Estrela do Norte

A arder em febre, com todos os membros do seu corpo a doer e com frio constante, eu podia jurar que alguém me tinha amaldiçoado. Cada vez que me mexia sentia-me enjoada, e mal conseguia manter os olhos abertos apesar de não ter assim tanto sono.

Alguém bateu à porta. Abri os olhos em direção da porta.

- Sim? – Perguntei.

- Maria... – A luz da minha vida. A única pessoa que me pode manter quente, o único que desejo e o único que não quero perder. A minha cara-metade.

O seu cabelo vermelho escuro era macio e espetado, e eu adorava passar-lhe as mãos. Até o faria agora, mas o mero movimento de levantar os braços dava-me vertigens.

- Odeio que tenhas de me ver assim. – Eu disse, fechando os olhos. Um repentino calor assolou-me, mas não era um calor agonizante, era um quente reconfortante, familiar, um calor que eu adoro.

Voltei a abrir os olhos e apenas vi duas linhas de luz que passavam por entre os dedos do Mikoto. As suas mãos eram grandes, e uma delas estava por cima da minha testa e olhos… Sabia mesmo muito bem.

Soltei um profundo suspiro.

- Não digas disparates. Tu és linda, sempre. – Ele disse.

Quase que conseguia sentir o seu sorriso. Era o Mikoto, não havia dúvida nenhuma que estava a sorrir.

- Chega para lá. – Ele sussurrou-me ao ouvido retirando a mão.

Abri os olhos e tentei levantar-me apoiando-me nos meus braços, mas com pouco sorte, não tive força suficiente e deixei-me cair. Em vez de embater no colchão, senti dois musculados braços a amparar-me. Com facilidade, ele passou a segurar-me só com um braço e removeu os cobertores de cima de mim com o outro. Depois, com uma gentileza que muitos diriam que ele nunca teria, pois era o assustador Rei Vermelho, o Mikoto moveu-me para o outro lado da cama e deslizou para o meu lado, puxando os cobertores por cima de nós.

- Anda cá. – Mikoto sussurrou, puxando-me para si, a minha cara encostada ao seu peito, um dos seus braços à minha volta.

Para cima, para baixo; para cima, para baixo. O seu peito aumentava de tamanho cada vez que ele inspirava e eu conseguia sentir os seus músculos a contraírem-se. A sua respiração era regular e profunda….

Mais que tudo, eu sentia o seu calor. Ele era o meu pilar ardente, o farol no meio da tempestade, o fogo que impedia que eu congelasse.

Só ouvia o seu batimento cardíaco, mais nada… Era tão regular e calmante, o único som do mundo, o único som que importava.

O sono veio depressa e pesado com uma bala, puxando-me para o mundo dos sonhos, que decerto, estaria repleto com a luz da minha vida, com a minha estrela do Norte vermelha escura.