- Hey você... – Lea se inclinou, agarrou o rosto de Dianna com as duas mãos. Os lábios ganharam a bochecha direita da moça que acabara de abrir a porta e que ainda estava em estado de semi-choque. – Eu senti sua falta, sabia?

Dianna ainda encarava Theodore com olhos arregalados. Não que seu humor estivesse dos piores, mesmo sendo acordada às três da manhã de uma plena quinta feira. O problema era que nunca havia visto Lea naquele estado. O rapaz ergueu os dois braços, como quem diz "não tenho culpa", ainda do lado de fora do apartamento. Ela apenas estreitou os olhos, franzindo o cenho. Não, definitivamente ela não gostava dele.

- Eu cuido dela. – murmurou sem esperar resposta, empurrando a porta com a mão esquerda, enquanto amparava a amiga com a outra, sem se preocupar com a educação britânica que tivera na infância e fechando a porta na cara de Theo. Lea havia lhe soltado o rosto. Agora, tinha as duas mãos em volta da cintura de Dianna, a cabeça descansava na curva do ombro e ela definitivamente não estava empenhada em ajudar Dianna a andar.

- Lea... Lea... um segundo só... – Os passos de Dianna eram curtos, atrapalhados... tropeçou nos próprios pés alguns pares de vezes, antes de chegar no banheiro do apartamento que dividia com Lea desde que esta chegara à cidade.

- Porque você não veio comigo e com o Theo hoje?

- Ergue os braços... – Porque ela tinha bebido tanto? Dianna não conseguia se lembrar de uma única vez em quase quatro anos morando juntas em que Lea tivesse perdido o controle de si mesma, como parecia ter perdido agora. Sentou-a no vaso sanitário e puxava a camiseta branca que ela usava para cima, tentando tirar. Mas sem um mínimo de cooperação, a tarefa se mostrava infinitas vezes mais difícil. Depois de alguma insistência, Lea resolveu ceder... os olhos desfocados buscavam os de Dianna... o esforço para manter-se acordada era grande, muito grande. Tombou a cabeça para o lado, olhando Dianna... Que lhe sorriu, encabulada, a cara de poucos amigos se desfazendo como mágica. Não dava pra brigar com Lea Michele. Não quando ela fazia aquela cara. Jogou a camiseta em um canto qualquer do banheiro, antes de perguntar.

- Que foi?

- Eu acho que ele goxta de você... – o sorriso de Dianna se expandiu... riu baixinho, meneando a cabeça "Que maravilha...".

- Acha? – Lea concordou com um gesto de cabeça mais efusivo que o necessário, arrancando outra risada, dessa vez um pouco mais sonora que a anterior – É uma pena não ser recíproco.

Lea voltou a tentar focar-se no rosto de Dianna, que pigarreou, desconcertada, enquanto voltava a se baixar e passava o braço direito em torno do tronco da outra, que ainda estava sentada. Ergueu-se, trazendo Michele consigo. Sentiu-a tremer... e por instinto, virou o rosto... Encontrou Lea também a olhá-la de perto, muito perto. Engoliu em seco, incomodada pela proximidade, desviando o rosto imediatamente.

- Vem...

Murmurou, entrando no box e levando Lea consigo. Abriu o chuveiro e ainda segurando-a, provou a temperatura da água. Fria o suficiente pra curar qualquer bebedeira. Girou, com certa dificuldade, guiando-a para o jato de água.

- Lea... – Lea continuava agarrada ao pescoço de Dianna. Meio debaixo d'agua, meio fora do jato, Dianna era quem se molhava mais. O pijama de sapo um tanto quanto infantil estava com certeza bem mais molhado que a calça e o sutian e principalmente mais molhado que o corpo de Lea. Mais uma vez Dianna sentiu Lea tremer, agarrando-se à ela um pouco mais forte. Riu, olhando para baixo, para o estrago nas roupas.

- Eu estou mais molhada que você...

- Tá fria.

- Precisa ser fria, alcólatra.

Dianna riu mais uma vez e Lea gemeu, em protesto, por fim se deixando levar para debaixo da água.

Não demoraram no chuveiro. E usando o roupão de Dianna, Lea foi agora conduzida para a cozinha do pequeno apartamento. Instruída a sentar-se em uma das cadeiras, em volta da mesa, olhava Dianna, também toda molhada andar de um lado para o outro.

- Você podia me ajudar também, né? Sabe que eu não tomo café. Onde fica aquela coisa que você coloca na cafeteira pra fazer café?

Com um gesto preguiçoso, Lea indicou o armário, que passou a ser revistado por Dianna.

Um pouco mais desperta, era mais fácil para Lea acompanhar os movimentos da amiga. Quando por fim Dianna achou o filtro para a cafeteira e se virou, encontrou olhos castanhos muito fixos nos seus. O que estava acontecendo?

Dessa vez, não desviou os olhos. Nunca tivera vergonha de Lea antes... Respirou fundo. Lea estava bêbada. Só. Por isso a olhava com tanta insistência...

- Eu também goxto muito de você... – o sorriso estampado no rosto da interprete de Rachel Berry era enorme. Gigantesco. E sem nenhum outro motivo a não ser aquele sorriso, Dianna se sentiu corar de novo, sorrindo de volta quase sem perceber. A procura das canecas continuou e quando por fim Dianna voltou-se para Lea novamente, encontrou-a debruçada sobre a mesa da cozinha. Encharcada, completamente bêbada e a sono alto. Suspirou, levando a mão esquerda aos olhos... apertou a ponte do nariz, sentindo a cabeça latejar. Tornou a suspirar... que horas seriam? O calafrio violento que lhe subiu pela espinha lembrou-lhe que não era uma boa ficar molhada de madrugada... e foi com mais um suspiro que se aproximou de Lea, passando o braço direito em volta de sua cintura. Ergueu-se e ela despertou o suficiente pra conseguir andar até o quarto, apoiada por Dianna. Jogou-se na cama e no segundo seguinte já estava dormindo de novo.