mauricinho.
O terceiro trecho da fanfic está em itálico, porque se refere a um flashback.
Como eu não lembro mais quem eu respondi ou não, agradeço a todos os que comentaram para me incentivar, ok? Kamila Youko, Danizinha, Lawliet-kun, Kagome-chan LP, Yuki Kuray, Miyavi Kikumaru, Yume Sangai, Saku-chan, Kikininha, Candy Holickx e Shamps, muito obrigada.
