A fumaça espiralava em cachos cinzentos, sempre devagar. Em sua oscilação, revelava hora verde, hora negro. Ela dançava, o cheiro forte impregnado no ambiente e em seus ocupantes. Bocas geravam mais conforme o tempo passava, as janelas fechadas.
O cigarro alternava mãos e lábios, não necessariamente nessa ordem. Cachos roçando um ombro pálido, notas de chá verde que a nicotina não conseguiu suprimir, uma língua rosada e levemente adormecida umedecendo os lábios.
Por um momento, ou alguns a mais, a fumaça viaja de microcosmo a microcosmo, barrada por dentes e impulsionada por suspiros. Mas ela eventualmente escapa, não se sabe ao certo de onde.
As mãos contrastam entre si e com a madeira escura da mesa de centro. Ainda chove, e a luz branca das nuvens tinge a fumaça de sombras. Sussurros presos à pele da nuca, lábios exalando cinzas contra um pulso. Dedos traçam veias, e a fumaça volta a cortar o intermediário, espiralando entre lábios e lábios.
A pele fria queima, os olhos embaçados brilham. O gosto da nicotina é amargo no fundo da garganta. Trovões e tremores.
Inale.
Exale.
Uma mão esguia busca um isqueiro.
